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FAQ: Coronavírus – 36

FAQ: Coronavírus – 36

| Sally | | 14 comentários em FAQ: Coronavírus – 36

Faz um guia rápido para a gente dos tipos de vacina (vetor, rna etc), como funcionam e qual vacina é de cada um deles? Conta qual você acha a melhor?

VACINAS DE VÍRUS INATIVADOS: Pegam o vírus, “o matam” e colocam o “cadáver” do vírus “morto” para que o sistema imune o ache e o detecte como um invasor. Esse tipo de vacina pode demandar um sistema imunológico em seu melhor funcionamento para ter o máximo de resultado, uma vez que um pedaço de um vírus morto pode não chamar tanto a atenção do sistema imune quanto as outras vacinas.

São vacinas de vírus inativado: Coronavac, Covaxin (não sei se será comprada ou não), Cansino (também chamada de Covidencia, vacina de dose única que deve estar chegando por aí) e Sinopharm.

VACINAS DE RNA MENSAGEIRO: Produzem um pedaço do vírus dentro das nossas células, o que vem se mostrando a opção que produz a melhor resposta imune. É uma tecnologia nova e promissora, que pode ajudar não apenas com covid, mas com várias doenças. Mas, pode ficar tranquilo, não há qualquer possibilidade de ela mudar seu DNA ou alterar algo essencial no seu corpo.

São vacinas de RNA Mensageiro: Pfizer e Moderna

VACINA DE VETOR VIRAL: Pegam um pedacinho do corona e colocam em outro vírus ativo, que não cause mal ao humano, para que esse vírus ativo (chamado de “vetor” ou “vetor viral”) o carregue para dentro do nosso corpo. Por ter um vírus vivo, chama a atenção do nosso sistema imune, aumentando as chances dele detectar e atacar o vírus vetor e, ao atacar, acaba reconhecendo o pedacinho de corona como inimigo. Delas, a que vem se mostrando mais eficaz (com eficácia similar às de RNA Mensageiro) é a russa Sputnik V, pois ela usa de um artifício extra: é aplicada em duas doses e cada dose possuí um vírus diferente como vetor, então, as chances do corpo atacar são maiores.

São vacinas de vetor viral: AstraZeneca (ou de Oxford), Sputnik V, Janssen

Sobre qual é a “melhor” vacina, repondo na pergunta seguinte.


Olha ai o Tarcísio Meira se fodendo no hospital por causa da merda da Coronavac e vocês ainda defendem essa merda

Não me lembro da gente defender uma vacina em detrimento da outra. O que fazemos é divulgar dados, vindos de estudos científicos sérios, sobre eficácia das vacinas. Também não me lembro de ter visto que ele tomou Coronavac, suponho que isso seja uma especulação sua.

A explicação sobre a eficácia de cada vacina já foi mencionada várias vezes, em várias colunas passadas e, por repetidas vezes, dissemos que vacinas de vírus inativado costumam gerar uma resposta imune menor do que vacinas de vírus vetor ou de RNA Mensageiro. Isso quer dizer que a vacina não funciona? Claro que não. Isso quer dizer que elas devem ser deixadas para quem tem um sistema imunológico em seu melhor funcionamento.

Se você tem 25 anos e é saudável, a Coronavac dá e sobra para te proteger. Mas, se você tem 90 anos e está na linha de frente do combate à covid, talvez precise de uma vacina que provoque uma resposta imune maior.

Vamos para um exemplo bem tosco: se um grupo de muitas pessoas tem que alcançar uma caixa que está em uma prateleira a 2m de altura e o governo tem que distribuir escadas de diversos tamanhos para essas pessoas, qual seria a atitude mais lógica? Dar às pessoas mais baixas as escadas mais altas, e, às pessoas mais altas, escadas mais baixas, assim todos podem alcançar a caixa. A meta é que todos alcancem, se uma pessoa não alcançar, todos saem prejudicados.

O que o Brasil fez? Saiu dando escadas aleatoriamente, ou, pior, deixou que as pessoas escolham o tamanho da escada que iam receber. O brasileiro, sem qualquer sendo de coletividade, tratou de pegar para si a escada maior, não importa se ele tinha 1,99 metros de altura e não precisava de uma grande escada.

Não há qualquer prejuízo em ficar com uma escada mais baixa se você vai alcançar a caixa, certo? Seria mais decente deixar as escadas altas para quem é mais baixo só poderia alcançar a caixa com elas. Mas, não. Aí parece ser tudo EU, EU, EU e as pessoas buscam status até na porra da vacina que tomam.

Ninguém está pedindo para que alguém deixe de alcançar a caixa e se sacrifique pelo outro. Todos vão alcançar. É uma questão de inteligência querer uma coletividade o mais protegida possível. Mas o individualismo fala mais alto: gente jovem, com bom sistema imune e baixa exposição ao vírus fez questão de tomar vacina que gera a máxima resposta imune, enquanto profissionais de saúde e pessoas com sistema imune não tão eficiente acabaram ficando com vacina de vírus inativado.

O Brasil parece que jogou vacinas pro alto e a seringa que caiu no braço de cada brasileiro determinou a escolha de vacina. Não houve qualquer estratégia, e não me refiro apenas ao caso citado.

A Janssen, por exemplo, que é a única vacina aplicada atualmente no Brasil com uma única dose, deveria ser destinada a pessoas de difícil acesso: populações ribeirinhas, caminhoneiros, população de rua, etc. Está sendo aplicada em funcionário público.

Repito: não se trata de dar “vacina boa” para grupo X ou “vacina ruim” para grupo Y, todas as vacinas são boas e, em última instância, todas as vacinas acabam te protegendo muito de morrer. Estamos falando em distribuir as vacinas para que a sociedade tenha máxima efetividade, pois, adivinha só, se só você tiver máxima efetividade, a pandemia não acaba.

Além disso, nós também explicamos repetidas vezes que vacinas não são mágicas, que mesmo quem foi vacinado pode sim adoecer e falecer, cada organismo reage de uma forma. Isso não quer dizer que vacinas não funcionem, isso quer dizer que vacinas não são uma garantia de 100%, apesar de terem uma proteção enorme.

Mas um ponto: eles adoeceram vacinados, mas não morreram. Se não estivessem vacinados, provavelmente teriam morrido. E nada garante que se eles tivessem tomado outra vacina também não teriam adoecido: um sistema imune comprometido pode não fazer uma boa resposta imune a nenhuma vacina.

Então, não venha dizer que vacina não funciona ou que determinada vacina “é ruim”. O Brasil não fez a distribuição mais racional do mundo de vacinas, ok, mas dizer que quem tomou a vacina X está desprotegido é de uma ignorância sem fim.

Chega de jogar merda na Coronavac, seus ingratos! Durante um bom tempo ela foi tudo que vocês tinham e salvou muitas vidas. Ela é uma boa vacina. Basta olha para outros países, como o Chile, que conseguiu segurar o vírus vacinando bem, vacinando muito e usando a Coronavac.


A ANVISA autorizou a vacina da Sanofi. Conta um pouco mais sobre ela para a gente?

A ANVISA aprovou testes no Brasil com a vacina produzida pelo laboratório francês Sanofi Pasteur (se pronuncia “Sanofí”, como se tivesse acento no “i”). A Sanofi é uma das maiores fabricantes de vacinas do mundo, com um histórico impecável. Tentaram fazer vacinas contra covid-19 antes, mas não tiveram bons resultados, então, resolveram desenvolver uma vacina de RNA Mensageiro, a tecnologia mais moderna atualmente (similar à da Pfizer e da Moderna).

Vejo muita gente dizendo que o Brasil foi escolhido pela Sanofi com muito orgulho, então, só para esclarecer, não escolheram o país por ele ser legal ou bonito, escolheram por ter muitos casos de covid, o que torna os estudos mais rápidos: quanto mais gente se infectar, mais rápido saem os resultados. Então, por um lado, que bom que escolheram o Brasil pois isso dá alguns privilégios na hora de adquirir a vacina, mas, por outro, que pena que o Brasil tenha tantos casos para servir de cobaia, a esta altura do campeonato.

Sobre a vacina, eu só poderia dizer alguma coisa se tivesse bola de cristal, pois ela ainda está em testes. É um laboratório sério, de renome e com muita tradição em vacinas, portanto, tudo leva a crer que, se for aprovada, será uma vacina muito boa. Além disso, é um bom fabricante, ou seja, tem condição de produzir bilhões de doses de vacina e ajudar os tantos países que ainda não receberam nem sequer uma dose. Atualmente, a Pfizer e Moderna não conseguem produzir esse tipo de vacina (RNA Mensageiro) nessa quantidade. Seria um reforço maravilho, estou torcendo muito para que dê certo.

Assim que saírem resultados significativos a gente volta no assunto.


Qual foi a da OMS de querer vetar terceira dose para compartilhar vacina com país fodido? Para eles não tem aquele fundo de vacinas?

Em tese, sim. Existe a Covax, que, com a melhor das intenções, tentou distribuir vacinas de forma mais igualitária. Mas, já te adianto que não deu.

Quem seriam os principais fornecedores, ou seja, os maiores fabricantes de vacinas do mundo, estão passando por sérios problemas para conter o vírus e estão tendo que usar tudo que produzem em seus próprios países, como aconteceu com o Serum Institute, da Índia, escolhido com um dos principais fornecedores do Covax.

Além de enfrentar alguns contratempos bem ruins, como fábrica pegando fogo (reduzindo a quantidade de vacinas produzidas), o governo indiano proibiu o Serum Institute de exportar vacinas (AstraZeneca), pois a Índia enfrenta um surto terrível de covid-19 e entenderam que seria absurdo deixar seu povo morrer para vacinar outros países. Até onde se sabe, a exportação de vacinas da Índia não deve ser retomada este ano.

Isso não só deixou muita gente sem vacina, como também deixou muita gente com apenas uma dose da AstraZeneca, sem conseguir acesso à segunda dose, o que, em tempos de variante Delta, também é preocupante. Quem está com a situação do país mais tranquila e pode se dar ao luxo de exportar vacinas não tem a mesma capacidade de produção, ou seja, para abastecer “o resto do mundo” vai demorar muito mais do que o previsto.

Vai ter quem diga “Sinto muito, não é problema meu se a Índia deu calote”. É problema seu sim, é problema de todos nós.

Isso significa deixar muita gente sem vacina, o que significa deixar o vírus circulando, o que significa aumentar as chances de ele sofrer uma mutação, o que significa brincar com a sorte, pois pode surgir uma mutação que escape aos efeitos das vacinas atuais e aí, meus amigos, todo o mundo está desprotegido novamente.

É pensando nessa tragédia, e não para ser politicamente correta ou posar de boa samaritana, que a OMS está pedindo que não gastem uma terceira dose com quem já tem duas, enquanto metade da humanidade ainda não está imunizada: se tivermos azar e essa mutação acontecer, todos nós perderemos as vacinas tomadas, pois elas passarão a ser inúteis.

Vamos repetir pela milésima vez: ter vacina é só o primeiro passo. Quando se precisam vacinar 8 bilhões de pessoas, fatalmente imprevistos, acidentes e atrasos vão acontecer. Cabe a nós lidar da melhor forma possível com eles.


Não é inútil o Brasil estar desenvolvendo uma vacina contra covid quando já tem tantas no mercado e quando a população brasileira está vai estar toda vacinada quando ela for lançada?

Não, pois apesar das várias vacinas que já existem no mercado, ainda há escassez de vacinas no mundo. Existem países que, se a coisa continuar como está, só vão receber as primeiras doses de vacina em 2023, então, podem produzir tranquilos, pois, mesmo que a população brasileira esteja toda vacinada quando a vacina for lançada, o que não vai faltar é mercado para vender. São poucos os países com capacidade de produzir e distribuir vacinas no mundo, queira ser um deles.

Além disso, ter a tecnologia e a estrutura para produzir uma vacina contra covid-19 é algo muito bom para um país, pois o vírus não vai nos deixar tão cedo e provavelmente vamos precisar de doses de reforço de tempos em tempos, é um alívio não ter que ficar disputando doses no tapa com outros países e lidar com toda a demora na entrega das vacinas. Se precisar, o Brasil sabe fazer. Se tiver que reaplicar anualmente, o Brasil sabe fazer.

Tem também a questão das mutações: se surgir uma mutação que demande uma vacina nova, quem já tem tudo pronto, só coloca o novo coronguinha no lugar do antigo e pronto, pode sair aplicando a nova vacina. Basta “atualizar” a vacina, a estrutura está toda lá. Sabe qual o percentual de países no mundo que tem essa tranquilidade? Poucos. Fiquem muito felizes de que o Brasil seja um deles.

Fabricar vacinas não é perda de tempo, é, atualmente, produzir um dos produtos mais cobiçados do mundo e resguardar a saúde da sua população.

Para dizer que nem leu, para agradecer as férias que eu dei desta coluna ou ainda para cobrar que a Delta ainda não tenha feito estragos no Brasil: sally@desfavor.com


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