Mimimi da pandemia.

Começa a Semana do Mimimi da República Popular do Desfavor, e com ela, já temos uma competição de quem tem o maior “White People Problem”, também conhecido como problema de primeiro mundo, durante a pandemia. Deixe o bom-senso de lado, nessa semana a gente só reclama.

Tema de hoje: qual é o seu White People Problem da pandemia?

SOMIR

MAIS inclusão digital. Não é nem a reclamação que o nível na internet já foi muito melhor quando eram apenas os nerds conectados (lembrando que eu estou ativo na rede há quase 25 anos, vi praticamente todas as etapas da internet), eu já tinha até feito as pazes com as pessoas “normais” participando mais, mas a pandemia garantiu uma infestação quase que total.

Em questão de meses, eu comecei a ver gente rindo com “kkkkkk” em lugares que eu nunca imaginei antes. O tempo extra diante do computador fez com que conseguissem achar refúgios que eu considerava sagrados. De repente, gente começava a fazer perguntas incessantes sobre coisas simples respondidas segundos atrás em sites, canais e chats que não precisavam lidar com essa massa analfabeta funcional antes.

Sim, eu sei que por um lado é positivo: não foi todo mundo que cagou e andou para a pandemia e muitos realmente tentaram digitalizar mais sua vida nesse meio tempo, mas hoje eu falo sobre o que me incomoda sem pensar em contexto.

Os sites de streaming tiveram que baixar a qualidade dos vídeos porque encheu de gente vendo ao mesmo tempo. Disseram que não tinha problema porque a maioria das pessoas assiste no celular… oras, eu não sou um selvagem sem costumes que assiste filmes e séries numa tela minúscula, eu gastei dinheiro num monitor 4K para poder ver as coisas numa qualidade decente. Eu percebo a diferença entre vídeo de baixa resolução e vídeo de alta resolução. Eu percebo artefatos de compressão de vídeo, eu percebo som de baixa qualidade.

Chegou no ponto de eu ter que piratear coisa que eu pago pra ver porque a qualidade da Netflix ou da Prime está uma merda! Essa gentalha que assiste tudo no celular baixou o nível de tudo. Mas como o Cleyton ou a Regislane não reconhecem qualidade, tudo bem arrombar o vídeo! Voltem para os sites de stream pirata e me deixem em paz.

Sinto muito dizer, mas se você é uma pessoa normal, seu lugar não é na internet o dia inteiro. Arranje algum hobbie longe da tela, porque internet é para viciados em informação que conseguem absorver conteúdo em alta velocidade. Como eu já disse inúmeras vezes antes, não é nem questão de inteligência, é um modo de funcionar que combina com a quantidade de informações que gira pela rede mundial de computadores.

Você pode ser um gênio em outros contextos, mas nem todo mundo foi feito pra cair de paraquedas num tema complexo e fazer senso dele rapidamente. Cada novo interesse que eu encontrava na pandemia estava lotado de gente que claramente não tinha essa capacidade. Gente que fica perguntando mil vezes a mesma coisa e acha que todo mundo tem obrigação de explicar quantas vezes forem necessárias. Quando eu encontro uma comunidade de algo novo pra mim, eu passo semanas, às vezes meses, lendo e absorvendo a informação antes de começar a perguntar.

A graça da internet é que o conteúdo está lá, é só pesquisar. Ninguém precisa ficar segurando a sua mão, ninguém precisa ter dúvidas que já foram respondidas. Comece a interagir e perguntar quando você já souber o básico! Mas não, o novo incluso digital acha que é que como chegar numa roda de conversa de uma festa, puxando papo. Depois reclamam de elitismo quando o mandam ir pesquisar antes de fazer pergunta idiota.

É que nem entrar no cinema no meio do filme e começar a perguntar para as pessoas ao lado o que está acontecendo! Na internet você busca informação sozinho primeiro e depois tira dúvidas mais avançadas com outras pessoas mais estudadas e/ou experientes. Senão as coisas não funcionam. Senão fica todo mundo com as mesmas dúvidas pra sempre, respondidas por pessoas com cada vez menos paciência.

Nem tudo é o Instagram onde as pessoas ganham dinheiro para fingir que se importam com você. Nem todo mundo está vendendo alguma coisa e se interessa por responder a mesma pergunta mil vezes. Internet é para dividir conhecimento, não é serviço de atendimento ao consumidor. Quando for para uma parte dela onde o conhecimento é mais avançado, estude um mínimo antes de encher o saco dos outros, porque ninguém é obrigado a lidar com sua preguiça. Dica: se você perguntou algo duas vezes e não entendeu a resposta, provavelmente o tema exige estudo por conta própria.

E isso se espalhou para relações de trabalho também: o povo que só via bunda na rede social de repente se viu obrigado a trabalhar de verdade pela internet. E é justamente o povo que mais desperdiça o tempo alheio com reuniões inúteis e má comunicação em geral. Internet não é igual vida real, as informações fluem de forma diferente.

Tem gente que sabe se comunicar muito bem falando ao vivo, e isso de forma alguma quer dizer que sabe se comunicar muito bem por meios digitais. Antes fazíamos reuniões virtuais e trocávamos mensagens com gente que sabia mais ou menos o ritmo da internet, agora temos que lidar com todo mundo. Resultado: um show de textos confusos em e-mails e mensagens de gente que não tem o hábito de escrever de forma prolixa e coerente o que quer, e um aumento brutal no número de reuniões que podiam ser apenas um e-mail ou mensagem escritas de forma decente.

Gente que quer que você ligue a câmera para “ver com quem está falando”, como se isso fizesse alguma diferença. E lá vai você ter que arrumar um fundo decente e colocar uma roupa melhor só para falar oi para alguém que nem sabe muito bem porque convocou uma reunião. Trabalhar de casa significa usar o tempo ganho em convenções sociais como não estar de pijama e não pegar trânsito para otimizar seu dia e ter mais tempo livre para seguir outros interesses. Há uma diferença clara entre quem já estava preparado para trabalhar de casa e quem caiu nesse mundo: quem estava preparado fez por onde se adaptar e quem não estava ficou pentelhando todo mundo com reuniões inúteis e exigências sem sentido.

Eu quero essa gente fora da internet, ou pelo menos de volta aos seus cantos como páginas de comentários sobre BBB e curtindo fotos de bundas no Instagram. A internet mais complexa não é o seu lugar, a não ser que você se esforce para mudar sua mentalidade. Volta pro barzinho assim que a pandemia acalmar, ok? Todo mundo era mais feliz com você por lá.

Para fazer perguntas que eu já respondi no texto, para dizer que isso explica alguns comentários recentes no Desfavor, ou mesmo para dizer que nerd nunca vai ser feliz: somir@desfavor.com

SALLY

Existe uma coisa que os americanos chamam de “Me Time”, para o qual não conheço termo equivalente no Brasil. Em uma tradução literal, seria “tempo para mim”, mas é mais do que isso: é poder estar em paz, sem ser perturbado e escolher fazer qualquer coisa (inclusive nada) sem interrupções. É ter a certeza de estar sozinho, desimpedido, podendo fazer o que quiser.

Eu não tenho um tempo sozinha comigo mesma faz muito mais de um ano, por motivos de força maior, mesmo antes da pandemia. Eu estou exausta e eu não consigo sequer ouvir meus pensamentos. Penso que a única razão pela qual eu consigo escrever o Desfavor é por ser algum tipo de psicografia com textos ditados por um Exu da Discórdia ou coisa do tipo, pois só isso explica uma pessoa conseguir produzir nessas condições.

Há anos que eu não olho para os lugares onde moro e vejo tudo parado, aquele silêncio que indica que não tem ninguém, aquela quietude que te faz pensar “se eu morrer agora só vão achar meu corpo quando apodrecer e feder”. Tem sempre alguém falando, fazendo barulho, alguém por perto. Ok, talvez eu seja injusta, pois, tirando o cachorro, não vivo com incivilizados, muito pelo contrário. Mas só o fato de existirem perto de mim 24h por dia é desgastante.

E não é como se eu quisesse usar drogas, fazer uma ligação secreta ou nada que não possa ser visto. Eu só quero ficar sozinha um pouco, não ter nenhum ser vivo por perto. Me conforma ter a possibilidade de fazer o que eu quiser, mesmo que no final das contas eu acabe não fazendo nada ou apenas dormindo. Eu preciso dessa possibilidade, mesmo que não a use. Eu preciso de algum tempo completamente sozinha, e nem tão cedo isso vai acontecer.

“Mas que diferença faz se você se trancar em um cômodo e ninguém te incomodar”. FAZ. Por isso enquadrei esse tema na categoria “mimimi” (reclamação fútil e despropositada). Para mim faz. Eu não quero ninguém presente na casa, eu quero horas completamente sozinha com a certeza de que não vai ter ninguém por perto. Chamem de autista, chamem de mimada, chamem do que quiserem, eu quero meu “Me Time” de volta.

E, não me entendam mal, eu amo todos os que moram comigo, inclusive meu doguinho, mas porra, 24h por dia debaixo do mesmo teto é foda. Hoje eu reclamo mas se alguém me faltar vou sofrer mil vezes mais do que agora (por isso é um mimimi). Eu não quero que ninguém suma, eu só quero umas duas horas por dia completamente sozinha. Não de silêncio ou ser ignorada, sozinha mesmo. Se tiver uma pessoa dentro da casa, por mais que fique imóvel e calada, não é “Me Time”.

Eu quero poder pintar o cabelo e botar uma touca térmica sem ser vista. Eu quero poder olhar pro teto em absoluto silêncio. Eu quero poder sambar vestida de Pikachu se me der vontade. Isso significa que eu vou fazê-lo? Não, isso significa que eu quero a possibilidade de fazê-lo. Mas não tem como exigir isso nesse momento (nem tão cedo), pois colocar quem mora comigo na rua para que eu tenha a possibilidade de, se quiser, sambar vestida de Pikashu, é risco de vida.

Então, aqui estou eu, o oposto do meme: never alone. Por mais boa vontade que exista em quem convive, basta estar presente para que eu não tenha “Me Time”. E não tenho previsão de, quando na minha vida, terei esse tempo só meu, esse grande espaço livre onde eu posso fazer o que quiser. E todo dia minha alma vomita um pouquinho por causa disso.

Novamente, bato na tecla de que eu sei que estou sendo mimada: tem gente em apartamentos com um único cômodo tendo que lidar com filhos 24h por dia. Eu estou em uma casa sem crianças, com quintal, com área verde, com espaço. Mas, já que é semana do mimimi, vou continuar reclamando de forma despropositada.

O fato de existir mais gente na casa além de você, 24h por dia, é um desgaste. Quando existia a rotina de sair para trabalhar e retornar no final do dia, a convivência era mínima. Convivência demanda um pouco de logística e um pouco de esforço. Convivência 24h por dia demanda mais esforço e mais logística. E eu estou exausta, com zero vontade de esforço de convivência.

Some-se a isso que eu sou chata pra caralho. Tanto para trabalhar como para dormir preciso de silêncio absoluto. Infelizmente não fui criada em uma casa com pais pagodeando, ouvindo música alta ou discutindo aos berros (crianças que são criadas nesses ambientes ficam calejadas para barulho). Fui criada em uma casa silenciosa com pessoas focadas em hábitos de leitura. Isso fez de mim uma mimada sensorial: preciso de silêncio, caso contrário não consigo nem trabalhar nem dormir.

Considerando que eu passo pelo menos oito horas por dia trabalhando (geralmente mais) e pelo menos oito horas por dia dormindo, para que eu esteja feliz e em harmonia precisaria de, no mínimo, 16 horas de silêncio diário. Eu comentei que eu tenho um cachorro?

É bastante difícil, por mais santa que seja uma criatura, que se mantenha o silêncio em uma casa na maior parte do dia. Salvo que tenha um bicho letal como o do filme “Um lugar silencioso” (meu sonho de consumo cair um alien desses no meu quintal) que te mate se você derrubar uma colher no chão, as pessoas acabam fazendo algum barulho.

Isso significa dormir mal e trabalhar com mais interrupções do que minha mente pode suportar antes de começar a ter fantasias homicidas. Isso significa viver sabendo que meu “novo normal” é estar com o freio de mão puxado, rendendo menos, por estar dormindo mal e por ter uma linha de pensamento interrompida por barulho. “Você acaba se acostumando”, um idiota comentou. Não, não acabo. Na realidade, quanto mais tempo passa, mais difícil fica. Vai tomar no cu todo mundo que leu o texto e pensou que eu vou acabar me acostumando.

Mas, a pior parte é se sentir mal por isso. Sim, ainda tem a culpa: estou cercada de amor e mesmo assim reclamo, fica puta, sinto raiva cada vez que alguém comete o “crime” de se expressar de alguma forma (cantando, latindo, falando). Que tipo de filha da puta sou eu que quer que todos fiquem calados, no mais absoluto silencio e, mesmo assim, continua descontente, pois para ser feliz preciso que tudo desapareça algumas horas por dia para ter “Me Time”?

Aí vem aquele pensamento tóxico de “quantas pessoas não gostariam de ter esse barulho dentro de casa, mas não o tem pois perderam seus entes queridos”. E, lógico, com isso vem a vergonha de estar com tanta raiva simplesmente por seres vivos estarem existindo à minha volta. Como posso desejar que entes amados desapareçam algumas horas para que, só assim, eu possa sentir uma dose de paz diariamente? Que tipo de psicopata filha da puta egoísta sou eu?

Basicamente, minha vida é uma luta entre tentar retomar o sono cada vez que sou acordada e não conseguir por ficar muito puta + tentar recuperar minha linha de raciocínio que foi cortada por alguma interrupção e ficar puta + me sentir um lixo por ficar puta com coisas pelas quais eu deveria ser grata.

Talvez seja hora de construir um bunker no quintal, assim eu finalmente posso estar completamente sozinha várias horas por dia e ter a possibilidade de sambar vestida de Pikachu, mesmo sabendo que nunca vou fazê-lo.

Para dizer que eu sou egoísta, para dizer que eu sou mimada ou ainda para dizer que você também precisa de “Me Time”: sally@desfavor.com

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Comments (32)

  • Sally, tente isto:

    Espalhe potes com petiscos de alto valor para seu cão pela casa e toda vez que ele estiver deitado e relaxado entregue um a ele.

    Depois, procure no youtube por “Kikopup professional dog training for noises”

    Eu faço com meus cães e eles ainda latem (não tenho como fazer a etapa do manejo que a Emily do canal pede), contudo são silenciosos se comparado aos cães da vizinhança

    Meu almost “me time” mais acessível é de madrugada. Não é o ideal, visto que dormir cedo e acordar cedo é indispensável pro relógio biológico, mas estou trabalhando em arrumar uma solução melhor

  • Moro em uma casa grande que deveria ser um céu, alguns vizinhos vez em quando fazem reforma parcelada também, mas já chamo a prefeitura (sei que a reforma não tem autorização e nem engenheiro de obras, pois é necessário colocar a placa do engenheiro na frente da casa quando se vai fazer reforma, e o barulho acaba até que se providencie a coisarada na prefeitura, e isso leva tempo) porém moro com uma pessoa que ouve pouco e apenas a primeira metade da minha frase e responde : O QUÊÊÊÊÊÊ? e tenho que repetir aos berros a frase toda. Isso é tremendamente irritante, mas o pai é idoso, dou o desconto, vou para o escritório e tranco a porta onde posso ter sossego e ficar em paz com meu trabalho e meus pensamentos.
    Em apartamento eu não moro mais nem por decreto. Já morei 2 anos, meu teto tinha marcas redondinhas do cabo da vassoura de tanto que eu batia quando os 2 pirralhos faziam aquele barulho infernal das 6 da manhã as 12 horas, depois iam para a escola, voltavam as 17 horas e o inferno continuava até as 23 horas (malditas crianças que deviam comer açúcar o tempo todo). Enfim, criança é bom, quando estão longe e quando não é nossa.
    Em tempo: tem que ser muito louco pra por filho no mundo após os anos 2000, ninguém mais tem futuro nesse mundo, que serão dessas pobres alminhas nem tão inocentes? Adotei um gatinho, castrei,
    e fora o pai meio surdo, to de boa.

  • Acho que bairros com casas parecem desertos, caros demais e me dão medo mas ao mesmo tempo acho vizinhos de apartamento insuportáveis. Sem problemas com quem mora comigo, mas queria ter silêncio, mesmo morando ao redor de várias famílias. Não entendo como vivem gritando e se estressando o tempo todo, com música alta, barulhos infernais quando a vida é tão melhor com paz e tranquilidade. Saí de um residencial onde o ruído das pessoas não era suficiente, então os condôminos decidiram, em reunião, encher um prédio comum com um patos e galinhas com a desculpa de controlar pragas, achando que o gramadinho atrás das garagens seria estrutura suficiente pra abrigar animais e simular uma amostra de natureza. Resultado: bichos enlouquecidos berrando o dia inteiro cagando nos carros e em toda a área comum. Isso e mais a porra do barulho agonizante do maldito cortador de grama.

  • Me diverti muito com os relatos aqui, obrigada a todos pelo divertimento, faz o meu parecer light.
    Com a pandemia me mudei de um bairro caro e civilizado (silencioso) de SP para minha cidade do interior. Moramos apenas eu e meu marido, os dois de home, não fazia sentido continuar pagando caro pra ficar trancado em casa, quando era a 20 minutos do trabalho de um e a pé do trabalho do outro, fazia total sentido. Já pensavamos em morar no interior e a pandemia só apressou isso. A nossa sorte é que esse apartamento é alugado, se tivessemos comprado certeza que a gente ia vender com prejuizo pra se livrar. Os vizinhos de cima são extremamente barulhentos, brigam alto, brincam alto, transam alto, a criança passa o dia correndo e jogando coisas no chão, grita da janela pro pai que ta na rua. A rua parece uma vila 10 vezes mais periferica do que o layout das casas sugere, a criança fica na rua o tempo todo gritando e andando de bicicleta, isso faz os malditos cachorros latirem sem parar, tem dia que isso se arrasta até meia noite. Tem um gorduxo filho da puta que fica empinando e fazendo barulho de moto, pra impressionar os demais adolescentes da rua, revoltante ver que a aspiração da juventude é dar uns pipoco com a 125, torço pra ele cair, pra eu ir dar gargalhada na varanda, bem alto pra ele ouvir. Tem um outro juventude perdida que dá a volta em meio bairro com a mobilete barulhenta, metade do bairro fica lembrando que a mãe dele existe, isso quando não fica tocando funk no celular. De madrugada os gatos ficam fazendo algazarra. Na esquina tem uma galera que conserta carros, de vem em quando é barulho de motor o dia inteiro. E os carros de som? Pode falar o produto que for, aqui no bairro passa alguém vendendo. O consolo é pensar que em poucos meses economizamos bastante dinheiro, eu aprendi que o dinheiro tem o poder de comprar o silencio, morar em bairro caro (e de velho) é uma opção pelo silencio. Em breve vamos pra uma vizinhança mais civilizada (espero).

    • Há alguns anos, eu tive um professor de inglês que me contava que desistiu de morar em apartamento por ter passado por exatamente essa mesma situação, Daniele. Os vizinhos de cima, de baixo e dos dois lados eram, segundo ele, infernais. Era barulho, baderna e sem-vergonhice o dia inteiro!

      • A má vedação acústica dos prédios é uma constante reclamação de boa parte das pessoas que se mudam pra apartamentos e geralmente isso é negligenciado por questões de custo de obra.

  • Já que hoje tá liberado, então… Segue a verborragia e o mi-mi-mi:
    Fico com a Sally nessa, até porque a entendo bem, e passo por coisa semelhante.
    Acho que já comentei, em outro texto, que desde o começo da pandemia estou morando com minha mãe, no interior de MG, porque ela resolveu passar mal um mês antes de tudo fechar em 2020. Mas olha… Morar com ela é um inferno! Eu não tenho um minuto de paz! Quando não tenho que ficar de olho nela pra ver se não está fazendo nenhuma merda, é a questão do barulho! Aqui não há um minuto de silêncio, porque ou é o rádio ligado o dia inteiro, ou é cachorro latindo e uivando pra qualquer coisa.

    Sabe aquele radinho de pilha, monofonico, que faz um barulho estrondoso nas frequências agudas, mas falta grave? Aquele som que parece uma caixinha de abelha zunindo no teu ouvido, que chega a doer o nervo do canto da orelha? Pois é. Me chamem de fresco, de mimimizento, mas… Se ao menos fosse som de qualidade! Eu tô acostumado a ouvir áudio em alta definição, 24bits, Flac, Aiff… O Somir deve saber do que tô falando. Agora esse radinho noq dá urgh!

    Como se não bastasse, mamma é incapaz de ter desconfiometro, de ter empatia. Não se toca quando o assunto é incomodar os outros. Exemplo bem básico:, dá 23hs, eu quero dormir e preciso de silêncio, e o que ela faz? Me bota aqueles áudios e vídeos de fake news dela no cel, com áudio tudo estourado pra casa inteira ouvir!
    Daí eu chamo a atenção dela, e qual a resposta dela? “ahh pq eu sou surfa!”, daí eu falo, mãe! Aprende uma coisa, o fato de tu ser surda, ter HIV ou qqr doença ou deficiência, NÃO TE DÁ O DIREITO DE PENTELHAR OS OUTROS!
    Aliás, se tem um problema, por que não foi buscar solução pra ele ainda? Por que não foi atrás de ir ao médico, procurar sobre uso de aparelho auditivo etc? “ahh mas custa caro e eu não tenho grana,”, fiz ela. Nunca tem, né? Acho incrível! Pra ajudar os outros ela sempre tem, mas pra ela… Urgh que ranço!

    Não sei se comentei também, mamma é cachorreira. Faz parte de ONG de proteção animal, associação de proteção etc e inventa de me por 30 cachorros dentro de casa, tem base? Se ao menos tivesse um espaço adequado pra eles… Não bastasse isso, é mais do que nítido perceber que a personalidade dos animais reflete diretamente a dela. São dogs todos ciumentos, ninguém pode chegar perto dela, carentes, choram e piam por qualquer motivo, ansiosos e nervosos, pra qualquer coisinha começa aquela algazarra a ponto de uivarem e começar aquela sinfonia canina, já que juntam os dogs do bairro inteiro…

    Porran, eu não tô acostumado com isso não, é sim com silêncio, sabe? Sabe aquele silêncio gostoso que tu só ouve o barulho do motor da geladeira ligado na sua casa, e no máximo o som do carro do vizinho dando partida pela manhã ao ir pro trabalho, e as maritacas cantando no fio do poste? Pois é, era assim que eu estava acostumado na República de Curitiba. Podem dizer que sou fresco, mimizento, mas olha… Essa questão do silêncio pesa pra mim! Eu preciso disso pra ler, estudar, ouvir meus próprios pensamentos!

    E quando eu disse acima que não tenho paz morando com mamma, é porque também não tenho privacidade nenhuma! Me sinto invadido e observado em meu próprio espaço e a todo momento! Isso me irrita!
    Não digo privacidade no sentido de ver um porno e bater uma no quarto não até porque… Né? Já passei dessa fase. Mas digo simplesmente pra ler um livro em paz, eu não consigo! Urgh!

    Outras duas coisas pra adicionar na lista de mi-mi-mi s são, anota aí:
    1) aqui nessa merda de lugar 6rm uma operadora (faço questão de dizer o nome!) chamada algar Telecom. Se tu acha que vivo, claro e Tim deixam a desejar, olha… Essa consegue se superar oferecendo uma Internet de fibra lixo! Aliás, é irônico o fato de que é monopólio aqui nessa região! Que saudade de uma Internet de verdade lá no sul, viu? Bjo pra copel Telecom e pra gvt!

    2) eu sinto falta, com essa pandemia, da vida cult de uma capital, sabe? Sinto falta enorme das idas a concertos, espetáculos de ballet, teatros, museus (mas museu de verdade, que todo mês tem uma novidade vinda de Paris, NY Londres, não essas múmias que tem sempre as mesmas exposições!), ir a bons cafés (desses que tem um barista renomado internacionalmente e que sabe te apresentar um bom grão 100% arábica do serrado, sul de MG bebida dura, ou um blend 70/30 arábica-conilon. É desses também que tu pode escolher a dedo o método de preparo, seja chemex, hario v60, french presa etc), além de idas a eventos como café filosófico, café com psicanálise, noites literárias, saraus de poesia, enfim… Podem me chamar de metido, elitista, como sempre chamam, mas não adianta… Minha alma clama por isso, sabe? Eu nasci pra ser rato de capital! Eu odeiooooo essa gentalha do interior sem erudição nenhuma, me sinto um peixe fora d’água!

    Enfim, é isso…

    • Só digo uma coisa: todo e qualquer dispositivo eletrônico à venda no Brasil deveria dar um choque de 220v no usuário que o ligasse sem fone de ouvido plugado. Só assim para educar esse povo.

      • Concordo, Sally. E esse choque ainda deveria aumentar de intensidade se a “música” – com aspas, por favor – saindo desses aparelhos for funk, pagode, louvores e assemelhados.

  • Como vc faz pra dormir em silêncio se não existe silêncio? Eu achava que em ap de fundos ia resolver a barulheira da rua, mas aí comecei a ouvir o vizinho de cima andando, o cachorro dele se coçando e arranhando o chão de madrugada. Só se for pra uma casa isolada, mas aí tem assaltos.

    • E eu achei que me mudando para uma casa sem vizinho por perto teria silêncio, mas não, a natureza também se encarrega do barulho: gato de rua no cio, passarinhos que cantam à noite (não venham me dizer que não existe, pois existe e mora na frente da minha casa), e muitos outros barulhos.

      • Existe mesmo Sally. Alguns sabiás cantam de noite/madrugada. Cansei de acordar no meio da noite pensando que já tinha amanhecido.

        Adorei o texto, me senti muito representado em tudo.

  • Fico com a Sally porque eu sou um senhor barulhofóbico, e desde que a pandemia começou, uma casa perto da minha passou a ser habitada por dez pessoas quando antes tinham quatro, e desses seis novos habitantes, alguns são adeptos de alguma coisa conhecida como “Barões da Pisadinha”, e toda sexta à noite sou obrigado a dormir de janela fechada, ventilador e tampões de ouvido. Mas mesmo sem contar eles, o barulho aumentou de todos os lados. Vizinhos que passavam o tempo todo fora trabalhando e não pisavam em casa no fim de semana agora ficam em casa o dia todo, e esse tipo de gente tem alergia a silêncio. E nem preciso falar do Ursulão, o cara que aproveita que está em casa e vai fazer uma mini-reforma no melhor estilo faça-você-mesmo. Nisso ele saca o martelo, a infame Makita, e passa MESES fazendo um trabalho que um pedreiro faria em uma ou duas semanas… pra depois ver que ficou uma merda e ter que chamar o pedreiro de qualquer jeito.

    Mas faço uma menção honrosa ao Somir, porque com muito mais tempo em casa e com internet, o brasileiro médio descobriu muitos recintos que desconhecia, e por conseqüência o QI médio desses recintos caiu em pelo menos uns 20 pontos. Gente qualificada pra participar do “Ei, você!” invadindo fóruns e chans, indignado em descobrir que existem pessoas que não pensam como elas e se sentindo no dever moral e cívico de mostrar a elas o quão elas estão erradas.

    • Não tem jeito: muita gente junta dentro da mesma casa é barulho. Por mais silenciosas e educadas que sejam as pessoas, elas cagam, dão descarga, elas comem, elas abrem a geladeira… a rotina do ser humano implica em barulhos. Ou se mora em uma casa absurdamente grande, ou é impossível ter silêncio morando com várias pessoas.

    • Anubian,

      Desconfio que desde o início da pandemia o meu vizinho decidiu construir o Taj Mahal de azulejos e por isso a p@#$% da Makita passa o dia inteiro cantando. Ódio.

      • Soma o hábito do brasileiro de parcelar obra, o que transforma um trabalho de duas semanas em um trabalho de três meses, com a paixão que o brasileiro tem pela Makita, e o inferno tá feito. São meses a fio em que você nunca sabe se vai poder tirar um cochilo porque o cara não tem hora pra ligar aquela merda.

        Teve uma época antes da pandemia em que um vizinho meu fez isso. Detalhe, ele trabalhava à tarde, então ele aproveitava a manhãzinha e a noite pra obrar. Tinha dia (incluindo Domingo!) que era sete horas da manhã e eu acordava com ele martelando ou Makitando alguma coisa. Tinha noite que eu tava tentando assistir o Jornal Nacional e o cara tava lá no INHÉÉÉÉÉÉÉÉIN e no PÁ! PÁ! PÁ!, tinha fim de semana que eu ia tirar aquele cochilo gostoso depois da macarronada com frango assado e não podia, porque o cara tava lá serrando piso e quebrando parede.

        E claro, no final das contas o piso da frente da casa ficou meio torto e desnivelado, e parece que dentro da casa também deu problema, então o Ursulão teve que chamar um pedreiro pra consertar aquela merda.

    • Gostei da sua referência ao Ursulão, Anubian. Conheço umas pessoas assim também. Geralmente, o DIY (Do-It-Yourself) costuma ser mesmo mais barato. Desde que a pessoa tenha as habilidades e ferramentas corretas para fazer o serviço, é claro! Se meter a fazer uma coisa para a qual não se tem a menor inclinação apenas para não gastar dinheiro sempre dá merda. É o famoso “barato que sai caro”. Por mais que se queira ser econômico, polivalente e auto-suficiente, certas coisas têm que ser confiadas a gente especializada e experiente.

  • Meu “white people problem” é simples: não recebo atenção. Isso, contudo, vem desde o momento em que minha filha nasceu – o que me tornou num inútil, do ponto de vista da mãe.

    Exagero? Talvez – mas crianças fazem essa transformação, amplificada durante a pandemia. Tempo, para mim, só se eu vou resolver os problemas fora de casa, nas raras vezes em que isso é possível.

    • Não tenho filhos, portanto, é apenas uma opinião sem qualquer fundamento: mostre que você não é um inútil, assuma tarefas, tome a frente de coisas relativas ao bebê que precisam ser feitas. Sua esposa vai perceber que você é plenamente capaz de fazer tudo que ela faz (exceto amamentar)

  • Pois é Somir, eu também tenho percebido que os internautas parecem cada vez mais burros, talvez preguiçosos seja a melhor palavra.

    Exemplo: tem um post falando “Um dia eu quero comer anchovas no Cazaquistão.”
    Respostas: “O que é anchova?” “Onde fica o Cazaquistão?”

    É SÓ ABRIR UMA PORRA DE UMA NOVA GUIA NO NAVEGADOR E DIGITAR, CARALHO!

      • Mais um aqui. Realmente, a internet está ficando infestada de gente assim ultimamente. Irrita mesmo… Ah, e eu também gosto de silêncio e preciso às vezes de um tempo às sós comigo mesmo, mas meus problemas ainda não são tão graves quanto o da Sally.

    • Quando eu ainda tinha Facebook, lembro que essa era uma das coisas que mais me irritava nos grupos: ninguém procurava porra nenhuma na lupa! E se você falava que já tinha conteúdo sobre o assunto lá, as pessoas te julgavam como se você fosse um monstro. Todos os dias as mesmas perguntas e dúvidas que já tinham sido respondidas mil vezes. Puta merda…

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