Não somos chegados a comemorar datas, mas hoje vou abrir uma exceção: estamos no chamado “Setembro Amarelo”, mês de conscientização e combate ao suicídio – e acreditamos que o assunto está sendo abordado pela ótica errada.

São registrados mais de 13 mil suicídios todos os anos no Brasil e mais de 1 milhão no mundo. Mas, existe um dado que preocupa mais do que isso: cerca de 96,8% dos casos de suicídio que ocorrem estão relacionados a transtornos mentais. Então, para atuar no problema, é preciso falar não sobre o suicídio em si, e sim sobre transtornos mentais. Do mais leve ao mais grave.

Uma coisa é uma pessoa com uma doença terminal, incurável e que provoca inúmeras mazelas decidir que não quer passar por esse caminho tortuoso para chegar a uma morte inevitável. Neste caso, não vemos suicídio como um problema a ser resolvido. E um recurso, ao nosso ver, válido.

Outra coisa bem diferente é uma pessoa tirar a própria vida por não conseguir perceber que essa não é a única forma de fazer o sofrimento cessar, com a mente turvada por uma doença mental, impedida de procurar ajuda por uma série de construções sociais erradas que, ou desacreditam a doença, ou desacreditam o tratamento.

Quase 100% dos casos de suicídio são de pessoas com transtornos mentais. Será que quem sofre com algum transtorno mental está recebendo o tratamento, reconhecimento e acolhimento que deveria na sociedade? Já se perguntou como você olha, interage ou o que pensa de quem tem uma doença mental?

O desfavor começa pela turminha que banaliza doença mental e fica dizendo, quase que com orgulho, que tem TOC, que é bipolar… Se você fosse bipolar, garanto, não falaria disso com leveza, nem rindo, sem de forma casual. Doença mental não é uma mania, não é um jeitinho de ser, não é uma brincadeira. É sério, pode ser muito sofrido e assustador. Banalizar não ajuda em nada.

Mas, talvez o maior dos problemas seja a ignorância generalizada, muitas vezes vinda até mesmo de profissionais da área. No Brasil, quem tem uma doença mental não incapacitante é “fresco” e quem tem uma doença mental de alguma forma incapacitante é basicamente “maluco”.

“Maluco” é um termo pejorativo que define basicamente qualquer doença da mente no Brasil. “Maluco”, a quem interessar possa, não é doença, é adjetivo, mas o termo continua sendo utilizado de forma errada.

Ninguém escolhe ter uma doença mental. Entretanto, tratamos pior, julgamos mais e sentimos menos compaixão por quem tem uma doença mental do que por quem tem uma doença física – sendo que a doença física muitas vezes é sim fruto de escolha.

Qual é o nosso olhar para uma pessoa que fumou durante 30 anos de sua vida e agora está com câncer de pulmão? Provavelmente empático, compassivo, ao vê-la sem cabelos por causa de uma quimioterapia, com dificuldade para respirar. Coitada, ela é vítima de um câncer. Esse é o termo que as pessoas usam para doenças físicas: “ela é vítima de”. Ela é vítima de um câncer, ele foi vítima de um infarto e por aí vai.

Qual é o nosso olhar para uma pessoa com uma doença mental séria? “Ah, é maluco”. Interna. Camisa de força. Às vezes sentimos medo da pessoa. Às vezes preferimos nem ver, nem ter contato. É incômodo, é desagradável, é perturbador ver alguém que não vê a mesma “realidade” que nós vemos. Jogamos a pessoa fora, internando-a em uma instituição e a damos como perdida.

Mesmo quem visita, mesmo quem ama, mesmo quem sente falta da pessoa, a dá como perdida. É maluco, e ponto final, como um defeito de fábrica, como uma peça a ser descartada. Elas não são “vítima de”. É maluco, é um caso perdido. Medica, dopa aí, vai que machuca alguém. Isola do convívio social, maluco tem que ficar trancado.

Nesse contexto, não me espanta que em países como o Brasil as pessoas relutem tanto em cogitar, aceitar ou compartilhar que elas ou alguém do seu convívio próximo sofra de alguma doença mental. Ninguém quer ser vítima do carimbo de “É maluco” na testa. E, no Brasil, qualquer grau de doença mental vira rapidamente “é maluco”.

Mesmo que a pessoa não seja disfuncional, ela vai ganhar essa presunção: “é maluco, uma hora vai surtar”. Não tem nuances, não tem tratamento, não tem a tão famosa inclusão, pleiteada para as mais diversas categorias de pessoas. É maluco e ponto. É uma ameaça, é uma bomba-relógio, é um barril de pólvora.

Assim, diante desse estigma tatuado a sangue, ninguém quer assumir que tem uma doença mental. Parece que se assumir isso, aceita o rótulo de pessoa defeituosa, inferior, de uma ameaça que significa problemas, atuais ou potenciais. Faz parecer que a pessoa que tem uma doença mental é “menos” do que o resto da sociedade – e isso não é verdade.

Por isso, se preciso for, a pessoa vive em um sofrimento indescritível, fazendo esforços inimagináveis para apenas estar funcional, só para não correr o risco de ganhar um “é maluco” depois do seu nome.

Depressão, Síndrome do Pânico, Agorafobia, TOC, Esquizofrenia e tantas outras doenças da mente (são muitas, mas muitas mesmo) são a lepra moderna: se você tiver, muita gente vai se afastar de você e ela vai te deixar marcas para o resto da vida se não for tratada.

De fato, houve um tempo, não muito tempo atrás, onde os problemas mentais eram todos jogados no mesmo saco, o saco do “É maluco”, e essas pessoas eram afastadas do convívio social, marginalizadas e tratadas como irrecuperáveis. Viviam em condições deploráveis, muitas vezes dopadas ou imobilizadas, isso quando não lhes era atribuído algo ainda mais irracional, como uma possessão demoníaca ou coisa do tipo.

Mas a sociedade evoluiu. Muito. Porém, parece haver uma resistência na evolução no trato das doenças mentais: ainda olhamos para pessoas com determinados problemas mentais como “Ih… é maluco”. Ponto. Reparem que estou constantemente falando no plural (“temos”) pois eu me incluo nisso. É algo que preciso melhorar, corrigir, rever.

Somos mesquinhos ao formar a nossa opinião sobre pessoas que sofrem de alguma doença mental. Se entrar dentro de um determinado estereotipo, “é maluco” e os evitamos, os tememos, os isolamos. Mas, dependendo das nossas crenças, das circunstâncias e de outros fatores, passa rapidamente para o lado oposto: não é maluco, é médium, é um iluminado, é um guru. Aí os admiramos. Tudo depende das alegorias que a nossa cabecinha veja neles.

Dependendo da crença de quem escuta, pode ser “maluco” ou pode ser uma pessoa especial. Um perigo que loucura seja tão subjetiva, não? Diga a um ufólogo que viu um ET, diga a um espírita que viu sua avó falecida, diga a alguém do Candomblé que viu um Orixá. Provavelmente você não será taxado de maluco. Agora misture essas falas e diga a alegoria errada para a pessoa errada, e talvez você vire maluco.

A coisa fica ainda pior: se a pessoa tiver os sintomas que convencionamos chamar de “maluco”, mas, ainda assim, conseguir ganhar dinheiro, ou seja, conseguir ser uma engrenagem do sistema instituído, sua condição pode ser socialmente atenuada. Se gerar lucro ou conseguir status, essa pode ser promovida à categoria de “excêntrico”.

Tesla, Edison, Einstein, Steve Jobs, todos tinham visões, ouviam vozes e outros sintomas que, dependendo do seu status social poderiam facilmente ser jogados no saco do “é maluco”. Mas, como conseguiam ser funcionais e ter sucesso, foram promovidos apenas a “excêntricos”. Isso nos faz bastante hipócritas, não?

O próprio termo “doente mental” é pejorativo. Quantas vezes eu mesma não disse “Olha o que esse imbecil fez, é um doente mental” para alguma estupidez cometida. Não me admira que as pessoas tenham tanta resistência em procurar psicólogos, psicanalistas ou psiquiatras quando estão se afogando em suas próprias vidas, quando estão em extremo sofrimento. Ninguém quer se vincular a algo pejorativo. Ter uma gastrite? Ok, procura um médico. Ter uma apendicite? Tudo bem também. Mas doença mental… resolve sozinho, se não vão achar que você é maluco!

A pessoa não procura um médico pois ela pensa “Eu não sou maluco”. Graças a esse estereótipo que criamos, que o doente mental é maluco, nasceu um conceito errado de que doença mental é quase que um karma, uma desgraça que se aparece e arruína a vida das pessoas. Repito: maluco não é doença, é adjetivo. Hora de parar de usar a palavra como sinônimo de doença.

Pessoas que possuem doenças mentais são apenas pessoas que precisam de uma ajuda em algum aspecto de suas vidas. Não é possível que para procurar um psicólogo, um psicanalista ou um psiquiatra a pessoa precise se reconhecer como “maluca”, condenada, disfuncional e irrecuperável.

Mas é isso que a sociedade continua propagando. Certamente muitos de vocês já ouviram da boca de alguém que a pessoa não vai a um psicólogo/psicanalista/psiquiatra pois “não sou maluco”. Tem um transtorno mental não é ser maluco. É ter uma doença. “Ser maluco” não existe, é um estigma errado de séculos passados que infelizmente se arrastou até aqui, mas merece cair em desuso.

Vocês já pararam para pensar no que é, tecnicamente, um “maluco”? É uma pessoa com um desequilíbrio bioquímico, com um órgão (o cérebro) que talvez não esteja funcionando bem. Você julgaria um diabético por não conseguir produzir insulina? O isolaria do contato social por isso? Você julgaria alguém cujo coração não está batendo direito, por isso infarta? Em essência, são todas doenças.

Mas somos arrogantes: sabemos que não controlamos nosso coração ou pulmão, mas temos a ilusão de que controlamos nossa mente ou cérebro, então, uma pessoa com uma doença mental “falhou” em algo que ela deveria controlar. O que não é verdade. Ninguém aqui controla seu cérebro ou sua mente. Todo mundo aqui está sujeito a, em algum momento da vida, ter um transtorno mental.

Mas, Deus nos livre de pensar nisso. Deus nos livre de ter uma doença onde você não tem o precioso comportamento social de acordo com o esperado. Aí, meus amigos, aí é pior do que o inferno, pois nem no inferno nos é negada companhia.

Mexeu com as aparências, mexeu com o pacto social de seguir certos padrões, não tem perdão: é maluco. Tranca. Isola. Dopa. Isso, vindo de uma sociedade doente, que é uma máquina de fazer infelicidade, mas que insiste em que todos continuem se comportando de acordo com suas regras.

Assim agimos, dessa forma desumana, desumanizando o “maluco”. “É maluco” parece querer dizer que a pessoa está totalmente fora da realidade e não sofre. É uma entidade, é quase que um objeto sem alma, sem consciência, que não sabe quem é nem onde está e não sente nada. Mas não é bem assim.

Sofre sim, o mais “maluco dos malucos”, sofre. Compartilho uma frase que escutei de uma pessoa que falava com conhecimento de causa: é como um carro, às vezes você está no volante dirigindo e tem controle, às vezes, você é jogado para o banco do carona e não controla mais. Mas você está sempre lá, vendo o que está acontecendo, e sente medo, dor e sofre.

Pensem nisso quando interagirem com qualquer pessoa com um transtorno mental severo: mesmo que não pareça, tem um ser humano ali, no banco do carona, vendo o que você faz, escutando o que você diz. Então, mesmo que você ache que a pessoa não está ali, não está entendendo o que se passa, saiba que ela está, ainda que no banco do carona. E está sofrendo. E assustada. E merece ser tratada como um ser humano.

Como tratamos quem está lá, sentindo medo, dor e sofrendo? “É maluco”. Segregando. Isolando. Fugindo do contato. Fingindo que não existe. Nos convencendo que não tem um ser humano ali, que a mente da pessoa está em modo avião. Não está.

Talvez ela não possa pedir ajuda, mas ela está lá, vivenciando, sentindo, sofrendo. Como viver quando tudo é difícil, quando tudo é um esforço, quando não se pode compartilhar isso com alguém ou pedir ajuda, quando nem ao menos se está ao volante? É compreensível que uma pessoa queira que esse sofrimento tão desesperançoso cesse, qualquer que seja o meio para isso.

Será que algum dia poderemos perceber que o doente mental é, em essência, uma pessoa com uma doença como outra qualquer, cujo sintoma aparece na parte comportamental? Será que um dia vamos entender que o fato de precisar tomar um remédio para uma doença mental se equipara a tomar um remédio para colesterol ou pressão? Algo não funciona bem e precisa ser manejado. Por qual motivo isso seria motivo de vergonha ou fraqueza quando quem não funciona bem é a mente?

Claro, vale a ressalva, já que eu mesma fiz vários textos criticando o uso de remédios como muletas: se agarrar num tarja preta por uma briga com o namoradinho é sim digno de críticas. Faz parte da vida neste mundo eventuais sofrimentos e passar por eles nos ensina, nos fortalece, nos molda. Tomar remédio para fugir de qualquer sofrimento é digno de críticas. Tomar remédio por uma doença mental não. E tem um mundo de diferença entre eles. Um serve para anestesiar, o outro, para tratar.

É bem fácil de entender a diferença quando pensamos friamente na doença mental: é uma doença, e, como qualquer doença, precisa ser tratada para desaparecer. Não depende de força de vontade, esforço, não é imaginação da pessoa. É uma doença real, como qualquer outra.

Você pediria a uma pessoa com apendicite que faça um esforço, que tenha força de vontade para curar seu apêndice? Não, pois está socialmente estabelecido como uma doença “legítima”, “verdadeira”, é palpável, é tangível, tem algo físico para atestar a doença: um apêndice inflamado é visto, tocável, removível.

A doença mental não tem algo palpável, tangível, salvo que seja causada por um câncer no cérebro, e aí, todo mundo respeita e eventuais comportamentos estranhos são justificados. Mas se não houver algo palpável, tangível, como um tumor cerebral, parece que a doença menta não tem direito ao status de “doença real”.

Se for uma doença mental, provavelmente a pessoa vai ser jogada em um dos dois extremos: 1) está nervosa, está querendo chamar a atenção, é carência, é histérica, isso é coisa da sua cabeça, é só fazer um esforço que melhora ou 2) é maluco. Ou seja, “duvido que seja real pois não tenho evidências palpáveis da doença”, mas, “se for real, é maluco, é um caso perdido”.

E se cair no “é maluco”, cai na vala de pessoas disfuncionais e irrecuperáveis. Maluco não serve para nada, maluco sempre vai ser maluco, maluco é perigoso. Tem que ter medo, tem que isolar, tem que dopar. Maluco é sentença perpétua no Brasil, em uma época em que problemas mentais tem tratamento e pessoas podem viver com qualidade de vida se fizerem uso dos recursos que estão à sua disposição.

Mas, quando você cresce sob o mantra do “é maluco”, muitas vezes nem imagina que existam opções, que existam tratamentos, que exista esperança. Sua escolha passa a ser: viver nesse sofrimento miserável que está sentindo ou se matar. A pessoa sente que aquele problema mental a define: “sou maluco”. E é uma sentença eterna: vai ser maluco para sempre. É pegar ou largar. E muitos largam, sem saber que essa não é a única opção.

Pois bem, hoje eu estou aqui para te dizer que não é pegar ou largar. Para dizer que ninguém “é maluco”, muito menos portador de transtorno mental como uma sentença. A pessoa não É isso, a pessoa tem uma doença que causa alguns sintomas, que nem de longe definem o que ela é. E estes sintomas podem ser manejados, tratados, amenizados com inúmeros recursos, mesmo que, para quem os sente, pareça que não.

Então, se eu pudesse resumir, diria que vim aqui para te dizer três coisas hoje:

1) sua dor/sofrimento/doença não define quem você é, em essência. Você sente isso, mas você não é isso. Porém, se você sentir isso por tempo demais ou em intensidade demais, pode acreditar que é isso. NÃO É.

2) Existem diferentes formas de obter ajuda, de se sentir melhor, por mais que você ache que não seja possível. É POSSÍVEL.

3) dificilmente você vai encontrar a pessoa certa para te ajudar de primeira, pois, em matéria de cuidados mentais, o Brasil está engatinhando. Você vai ter que insistir, procurar, até encontrar bons profissionais que te ajudem. O fato deles demorarem a aparecer não significa que eles não existam.

Eu tinha planejado ir além neste texto e entrar pelo caminho de: será que não tem uma dose de arrogância nossa em taxar de maluco uma pessoa que tem uma percepção física, mental ou sensorial diferente da que nós temos? Será que diferentes camadas de percepção são uma doença? São motivo para decretar que “é maluco” e isolar do convívio social? Será que sempre, invariavelmente, em 100% dos casos, quem tem uma percepção diferente da nossa tem uma doença? Mas, infelizmente já se passaram as quatro páginas que compõe este texto, meu espaço acabou. Fica pra próxima.

Para dizer que eu sou maluca, para dizer que era mais simples quando qualquer pessoa diferente era maluca e pronto ou ainda para dizer que quando é nos outros é maluco, mas quando é no seu filho é doença mental: sally@desfavor.com

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Comments (20)

  • Que texto necessário !
    Eu sofro do transtorno Borderline, sou diagnosticada e faço terapia e uso de medicamentos.

    Ano passado comecei a me relacionar com um cara de 41 anos, farmacêutico (deveria ser mais consciente por isso).
    Achei de bom tom contar para ele sobre meu transtorno, até pq não posso beber por causa das medicações q tomo, e acho q a pessoa tem direito de saber com quem tá se relacionando.

    Ele nunca mostrou empatia ou respeito.
    Me oferecia bebidas alcoólicas mesmo assim (eu, insegura, acabava bebendo pra não destruir o encontro. E quase morri uma vez).

    Até q minha mãe morreu em dezembro, ficou 14 dias internada intubada por covid e morreu. Durante os 14 dias, eu estive sozinha. Não tenho irmãos, não tenho família. Minha mãe era minha única família. E ele sabia disso.
    Inventou q tava com covid e precisava ficar em casa.
    Manteve o contato durante os 14 dias pelo WhatsApp.
    Minha mãe morreu, quando dei a notícia pra ele, recebi uma msg assim “força, bb ! Esse é um momento seu e do seu pai”

    Detalhe: meu pai é idoso e está com problema no coração. Não tinha condições de me dar assistência.

    Eu tive que reconhecer o corpo dela no necrotério. No dia seguinte, a enterrei e ele não foi.

    Ele é baiano. Estava no RJ há 20 anos. Morava na ilha do governador.
    Adivinha ? Voltou pra Bahia assim q minha mãe morreu. Além de me deixar na mão, ainda foi embora. Alegou problemas financeiros. Mas disse q não ia terminar cmg… ia fazer um acordo de vir uma vez por mês para o RJ (hahah)

    Eu quase me suicidei. De verdade, não foi palhaçada… pior momento da minha vida e ainda tomei uma facada dessa
    Óbvio q o psiquiatra aumentou a dosagem dos meus medicamentos

    Quando o babaca soube q eu quase me matei, ele terminou o namoro, me bloqueou em tudo. Me silenciou. Disse q não consegue lidar com isso e pra eu procurar ajuda (eu já tenho ajuda profissional, mas o namorado podia ser humano tbm né ? O profissional não é o único que ajuda)

    E aí uma amiga minha, bem revoltada, mandou uma msg pra ele pois eu estava bloqueada. Disse pra ele ao menos ter uma conversa digna cmg.
    Ele disse pra ela q “se eu quase me matei, eu poderia fazer com ele tbm. E que não se via mais deitando ao meu lado”
    Olha.. ouvir isso doeu na alma
    O preconceito, o julgamento
    Eu jamais ameacei ele nem de brincadeira !!!

    Desculpe o desabafo. Mas realmente falta muita empatia e conhecimento das pessoas
    E ainda digo mais: ele tbm deve ter um parafuso solto na cabeça. Psicopata, narcisista… não sei, não. Mas essa frieza dele beirou a insanidade.

    • Olha, pelo que você contou, parece que esse seu ex é uma pessoa ruim mesmo, nem parece ser preconceito. Acho que faria isso com qualquer pessoa. Poderia ser com você ou com uma pessoa sem qualquer diagnóstico de transtorno mental. Qualquer pessoa neste mundo ficaria mal ao perder a mãe e precisaria de apoio, não estar lá para a pessoa é de um egoísmo absurdo.

      Desse sujeito, a vida se encarrega, não se preocupe. O que você pode fazer para tirar um aprendizado dessa situação é entender a sua parte nessa história: quais foram os sinais que você ignorou para se envolver com uma pessoa tão ruim? Onde você deveria ter colocado limite e não colocou? Em que ponto você deveria ter pulado fora e não pulou? Se faça perguntas e perceba onde errou, assim você não dá oportunidade para que ninguém faça nada nem parecido com isso com você. Nunca mais.

      • Com certeza, Sally. Foi muito rápido, ele já chegou na minha vida muito apaixonado, querendo conhecer meus pais.
        Eu nunca tive isso na vida. Fiquei emocionada. Mas óbvio que a gente tem que desconfiar do que vem fácil.
        Mas foi tudo tão rápido que só durou 3 meses… a morte da minha mãe pegou todo mundo de surpresa.
        O que mais me dói é que ela adorava ele ! Tava super feliz por mim, achando que agora eu tinha encontrado uma boa pessoa.
        Ele sabia manipular…

        O aprendizado é jamais entrar de cabeça em um relacionamento de novo. E se a pessoa começar com muita pressa, cair fora.

        Mas o que vc falou foi verdade mesmo. O defeito tá nele. Lembro bem que ele falou mal de todas as ex dele, que corneavam o coitadinho…

        Agradeço muito pela sua resposta. O desfavor já me salvou muito e vocês nem imaginam ! Hahaha

        • Olhe pelo lado positivo: o defeito está nele + ele foi embora = você se livrou de um problema, o problema vai segui-lo e te deixar em paz!

            • Tenta não pegar para você essa “rejeição”. O fato de alguém te tratar feito lixo não faz de você um lixo, faz da pessoa um lixo.

              Você só se livrou de um grande problema e se poupou de perder tempo da sua vida com uma pessoa assim. Bom que ele mostrou logo quem ele era…

    • Oi, Beatriz!
      No início do seu texto, você disse que mesmo tendo avisado ao seu ex que não poderia tomar bebidas alcoólicas por causa dos remédios, ele ignorava o seu pedido e te oferecia mesmo assim. Esse deveria ser um sinal de que ele não se importa tanto contigo. Pois pensa, se ele não podia aguentar a frustração de beber sem companhia, imagina para coisas realmente sérias, como será que ele agiria?
      Além disso, o comportamento inescrupuloso dele fala mais sobre ele do que sobre você. Como a Sally disse, ele é uma pessoa ruim, não respeitou a sua necessidade de não beber e também não respeitou o seu luto. Diante de outras adversidades, ele agiria da mesma maneira. No fim, que bom que vocês não estão mais juntos. (Minhas amigas chamam isso de livramento; os religiosos de, Deus escrevendo certo por linhas tortas).

    • Me intromentendo nos problemas alheios aqui…
      Só de ter lido que ele te ofereceu bebidas sem que você possa beber e com o assunto devidamente explicado, já pressenti que a coisa seguiria ladeira abaixo. Abusos nunca surgem do nada. Sempre é precedido por atos menores como esse.

      Eu quando estou conhecendo alguém, faço alguns “jogos”. Demoro às vezes pra responder mensagens, discordo de propósito de alguma opinião da pessoa… Só pra ver a reação. Você só conhece de verdade uma pessoa quando dá poder ou briga/se desentende com ela. Já me livrei de embuste “nice guy” com esse exercício. Começa tudo maravilhótimo, cê é a pessoa mais incrível do universo, mas no primeiro “não” ou demora, você vira uma puta que tá barganhando a buceta com outro. E também me poupa de descobrir que a pessoa não aceita contrariedades levando um tabefe na cara.

  • Não acho maluco. Simplesmente a pessoa cansou ou se recusou a continuar vivendo. Vcs acham que todos são obrigados a gostar de viver? Religioso que é assim, inventam infernos e reencarnações pra forçar os trouxas a viver por medo. Igual os anti aborto com a mania de povoar o mundo lotado, trazer a vida quem foi rejeitado pela mãe, senão queima no inferno.

    • Jura que você entendeu isso do texto?

      Como dissemos nos primeiros parágrafos do texto, entendemos que há uma diferença: todo mundo tem o direito de escolher se matar por não querer mais viver da forma que esteja. Mas nesse caso, estamos falando de uma escolha. O resto do texto fala sobre quando a pessoa acha que não há escolha, que a única vida que tem é um intenso sofrimento x morte. A intenção do texto é mostrar que, nesses casos, existe uma terceira escolha, que é um tratamento, algo que não é muito divulgado nem bem feito no Brasil.

  • Provavelmente o melhor texto sobre Setembro Amarelo que eu já vi há um bom tempo. Vale destacar que os “assustadores” (narcisismo, personalidade antissocial, esquizofrenia e afins) NUNCA recebem o mesmo apoio que os mais “romantizáveis” (depressão, ansiedade, síndrome do pânico), isso entre as próprias pessoas que têm transtornos. Diagnosticar um ex ou pais que fizeram mau trabalho com psicopatia ou narcisismo é tão normalizado que chega a ser doentio, nojento. Ninguém se dá conta que dizer que as pessoas que sofrem com esses problemas serão abusivas com todos ao seu redor é tão prejudicial quanto dizer que pessoas depressivas são incapazes de trabalhar e ter uma vida “útil”; isso é, na verdade, bem cruel, visto que a maioria dessas doenças tão estigmatizadas SÃO CAUSADAS POR ABUSO.

    • Concordo totalmente com você. Na maior parte das vezes a origem está no abuso e, se o abusador tivesse recebido o devido cuidado/tratamento, talvez não tivesse abusado dos filhos e eles não virassem abusadores. É preciso romper esse círculo vicioso.

      Falta a ideia de que todos precisam/merecem ajuda, tratamento. De uma forma ou de outra, quem age movido por uma doença que não tem condições de controlar merece a mesma empatia de que quem age coagido com uma arma em sua cabeça. Não tratar a pessoa que precisa não penaliza a pessoa, penaliza a sociedade toda, principalmente aqueles que são mais próximos a ela.

      Mas, vai ser bem difícil fazer isso entrar na cabeça das pessoas, principalmente quando falamos de doenças com forte rejeição, como psicopatia, pedofilia etc. No Brasil, ou você se posiciona no sentido de “deixar se foder”, de matar ou e torturar ou então é “a favor de pedófilo”. Serão décadas para mudar esse pensamento.

  • Fitinha amarela coisa nenhuma. Tinham é que mostrar várias fotos de gente que se suicidou toda fudida no chão, despedaçada, sangrando, com merda escorrendo do cu, cara roxa. Eu até usaria aquele texto do Somir sobre suicídio pra fazer cartilhas.

    Seria bem mais eficiente na minha opinião mas eu não sou psicólogo, só um shitposter qualquer.

    • Não é eficiente por um motivo muito simples: o sofrimento que o “maluco” experimenta é muito mais assustador do que isso. Quando comparado, estar fodido, sangrando e despedaçado no chão é, na cabeça de muitos, a opção menos sofrida.

      • Escolhas são direito de todo ser humanos, porém, quando ele está, por alguma razão, incapacitado temporariamente de fazê-las, deve ser protegido delas.

  • Há um livro chamado Holocausto brasileiro que conta a história do Hospital Colônia de Barbacena que foi um depósito de pessoas com problemas mentais (ou não). O tratamento dispensado nesse manicômio/hospício não difere muito do que vemos na atualidade, infelizmente.
    Tive um caso de suicídio na família e sinto que se houvesse tido um reconhecimento e suporte psicológico adequado para o transtorno que a acometia, o desfecho teria sido outro, afinal, enxergo que o ato em si foi apenas um pedido de socorro silencioso, culminando em letalidade que a intencionalidade não necessariamente refletia.

    • Muita gente fala sobre esse “pedido de socorro”. Confesso que eu não sei se é um pedido de socorro ou se é apenas uma forma desesperada de fazer a dor parar. De qualquer forma, tenho certeza de que na época vocês fizeram o melhor que podiam com as informações que tinham. Ninguém deve se culpar por isso. É uma questão de saúde pública, deveria partir do poder público informar, conscientizar, tratar.

      • Obrigada pelas palavras, Sally, e ao menos tirei uma lição pessoal disso. Encaro a terapia como algo tão necessário quanto qualquer outro cuidado com a saúde e ensinei a meu filho a importância de frequentar a “doutora das ideias” para se fortalecer e se conhecer melhor.

        • Essa é a melhor mudança que você pode deixar para o mundo: outros seres humanos que aprendam desde pequenos que a mente, assim como o corpo, eventualmente pode precisar de cuidados e tratamentos e que isso não é vergonha. É assim que se muda a realidade!

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