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Apropriação cultural.

Apropriação cultural.

| Sally | | 88 comentários em Apropriação cultural.

Tahuane Cordeiro usava um turbante na cabeça e estava em um transporte público quando foi abordada por uma ativista negra, que se aproximou e deu-lhe um esporro em tom de reprovação. A ativista disse que ela não deveria usar turbante, pois ela era branca e turbante é uma expressão da cultura negra, configurando apropriação cultural. Tahuane tirou o turbante e revelou uma cabeça careca. Explicou que estava com câncer, mais precisamente, leucemia mielóide aguda, razão pela qual usava um turbante para proteger sua cabeça e também por fazê-la se sentir melhor consigo mesma. Qual foi a reação? A pior possível.

Tahuane Cordeiro continuou a ser recriminada por usar turbante. E a questão foi parar em redes sociais. Tanto a ativista como pessoas em redes sociais argumentaram que, mesmo com câncer, ela não poderia usar turbante, por ser branca. E aqui, me permito citar uma das respostas, para que vocês percebam o sobre o que estamos falando: “vc tem câncer ok triste ok isso n lhe da o direito de se apropriar de uma cultura. Quer esconder? Usa um lenço, sei la, mas não um turbante”.

Vamos começar a conversa com uma questão preliminar: o turbante foi criado e tradicionalmente utilizado e difundido pelos Sumérios, no caso, brancos. Então, se houvesse esse nonsense de apropriação cultural, os negros é que estão se apropriando de cultura branca. Não faz o menor sentido. Imagina se cada cultura impedisse as demais de usar algo que é seu.

Eu mesma já presenciei uma vez, em Salvador, uma pessoa branca sendo hostilizada na rua por estar usando trancinhas no cabelo. Mesmo argumento: isso é da cultura negra e brancas não podem se apropriar. NÃO FAZ SENTIDO. Não faz sentido e não tem coerência: já pensou abordar uma pessoa negra, no meio da rua e começar a reclamar dizendo que ela não pode mais alisar o cabelo, pois cabelo liso é coisa de branco e ela é negra? NÃO FAZ SENTIDO.

Em vez de evoluir para um pensamento mais humanista, onde todos somos seres humanos, pouco importa em qual embalagem, os ativistas que dizem combater o preconceito na verdade parecem querer gerar mais separação. MINHA cultura, só MINHA, não permito que mais ninguém use! Amiga, o que é isso? Uma raça não é dona de nada e que bom que outras raças admiram algo que sua raça faz e decide adotar essa cultura também. É um elogio, não um roubo.

Em que mundo estamos onde uma pessoa quer se apropriar de um acessório da vestimenta e se sentir no direito de não permitir que algumas raças o usem? Quão bizarro é abordar uma pessoa desconhecida na rua para dizer o que ela pode ou não pode vestir? Se não querem se unir por sermos todos humanos, unam-se por serem todos brasileiros. Vocês são um povo, uma nação! Parem de brigar entre si!

O curioso é que o que, para a gente soa um absurdo, foi bem aplaudido: boa parte da internet tomou as dores da ativista que pagou um esporro público a uma menina com leucemia por usar um turbante. Virou uma polêmica tão espinhosa que os meios de comunicação ficaram em cima do muro, tratando a questão como uma dúvida: usar turbante é apropriação cultural? Não teve um jornalista em grandes portais para apontar o ridículo da coisa. Gente, o que está acontecendo?

Eu não pensava que seria necessário vir aqui e escrever este texto, vocês sabem, nossa política é ser uma fonte alternativa, não dizer o que já foi dito. Eu juro, achei que alguém levantaria a bola do desfavor que foi um grupo se apropriar de uma vestimenta e hostilizar quem a usa, ainda mais sendo uma pessoa com uma doença terrivelmente sofrida. Mas não. Foi necessário. Ninguém disse. Tá todo mundo com medo de mexer nesse tema. Ele é tratado como uma discussão. Oi? Não tem discussão! Tá errado fazer isso, ainda mais dessa forma!

Para piorar o grosso do ataque veio de mulheres que supostamente se dizem feministas. Daí eu pergunto: não era meu corpo minhas regras? Pelo visto, Tahuane só tem direito ao corpo, as regras são ditadas por ativistas. Não pode usar o que elas não querem que use?  Instigam a discórdia, a rivalidade e a divisão social, algo que em tese seria o que o movimento buscaria, em tese, combater.

Pior do que a polêmica ridícula é que a sociedade no geral não consiga identificar esta polêmica como ridícula e tenha medo de confrontar e dizer “Tá errado isso, usa turbante quem quer, pois é escroto proibir qualquer coisa em função da cor da pele da pessoa”. Não. Ninguém dando um pio.

Gente, eu sou louca ou preconceituosa por ver nisso um absurdo? A coisa chegou num ponto que eu estou começando a duvidar dos meus próprios valores. Eu torço para que os ânimos se acalmem e as pessoas percebam quão insesato é combater ódio com ódio…

Para me chamar de racista, para me chamar de burra ou ainda para confundir censura (impedir a pessoa de falar em qualquer lugar) com moderação de blog (selecionar o público com o qual eu quero interagir): deixe seu comentário.

Comentários (88)

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