Sobe ou desce?

Para comemorar essa data tão especial, o Dia da Mentira da República Impopular do Desfavor, Sally e Somir mergulham fundo na mitologia cristã para encontrar a mentira mais poderosa. Os impopulares escolhem seu destino eterno.

Tema de hoje: qual a pior mentira cristã para as crianças, o Céu ou o Inferno?

SOMIR

Muito embora a relação entre as duas seja essencial ao processo, se formos pensar isoladamente, fica difícil bater o Céu como a mentira mais impactante para estragar as mentes que – por escolha própria ou imposição – acreditam nela. Tanto que muitas daquelas pessoas ditas “espirituais sem serem religiosas” acabam rejeitando a ideia de Inferno e escolhendo ficar só com a do Céu mesmo. Um excelente indicativo de que no fundo no fundo, a irracionalidade religiosa anda de mãos dadas com a ilusão de recompensa pós-morte.

O diabo, ou a falta dele nesse caso, está nos detalhes: sim, a ideia de passar a eternidade sendo punido por ações realizadas em vida tem todo o potencial de ser desastrosa para uma criança, mas por incrível que pareça, o Inferno faz muito mais sentido prático na vida de uma criança que já vive sob um esquema de ser punida de acordo com suas ações (ainda sem entender plenamente os motivos). Nesse contexto, não deixa de ser uma versão hardcore de apanhar dos pais caso faça algo muito errado.

E existe um certo consolo no conhecido. Por mais que “oficialmente” as regras sejam bem confusas pela mitologia cristã, nessa fase da vida uma criança acaba conseguindo encapsular toda aquela bagunça ideológica costumeira às religiões num pacote mais simples. Se andar na linha, escapa do inferno. E como conceito, nem é tão conectado assim com a ideia de morte que começa a cristalizar em sua mente. Inferno é sobre punição, Céu é sobre o que vem depois da vida. E aí que começamos a ver a verdadeira escrotice dessa mentira.

O Céu é vendido como o lugar para onde as pessoas boas vão quando morrem. Um lugar de felicidade eterna onde você vai encontrar todo mundo que ama e não se preocupar com mais nada. Claro que a ideia de ser uma boa pessoa para conquistar essa oportunidade faz parte da mitologia, mas o “ser boa pessoa” vem num pacote muito menos óbvio para essa criança. Até onde ela sabe, a imensa maioria das pessoas vai para o Céu. Os adultos fazem questão de afirmar isso para ela: as pessoas que morrem estão indo para o Céu, mesmo algumas que ela não ache boas, por sinal.

Como é difícil vender seus penduricalhos e produtos em geral se as pessoas não acreditarem que é relativamente fácil seguir e ser beneficiado pela religião em questão, a nota de corte do Céu parece extremamente baixa. Não é mais sobre as ações em vida, mas sobre algo que quase parece um direito da pessoa: ir para o Céu quando morre. E pior, até gente muito ruim pode se arrepender logo antes da morte e ser aceita na companhia da divindade em questão. E nesse momento, o conceito de vida e morte de uma mente em formação toma uma pancada poderosa, da qual a maioria delas nunca mais vai se recuperar no decorrer da vida.

A vida aqui fica um pouco menos relevante. As ações, com menos peso. Afinal, se o que realmente importa está depois de viver, qual o ponto disso tudo mesmo? Com o Céu, estamos todos numa pequena prova de resistência e obediência até receber nosso prêmio de participação. Sim, eu sei que muitas vezes os próprios cristãos se empolgam e saem condenando todo mundo ao Inferno, mas quando a coisa acontece muito perto da zona de conforto deles, fica bem relativo. O filho drogado do vizinho vai para o Inferno, mas o seu não.

E num nível até mais filosófico: que maluquice é essa de felicidade eterna? Felicidade depende totalmente de bons, maus e médios momentos da vida. Ênfase nos médios. A ideia de um estado de alegria perfeito e infinito lá em cima cria péssimas expectativas sobre a realidade aqui em baixo. Se o objetivo final da vida é felicidade interminável, a realidade vai ser terrível. E muita gente vai ficar se perguntando porque as coisas estão tão erradas quando na verdade elas só estão na média do que é viver. Religião tenta te vender essa ideia de que tudo vai melhorar porque ela mesma gera uma expectativa inalcançável pra começo de conversa.

De verdade, eu prefiro que as pessoas acreditem em punição por más ações (mesmo que sejam as absurdas forçadas pelas religiões) do que em felicidade eterna. Porque a primeira pode ser usada para melhorar a qualidade de vida da pessoa, já a segunda, torna a realidade menos importante e ainda gera expectativas absurdas que vão continuar assombrando a mente do adulto que foi tratado com essa mentira na infância.

De uma forma ou de outra, o trauma do Inferno reduz com o tempo. Quando a adolescência chega, existem forças internas poderosas para criar ações no sentido oposto da crença irracional. Complicado manter uma pessoa acreditando piamente que vai passar a eternidade sofrendo no Inferno se a contrapartida é, por exemplo, controlar uma libido adolescente. O ser humano é excelente nisso de relativizar quando o beneficia. Se ficar muito difícil ter seus prazeres e acreditar em algo, o algo que mude.

Já o Céu fica num lugar mais isolado da mente, não compete com o mundo real para se manter uma ideia aceitável. Todos os problemas que ele gera continuam lá, pelo resto da vida. E é basicamente a única coisa que a maioria das pessoas que “quase” viram ateias ainda mantém das fantasias religiosas. É confortável demais para ser deixado para trás. E, um pouco que a irracionalidade religiosa consiga resistir na mente, já é suficiente para passar para as próximas gerações e repetir o ciclo. Inferno pelo menos é um conceito que não enfraquece o ateísmo, porque escancara os problemas entre a realidade e a mitologia religiosa em questão.

Entre uma mentira dolorosa e uma mentira confortável, sempre tenha mais medo da segunda, porque dela é quase impossível escapar.

Para dizer que criticar religião já saiu de moda, para dizer que a pior mentira é a de quem acoberta os padres que abusam de crianças, ou mesmo para nos desejar feliz Dia da Mentira de verdade: somir@desfavor.com

SALLY

Em um Dia da Mentira patrocinado pela religião católica, decidimos discutir qual é a mentira mais nociva que o catolicismo conta para crianças.

Minha opinião: a mais nociva para as cabecinhas infantis é a mentira do inferno. A noção de um Deus que te manda para o inferno deveria ser considerada simplesmente nojenta, mesmo para quem acha importante ter uma religião. O correto é que as crianças respeitem e louvem o que quer que seja por amor e não por medo. Manipular uma criança com base no medo é de uma covardia infinita.

Se já acho baixo manipular adultos na base do medo, tudo fica pior quando falamos de crianças, que não tem uma estrutura mental sólida para se defender, questionar ou argumentar. É um cala a boca retrô. Assim como hoje pais dão tablete ou celular para que as crianças não encham o saco, “você vai para o inferno” faz o mesmo papel, obrigando crianças a “se comportarem bem” ou apenas fazer o que os pais querem, sob pena de uma ameaça horrível.

A noção de que um ser que supostamente te ama e supostamente cuida e olha por você pode te enviar para o quinto dos infernos para que você sofra indescritíveis torturas por você ter feito algo que o desagradou passa uma mensagem errada, muito errada. “Te amo, desde que você faça o que eu quero, se não fizer, passo a te tratar mal”. Pequenas mentes que crescem vendo isso com naturalidade podem ter futuros problemas emocionais, que garante que não encararão com naturalidade quando alguém que supostamente as ama se voltar contra elas e lhes fizer algum mal por ter sido contrariado por elas?

A noção católica de inferno suprime uma das principais ferramentas para o desenvolvimento intelectual e criativo de um ser humano: o direito de errar. Quem sabe que pode errar e que tem uma rede de segurança protegendo-o em caso de erro tenta, experimenta, ousa. Quem tem medo de fazer o errado se acovarda e passa uma vida fazendo mais do mesmo, sempre com medo, sempre na zona de conforto. Obviamente a Igreja Católica não tinha interesse em que suas ovelhas questionem, ousem, desafiem, mas pais devem ter interesse em que seus filhos façam isso, pois não ter medo de ousar é, atualmente, uma das mais eficientes ferramentas de sobrevivência neste mundo.

Uma criança deve poder errar, deve poder desafiar, deve poder questionar. A partir do momento em que você estipula uma regra “porque sim” ou “porque se não você vai para o inferno”, jogando no ar alguns mandamentos sem maiores explicações, reforçando essa dicotomia de “certo e errado”, se cria uma mente totalmente limitada e comandável. Uma pessoa que dependerá dos outros para determinar o que é certo e o que é errado. Uma pessoa disposta a obedecer ordens tal qual um cachorro, sem a necessidade de uma explicação ou possibilidade de diálogo.

Crianças são bichinhos estúpidos e hipervalorizados (spoiler: não são tão inteligentes quanto todos dizem, ok?) entretanto, eles compreendem que existe uma razão para algumas proibições: “se você enfiar esse seu dedinho gordo na tomada, vai levar um choque e vai perder o seu bracinho”. A criança alcança a magnitude do evento? Claro que não, mas compreende que existe uma relação causa-efeito e, partindo destes ensinamentos, aprende, aos poucos, a identificar esta causa-efeito na sua vida.

Quando você prega “não faça tal coisa pois Deus não quer/não deixa/fica triste” ou coisa do tipo, a criança é ensinada a acatar um dogma porque sim. Esse tipo de mente cresce predisposta a acatar ordens sem maiores explicações ou entendimento e poderá facilmente se tornar aquele tipo de pessoa que deixa que horóscopo rega sua vida e suas escolhas, afinal, está acostumada desde cedo ao divino/imaginário determinando o que deve ou não ser feito.

Por outro ponto de vista, muito além da noção de castigo, a proporcionalidade da punição para um erro é desmedida. Até a lei brasileira, que nos deixa na mão o tempo todo, é absoluta ao assegurar que ninguém nunca poderá ser torturado, sob nenhum pretexto. É um dos poucos (se não o único) direito absoluto da Constituição. E, veja vocês, este Deus misericordioso, que é só amor, que dá a outra face, não pensa duas vezes antes de te mandar para o inferno se você discordar dele. Pois é, senhoras e senhores, este Deus consegue cuidar pior dos seus do que o Brasil cuida. Tenham medo deste Deus.

Enquanto a noção de paraíso, apesar de nociva em alguns pontos, pode ser reconfortante e um estímulo para fazer o bem e conseguir esta recompensa, a ideia de inferno não gera nada de bom. Somos humanos, impossível que alguém passe por esta vida sem cometer uma tsunami de erros, fatalmente todos erraremos muito. Assim, quando você incute na cabeça de uma criancinha que certos atos te mandam para o inferno, a condena a uma infância de preocupação, pois seus erros serão inevitáveis e a cada um deles, o medo de ir ao inferno vai nascer.

E a pior parte é que isso entra com tanta força, em função do sentimento de medo que desperta, que muitas vezes se demora uma vida para romper com esse medo cristão. Conheço pessoas que se dizem ateias mas ainda guardam um “e se…”, um medo de que, no fim da linha seja verdade essa baboseira de inferno. O dano pode ser permanente. O trauma que se causa pode não ser reversível. Pegar uma criança, com a cabecinha em formação, virgem, aberta para aprender o que lhe vão ensinar e colocar uma ameaça escrota de tortura no inferno deveria gerar destituição do poder familiar.

A noção por si já é nojenta e nociva, mas tudo piora se a gente pensar como o Brasileiro Médio costuma fazer uso dela: inferno, punição ou coisas ruins viram chantagem permanente para que a criança obedeça. Pais sem moral precisam ameaçar um filho para que ele tome banho, seja com bicho papão, seja com a possibilidade de tomar uma injeção, seja com o inferno. Precisam chamar um fator externo, apelar para o medo, para que o filho obedeça, algo que deveria ser natural quando uma criança é educada da forma correta. Fazer seu filho passar por uma infância de medo só para que sua vida seja mais fácil e confortável? Na boa, vai tomar no cu.

A noção de inferno é um dos primeiros critérios de corte que eu uso para desacreditar uma religião e acredito que todos que tenham autoestima façam o mesmo: não se cultua um Deus que, sob qualquer hipótese, pode te mandar para o inferno. Ensinar uma criança a louvar um Deus que a tortura se ela discordar é foder com a cabeça do seu filho.

Para dizer que o inferno é aqui, para dizer que são dois lados da mesma moeda escrota ou ainda para dizer que está com muita ressaca para opinar: sally@desfavor.com

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Comments (16)

  • As duas opções são ruins, mas a que ferrou mais com meu psicológico na infância foi a mentira do inferno. Eu tinha dez ou onze anos na época em que minha família entrou pra uma igreja evangélica, e o que mais falavam lá era sobre isso, fim do mundo, apocalipse, juízo final. Qualquer deslize era passível de condenação eterna. Eu chorava horrores e orava pedindo para o Deus cristão que tivesse misericórdia e não me mandasse pro inferno, nem as pessoas que eu amava, porque nem todas acreditavam nele.
    De vez em quando citavam o amor de Deus, mas a ênfase dos pastores era sempre no acerto de contas com os pecadores. Foi depois de grande que aprendi que isso tinha um propósito, r$r$. É brabo.

    • A noção de inferno traumatiza, não apenas pelo inferno em si, mas pela naturalidade com que permite uma punição cruel partindo de alguém que supostamente te ama.

  • Engraçado…. apesar de todas as ameaças (e não foram poucas) que recebi de ir para o inferno por parte de diversos familiares católicos, só me faziam ter mais curiosidade…desejo até.
    Porque as estórias do inferno, capeta, demo, coisa ruim, espírito maligno, Lucifer…e por aí vai, eram muito…mas muito mais interessantes que as baboseiras que contavam do céu de ficar a toa e curtindo o “nada”, que não faziam sentido pra mim, afinal no inferno tinha mais “atividade” e as finalidades me pareceram ótimas; questão de afinidade, né?
    Mas ok, não fui uma criança lá muito normal, sonhava em ser “do crime” quando eu crescesse e respondia isso quando vinham com aquela pergunta classicamente idiota: “o que você quer ser quando crescer?

  • Tive uma experiência parecida com a da Aleatória. Fui criada numa família muito católica, fiz catecismo e tudo. Apesar disso, a religião nunca fez muito sentido pra mim. A idéia de interno foi aterrorizante, principalmente no início da adolescência, quando comecei a questionar tudo, pesquisar sobre outras religiões e perceber que nenhuma delas fazia sentido.
    Nessa fase adolescente, fazendo um trabalho de ciências sobre formas de vida em outros planetas, estava achando tão interessante, meus pais me disseram que eu iria pro inferno por sequer cogitar a existência de vida em outro planeta, “pq Deus criou somente esse Universo”. Me senti apavorada por meses. A ideia de inferno é cruel e assombra principalmente quem ainda não tem maturidade. Só depois, adulta e amadurecido, rompi com essa baboseira toda e assumi meu ateísmo.

  • É difícil decidir o que é pior. Sei que o texto se refere ao catolicismo, mas creio que posso colaborar com minha experiência sendo criada em família evangélica (até porque o prejuízo é igual). Pra mim, o pior é o inferno. Hoje me declaro atéia, mas ainda tenho resquícios difíceis de lidar. Parece que o medo da punição fica tão profundo no cérebro, é tão reforçado durante a infância e adolescência que ainda hoje reluto em fazer coisas bobas mas suficientes pra “cair nas garras do capeta”. Sempre que o medo aparece, eu olho uma foto que salvei no celular com frases do tipo “você não é nada sem mim”, “só estou fazendo isso porque te amo”, “eu sei o que é melhor”, entre outros, assinada por deus. Quando a vi pela primeira vez, foi o sinal pra que eu percebesse e abandonasse uma religiosidade que já se encontrava frágil. Não dá pra amar alguém que te pune de forma horrenda por um mínimo deslize e só te ama de volta se você seguir certas regras sem sentido. Só sinto pena de quem sentir esse despertar que nem eu senti e não conseguir se libertar por causa do medo do inferno.

  • Ah sim, só uma observação!

    “Pais sem moral precisam ameaçar um filho para que ele tome banho, seja com bicho papão, seja com a possibilidade de tomar uma injeção, seja com o inferno.”

    Ameaçar com injeção é a PIOR coisa que os pais fazem, porque é a única hipótese real nesse meio aí, e injeção é algo pra que as crianças fiquem boas! Nunca deveria ser associada a uma punição…

      • Nem preciso imaginar…

        Quando acontece comigo do “fica quieto ou a moça vai te dar uma injeção”, eu já paro tudo na hora, olho bem séria pro projeto de mãe/pai e falo:

        “A senhora tá ensinando seu filho a mentir… Porque eu não vou deixar de dar uma injeção se ele precisar só pq ele se comportou.. E pior, eu não vou dar uma injeção nele se ele destruir a sala! E aí?”

        A resposta é sempre um “nossa, eu tava só brincando”… Palhaçada!

  • Fiquei bem em dúvida nesse ED/ED… e as duas argumentações foram ótimas!
    Mas depois de pensar muito, ainda acho que o Céu é pior… porque todo mundo se acha merecedor do Céu, e nunca do Inferno!

    Fui criada numa família católica! E, embora meus pais nunca tenham usado os conceitos de ir pra o Céu ou Inferno, algo que eles sempre me ensinaram era que tudo bem errar, e que mais importante era me arrepender de verdade das coisas erradas que eu fizesse (sabe aquela época em que a criança aprende que “desculpa” é uma palavra mágica e fala pra tudo?).

    Assim, acho que a noção de que qualquer um pode ir pro Céu se se arrepender é um pouco pior do que escapar do Inferno se se arrepender!

    • Esse “céu” passa uma noção de inconsequência sim, do tipo “pode fazer o que você quiser, basta se arrepender que tá tudo certo”, mas ao menos tem um fundo bom que é a noção de perdão. Eu abomino o inferno por incutir na cabeça de crianças que é aceitável que alguém que te ama te faça mal caso você discorde dele ou não o obedeça.

  • Engraçado que quando criança eu cheguei a imaginar quantas velhinhas eu teria que ajudar atravessar a rua para garantir meu lugar no céu. Especulava algo entre 100.
    Rsrs
    Se for parar para pensar, é óbvio, pois se é algo que deveríamos alcançar, devia ter um How to óbvio para chegar lá.
    Eu acredito em vida pós morte, mas é algo complexo demais para especular

    • Para ir ao céu basta se arrepender de tudo, não precisa ajudar ninguém. A merda é se você morre de forma abrupta e não tem tempo de se arrepender. Ou vive se arrependendo por tudo ou corre o risco de ir para o quinto dos infernos!

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