No amor e na guerra.
| Somir | Des Contos | 3 comentários em No amor e na guerra.
Foi um desastre. Acho que não tem como explicar de forma diferente. Nós já sabíamos que invadir aquele planeta seria lidar com uma série de problemas, mas ninguém nos preparou para isso. Primeiro que eles são numerosos, para cada soldado nosso, milhares dos deles. A tecnologia deles não é tão atrasada assim, eu avisei para o conselho que até chegarmos lá a coisa seria diferente, não avisei? Mas tudo bem, essa parte nós sabemos que acontece. Não estávamos prontos para lidar é com as fêmeas deles… desastre… desastre!
Mas vamos organizar este relato. Sempre sobra para mim escrever esse tipo de material… eu não sou escritor, eu sou soldado! Custa mandar alguém especializado nisso? Depois reclamam que eu sou muito informal… edita isso fora quando repassar para o comando da missão, ok?
Nós chegamos na data planejada. Eles comemoravam o seu planeta realizando uma translação ao redor da estrela do sistema. Segundo a inteligência, era um bom momento. Realmente os pegamos de surpresa, principalmente por termos focado nossos esforços num grupo deles mais afeitos à guerra, no hemisfério norte. O primeiro impacto foi um sucesso, conseguimos desarmar muitas das defesas deles. Não foi extremamente difícil começar a segunda parte do plano, a ocupação.
Claro, enfrentamos resistência, mas estava na cara que eles não iam sustentar sua defesa por muito tempo. Começamos a capturar alguns deles, padrão. Descobrir fraquezas, analisar capacidade de cooperação… o habitual. Mas aí que o problema começou. Veja bem, a espécie deles é uma das raras com divisão entre os gêneros entre as inteligentes. Pelo o que vimos, é um dos padrões dos seres mais complexos naquele planeta. Tem os homens, maiores e mais fortes, e as mulheres, mais… delicadas. A maioria da luta é feita pelos homens, o que até faz sentido pela diferença entre potencial físico dos dois.
O problema de verdade é que nossos soldados ficaram… malucos… por acharem as fêmeas humanas extremamente atraentes. Estou mandando junto com o relatório algumas imagens para vocês entenderem o tamanho da nossa dificuldade. Demoramos para entender para que serviam aqueles depósitos de gordura nos corpos dela, mas ficamos encantados instantaneamente. Edita isso fora: encantados nada, entramos todos no cio ao vê-las. O efeito que elas tem em nós não nos deixa pensar em mais nada.
As coisas saíram de controle rapidamente nos campos de pesquisa com os humanos. Nossos soldados começaram a se matar para ter acesso a algumas delas. Muitos debandaram do exército para voltar à superfície e “encontrar a sua”. O comitê de ética durou uma rotação do planeta deles, logo estavam todos disputando para ver quem ficava com as melhores. Ninguém controlava nada.
E se vocês acham que isso era problema suficiente, elas ficaram malucas conosco de volta. Alguns dos homens também, mas principalmente as mulheres. Todos sabemos daqueles casos horríveis de invasões passadas, mas acreditem em mim, ninguém estava forçado a nada. As mulheres deles nos queriam tanto quanto nós as queríamos. O que parece ótimo do ponto de vista da integração, afinal, estávamos nos dando bem mutuamente. É, mas tinha outra variável nessa equação: os homens. Como a maioria deles não sentia nenhuma atração pelos nossos, a coisa desequilibrou-se rapidamente. De um lado eles lutando até a morte contra nós, do outro elas correndo em nossa direção querendo mais e mais.
Os homens não gostaram disso. Não gostaram nem um pouco. Aquilo alimentou o fogo da revolta local de forma assustadora. Nada parece os deixar mais furiosos do que a ideia de perderem suas mulheres. O que nós, francamente, entendemos perfeitamente. Se nós tivéssemos dessas no nosso sistema, não sairíamos mais, acreditem em mim. E como nós e as mulheres deles estávamos completamente perdidos na atração física e nos prazeres inenarráveis de nossos contatos, a outra metade dos nativos ganharam território.
E pior, algumas das mulheres começaram a trabalhar como espiãs para a humanidade. Não entendemos no momento o que as motivou a nos trair, mas não durou muito até os exércitos deles terem informações preciosas sobre nossa tecnologia, pontos fortes e fracos. Ainda éramos suficientemente intocáveis em nossas naves, mas no solo estava cada vez mais complicado retomar o território perdido. Metade do nosso trabalho na fase um da invasão estava perdido em meia translação do planeta!
Algumas dessas mulheres convenciam nossos soldados a roubar naves da esquadra e fugir com elas para localidades distantes. Ou mesmo debandar do nosso exército e ir defender o lado dos humanos! Outras começavam a influenciar em nossas decisões, nos convencendo a atacar os piores lugares possíveis. Uma delas inclusive me fez atrasar esse relato até agora. Digamos que ela me mantinha muito ocupado. Um grupo delas assumiu o controle da nossa maior nave militar, sob aplausos de um capitão apaixonado.
Foi quando tudo acumulou. Um salvo de pulsos da nave principal destruiu a metade da pouca frota que restava. Desertores do nosso lado pilotavam nossas naves contra nós, trazendo a guerra para nosso porto seguro. No chão, tínhamos perdido a imensa maioria de nossas bases. E ninguém, eu incluso, parecia se importar com isso. Nem diante da evidência de traição conseguimos ver o que realmente acontecia diante de nossos olhos.
Elas estavam fingindo. Não sei ainda se isso foi algo planejado ou se as mulheres perceberam isso enquanto a coisa se desenrolava. Pelo o que eu entendi, os homens locais ao perceberem que estavam sendo preteridos por nós, começaram a tratá-las de forma consideravelmente melhor. O que as fizeram agir da forma como agiram. O que eu novamente entendo. Te garanto que a maioria dos nossos soldados se recusou a acreditar que a afeição delas não era verdadeira, eu só fui aceitar quando a humana que mantinha em meus dormitórios tentou me matar. E quando eu tentei me vingar, fui impedido por outros cinco dos nossos. Elas são intocáveis!
Eu escrevo este relato de um satélite de um planeta próximo, na esperança de que em mais algum tempo os desertores parem de patrulhar a área e eu possa fazer minha fuga. Estou me arriscando a mandar essa mensagem para ter certeza que vocês não mandem reforços. Vai acabar mal. E não adianta dizer que agora que sabemos fica mais fácil resistir, não fica. Eu perdoei a mulher que tentou me matar e tentei convencê-la a fugir comigo. Vamos aceitar as perdas e deixar esse planeta em paz. Nada de bom pode sair daqui, nada de bom.
VOZ FEMININA: Acabou?
Shh! Edita essa parte fora.
Uma semana após a derrota dos invasores nossos queridos homens voltam a agir como sempre….
Adoro seus descontos, mas este não curti.
Esperava um final mais arrebatador, mais surpreendente…
Prefiro os contos da LEC.