Puro suco de Cloroquina…

Três pacientes que receberam nebulização com cloroquina na cidade de Camaquã, região sul do Rio Grande do Sul, morreram durante o tratamento que não tem comprovação científica. As vítimas vieram a óbito entre segunda-feira, 22, e quarta-feira, 24, depois de receberem o tratamento que também não faz parte dos protocolos do Hospital Nossa Senhora Aparecida, onde eles estavam internados. LINK


O brasileiro não só erra, como consegue errar de formas cada vez mais espetaculares… Desfavor da Semana.

SALLY

A notícia escolhida é meramente ilustrativa. É possível pegar milhões de coisas que estão acontecendo no país agora para convergir com nosso ponto de vista: problemas estão acontecendo no mundo todo, mas não na mesma escala, na mesma intensidade, na mesma categoria do que está acontecendo no Brasil.

O mundo está há um ano gritando que não é para usar cloroquina contra covid. Toda semana saem estudos novos provando que não ajuda e que ainda faz mal. Cientista do mundo todo, inclusive brasileiros, se esgoelam para implorar que médicos não prescrevam essa porcaria e, ainda assim, a esta altura do campeonato, tem médico botando paciente para fazer nebulização com cloroquina! O resultado, óbvio, foi a morte dessas pessoas.

Percebem que foge a todos os parâmetros aceitáveis, humanos, minimamente decentes? Percebem que não é uma questão de “todos os lugares têm problemas?”. Perecem que no Brasil a coisa destoa de toda e qualquer média, por seu conjunto da obra?

E tem muita gente que pensa que nós falamos mal do Brasil por birra, por nos sentirmos superiores ou por qualquer outro motivo elitista. Nós tentamos apontar o problema por ser a única forma de solucioná-lo. Quem não toma consciência do problema não entende o que fazer para resolvê-lo. Nós falamos esse tipo de coisa para que quem faz a coisa certa e se sente deslocado ou frustrado saiba que não está sozinho e, acima de tudo, que não está errado.

Não é normal o que está acontecendo no Brasil, não é aceitável, não é tolerável. O país é o epicentro mundial de uma pandemia e insiste no uso de medicação que não ajuda e ainda adoece ou mata quem a toma. O sistema de saúde colapsou e está morrendo gente na fila por atendimento. Estão acabando os anestésicos. Ontem (data na qual eu escrevi este texto) o Brasil registou 3650 mortos em 24h. É tudo um grande absurdo: vacina de vento, vacina falsificada, remédio que te mata em vez de te ajudar e um povo que faz o oposto do que a ciência pede no combate ao vírus.

O Brasil já saiu do status de país que precisa de ajuda humanitária para o patamar de “ameaça mundial”. O Brasil já é o pária do mundo e quase todos os países estão com as fronteiras fechadas para ele. O mundo todo dá sinais de que o Brasil está se comportando como o idiota da vila, de forma inaceitável, de forma reprovável. E o brasileiro insiste em fazer a coisa errada, parece que cada dia com mais ênfase.

Cada um erra na sua medida. O médico prescreve cloroquina, ivermectina, azitromicina e outros que matam o paciente. O Presidente não é capaz de organizar ações de combate ao vírus e ainda propaga um discurso errado. O povo não se cuida, prioriza seu lazer e imediatismo e não faz o isolamento social que deveria ser feito. Todo mundo erra de forma cega, sem conseguir ler os avisos, sem conseguir rever sua postura. Todos marchando juntos para um precipício sem conseguir parar. São 3650 mortos por dia e a postura de ninguém mudou. O que vai precisar acontecer?

E aqui eu vou por uma via sutil que talvez seja difícil de entender: além de toda a danação práticas de viver no Brasil, existe o esforço que a pessoa mentalmente sã tem que fazer para reeducar sua mente e conseguir agir da melhor forma possível. Vou explicar com calma.

Existem consensos mundiais, diretrizes gerais comuns a todos os povos que já estão meio que no inconsciente coletivo. No Brasil isso não se aplica, pois o Brasil é um lugar bizarro que destoa de qualquer média ou normalidade. Um exemplo: a premissa mundial é a de que você deve confiar no médico, pois ele sabe mais do que você. Você não deve mentir para um médico, deve dizer toda a verdade e fazer o que ele mandar. No Brasil não, no Brasil você precisa verificar no Google, com um conhecido ou até em um blog se de fato deve obedecer ao médico ou se ele vai te matar.

Isso se aplica a milhões de premissas que não valem para o Brasil. Premissas mundiais que aprendemos que temos que ignorar. Essa reprogramação mental de ter que ficar sempre desconfiando de tudo e de todos é exaustiva, de ter que ser sempre o responsável por tudo sem poder entregar a mais mínima tarefa na mão de terceiros pois há grandes chances deles cagarem tudo. Talvez quem está nesse círculo vicioso não perceba, pois já faz no automático, mas eu lhes garanto: é exaustivo. Eu só percebi o quanto é exaustivo depois que saí do país.

Para qualquer coisa que você dependa de terceiros tem que se perguntar: será que essa pessoa está tentando tirar algum proveito de mim? Será que essa pessoa é competente o suficiente para me orientar da forma certa? Será que essa pessoa está tentando me tomar dinheiro? Será que essa pessoa está agindo em interesse próprio em detrimento dos meus interesses? Será que se eu fizer o que essa pessoa diz eu vou morrer ou me machucar? São centenas de perguntas, preocupações e medos por se tratar de um povo desonesto, filho da puta e irresponsável.

Não é normal viver com esses cuidados, o normal é confiar no médico, confiar em qualquer profissional, em qualquer prestador de serviços. O normal é que o médico não te mate. O normal é que o médico respeite a orientação de cientistas do mundo todo, da OMS, de estudos e pesquisas sérios. Não pode ser normal que um médico prescreva um medicamento que eu, uma leiga, sabe que vai te matar, que vai causar problemas no seu coração, que vai te colocar na fila do transplante de fígado. Não é normal um mundo onde blogueiros sabem mais do que médicos.

Viver assim, sem poder confiar nos demais, é um inferno. Consome energia, estressa, toma um tempo precioso da pessoa. Isso não é vida. Isso faz mal.

Para viver no Brasil você tem que ser médico (se não te medicam errado e você morre), engenheiro (se não demolem a coluna errada e o seu prédio cai), advogado (se não te passam a perna e você perde seus direitos), veterinário (se não atendem mal e matam seu pet), mecânico (se não seu carro quebra e fazem uma gambiarra para te tomar dinheiro) etc. Você tem que ser tudo, pois não dá para contar com quase ninguém.

Isso não é normal. Isso não acontece em todos os lugares. Isso não é aceitável. A sociedade brasileira vai ruir, pois nada tão podre se sustenta por muito tempo. A sociedade brasileira está se autodestruindo: quanto pior fica a pandemia, mais merda o brasileiro faz. O precipício está bem à frente de vocês e, em vez de frear, vocês estão acelerando ou arrumando desculpas para não pular do carro pois “não é tão fácil”. Sabe o que não é fácil? Cair do precipício.

Não posso oferecer uma solução para tornar o Brasil um lugar decente, mas posso te dizer que sim, é normal estar exausto, cansado, desanimado, estressado, com insônia, com dificuldades para seguir em frente. Não é frescura sua, não é falta de força de vontade, não é nada individual. É realmente um inferno viver nesse contexto brasileiro, que está cada vez mais acentuado pela pandemia.

Você está coberto de razão se está se sentindo mal, desconfortável, triste. Isso é um sintoma de normalidade. Anormais são os outros, que estão imersos nessa sociedade doente agindo como se ela fosse normal. Espero que vocês encontrem algum conforto nisso: se você está se sentindo mal, você é uma pessoa decente e consciente.

Para dizer que este texto trouxe tudo menos conforto, para dizer que nunca tinha parado para pensar em como é exaustivo viver no Brasil ou ainda para dizer que não tem forças para dizer nada: sally@desfavor.com

SOMIR

Às vezes parece que estou num conto de ficção científica: um onde o Brasil entrou num loop temporal e voltamos para o começo de 2020. Notícias como essa até fariam algum sentido quando a pandemia ainda era desconhecida, mas em março de 2021?

Onde estava essa médica nos últimos doze meses? Onde estavam os milhares de médicos ainda teimando em tratamento precoce? Onde estavam os governantes que foram pegos de surpresa com o aumento de casos depois de relaxarem todas as medidas de proteção? Não viram que as mutações de vírus eram mais perigosas? É como se 2020 não tivesse existido.

Mas existiu. E foi um ano onde seja lá o que gera esse comportamento insano do brasileiro médio, só deixou isso mais concentrado. Diante da dificuldade, os piores comportamentos desse povo foram se tornando mais e mais fortes. Sim, o brasileiro sempre foi irresponsável e teimoso, como é de costume em povos que vivem em países de baixo desenvolvimento humano; mas está há mais de um ano piorando sem parar.

Não basta achar que a maioria absoluta da comunidade médica internacional está errada e só eles estão certos, tem que inventar uma forma ainda mais danosa de aplicar cloroquina e fazer um experimento bizarro em pacientes extremamente fragilizados. É gente que está perdendo tudo e continua dobrando a aposta.

E se você está prestando um mínimo de atenção, não consegue deixar de perceber o componente político: não é como se fosse apenas a insistência numa teoria científica incomum, receitar cloroquina é um ato de posicionamento ideológico. A pessoa acha que está enfrentando o comunismo ou lutando contra a mídia manipuladora, talvez as duas coisas. Imagine só: trair seu juramento como médico e demonstrar seu posicionamento político colocando vidas em risco.

Sim, acreditam na cloroquina, mas é uma crença contaminada pela ideia de que estão “enfrentando o sistema”. Era para a pandemia ter diluído um pouco a polarização, como crises normalmente fazem, mas uma escolha política de negação lá no começo da história conseguiu prender uma boa parcela da população brasileira numa espécie de mundo paralelo, onde os problemas são inventados pela mídia para forçar seus filhos a se tornarem gays, ou algo do tipo.

Ao mesmo tempo, a costumeira displicência com a qual o brasileiro lida com questões públicas foi piorando mês após mês: sem saber no que acreditar e sem suporte do Estado, cada um decidiu sozinho o que fazer. Não podemos nos esquecer que o ser humano médio não tem o hábito ou sequer a capacidade intelectual de formular um plano próprio baseado em informações científicas comprovadas. A frase que eu acabei de escrever é basicamente ininteligível para a maioria da humanidade, não importa em que língua estiver escrita.

Sim, outros povos fizeram coisas erradas, outros governantes abriram antes da hora e mataram gente, mas o único país que parece satisfeito e disposto a errar mais e mais é o Brasil. 300.000 mil mortos (subnotificados) deve ser pouco para um povo tão brutalizado, só pode ser. É como se o Brasil fosse uma criança testando os limites dos adultos ao seu redor: quanta coisa errada podemos fazer até alguém gritar com a gente?

Não é só sobre ser o país mais incompetente do mundo na reação à pandemia, é sobre uma parcela da população parecer ter orgulho disso e uma maioria de gente que simplesmente não acha isso um problema tão grande assim. Governadores e prefeitos sabem que só tem a perder em capital político quando aplicam restrições, porque não é tanta gente assim que espera deles as medidas corretas. E pra falar a verdade, eu não duvido que uma parte desse povo que quer ver os políticos levando a pandemia a sério só estão nesse barco por causa da polarização.

Houve uma concentração de teimosia ignorante de um povo que não valoriza ciência, talvez resultado direto da exigência de aprender sobre o assunto. Alergia à racionalidade, reação adversa à exigência de consumir e processar informações corretas de fontes confiáveis. É difícil mesmo. Na situação anterior, as consequências do achismo eram menores, e isso era confortável: a pessoa podia acreditar em qualquer besteira, se sentir especial e não correr o risco imediato de morrer por causa disso.

Mas o jogo mudou: crenças estúpidas de rede social começaram a matar pessoas, ignorância científica extrema é fator de risco em pandemias. Ao invés de se adaptarem, aumentaram a aposta! Talvez se conseguirem ter crenças ainda mais absurdas e ignorantes, vençam o problema.

O resultado está aí, a pessoa chega no hospital porque não se cuidou ou porque foi contaminada por gente que não se cuidou… e a médica inventa nebulização de cloroquina para provar para o mundo que não é esquerdista! Idiocracia, versão tupiniquim. O ponto que estamos trazendo aqui é que essa concentração de insanidade e estupidez vai separando o Brasil do resto do mundo, mesmo que em tese não sejamos mais estúpidos que o resto do mundo subdesenvolvido.

O Brasil se torna pária e ameaça à saúde pública global porque vai insistindo em ser ignorante e gerando uma identidade nacional ao redor disso. Extremamente estúpidos, mas com muito orguuuulho, com muito amooooor! Sim, está ruim em vários outros países do mundo, mas nenhum deles parece tão satisfeito com o resultado como o Brasil.

Para dizer que morrer de Covid é um ato de patriotismo, para dizer que brasileiro se odeia, ou mesmo para dizer que só você – Q.I. de dois dígitos e dificuldade de entender frases longas – sabe a verdade sobre epidemiologia: somir@desfavor.com

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Comments (26)

  • sem conseguir ler os avisos

    Até lêem os avisos, mas tocam o foda-se. O conspiracionismo alimentado no correr das últimas duas décadas por aqui tem grande influência nisso.

    Vocês esperavam que uma pessoa que foi tratar a Fosfoetanolamina como panaceia para a cura do câncer fosse se portar de forma Prudente e responsável em meio a essa crise na saúde pública mundial? Vocês esperavam mesmo que o Brasileiro Médio fosse ficar em casa e não tratasse isso como folga ou “festa” onde poderia encher a cara e perturbar a vizinhança? Vocês esperavam mesmo que a população não fosse contaminada pelos conspiracionismos alimentados pelo Olavo e seus asseclas por um lado e pelos lulistas e afins por outro? Vocês achavam que esse bando, dando trela a tais conspiracionismos que dão ênfase ainda maior ao viralatismo tupiniquim, não fosse insistir no sentido de utilizar medicamentos provadamente ineficazes na busca de uma pretensa cura que o medicamento obviamente não vai trazer? Vocês esperavam que a vacina, sendo de disponibilidade restrita país agora, não seria desviada em favor de endinheirados e bem relacionados na burocracia tupiniquim? Tá de brincadeira, né?!

  • Sim, é tudo isso de péssimo e um pouco mais….
    Parece que estamos vivendo um pesadelo q vai longe no tempo.
    Olho a pracinha em frente a minha casa e várias pessoas, crianças, animais, curtindo o dia e a noite, sem mascaras, claro (a máscara está lá: na mão, no queixo, no cotovelo, no bolso).
    As pessoas NÃO usam mascaras, levam consigo para entrar em algum estabelecimento comercial, colocam na entrada, fazem o que tem q fazer, saem e tiram….e se dizem usuárias, acham importante, defendem o uso! É tudo muito cagado, as medidas de proteção parecem “pra inglês ver”, só isso, um mero script pra discursar pra terceiros.
    A maioria acha que é isso, uso eventual da máscara, uso do álcool gel quando disponível (não sabem o que quer dizer distanciamento social, muita informação pra armazenar e ainda cumprir) e está de bom tamanho, e assim acreditam que estão fazendo sua parte no processo de prevenção e combate ao vírus, tipo “prevenido não praticante”….surreal.
    E Sally, um médico já me orientou a mentir, acredita? Eu precisava fazer um exame e precisava estar em jejum de 12 hrs, não estava e não fiz naquele momento; tive que retornar pra consulta sem o exame. Expliquei o ocorrido pro médico (particular,tá?)e ele me perguntou: “porque vc não mentiu que estava em jejum? Assim teria feito o exame e trazido “, pode uma coisa dessas?????

    • Mentir que está de jejum (quando na verdade não está) altera o resultado de vários indicadores. Provavelmente você seria considerado até diabético. É assustador viver em um país onde leigo pode saber mais do que médico.

    • “Peguei Covid usando máscara” (no queixo, na mão…) é o novo “Engravidei tomando pílula” (toma uma, esquece 3) do BM…

    • Médico orientando a mentir em exame? Mel dels, o nível da coisa! Deve ter faltado naquela aulinha básica sobre exames na qual se ensina que, se não tiver feito jejum direito, pode dar tudo alterado no exame de sangue! Revoltante isso, pelo amor…

  • No meu último comentário aqui eu disse que queria que esse povo todo se fodesse. Taí a justificativa. A gente fala, a gente argumenta, a gente apresenta links para estudos, tentamos fazer uma conscientização científica (o que pra mim, docente/pesquisador de universidade pública, é absolutamente natural no dia-a-dia), e o que ouvimos em troca? Que eu estou sendo manipulado por um combo “extrema imprensa”+China+”Fórum de São Paulo”, que eu fui “doutrinado” ao longo de toda a minha graduação (que foi em Exatas numa das universidades estaduais de SP mais conceituadas no mundo… mas, mesmo assim, fui “doutrinado”), que virei adepto do “marxismo cultural” (seja lá o que isso signifique!), que o tal “grupo de Bilderberg” (porra!) vai dominar o mundo e eu sou só uma pecinha na engrenagem desse monstro que vai devorar a humanidade, que a cidade de São Lourenço (em MG) zerou os casos de COVID usando o “kit tratamento precoce” mas que “isso ninguém divulga e é censurado”… tem mais um monte de coisas, mas me deprimi tanto escrevendo essa lista que paro por aqui mesmo.

    Volto a repetir: minha parte “social” nessa pandemia tentei fazer. Agora eu quero que todo mundo se foda. Aliás hoje, indo ao mercado (depois de uma semana enfiado dentro de casa) pra comprar o essencial, eu tive que ir pro outro extremo do caixa porque, enquanto eu estava botando as coisas no balcão pra contabilizar, um corno arrombado cria duma cadela de duas cabeças me encosta quase fungando no meu cangote. Nessas horas eu entendo a mortandade que tá rolando por aí por causa do (não) uso de máscara e do desrespeito ao distanciamento.

    • Charles, tb to desse jeito, viu? Tacando o foda-se pra tudo e todos, porque também já cansei!

      Já comentei aqui em outros momentos, convivo diariamente com uma mãe teimosa e negacionista que pelamor. Vim pra cá porque ela precisou de atenção e cuidados, teve um problema de saúde grave, e isso foi logo no começo da pandemia. Daí fechou tudo, eu fiquei preso aqui… Enfim.
      É diário esse negócio de receber uma enxurrada de informações distorcidas e outras pra lá de criativas em grupos de whatts! Diário o nível de babaquice e sempre o mesmo discurso calcado numa ideia de alienação, grupos de esquerda, misturado com essa ideia de cunho apocaliptico escatológico + esoterismo + endeusamento de político. Eu já cansei de contra-argumentar, já cansei de bater de frente. Infelizmente, por mais que doa, to tacando o foda-se pra ela, já que ela sequer quer ajuda de ninguém.

      Off: fico imaginando em qual curso tu é docente. Seria engenharia? Mecânica? Eletrica? Civil? Ou seria matemática? Química, física? Tu leciona essas disciplinas básicas, tipo cálculo, que serve pra todas as engenharias? Ou algo bem específico do tipo fisico-química ou mecânica de sólidos?

      • Ge, meu trabalho é com formação em Matemática de nível superior pro povo da única Engenharia que tem no meu campus: de Alimentos; logo, meu negócio são os Cálculos (todos os 5), Álgebra e Geometria Analítica. Mas também trabalho com Física-Matemática, Análise Numérica ou Pesquisa Operacional em cursos nos quais haja essas disciplinas (em geral Matemática Pura/Aplicada e Física). E em 12 anos de formação (da graduação ao doutorado) nunca ninguém chegou perto de mim, puxou um baseado e me ofereceu, enquanto explicava como o capitalismo é opressor, como Gramsci e Hegel estão certos ou como usar a dialética erística pra desqualificar o discurso da extrema-direita em detrimento do mundo zoado que a esquerda propõe (que é o que essa gente – que em geral jamais pisou numa universidade – acha que rola dentro de uma pública) *rsrsrsrs*

        • Bacana tua trajetória, Charles D.G.
          Meu conhecimento de cálculo se restringe às integrais e derivadas mesmo, séries de fourier, círculo trigonométrico, ondulatória. Foi o que precisei ver na produção musical na hora de mexer com síntese sonora, equalização e masterização.

          Aliás, adoro gente de exatas que já leu coisas de humanas e que não foi “contaminado”! Gente sensata! haha

      • Como se na “esquerda” brasileira fosse muito melhor. Vivem querendo pintar o Lula de santo injustiçado e enchem a boca pra chamar o Bolsonaro de genocida enquanto que os mesmos se juntaram aos montes naquela famigerada campanha do Black Lives Matter In Brazil, que serviu pra tentar catapultar o Guilherme Boulos (aquele PILANTRA filhinho de papai médico que se enfia nessas PALHAÇADAS enquanto o papai tá na linha de frente em um esforço inglório em meio a essa pandemia) para a prefeitura de São Paulo em 2020 e quem sabe para uma vice-presidência (com o Lula encabeçando a chapa) em 2022.
        Pior, se o Bolsonaro fizesse a coisa certa, esses picaretas seriam os primeiros a querer problematizar a questão querendo usar dos pobres e dos pretos pra promover sua firula DEMAGÓGICA.
        Ainda bem que mantenho contato com algum ou outro que pensa fora da caixa, senão seria sufocante.

    • Me senti representada, Charles!

      Obrigada por este comentário. Estou tão exausta, que não tenho energia nem pra falar isso aí.

    • O tempo é o senhor da verdade. Quando, em 5, 10 anos, essa história for contada e recontada, você vai poder dizer “eu tentei, eu fiz a minha parte”. Sei que agora dá desespero de não ser escutado, mas tentando você assegurou um futuro de consciência tranquila, enquanto essas pessoas terão um futuro de vergonha e culpa por ter contribuído para a maior crise sanitária da história do Brasil.

  • Vc diz que não mete mais pau nos portugueses, senão vem tem xingar nas mensagens, mas a culpa é toda deles! Qual o outro país que foi povoado por bandidos e fugitivos? É por isso que não existe nenhum povo tão desonesto igual ao brasileiro. E isso não é segredo pra ninguém, eu aprendi isso na aula de história do primário. Uns tem carga menor no DNA, mas a maioria não presta.

  • A pessoa que fala que precisa ir pra outro país pra “viver a vida”, estudar, trabalhar, fazer amigos etc., costuma ser tão fracassada que, se estivesse lá, ia ser daquelas que sofrem bullying e ficam isoladas.
    Se vai migrar, lembre-se que pra onde você for, sua cabeça vai junto. Não tem um pozinho mágico no ar dos outros países que vai te curar automaticamente.

    Enfim, já que não dá pra sair, usem esse tempo pra juntar um bom dinheiro com trabalhos remotos. Fiverr, Infojobs, Trampos.co, Indeed, Envato… Não adianta ficar choramingando, considerando a história da humanidade, os tempos bons e estáveis das décadas recentes até que duraram demais. Boa sorte.

    • Tá aí algo importante: se vai mudar de país a cabeça tem que ir junto, a mentalidade tem que mudar. Ter que lidar com o choque cultural lá fora, com a forma de pensamento e ação diferentes da que está acostumado no Brasil realmente pode parecer chocante, um problema a ser enfrentado.

      Mas, argumentando no sentido contrário, diria que quem quer sair do país é justamente quem tá cansado do modus vivendis e modus operandis que tem aqui.

      • Sim, é uma completa mudança de mentalidade. A pessoa tem que desgostar da mentalidade brasileira para se adaptar, caso contrário, se gostar do jeitinho brasileiro, não aguenta andar na linha.

      • “Tá aí algo importante: se vai mudar de país a cabeça tem que ir junto, a mentalidade tem que mudar”.

        Fazendo uma analogia: ao sair de um lugar em que todo mundo joga lixo no chão, para um em que o lixo não é jogado, a mentalidade aqui mudou na hora. Em um mês, já havia me adaptado.

        Nem todo lugar (ou mesmo nenhum) vai te recepcionar com esse mesmo jeito caloroso do brasileiro de recepcionar um estrangeiro, alguns nem querem conversa, mas você é respeitado de tantas outras formas (impostos altos com retorno, segurança ao andar a noite, serviços públicos que funcionam, transportes limpos e abrangentes, meritocracia, saúde, sociedade com senso de coletividade), que tenho saudades do tempo em que morava em uma obscura vila japonesa, trabalhando numa fábrica, sem amigos, ligando pro brasil uma vez por semana pra saber dos velhos, mas sendo respeitada como cidadã.

        Hoje sou grata, porém não necessariamente feliz, por morar hoje 30 anos depois numa grande cidade, ter um emprego invejável, com amigos e família por perto, mas numa sociedade em que o coletivo é meramente sinônimo de ônibus lotado…

        • Nossa, Suellen, são dois lados que devem pesar, não? Por um lado, não ter amigos, mas ter qualidade de vida e ser respeitada, por outro, viver num lugar em que as pessoas não estão nem aí pro senso de coletividade. Ahh se a gente pudesse simplesmente escolher, de maneira tão fácil…

          Ainda sobre mudança de mentalidade: ir para o exterior o choque é bem maior, certamente. Mas o choque também ocorre, de maneira menos intensa, aqui no Brasil, ao se mudar de um lugar pra outro. Eu, quando me mudei pra Curitiba, até tive um leve choque sim, mas não demorei a me adaptar, justamente porque minha forma de pensar e viver iam de encontro ao modus operandis daquele lugar, então…

          To com medo de falar muito sob pena de ser acusado de puxar sardinha praquele lugar, mas … Vamos lá: pude perceber, no geral, e comparando com várias outras capitais e cidades grandes, que lá é um lugar que as coisas até funcionam, sabe? Tem seus problemas sim, como em todo lugar, assim como bmzada; mas, no geral, é uma cidade limpa, organizada, trânsito flui bem, e as pessoas lá são mais civilizadas, mais educadas, não tem barulho, lei do silêncio funciona, e se tu jogar lixo na rua e um guardinha ver, tu é multado na hora.

  • “Perecem que no Brasil…” Não só percebemos como perecemos…
    300.000 mil mortos Epa. Trezentos milhões é o objetivo final, não?

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