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100 sucesso.

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| Somir | | 8 comentários em 100 sucesso.

Depois de 100 dias da administração de Trump, surpresa, surpresa: ele é um desastre. Não por suas opiniões ditas impopulares ou pelas promessas que não está cumprindo, afinal, isso já estava muito na cara. O desastre que eu menciono aqui é para o movimento que deveria representar: a nova direita. Geert Wilders já caiu na Holanda e Marie Le Pen não parece ter fôlego para se eleger na França. Trump está matando os novos Trumps, um a um. Mas, isso é bom ou ruim?

Em primeiro lugar, sim, já sabíamos que as propostas megalomaníacas e simplórias (por incrível que pareça) do homem alaranjado não dariam em muita coisa. Aparentemente governar um país é bem mais complexo do que ele previa. Depois de uma histórica marca para os americanos, a de 100 dias, Trump tem pouco para mostrar. Suas canetadas foram desfeitas pelo Judiciário, seus planos para construir o muro estão enroscados, e nem a tão prometida reforma na saúde avançou. Na verdade, foi tão feia a coisa que o governo ficou com vergonha de mandar o projeto para votação, mesmo tendo maioria nas duas casas do Legislativo.

E de pedra, Trump virou vidraça. As críticas que fazia a Obama viraram suas ações depois de assumir o governo. Pode-se argumentar que Trump sempre soube que não faria porra nenhuma do prometido e só queria a ego-trip de 4 anos como presidente e um nome marcado para sempre na História. Caso não seja impedido, isso já está feito. Ok, não é nem um pouco difícil achar que um político tenha mentido descaradamente para conseguir votos e agora esteja cagando para sua base eleitoral. Mas, tem algo em Trump que realmente foge à regra do político desinteressado: seu Twitter.

Tão ou mais assíduo na rede social como antes de eleito, Trump se entrega em 140 caracteres ou menos. Dá para sentir a putez de um homem contrariado em tudo aquilo. E quando ele faz comícios para seu público? Depois de eleito! A última brincadeira dele foi faltar ao jantar de gala da imprensa da Casa Branca, onde historicamente os presidentes agüentam piadinhas de comediantes e fazem das suas também. Obama teve uma fala memorável sacaneando o Trump num desses, e considerando que o homem do cabelo indomável passou a campanha e seus primeiros dias eleito batendo na imprensa, fez sentido ele jogar fora a tradição e não ir até o jantar para ser mais sacaneado.

E ainda por cima, fez um comício em outro lugar (sim, ele anda fazendo isso mesmo depois de eleito) na mesma hora tirando onda por não ter ido e dizendo que o faltava o presidente no “jantar com o presidente”. Realmente Trump gera uma espécie de “admiração Pilha” quando faz esse tipo de coisa, mas numa análise fria, só está cavando mais e mais sua cova. Trump já tem uma aprovação mais baixa agora que Obama teve no meio da crise de 2008… só o Bush Jr. conseguiu ir mais baixo nos últimos anos, e era o Bush Jr…

Quando Trump tinha acabado de ser eleito, a nova direita mundial estava em festa, sentindo-se invencível. Os candidatos linha-dura com imigração na Europa foram crescendo, crescendo… como vimos na Holanda e na França agora. Mas, no meio do caminho tinha um Trump. Ao enfiar os pés pelas mãos tantos dias seguidos, não só os americanos que votaram nele como os que estavam tentados a repetir o fenômeno em seus países começaram e ter preocupações maiores. Tudo muito bacana em cacetar a histeria politicamente correta até chegar-se à conclusão que colocar um bufão no cargo mais poderoso de um país é o pedágio.

Presidentes não fazem tanta coisa assim, nem aqui, nem lá e nem na Europa, mas como certeza conseguem fazer ainda menos se forem politicamente burros como Trump. E mesmo que uma candidata como Marie Le Pen pareça anos-luz mais capaz de trabalho intelectual que Trump, ambos acabam embolados em posições teoricamente parecidas. No começo do ano passado era muito bom ser o Trump do país, agora… agora começa a ser um problema. Não que eu acredite que o brasileiro esteja antenado suficiente para tirar a força de coisas como o Bolsonaro tão cedo, salvo algum desastre causado por Trump que ameace o próximo Carnaval; mas na Holanda e na França as coisas são um tanto mais complexas.

Com as informações vindas dos EUA, as populações locais temeram repetir o erro dos americanos e procurar uma opção um pouco mais ao centro para expressar seu repúdio à esquerda mimizenta que deixou o continente exposto à imigração massiva de gente perigosa. É como se pensassem que não dava mais para continuar empurrando a agenda de esquerda, mas nada compensaria colocar algo tipo o Trump no poder. Mesmo achando o máximo que se construam muros e se deportem pessoas por suas religiões, a pessoa não sabe mais se quer ser responsável por colocar uma pessoa com essas posições no poder.

Sem contar o fator “eu não disse?”. Trump ficando confuso no seu cargo e não conseguindo cumprir promessas bisonhas como construir um muro e fazer o México pagar obviamente não deveria nos pegar de surpresa. E quando basicamente tudo que seus detratores disseram durante a campanha está se tornando realidade, inclusive o pavio curto na lida diplomática (sério, a Coreia do Norte estava enrolando há décadas, claramente enrolando pra ganhar mais tempo de poder para a dinastia dos atarracados), seus defensores vão ficando sem suporte na realidade.

Trump poderia nos surpreender e ser um excelente governante, poderia. Mas não está sendo e todos os sinais apontam para a continuidade desse desastre administrativo. E agora, como fica o movimento de direita? Querendo ou não, Trump é um farol. Os americanos empurraram para o mundo todo a visão que aquele seria o momento da virada, querendo ou não também. Quando a virada tem essa cara alaranjada, talvez ela não seja tão valiosa assim. O grande erro aqui é, como de costume, expectativas exageradas. Trump sempre foi um imbecil carismático, mesmo que como piada ambulante, ele não se tornaria um presidente, mas numa caricatura de um.

E se a reação ao movimento da vitimização e do politicamente correto custe o que custar depender de uma pessoa dessas fazer um bom trabalho, vamos mal, vamos muito mal. Eu ainda torço por Trump, torço mesmo, pelos motivos errados, por se posicionar como inimigo de quem eu considero inimigo, mas jamais esperaria racionalmente algo diferente do que está acontecendo. Só temo que essa seja a imagem que fique de todos que não corroboram com uma mentalidade molenga que nos faz mal como sociedade, a de um ser midiático eleito por crianças entediadas que não consegue agir feito adulto.

Oras, mas isso era evidente. O que não quer dizer que a eleição de Trump não tenha sido uma virada de pêndulo, foi sim. Mas como sempre, incompetência é um perigo. Resta esperar que ele pare de fazer besteiras ou que pelo menos seu mandato acabe logo. O mundo não está precisando dessa propaganda negativa sobre as plataformas nas quais ele foi eleito.

Não mais.

Para reclamar pelo atraso (foi mal), para dizer que só quer rir e está adorando, ou mesmo para dizer que torce para que Trump fique mais e mais Pilha: somir@desfavor.com

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