Objeto do desejo.

Há algum tempo atrás, num fórum de internet sobre videogames, começava um tópico de uma pessoa pedindo indicações de jogos para esquecer um dia ruim. Algo muito comum, que acabaria com algumas sugestões em poucos minutos não fosse uma parte bem específica da postagem: a pessoa reclamava que levou uma bronca da irmã por ter gozado numa bancada de azulejos da cozinha de casa.

Eu sabia que vocês iam continuar lendo… pois bem: isso obviamente gerou curiosidade dos outros participantes do fórum. Esperando talvez uma história engraçada de mais um adolescente cujos hormônios venceram os neurônios, exigiram uma explicação. “Por que você estava batendo uma na cozinha? Ainda mais, como caiu em cima da bancada?”. O rapaz responde que estava deitado em cima da bancada. O que, novamente, gera mais e mais perguntas. A famosa curiosidade da internet pressiona o cidadão até ele confessar que seu fetiche eram padrões de azulejos.

E então o tópico explode! Meio contrariado, mas talvez também aliviado de finalmente contar para alguém seu segredo, o rapaz passa a tentar explicar como azulejos causavam excitação sexual nele. Todos os que acompanhavam malucos de curiosidade. E era um fetiche bem específico: ele colecionava fotos de azulejos e seus padrões em pastas organizadas por grau de… safadeza, por assim dizer. Formas mais geométricas e previsíveis eram vistas como mais virginais, e as mais rebuscadas e caóticas como devassas insaciáveis! Um tipo para cada momento. Mas todas capazes de gerar excitação nesse rapaz… único.

Confesso que eu tentei quebrar esse código e entender o que exatamente configuraria um azulejo safado. Ainda estou em dúvidas com os do meu banheiro, percebo mensagens contraditórias ali. De qualquer forma, talvez por vergonha ou por putez de ser acusado de ficar gozando em azulejos (o que ele garantia ser um acidente, já que respeitava muito os azulejos), ele tenha desaparecido. Mas sua história ainda ecoa de tempos em tempos na internet. De tão único, esse fetiche nem nome tem. Azulejofilia? Talvez nunca saibamos. Mas, uma coisa eu sei, o ser humano pode ser ainda mais fascinante quando falamos de parafilias.

Parafilia é um termo que reúne uma quantidade enorme de taras que não estão necessariamente ligadas ao ato sexual em si. Mas convenhamos que é uma definição meio complicada, tanto que o consenso sobre o conceito ainda é meio difuso. O que configura o ato sexual “normal”? Não faz nem muito tempo e sexo gay ainda era considerado uma parafilia. Fazendo um apanhado das definições que encontrei, resolvi fazer a definição que vou usar hoje e quiçá em colunas futuras: parafilia é o interesse sexual no que não quer ou não pode demonstrar consentimento. E muito cuidado com o entendimento disso: se a pessoa tem tara por excrementos, o excremento não é algo capaz de gerar consentimento, mesmo que seu “produtor” esteja mais do que contente em providenciar essa merda toda. Ou, se fica muito excitada com mulheres gordas, é a gordura em excesso que conta, não a pessoa presa ali no meio. Entendem a ideia?

Se o que te deixa sexualmente excitado é algo além de uma pessoa querendo fazer sexo com você, você tem uma parafilia. E apesar de coisas muito escrotas como estupro (e por tabela pedofilia) estarem nessa categoria, não quer dizer necessariamente que você é inapto a conviver em sociedade, fetiches estranhos boa parte de nós temos, a maioria tende a ser inofensiva. Aliás, parafilias podem ser exclusivas ou não. A pessoa pode ficar excitada só com aquilo, ou pode ficar excitada também com aquilo. Se você chegou no ponto de SÓ sentir tesão vendo azulejos, algo vai mal; mas, se tiver uma vida sexual satisfatória e eventualmente achar uma parede de banheiro muito safada… você só está sendo um ser humano fascinante como tantos outros.

É difícil explicar exatamente o que dispara essa “quentura” na sexualidade humana em casos tão específicos. A mais lógica até o momento é que são gostos adquiridos, provavelmente enquanto se está formando a personalidade. Até porque a lista de parafilias catalogadas é enorme, não apresentam muito terreno comum entre si e presume-se que se existe, alguém tem esse fetiche. Mas hoje eu quero me focar nas que se baseiam em objetos inanimados, e não, aquele tipo de mulher que vira almofada na cama não conta: casamento é burrice, não fetiche.

Existem vários fetiches dentro dessa categoria, e um que é o pai de todos. Mas primeiro vamos listar alguns dos mais básicos, e é aqui que minha curiosidade doentia sobre o tema vem a calhar: eu posso ainda apontar se já vi algum vídeo, foto ou desenho sobre o fetiche em questão. Felizmente para as pessoas que convivem comigo e infelizmente para esta coluna, eu não coleciono o material, então não esperem muitos exemplos visuais. Importante: os links que eu vou colocar não são de imagens pornográficas, mas algumas piadinhas visuais podem ser demais se o seu ambiente de trabalho for mais careta.

Agalmatofilia: Fetiche por estátuas, manequins e imobilidade em geral. Provavelmente aquelas fotos de gente molestando estátuas não contam, mas vai um link bacana. Na verdade, esse fetiche até que é famoso na parte da imobilidade, os japoneses cuja premissa é o tempo parar e um cidadão ficar molestando as pessoas travadas no tempo. Aliás, tem uma tonelada de filmes, Japão, sempre inovando!

Dendrofilia: Fetiche por árvores. Não estou falando de fotos de árvores “sugestivas”, e sim de sentir atração sexual por árvores. Provavelmente deve ter algum filme japonês sobre isso, mas vamos tirar isso do caminho: provavelmente sempre tem. Nem vale a pena conjecturar. Já vi desenhos, mas as árvores estavam “vivas”. Não conta, né? Tem um caso pelo menos de uma mulher, Emma McCabe, que se apaixonou por uma árvore! Segundo ela, sexo com uma árvore se faz se esfregando no tronco e nas folhas… menos mal, ia ser complicado se o galho quebrasse lá dentro.

Hoplofilia: Tara por armas de fogo. Sim, eu acabo de descrever os Estados Unidos, mas vai além disso. Apesar de armas de fogo serem frequentemente usadas como substitutos fálicos em cenas com elementos de dominação e/ou humilhação na mídia (tem uma do filme Spring Breakers que não deve ofender porque é com homem, e contra homem pode tudo…), confesso que ainda não vi nenhuma cena de gente sensualizando a arma, como parceira. Tinha um site famoso de modelos se esfregando com armas que eu infelizmente já esqueci como se chamava. Talvez seja o mais próximo disso, mas, pelo visto, tem tudo a ver com pintos.

Mecanofilia: Não, não é nada de alguém radical até demais pelo islã, é o fetiche por carros e outros tipos de máquinas. E de novo, não, eu não estou descrevendo seu namorado. Que muita gente fica excitada com carros é até sabido, mas fetiche PELO carro são outros quinhentos, apesar de existirem inúmeros vídeos de mulheres “acomodando” alavancas de câmbios (vocês podem imaginar como), eu acredito ter visto coisas bem mais específicas, principalmente em desenhos. O mais… curioso… de todos tem a ver com… é difícil explicar… dragões… dragões fazendo sexo com carros. Não estou inventando, isso existe! Chegou num ponto que ninguém mais sabe se isso é um fetiche de verdade ou se a piada suplantou tudo. Segue o link, que apesar de hilário, não é uma coisa boa para vocês abrirem no trabalho.

Peluciofilia: É… é! Fetiche por bichinhos de pelúcia. Enquanto você esperava pela lição de amor e carinho no final do episódio dos Ursinhos Carinhosos, tinha alguém se masturbando ali! Eu já vi coisas horrendas sobre esse fetiche, recentemente apareceu uma história de um cidadão que faz sexo com seu boneco do Sonic (sim, o do videogame, o dia que eu falar de Sonic e personagens de videogame vocês vão querer se matar) há pelo menos 25 anos. E sem nunca lavar o boneco. As fotos são nojentas, e o cidadão tem exatamente a cara que vocês imaginam que tem. Por respeito a vocês, não vou postar. Mas tem mais, tem muito mais… já vi os relatos e as fotos de um cidadão (com a cara que vocês imaginam que um cidadão desses tenha, de novo) que tem um quarto cheio de animais de pelúcia, mas seu fetiche auxiliar é urinar em cima deles. Novamente, vocês não merecem (ainda) ver essas fotos. Acabou? Que nada! Alguns fãs do desenho “Meu Pequeno Pônei” (homens adultos, tá? Quando eu falar desse desenho vocês vão querer se matar de novo) mandam fazer bonecos de pelúcia das pôneis com buracos para… bom, vocês entenderam.

Pirofilia: Dando um novo sentido para “fogo no rabo”. Pirofilia é a excitação sexual pelo fogo. Porra, isso eu não lembro de exemplos. Talvez seja uma derivação da piromania. Com certeza alguém no deviantart já deve ter feito um desenho disso (ah, deviantart também vale uma coluna pra matar sua fé na humanidade).

Tem mais vários, mas eu já estou chegando no final sem falar da principal, a Objetofilia. Fetiche por objetos, objetos bem específicos que não tem aparência de um ser vivo. Tem quem se apaixone até por pontes e monumentos. Curiosamente, são sempre mulheres que se apaixonam por objetos impensáveis. Tem muito homem solitário nesse mundo que larga tudo para ficar com uma boneca, mas apesar de eu ainda contar como objetofilia honorária no final das contas, parece com um ser humano. E sim, eles tem mesmo exatamente a cara que vocês imaginam que eles tenham, só pra variar!

Mas mulher é sempre menos previsível, ao invés de se apaixonar por um boneco ou por um vibrador, resolve se apaixonar pela Torre Eiffel. Erika Eiffel (sobrenome do marido) ficou famosa por um documentário feito sobre sua objetofilia. Ao se declarar esposa da Torre Eiffel (o que é uma sacanagem já que a Torre não foi ouvida!), Erika traiu seu parceiro anterior, Lance. Mas não se preocupem, Lance era seu arco dos tempos que era competidora de tiro ao alvo. Acho que chifre não pega em objetos inanimados.

Mas antes de Erika, outra mulher (é claro) ficou famosa por manter um relacionamento estável com o Muro de Berlin, Eija-Riitta Berliner-Mauer deve ter ficado arrasada com o fim da Guerra Fria. O que faz um ser humano desenvolver esse tipo de ideia ainda é um mistério, isso é, se você ignorar o fato de que são mulheres e se elas não tivessem um parafuso solto de fábrica jamais aturariam homens em geral. A Torre Eiffel pode não ser muito de falar, mas pelo menos não fica esparramada no sofá o dia todo. Homens tendem a encarar esse tipo de relacionamento solitário (se é que isso pode existir) desde que tenha um buraco disponível, mulheres parecem não se prender a isso.

O ser humano é assustador às vezes, mas, é mesmo fascinante. E é por suas taras malucas que muitos colocam para fora toda a aleatoriedade possível entre bilhões e bilhões de espécimes disponíveis. Fetiches e pornografia derivada deles já me deram muitos insights sobre a natureza humana, o assunto vai muito longe. O que as pessoas escondem diz muito mais sobre elas do que o que elas confessam.

Para dizer que nunca mais quer ver essa coluna (essa eu fiz light, viu?), para dizer que descobriu um novo fetiche, ou mesmo para dizer que vai tentar descobrir se os azulejos da sua casa são safados: somir@desfavor.com

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Comments (10)

  • Cara, parece ate mentira!

    O fogo como estimulo sexual!!!!Tezao por árvores?!!!! “Casamento é burrice, não fetiche.” Isto que é síntese, colegas “Desfavor nao-convidados.” Sin-te-se. Isto mesmo, Somir, o casamento é a pior burrice já inventada…

  • “”

    Concordo! Mas não duvido que muitos mintam e inventem fetiches bizarros só para aparecer…

    Os segredos genuínos são mais protegidos… E, mesmo quando descobertos, fica sempre uma dúvida, porque a verdade não é necessariamente verossímil.

    • Não consegui fazer a citação! Era: “O que as pessoas escondem diz muito mais sobre elas do que o que elas confessam.”

  • Gostei muito!

    Achei que dificilmente a coluna seria algo além de “mais do mesmo”, mas nunca poderia imaginar tara por azulejos, Torres e muros.

    E por que até as mulheres malucas tendem a querer relações estáveis e compromissos sérios??? Que coisa mais chata!

  • Até eu que sou bastante curioso com esses assuntos fiquei surpreendido, quanto mais eu conheço o ser humano mais medo eu tenho, tem gente muito bizarra nesse mundo

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