Enquanto isso…

Enquanto isso, numa aula de história:

PROFESSORA:Olá alunos, sejam bem vindos. Estamos com um problema no sinal para Santa Marielle, então se vocês não estão conseguindo ver direito, vamos deixar disponível na rede B após a transmissão, ok?

ALUNO: Professora, o que está acontecendo por lá?

PROFESSORA:Nada demais, Gondola, um dos transmissores em Netuno está em manutenção.

Hoje continuamos o tema das doenças antigas. Como eu já tinha dito na última aula, antes dos guardiões, o ser humano vivia lutando contra todo tipo de microrganismo e condição genética para se manter saudável. Hoje em dia você recebe uma carga de nano robôs chamados guardiões logo após nascer, mas até o século XXIII, as pessoas dependiam apenas do próprio sistema imunológico e de tratamentos externos para combater os males do corpo.

ALUNo: As crianças tinham medo dos guardiões?

PROFESSORA:Não, Pepe, ainda não existiam os guardiões. Nós já falamos sobre o desenvolvimento deles há duas aulas! Acesse o material suplementar 37-H para relembrar.

Como eu ia dizendo… naquele tempo quase todo mundo ainda vivia no planeta Terra, então era muito mais fácil para as doenças se espalharem. A maioria delas não resiste ao vácuo, como vocês podem ver nessa animação. Por isso, nossos antepassados não só tinham mais doenças que qualquer pessoa de hoje, como também encontravam elas com muito mais frequência. Era comum, por exemplo, que uma pessoa pegasse uma doença chamada gripe várias vezes durante a vida.

No começo do século XX e no começo do século XXI, duas variantes dessa doença causaram milhões de mortes. Embora nenhuma dessas gripes fossem tão perigosas assim, elas se espalharam por tanta gente que os mais vulneráveis não resistiram.

ALUNA: Professora, eles não deram remédios para as pessoas?

PROFESSORA:Naquele tempo, não existiam remédios para curar esse tipo de doença, eles apenas cuidavam das pessoas até elas melhorarem sozinhas. A humanidade não ficou parada. Ao redor do planeta, vários dos antigos países criaram várias medidas para isolar as pessoas e diminuir as chances de contágio. E isso foi especialmente verdade na pandemia do século XXI. Os registros históricos apontam que em muitos desses países, as pessoas ficaram trancadas em casa e só podiam sair para comprar comida ou remédios. Essas medidas se provaram eficientes, com exceção de um caso, o país do qual a maioria de nós pode traçar suas raízes.

ALUNA: Brasil?

PROFESSORA:Isso mesmo, Lek! O presidente do país, Olavo de Carvalho, era contra as medidas de isolamento. Ele defendia o uso de um remédio chamado Cloroquina para proteger a população.

ALUNO: E deu certo?

PROFESSORA:Haha! Não, nem um pouco. O Brasil foi o país que mais teve casos da gripe, em poucos anos toda a população pegou, enquanto em boa parte do mundo a doença já estava quase erradicada. Milhões morreram. Mas, se estamos aqui é porque alguma coisa deu certo, não? É aqui que falamos sobre a Grande Peste. Infelizmente temos poucos registros restantes sobre essa doença fora dos arquivos do antigo Brasil, pois a doença era terrível.

Em menos de um ano, a Grande Peste contaminou o mundo todo. A doença causava sérios danos neurológicos antes de causar a morte da pessoa, por isso foi se tornando cada vez mais difícil criar medidas para proteger a população. Líderes mundiais iam perdendo a capacidade de formular planos, cientistas não sabiam mais como criar remédios e vacinas, nem mesmo a imprensa era capaz de informar corretamente os fatos. Bilhões morreram, foi quase o fim da humanidade.

Menos, é claro, no Brasil. Hoje entendemos que a exposição constante à gripe do século XXI gerava anticorpos para a Grande Peste, e que só uma população tão exposta como a brasileira teria imunidade suficiente para se proteger. Enquanto as outras nações pereciam, a brasileira se mantinha com um grau mínimo de funcionalidade. Os efeitos da doença eram tão severos que a imensa maioria das pessoas sequer conseguiam migrar para o Brasil em busca de alguma ajuda. Não ajudou nada o fato da junta militar brasileira fechar todas as fronteiras dois meses depois do começo da nova pandemia.

ALUNO: Mas meu pai disse que foi a força lulista que nos salvou.

PROFESSORA:A Salvação só acontece dois séculos depois, Maíso. E como vamos ver nas próximas aulas, a força lulista não foi exatamente responsável pelo desenvolvimento das naves, durante boa parte do processo, queriam acabar com o programa espacial. Mas não vamos sair do tema, estamos falando das doenças da antiguidade!

A população humana no final do século XXI não chegava a um bilhão de pessoas, quase todas vivendo nas Américas. O segundo país com mais sobreviventes, Hollywood, na parte de cima do continente, entrou num longo processo de guerras civis até a conquista. Quando o exército brasileiro entrou em Hollywood, os poucos sobreviventes acabaram integrados ao Brasil, trazendo com si uma parte da tecnologia da época.

Mas, como sabemos, isso causou a Segunda Inquisição e a Idade das Trevas até o fim do século XXII, pois o governo brasileiro, agora sob o controle de Huck XV, teve acesso ao equipamento militar hollywoodiano. A Grande Peste foi considerada erradicada na época, mas na verdade ainda existia sob uma versão mais branda com leves efeitos neurológicos. Foi só com a Revolução de 2315 que voltamos a ter tecnologia suficiente para detectar e tratar essa doença. E aí, tivemos os avanços necessários para chegar até onde chegamos, mas isso é assunto para o próximo módulo.

Para dizer que o crime compensa, para dizer que achou totalmente plausível, ou mesmo para dizer que se voltarmos à Lua vai ser muito: somir@desfavor.com

Se você encontrou algum erro na postagem, selecione o pedaço e digite Ctrl+Enter para nos avisar.

Etiquetas:

Comments (7)

  • Não me diga que “Idade das Trevas” seja em referência à idéia errada de que tudo que existia entre a Idade Antiga e a Idade Moderna era um abismo de escuridão sem fim em termos científicos?

  • Não achei realista devido à utilização de vocábulos antiquados que não remetem ao contexto futurístico da narrativa. Deveria ter usado “elxs”, “alunx” e “professorx”.

    Ah, e uma observação sobre este trecho em particular:
    “ALUNO: Mas meu pai disse[…]”

    “Pai”? Desde quando qualquer criança nascida depois de 2005 tem pai? Só pode mãe solteira/lésbica empoderada fertilizada em laboratório, sem que sua sagrada vagina tenha que entrar em contato com um pênis opressor impuro. O estoque dos laboratórios vem da extração compulsória, determinada por lei, do esperma de todos os homens jovens, que logo depois são enviados pra guetos e vilas distantes pra executar sua única função de vida: realizar trabalhos pesados até a morte pra sustentar as empoderadas.

    (Pior que a gente zoa, mas aos poucos essas palhaçadas estão virando a norma…)
    https://reason.com/2020/05/18/united-nations-gender-neutral-language-twitter/?amp

    • Por isso que eu tomei cuidado de colocar uma Inquisição no meio do caminho. Toda ação tem uma reação.

      Huck VI baniu a produção e o consumo de soja, santificado seja seu nome! Lovcura, lovcura, lovcura!

  • Chapéu de alumínio

    “para dizer que se voltarmos à Lua vai ser muito”
    Implicando que a gente já tenha ido alguma vez

  • De tudo o que foi mencionado no texto, as duas coisas que eu mais temo que um dia não sejam mais só ficção e venham a se tornar realidade são a “Segunda Inquisição” e a “Idade das Trevas”. Isso daria uma merda… Ah, e “governo brasileiro sob o controle de Huck XV” também foi de lascar…

    • Se serve de consolo, a humanidade já passou por essas coisas algumas vezes. Em tese, é para resistirmos, pelo menos como espécie. Embora nenhum rei ou sacerdote tivesse armas de destruição em massa naqueles tempos…

Deixe um comentário para Somir Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: