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MGTOW

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| Somir | | 132 comentários em MGTOW

Men Going Their Own Way, ou em português “Homens seguindo seu próprio caminho” é um movimento que prega que homens cessem seus relacionamentos amorosos com mulheres. Você ainda não deve ter ouvido falar especificamente dele, afinal, ainda está muito restrito a comunidades online, mas eu acredito que valha muito a pena analisar o contexto que permite a existência de algo assim. E, meio que adiantando o final: tem todo o jeito de algo que só vai crescer daqui pra frente.

Se você quer provas de que isso realmente existe, tem um site oficial em inglês, e numa pesquisa rápida de Google você vai ver que já está tomando algum corpo no Brasil. O G1 já até fez uma matéria. Então, que nenhuma mulher venha criticar meu texto com acusações infundadas de irrelevância! Ahem… isso é meio contagioso. Para os simpatizantes do movimento, as mulheres (em geral) estão fora de controle, acumulando vantagens excessivas na sociedade e perdendo o respeito pela figura masculina de forma irrecuperável. E com isso, os benefícios de ter uma namorada, mulher ou até mesmo um caso andam muito inferiores aos problemas gerados.

O ideal MGTOW sugere que o homem corte o mal pela raiz e elimine a chance das mulheres estragarem sua vida: através da solteirice permanente, pretendem aproveitar melhor a vida. Aquele grupo de homens chamados “herbívoros” – os que nunca sequer tentam contato sexual com mulheres, popularizados principalmente no Japão – com certeza entram como um subgrupo dessa categoria, mas em linhas gerais não é um movimento assexuado, e sim um que prega não se prender a mulher nenhuma para evitar lidar com a versão atual do gênero na sociedade.

Vamos ao óbvio: isso soa torto. Mal resolvido. A criança que não gosta do jogo e leva a bola (as bolas?) embora. Mas esse tipo de análise não seria novidade nenhuma aqui no desfavor, não? Faz muito tempo que falamos que o ser humano vai se afastando um do outro numa velocidade impressionante, criando “fantasmas” no outro e polarizando qualquer opinião até o limite de sua resistência. Que o ambiente online infelizmente contribuiu demais para esse efeito e que as coisas parecem mais inclinadas a piorar do que melhorar. Num texto sobre um experimento com ratos, eu até mencionei uma certa inevitabilidade desses seres avessos ao contato com outro dada uma sociedade grande e preguiçosa suficiente.

Com isso dito, vamos virar no sentido oposto: o MGTOW faz muito mais sentido do que deveria. É um tipo de pensamento perigoso que justamente por isso deve ser explorado. Talvez uma das maiores vantagens do homem na sociedade é ter diante de si um caminho muito viável de vida sem estar em um relacionamento amoroso. E aqui precisamos fazer uma distinção: eu disse viável, não agradável. Viável é um conceito muito mais universal do que agradável porque não precisa se adequar a gostos e desejos pessoais.

Considerando diferenças básicas entre os sexos, homens tendem a se realizar com mais facilidade na ausência do fator humano. Talvez você seja mulher e nada do que eu vá dizer te soe extremamente necessário, mas duvido que você vá dizer que essa é a norma: mulheres se realizam muito mais com vitórias no campo interpessoal. Raro ver homem sonhando com casamento, filhos, relações profundas… o que de forma alguma quer dizer que todos são avessos a isso, mas, esses objetivos de vida não ficam tão isolados no topo das prioridades deles quanto na maioria das mulheres.

Sem contar elementos bem mais práticos: é mais “seguro” ser homem, mesmo que homens morram muito mais em eventos violentos que mulheres quando mais jovens e muito mais por maus cuidados com a saúde na velhice. O corpo muito mais preparado para se impor pela força e lidar com violência te permite depender muito menos de outros para manter sua integridade física. O número maior de mortes masculinas tende a ser resultado de irresponsabilidade e agressividade desmedidas. Ter uma mulher por perto aumenta sua longevidade, mas não muda tanto assim seu senso de segurança diário.

E como vivemos num mundo capitalista, mais uma vantagem do homem que não depende tanto assim de companhia feminina: fazer dinheiro. Homens tendem a ganhar mais pelo menor foco na família e a já citada predisposição a assumir riscos (muitas vezes idiotas). Um homem sem mulher e sem filhos tem um potencial bem maior de gerar renda do que um com. Até porque o simples fato de ter uma mulher tomando as decisões com você (ou por você, porque homem morre de preguiça dessas coisas) já aponta seu orçamento numa direção mais “humana” e mais dispendiosa em geral. Homem caga muito mais para qualidade de vida que não seja imediata à sua percepção.

O que eu estou enrolando pra dizer, até por ser meio duro de engolir, é que mulheres dependem mais dos homens para se realizar do que o inverso. Não é uma medida de superioridade, é apenas como as prioridades se empilham em mentes tão díspares em empatia. Mulheres nascem mais empáticas que homens (por isso tantas feministas ficam em choque quando as filhas preferem bonecas naturalmente) e tendem a permanecer com essa característica mais desenvolvida em média em todos os grupos etários. O “outro” tem mais significado para elas. E novamente, nem estou considerando medida de superioridade. A combinação de focos tornou nossa espécie viável.

E se a ideia pode soar um pouco (ou muito) desalentadora para as mulheres, é nos homens que ela causa o maior estrago: quando essa ideia REALMENTE entra na cabeça de um homem, ela pode seguir por caminhos bem tortuosos, um deles usado como exemplo no texto de hoje. Pensando friamente, a qualidade de vida imediata de um homem que abdica de relacionamentos com mulheres tende a melhorar. Menos pressão no seu ponto fraco de empatia, liberdade de foco familiar em troca de trabalho ou hobbies, renda disponível para gastar com seus “brinquedos”… e como vimos anteriormente, ninguém colocou como condição o celibato. Ainda existe a possibilidade de sexo casual (mais eficiente para cobrir buracos emocionais nos homens), inclusive pagando por isso se quiser abdicar também de ser atraente para as mulheres em geral.

Talvez para você mulher seja muito mais difícil visualizar o que eu estou escrevendo como algo positivo, mas aposto que fez muito mais sentido do que deveria para nossos leitores do sexo masculino. Não é meu plano no texto de hoje argumentar sobre as benesses de se ter um relacionamento com uma mulher, até porque como eu disse na primeira ressalva sobre o que acho bizarro no movimento MGTOW, não vai ser um bom papo que vai apertar de volta o parafusinho que escapou na cabeça de quem quer abdicar totalmente de relacionamentos. Esse problema não é meu agora.

Mas disso: as regras sociais podem ser muito complexas, mas no fundo não deixam de seguir a física Newtoniana: toda ação gera uma reação. Era impensável que uma mudança de status das mulheres na sociedade não fosse lançar ondas de choque na relações entre os sexos. E apesar do movimento feminista ter pegado com mais força há uns 50 anos atrás, provavelmente estamos no epicentro desse abalo. Achei importante dispensar tanto deste argumento para a lógica que existe por trás de algo como o MGTOW porque daí vem o risco da nossa realidade atual dar o empurrão que faltava em muito homem. Quase faz todo o sentido mandar um “foda-se” para relacionamentos com mulheres e seguir o seu caminho. Quase.

E quando vivemos num mundo onde a forma de balancear a opressão é essencialmente vingativa nas relações entre os sexos, vivemos também num mundo onde os benefícios para o homem que não cai nesse buraco quase lógico começam a diminuir. A aproximação do sexo oposto já está no seu ponto máximo de perigo para o homem, a constância do relacionamento também oferece cada vez menos vantagens imediatas e cada vez mais riscos de acusações infundadas e injustiça na reação pública. De novo, joguem pedras, mas… com o fantasma do “quase” flutuando sobre a cabeça do homem, será que vale a pena pensar em igualdade absoluta? O valor intrínseco do relacionamento para o homem ainda é menor do que para a mulher. E talvez com um custo muito parecido para ambos, o benefício do lado masculino comece a não compensar para cada vez mais homens.

Num exemplo simples: imagine que você divida um apartamento com alguém, é muito perto do trabalho dessa pessoa, mais ou menos do seu. O aluguel gasta um quarto dos seus rendimentos mensais. Certo dia, o aluguel é reajustado e passa a consumir um terço do dinheiro dos dois. Pra outra pessoa ainda vale o esforço pela qualidade de vida que é estar perto do trabalho, mas pra você ficou meio caro pelo o que o lugar oferece. Não estou dizendo que a única alternativa é sair dali e deixar o outro se fodendo sozinho com o aluguel, estou só dizendo que é compreensível começar a fazer umas contas…

Eu mesmo sei usar o argumento contra o que eu escrevi acima: “na verdade, a outra pessoa que trabalhava mais perto passou séculos pagando metade da sua parte também e merece compensação”. E eu entendo de verdade a validade disso. Mas, desde quando as pessoas acham bacana pagar contas de antepassados? E outra, todos os argumentos pró MGTOW tendem ao egoísmo e ao imediatismo. As pessoas não vem em pacotes justos. Cada um que escolha como quer enxergar isso, mas os relacionamentos andam cada vez menos vantajosos para os homens. Acha bem feito? Direito seu.

Mas… tem consequências. Será que um dia o preço desse prazer do “bem feito” não vai ficar caro demais?

Para me chamar de machista, para me chamar de virgem misógino, ou mesmo para assumir que nem leu o texto para achar válido me chamar disso: somir@desfavor.com


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