Todos tem suas fantasias sexuais. E não tem nada de errado com isso. Mas eventualmente lidamos com algum pedido que se realmente não é ofensivo, humilhante ou violento para nós, nos soa… engraçado. Ridículo. Sally e Somir discordam sobre como lidar com um pedido desses. Os impopulares se soltam.

Tema de hoje: você aceitaria participar de uma fantasia sexual “ridícula” do(a) seu(sua) parceiro(a)?

SOMIR

Sim. Sempre que possível, jogue junto. Se é importante para a pessoa e o meu maior problema com isso é achar engraçado, não custa nada entrar na fantasia dela e dá-la momentos de diversão… e aceitação. Lembrando aqui que estamos excluindo coisas que seriam humilhantes, nojentas ou perigosas. Pense em algo como uma fantasia (roupa) incomum, interpretação de papéis, pedir que você fique assoviando (de onde saiu essa?)… sei lá… não é comer cocô ou ser espancado com uma barra de ferro, é algo curioso que você não enxerga como sexy.

Evidente que ao se dispor a fazer deve-se omitir que acha a fantasia da pessoa ridícula. E eu sei que é aqui que muita gente vai achar feia a minha argumentação. Mas não confundam o benefício da dúvida com uma mentira descarada. Mantenho: sempre quem possível, jogue junto. A pessoa disse que acha aquilo sexy, eu não acho… mas… o custo de fazer costuma ser tão baixo que é até mesquinharia não tentar.

Pode ser ridículo, mas se você percebe que a sua parceira está gostando muito, tem esse benefício. Talvez aqui pese muito a diferença entre os gêneros, homem faz basicamente qualquer coisa para conseguir sexo. E depois que já está em ponto de bala, ela pode estar usando uma fantasia de Teletubbie que a viagem não perdemos. Não importa, fiz sexo! Existem problemas bem piores na vida sexual de um casal…

Pessoalmente eu sou da opinião que quanto menos “nãos” numa cama, melhor. Não estou dizendo que é para aceitar tudo bovinamente, mas escolher suas batalhas com carinho. Fazer uma checklist se o custo de realizar aquela fantasia é alto demais para você, e como estamos falando de algo engraçado e/ou inusitado, raramente vai ser esse sacrifício todo. O não nessa hora fecha uma porta pra sempre, é um lado da pessoa com a qual você quer ficar que ela vai enterrar em frustração e vergonha.

Porque essa coisa de ridículo é bem pessoal. Depende muito da sua vivência, da sua forma de enxergar as coisas. O que é ridículo para você com certeza soa muito mais razoável para quem pediu. A pessoa não está te sacaneando, ela está te chamando para participar de algo que ela gosta. E, sinceramente? Raramente fetiches estranhos pegam de surpresa depois que você convive um tempo. Tem alguma coisa nele que você já deve ter visto emanando da personalidade da pessoa faz tempo… e se mesmo assim não quis ir embora, sinal de que mesmo achando engraçado, vai acabar lidando com isso.

Fetiches são adquiridos. Muita gente que já disse achar algo ridículo se pegou fazendo e achando o máximo. A repetição gera o ritual fetichista e talvez você até mude de ideia com o tempo. O que eu acho ridículo hoje talvez não ache amanhã. É mais a parte do que conta como humilhação e violência que tende a se manter mais estável (e olhe lá). Repito: é benefício da dúvida, não mentira descarada.

E é claro que essa minha proposta de “arriscar” tem seus perigos: a pessoa pode acabar se demonstrando obcecada por aquilo e você ser pego numa espiral de repetição que aí sim vai exigir uma triste conversa. Mas gente muito pirada que só sente prazer com um fetiche exclusivo não é comum. Você teria sido escolhido! E lembrando que se fosse esse tipo de pessoa, só de negar no começo já teria matado o relacionamento. Pelo menos você sabe que saiu depois de tentar um pouco. Melhor do que nada.

E você não estaria assinando um contrato que te colocaria na cadeia ao ser quebrado, você topou tentar algo novo. Se realmente não tiver jeito, ainda mais no caso de homem, fica bem claro. Novamente, tentar você tentou. Na hora de dar os 110%, você não amarelou. Se pra quem te pediu for inaceitável você não fazer isso, está acabado como estaria acabado ao negar de cara também. Eu proponho tentar algo que dá um pouco mais de chances de sucesso do que jogar tudo pro alto de cara.

É só algo engraçado. Na hora do vamos ver você provavelmente até esquece do contexto e fica focado no sexo. Claro que essa “vantagem” é mais masculina, considerando a migração cerebral da cabeça de cima para a de baixo quando se quer sexo, mas o ato em si ainda chama muita atenção mesmo com poluição sensorial nos arredores.

Importante: é burrice mentir que acha muito sexy e que vai adorar fazer. Omitir em prol da tentativa honesta é topar sem prometer nada. Até porque é crueldade pegar alguém que se abre para você e apontar o dedo na cara dela e rir. Meu fetiche não é humilhar mulher. Se der errado, você não mentiu que gostava, você deixou claro que tentaria. Boa parte do problema resolvido.

Cada um que decida se a pessoa vale a tentativa. Muito chato isso de querer que todo mundo tenha opiniões imutáveis, na vida a gente aprende muita coisa, a gente tenta muita coisa… não tentar te deixa com um arrependimento doloroso, não faz bem não. Ainda mais se for para fazer feliz uma pessoa da qual você gosta. Não tem que tentar entender porque a pessoa tem aquele fetiche e concordar com isso, fetiches não fazem muito sentido mesmo. Pensa na pessoa… ela vale o esforço? Se vale, por que não?

Para dizer que esse tema deve ter surgido depois de orelhas de elfa serem ventiladas, para dizer que é fácil falar porque fetiche de mulher é tudo faixa-branca, ou mesmo para dizer que comendo, está tudo ótimo: somir@desfavor.com

SALLY

Você toparia participar de uma fantasia sexual que achasse ridícula mas que fosse importante para seu parceiro, excluídas coisas violentas e humilhantes?

Não, não toparia. Pois se é algo que eu acho ridículo, fatalmente vai ser uma violência e certamente vai ser humilhante de protagonizar. Tanto homem como mulher só tem que fazer o que querem e o que gostam. E se o que cada um quer ou gosta não é compatível com o outro, não tem muitas áreas de coincidência, minha opinião é a de que esse casal é incompatível.

Não é pela fantasia. Eu me vestiria de pinguim, de Barney ou de alguma princesa Disney? Certamente, em outra ocasião. Para uma festa de aniversário de uma filha de alguma amiga, para uma festa à fantasia, para qualquer ocasião onde a vestimenta me pareça condizente e adequada. Eu topo me fantasia de boa, inclusive adoro festa à fantasia. Só não vou fazê-lo em uma ocasião onde isso me faça sentir ridícula.

Também não é por vergonha de eventuais encenações. Já fingi ser quem eu não sou quando isso me divertia ou me convinha. Mais de uma vez respondi com um “no hablo” quando pessoas esquisitas vinham me passar cantadas inconvenientes. O problema, novamente, está no contexto. Se vai me causar estranhamento ou até graça, não vejo razão para fazer. Me soa quase que como um “fazer por pena”, tipo um “ok, eu faço esse esforço por você mesmo sem aproveitar em nada”. Não gostaria que fizessem isso comigo.

Eu acredito que a partir do momento em que você topa, você diz, por vias transversas que de gosta daquilo. Não se espera ou se presume que alguém tope qualquer coisa sexual que não gosta só para agradar um parceiro (e se existe quem o faça, recomendo terapia urgentemente). Gente que aceita coisas que não gosta para agradar o parceiro tem sérios problemas de autoestima. Eu só faço o que eu quero e o que gosto, se “o homem vai acabar indo embora” ele que vá, eu procuro outro que seja mais compatível comigo.

Sexo e a graça não podem coexistir. Se você está achando algo muito engraçado ou ridículo, não vai ter o menor estímulo sexual. Vai fazer apenas para agradar o outro. Deprimente. Ainda vai induzir o outro a erro, pois ele vai pensar que, por ter aceito a proposta, você gostou e pode basear uma vida sexual em uma mentira. É uma forma, ainda que branda, de enganar o parceiro. Não tem necessidade disso. Não creio que seja saudável nada unilateral, ou ambos gostam,ou melhor não fazer.

Acho direito da pessoa saber que você entende ser ridículo aquilo que ela está pedindo. “Quero que você se vista de unicórnio!”. Não, obrigada, eu acho ridículo. Ao não comunicar que você entende aquilo como ridículo, a pessoa acha que você está na mesma página que ela e começa a desenvolver a fantasia, acrescentando coisas, fazendo dela um projeto em comum.

Mal sabe ela que, coitada, por dentro você está rindo e achando patético. Eu ficaria muito puta de fingirem estar na mesma página que eu e não estarem, isso claramente induz a pessoa a erro enquanto a outra fica de espectadora achando ridículo em silêncio. É quase que montar uma armadilha para a pessoa. É desleal, desonesto. Estimula a pessoa a continuar e a ser, perante os seus olhos, cada vez mais ridícula. Periga até você acabar perdendo o respeito pela pessoa.

Eu ficaria muito puta se fosse induzida a erro assim. Me sentiria traída de alguém fingir que gosta de uma coisa enquanto mentalmente a acha ridícula. Me sentiria humilhada em saber que a pessoa participou de algo que achava ser ridículo. Não me basta o fazer, eu preciso que a pessoa goste do que está fazendo e não que apenas o faça para me agradar. Eu não veria uma pessoa que topa uma coisa ridícula para me agradar com bons olhos, eu a veria insegura e sem amor próprio, é até provável que desgostasse um pouco dela.

Aceitar algo que você acha ridículo não é apenas topar uma fantasia idiota, é também induzir uma pessoa que confia em você ao erro. É um atentado à cumplicidade,uma pancada na confiança. E, vai por mim, se você verbalizar para a pessoa que acha ridículo mas topa fazer, ela dificilmente vai querer fazer. Aceitar fazer algo ridículo sem comunicar como você se sente é tomar uma decisão (muito equivocada) no lugar da pessoa. Essa decisão é dela: ela quer que você faça mesmo achando ridículo? Suponho que não.

Decidir pela pessoa é infantilizá-la, trata-la como uma criança, como uma coitadinha que não será capaz de suportar o baque de saber que você acha ridículo o que ela gosta. Além disso, realizar algo que você sente como ridículo implica em fingimento: fingir que está gostando, fingir que não acha patético, fingir que está na mesma página que uma pessoa. Não estou disposta.

Todo mundo perde com essa mentira: quem se sujeita a fazer algo que acha ridículo e quem é enganado acreditando que o parceiro está curtindo algo que na verdade acha ridículo. O pior é que é aquele tipo de mentira bola de neve, quanto mais passa o tempo, mais complicado desmentir e mais puta a outra pessoa vai ficar por mensurar todo o tempo de mentira e fingimento. Esse tipo de mentira, melhor nem começar, pois ninguém é tão fodão a ponto de mentir com perfeição 100% do tempo.

Fatalmente vai chegar uma hora em que o parceiro vai perceber a verdade e vai ficar muito magoado. Arrogância pensar que se pode enganar a pessoa para o resto da vida. E quando isso acontecer, os danos à relação já estarão feito e serão irreversíveis. Se colocar em uma situação assim é, além de tudo, uma grande burrice. Um relacionamento fake onde se faz de conta gostar do que não se gosta não me interessa.

Para me chamar de inflexível, para dizer que é por isso que eu nunca casei ou ainda para compartilhar experiências humilhantes: sally@desfavor.com

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Comments (36)

  • Se for só engraçada, tudo bem. Uma bobagem não custa nada… Mas certeza que a minha ia ter que ser realizada também.

  • E se a mina te pedisse pra usar fio dental? Trocar sua fralda estilo my baby boy ou andar de coleira feito cahchorrinho? Ta bom que vc toparia, Somir cof cof cof

  • Fiquei impressionado com esse lado compreensivo do Somir. Realmente, a fronteira do sexy e do ridículo é muito tênue. Acho um exagero dizer que participar de uma fantasia ridícula pedida pela pessoa amada seja uma violência ou uma humilhação.
    Num relacionamento saudável é normal fazer concessões mútuas pela felicidade do outro. Se você não vê nada de mais não fantasia, e para a pessoa amada seria algo muito importante, qual o problema de fazer? Afinal, não é algo que viola os seus princípios, ou que você é radicalmente contra, é só algo que você acha engraçado em vez de sexy.
    Não está sendo pedido para que você faça algo que não quer terminantemente, mas algo que não faria espontaneamente, a diferença é notável.
    Você pode tentar, inclusive deixando claro que para você aquilo é engraçado. É bem capaz de na hora H você conseguir se divertir com aquilo. Afinal, não estamos falando de sexo casual, mas sexo com alguém como quem você tem uma relação profunda, com quem você compartilha intimidades.
    Todos nós passamos por alguns momentos sutilmente ridículos durante o sexo quando ele acontece várias vezes no seio de um relacionamento, que são relevados pelo momento e pela companhia.
    Em suma: todas as cartas de amor são ridículas, mas só quem não ama é verdadeiramente ridículo.

    • N,

      Você é aquele(a) N inteligente???
      Saudades! Sou sua fã, letrinha!

      Mas hoje discordo.

      Quem não abre mão de nada realmente não cria vínculos com ninguém. Mas ser flexível é assistir aos filmes chatos de que o outro gosta ou ir a um evento importante para o outro quando gostaria de estar em casa dormindo. Mesmo assim, tem que haver um equilíbrio: quem muito cede acaba ficando infeliz.

      Mas… nesse contexto específico do tema abordado??? Pode até ser egoísmo, mas não dá, não dá, não dá…. É pura violência.

      PS: Imagina você fazendo sexo com uma pessoa com o sorriso e o olhar dessa da imagem? Amor próprio nunca mais.

  • NOTA DO SOMIR: Esse tipo de brincadeira não cabe mais aqui não. Esse tipo de intimidade e flerte com a Sally, brincadeira ou não, eu não vou tolerar. Se era por falta de aviso, pelo menos agora não vai ser mais.

      • Não estou com saco para isso agora não… você sempre teve um tanto a mais de liberdade aqui que a média. Decide aí se vai só me achar chato/babaca e seguir em frente ou se vai continuar cutucando.

          • Marina, a casa é dele (além de minha). Não cabe a terceiros apontar o que pode/deve incomodar ou não. Ele é o dono da casa, se algo o incomoda, não será feito e ponto final, assim como quando algo me incomoda ele me dá total carta branca para banimento sumário. Temos esse acordo: quem é um para dizer ao outro que não deve se incomodar com algo?

    • Censura de comentários?
      E a liberdade de expressão?

      E desde quando a gente não pode mais flertar com a Sally???

      Então eu vou embora, porque estou neste bloguinho só pra isso e por isso.

          • Sim, eu sou um monstro. O pior ser humano que jamais existiu. Tipo Hitler passando cantada na Valentina…
            Cidadão escreveu uma coisa que eu não gostei, nem de brincadeira, e que não quero ver mais gente escrevendo. Ficou o aviso.

            Eu não quero ser admirado pelo o que fiz. Só quero deixar claro quais são as regras agora.

            • Monstro? De jeito nenhum!

              SE essa sua reação desproporcional e histérica não for uma brincadeira sua, você não é um monstro, não. É só um mocinho inseguro incapaz de lidar com essa onda irracional de ciúmes do José Mayer de Sunga e suas fantasias peculiares.

              Por favor, diz que é trollagem! Você está MESMO com ciúmes?

  • Não.

    Porque eu não faço o que eu não quero em nenhuma hipótese para agradar alguém nesse contexto específico. Só faço o que me agrada.

    É uma resposta que revela o quanto sou profundamente egoísta e egocêntrica…. Mas esse é o risco de participar dessas discussões por aqui. Além disso, qualquer outra resposta menos direta, em que eu dissesse que “respeito o parceiro demais pra enganá-lo” seria absolutamente falsa em todos os sentidos.

    Mas, depois de ler os textos, concordei com a elegante argumentação da Sally: mentir e infantilizar o outro nunca dá certo.

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