Domingo o Brasil foi pra rua mais uma vez, com números maiores até do que foram em casos como as ‘Diretas Já!”, o PT parece mais sem saída do que nunca, tentando usar todas as armas que tem e que não tem pra aguentar essa pancadaria. Lula está prestes a aceitar o cargo de ministro, oferecido por Dilma para infiltrar seu comparsa no poder e principalmente, para afastá-lo das garras de Sérgio Moro, criado foro privilegiado para nossa (não) querida jararaca barbuda. Feio, muito feio… mas, vamos pegar um caminho diferente no texto de hoje: vamos pro time deles.

Vamos chafurdar na lama lulopetista e pensar o que poderia ter sido feito de diferente e o que ainda pode ser feito para tentar salvar um partido moribundo. Porque Sally foi perfeita ao apontar que o principal engano nessa história toda foi o do PT achar que dava pra fazer as coisas como sempre fez e sair ileso. Os tempos mudaram. E bastava um pouco de cérebro para tirar proveito disso. Corruptos todos os partidos são, mas o PT adicionou burrice à equação.

Fim do segundo mandato de Lula. O país já estava apontado para um desastre, mas a maioria esmagadora das pessoas não tinha percebido. Era tempo de otimismo, economia aquecida pela voracidade chinesa e prospecto de riquezas abaixo da camada de sal. A Classe C era a bandeira de um sucesso retumbante, Lula e seu partido gozavam da admiração mundial pelo milagre feito no Brasil. O desfavor, assim como tantos outros, latia desde lá, mas a caravana estava pronta para passar.

Qual seria o golpe de mestre naquele momento? Usar o prestígio para tirar uma candidata da cartola e fazer o país eleger sua primeira presidente mulher? Estabelecer uma dinastia de mais de dez anos no poder? Bom, era só analisar o que acontecia no mundo para notar que às vezes a melhor jogada é não fazer jogada nenhuma. Se o PT “entra dobrado” naquela eleição e perde, adivinha quem estaria sendo enxotado do governo nesse momento? A atual oposição. Aqueles oito anos de bonança precediam uma tempestade. A crise que vivemos hoje foi muito potencializada pela irresponsabilidade do governo de Dilma para garantir sua reeleição, mas a maré estava mudando mesmo.

Sabíamos desde lá que o crescimento chinês não era sustentável e que as grandes economias começariam a se recuperar do desastre de 2008. Ao invés de investir o dinheiro que entrou para manter a economia brasileira resistente às intempéries internacionais, o PT decidiu ser popular com distribuição de renda. Resolvia a parte de ganhar a eleição, mas não tratava da crise que fatalmente viria. Dizer “não disse?” não resolve problemas, mas… não dissemos? Se nós, dois leigos em economia, conseguimos antever o desastre, como assim o PT não conseguiu?

Minha teoria é que conseguiu sim, mas pagou pra ver. Apostou o país inteiro esperando uma carta que não veio. Se o pessoal do governo tivesse sido mais conservador e saído de fininho do poder para ver seus adversários arcarem com todos os problemas de sua administração, o povo brasileiro seria incapaz de notar tal herança maldita. A culpa cairia no PSDB, seja com Serra ou Aécio. O PT estaria de volta a sua posição mais confortável, batendo com tudo na situação, e seriam aclamados pelo povo quando emplacassem uma nova candidatura à presidência, provavelmente com o Lula em 2014. Ao invés de esperar calmamente pelo retorno ao poder, o partido (vulgo, Lula e seu ego) ficou ganancioso e quis empurrar 16 anos contínuos no poder.

Acreditaram que poderiam lidar com a revolta de um povo utilitarista feito o brasileiro mesmo diante de uma crise. Arrogância estúpida, e olha que de arrogância estúpida eu entendo! Evidente que estourou na cara deles. A pá de cal foi o sucesso da Operação Lava-Jato, que também prosperou pela mesma arrogância de levar a corrupção para uma escala absurda até para os padrões de uma nação corrupta feito a tupiniquim. Roubaram muito e de forma atabalhoada. Cada fase da investigação encontra mais e mais coisas mal explicadas. E se o PT não tivesse tentado dominar esse país como um coronel ganancioso, talvez ninguém estivesse puto o suficiente com eles para investigar com tanto interesse.

Mas deixemos o passado no passado. Lula e cia. falharam ao não ver uma oportunidade de jogar a bomba no colo da oposição, e já que a bomba vinha de qualquer jeito, que bom que os explodiu no processo. Vamos pensar no que poderia ser feito agora. Dilma, por mais que claramente esteja suja (é impossível não estar se chegou à presidência), poderia fazer uma manobra espetacular agora, que se não garantiria uma carreira política futura, pelo menos redimiria um pouco sua imagem.

Se eu fosse a Dilma, eu sairia do PT, botaria pra foder com o Lula e tentaria me segurar mais um pouco. E não só pela minha imagem, até para salvar o partido. O segredo seria transformar o Lula no vilão. Focar tudo o que está de errado no PT em cima dele, criando quase que uma condição de expulsão dele de lá para que a alma da legenda fosse lavada. Vai demorar até o brasileiro votar no PT com a vontade de tempos recentes, mas caso a coisa seja bem orquestrada, esse povo cai que nem um patinho na história de que Lula era o elemento podre lá dentro.

A catarse do PT expulsando o Lula ia deixar a população no mínimo confusa. Seus outros membros teriam a chance de finalmente vir a público dizendo que estavam aliviados, e que o partido poderia voltar a ser o que sempre quis ser: o partido do povo. Nós aqui do desfavor não acreditaríamos, mas, duvida que o povão não engole? E é até uma analogia fácil de passar para esse público: assim como nenhum jogador deveria ser maior que seu time de futebol, nenhum político deveria ser maior que seu partido.

Imagina só Dilma batendo o pau na mesa e dizendo que vai ajudar a combater a corrupção entregando tudo o que sabe? Indo para outro partido, de preferência um daqueles bem comunistas radicais. Explodindo a base toda e mantendo o país ingovernável. Não ia mudar muita coisa, na verdade. Se aguentasse o tempo suficiente e se o resto do PT percebesse a chance de transformar seu Jesus em Judas, poderia até voltar para o partido depois da saída de Lula, retomando algum controle sobre a nação aos 45 do segundo tempo. Dos “cocretes” às coxinhas, o povo provavelmente ficaria confuso demais para manter a pressão sobre o governo.

O que me parece claro aqui é que enquanto Lula for o cabeça desse partido, só vai ter vento lá dentro. Se tivessem controlado seu ego em 2010, o partido estaria mais forte do que nunca. Se tivessem jogado ele às hienas agora, haveria uma chance de redenção. Mas, obviamente não vai ser isso que vai acontecer. Não vamos ver nossa primeira presidente mulher fazendo a coisa mais macho da história do cargo. Pelo visto acreditam que dá pra ir mais fundo ainda no poço antes de encontrarem um fundo.

Sorte nossa. Eu adoraria terminar com as sábias palavras de Romário: “quem é ruim se destrói sozinho”, mas, não é tão bacana assim quando somos levados juntos para o buraco. É um momento histórico sim, de aprendizado, não acredito que a lição vai ser assimilada, mas era a hora perfeita de entendermos que não dá para ficar fazendo as mesmas coisas com os mesmos resultados para sempre.

Se há algum alento nisso, é que finalmente alguém se deu mal por ter subestimado demais o brasileiro.

Para dizer que vai me contratar quando for pego roubando bilhões, para dizer que ainda acha que o PT vai dar um jeito de sobreviver a isso, ou mesmo para dizer que no fundo ainda tem alguma esperança na Dilma (não pra ser boa governante, mas pra botar pra foder): somir@desfavor.com