FAQ: Coronavírus – 50

Vacina em criança pode causar miocardite? Não é melhor esperar para vacinar meu filho para ver se dá essa reação nos outros?

Miocardite é uma inflamação das células do músculo do coração que pode acontecer por diversos motivos, inclusive por causa de uma infecção viral. Tem sido o principal “argumento” para espalhar o medo em vacinar crianças e é um argumento que não se justifica. Vacina seu filho assim que for possível.

Sim, a vacina da Pfizer pode causar miocardite, mas as chances são mínimas e, mesmo em casos em que se desenvolve miocardite, são casos leves. Seu filho tem 36 vezes mais chances de pegar miocardite se não se vacinar, e pegar covid e provavelmente será um caso mais grave, que pode até matar, sem contar as outras sequelas que a doença provoca. Qual risco você quer que ele corra, o maior ou o menor?

Até aqui, em oito milhões de crianças vacinadas ocorreram apenas 12 casos de miocardite, ou seja, por volta de um caso a cada um milhão de crianças. E dessas 12 em oito milhões de crianças, nenhuma faleceu, todas foram tratadas e ficaram bem.

Um caso em um milhão, sem consequências graves. E estão fazendo um escândalo por isso. Um escândalo que obviamente é político, pois outras vacinas geram muito mais riscos e nunca foram questionadas. Até envolvendo miocardite. A vacina de febre-amarela, que todo mundo toma de boa, tem mais chance de causar miocardite do que a vacina para covid.

“Ain, tá vendo? Não tem que tomar vacina nenhuma”. Ok. Então vamos para outro dado: se formos falar de reações não-letais na proporção um a cada um milhão, até aspirina é mais perigosa. Novalgina. Escolha o remédio que você quiser, provavelmente todos eles oferecem riscos maiores.

“Ain, tá vendo? Não tem que usar nenhum medicamento da indústria farmacêutica que só quer nos envenenar”. Quem fala isso sabe que uma das indústrias que mais movimenta dinheiro no primeiro mundo é a indústria dos “naturais”? Venda de livrinho com receitas naturais, venda de suplemento natural para “dar um boost no seu sistema imunológico”? (spoiler: isso não existe), venda de chá natural para emagrecer? Então, espertão, de uma forma ou de outra você está alimentando alguma indústria.

Indústria tem para ambos os lados. A diferença é que antes de medicamentos a expectativa de vida era de 30 anos, quando tínhamos apenas coisas naturais. A diferença é que a indústria farmacêutica tem regras, é severamente vigiada por agentes reguladores de todos os países, tem controle rígido. A diferença é que essa indústria demanda profundo conhecimento, estudo e demonstração por método científico.

Parem de demonizar séculos de progresso de medicina e de endeusar tudo que é natural. Primeiro que natural é o que você colhe da planta, se chegou em um pote, eu te garanto que não é mais natural. Segundo que não é por ser natural que é saudável. Cicuta é natural, vai lá e come, depois me diz como se sentiu.

Voltando ao assunto… além do risco de desenvolver miocardite com vacina ser infinitamente menor do que o risco de ter miocardite se pegar covid, se pegar covid seu filho pode ter muitas outras sequelas além de miocardite, algumas bastante sérias, de ordem neurológica.

Além disso, a miocardite causada como efeito da vacina é leve, tratável. Já a causada pela covid, é uma roleta-russa. Sabe quantas mortes de crianças vinculadas à vacina temos, depois de aplicar mais de oito milhões de doses? ZERO. Alemanha, Argentina, Áustria, Bélgica, Canadá, Chile, China, Dinamarca, Espanha, EUA, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Israel, Itália e Portugal são apenas alguns entre os muitos países que vacinam crianças em massa desde o ano passado. ZERO mortes. Agora vai lá ver quantas mortes por covid teve…

Eu te garanto que se você vincular oito milhões de crianças a qualquer evento, vai ver ao menos uma morte. Se oito milhões de crianças comerem Bala Juquinha, uma vai morrer engasgada. Se oito milhões de crianças forem ao parquinho, uma vai bater com a cabeça e se machucar. Se oito milhões de crianças fizerem qualquer coisa, vai dar alguma cagada. Entretanto, temos oito milhões de crianças vacinadas e ZERO mortes vinculadas à vacina.

Isso significa que a vacina é absurdamente segura, pois mesmo aplicada em oito milhões de crianças com pessoas do mundo todo passando um pente fino (e loucas para dar uma merda), não houve ao menos uma morte. Deixa ou colocar dessa forma, para ficar bem claro: as chances do seu filho ter um problema por efeitos colaterais é maior se ele tomar um remédio qualquer do que a vacina da Pfizer contra covid.

Esperar? De todas as bostas que eu ouvi durante toda a pandemia, essa talvez seja a pior – e olha que eu ouvi muitas. Quando eu escuto alguém dizer que vai esperar a mão coça para ligar para o Conselho Tutelar. Vai espera o que, filho da puta? Seu filho pegar covid? Aí sim tem um risco bem alto, não só de miocardite, como de internação e sequelas graves e permanentes.

Oito milhões de crianças vacinadas, em países sérios e nenhum problema grave. O que diabos vocês querem esperar? Metade das crianças do mundo vacinadas, mas Gislaine, de Taboão da Serra, quer esperar! Mas olha, vai para a puta que pariu três vezes! Quer esperar o quê? Ver se o filho da dona Maricota do 202 tem algum problema?

Qual é a disritmia que se passa na cabeça do brasileiro para chegar nesse raciocínio imbecil de esperar imunizar os filhos contra uma doença que pode matar ou deixar sequelas para o resto da vida? É como jogar um bebê que não sabe nadar numa piscina sem a boia, pois quer esperar para ver se o plástico da boia pode dar uma alergia no braço do bebê. SEU FILHO VAI AFUNDAR, FILHO DA PUTA. É preferível um risco de um em um milhão de ter uma alergia no braço do que jogar ele na piscina sem boia!

Da vacina, que não mata ninguém, todo mundo tem medo. Da covid, que já matou mais de 600 mil ninguém tem medo. Vocês estão muito loucos, sabia?

O raciocínio não é: se eu der vacina tem x risco, se eu não der não tem risco. Se der vacina tem um risco insignificante (e de ter um problema leve, tratável) e se não der vacina tem um risco grande. Um bom pai/mãe, que protege seus filhos, vai escolher o menor dos riscos para ele. A cada dia que você espera para vacinar seu filho, é mais um dia que você o coloca em risco.

“Mas eu quero uma vacina que só proteja e não gere risco algum”. E eu quero um unicórnio que cague ouro, assim eu não preciso mais trabalhar. Isso não existe. Eu vou repetir: ISSO NÃO EXISTE. Qualquer medicamento que você, tome, qualquer planta natural que você engula, qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, até água, pode te matar ou gerar algum risco. Não existe escolha que não gere risco, existe a escolha que gera menos risco. Risco menor ou 36 vezes mais chances de miocardite? Vacinar ou não vacinar? Qual vai ser?

O Brasil é o segundo país do mundo onde mais morrem crianças de covid. Não é como se vocês tivessem tempo para pensar, esperar, ponderar. Ciência não é questão de opinião. Vacinas funcionam, isso é um fato, basta olhar os números, basta ver quem são os internados e os que estão morrendo. Tome vergonha nessa cara, seja coerente e tenha medo da covid, não da vacina!


Você fica dizendo que quem pegou gripe é por não saber usar máscara, mas eu peguei um resfriado por causa de friagem.

Não, não pegou nada por causa de friagem. Pegou por ter entrado um vírus em você. Não existe outra forma de pegar resfriado, gripe ou covid (são três coisas diferentes, causadas por vírus diferentes) que não seja a entrada de um vírus. Deixo aqui meus parabéns ao ensino brasileiro por não ter sido capaz de passar esta mensagem básica à população nas aulas de biologia, pois esta pergunta veio de uma pessoa com nível universitário.

A relação entre frio e doença não é de causa, e sim de facilitador. O que pode acontecer em situações que estressam o corpo, como por exemplo, passar frio, é uma redução do seu sistema imunológico, deixando seu organismo mais vulnerável a invasores, isto é, o vírus entra e o corpo não consegue combater ele tão bem.

É como deixar o portão de casa aberto a noite toda e, no dia seguinte, ao levantar-se e perceber que foi roubado. Foi o portão aberto que fez sumir os seus pertences? Não. Alguém entrou ali e levou tudo, o portão aberto só facilitou o processo. E vírus respiratórios, como são o resfriado, a gripe e o coronavírus, a gente sabe como entram. Se tivesse usado máscara direitinho, não pegava nenhum vírus respiratório.

O frio em si, ou a chuva, ou o sorvete muito gelado, golpe de ar, ou o que quer que você faça, não faz surgir um resfriado ou uma gripe dentro de você assim, de forma espontânea. É o básico do básico de biologia, Brasil! Vamos usar a cabeça para raciocinar e não só para depositar boné! É um vírus o que entra e causa a doença. A única coisa que o frio sozinho pode causar em você é hipotermia. Um abraço no seu professor de biologia, que deve estar encolhido chorando em posição fetal.

Aliás, você fez os testes para saber se é gripe, resfriado ou covid? Se não fez, não pode nem afirmar que é um resfriado, pois atualmente, os sintomas são muito parecidos. Garganta raspando, nariz escorrendo, congestionamento nasal. Sem teste (ou com testes que não detectam a Ômicron, que passa batida em alguns testes de antígeno) você não pode saber o que tem.

Independente do que for, eu te asseguro duas coisas: 1) se você tivesse tomado as precauções necessárias contra vírus respiratórios (o que serve para covid serve para gripe e resfriado), estaria saudável e 2) você não aprendeu porra nenhuma nas suas aulas de biologia.


Tive covid e o médico me disse que cinco dias depois dos primeiros sintomas já posso sair novamente. Na minha cidade não tem PCR nem na rede pública nem na rede privada, não tenho como fazer o teste para ter certeza. Dá para confiar no que o médico disse?

Não. Seu médico é um arrombado. Seu médico é um criminoso. Ou um filho da puta. Ou um burro. Ou todas as opções anteriores. Pode ser que cinco dias depois dos primeiros sintomas você ainda esteja 1) com sintomas 2) com vírus 3) contagiando os outros.

Não tem como fazer uma determinação matemática de que em X dias você não vai mais contaminar ninguém. Não tem. É impossível. O vírus pode tranquilamente ficar no seu organismo sete dias, por exemplo. Pode ser que cinco dias depois você ainda esteja com sintomas. Impressionada com o grau de arrombamento do seu médico. Tem certeza de que você não entendeu isso errado não?

Existe uma tendência mundial a reduzir o isolamento de pessoas que adoecem em função da Ômicron, pois essa variante parece ter um período de infecção mais curto do que outras variantes, mas isso é feito de forma controlada: deixa passar 5 ou 7 dias e TESTA a pessoa antes de jogar ela de volta ao mundo. O que é muito diferente de cravar esses cinco dias mágicos, karmicos, místicos, que se aplicam para todos os casos de forma automática e sem controle, em um salto de fé.

A única forma segura de saber se você ainda está com vírus no corpo e se pode contaminar outras pessoas é fazendo um PCR. Aliás, que vergonha é essa de não ter testes no Brasil? Tem várias perguntas de gente querendo saber o que fazer pois não tem como fazer um PCR. Que horror é esse?

Não tem PCR? Faça outro teste. Não tem nenhum teste disponível? Bom, aí vai da consciência de cada um, pois é praticamente um exercício de adivinhação.

Eu, Sally, se tivesse em uma situação em que posso contaminar os outros e não tivesse como descobrir por quanto tempo, ficaria, no mínimo, 14 dias completamente isolada.


Que fim levou a IHU?

Segundo a OMS, ela “não é uma grave ameaça” e nem ao menos foi incluída no rol de variantes preocupantes. Até segunda ordem, esqueçam a IHU. Ela continua sendo monitorada, mas não parece estar circulante tão bem. Na nossa atual rinha de variantes, a campeã é a Ômicron, que já destronou todas as outras, inclusive a Delta.


Tem que voltar a fazer lockdown para conter a Ômicron?

Não é esta a medida mais adequada no estágio em que estamos. Lockdown se justificava quando não sabíamos direito o que era covid e o que podia causar (lá no começo de 2020) e quando não tínhamos vacinas. Naquela época não podíamos nos proteger bem pois sequer entendíamos como funcionava o vírus. Passamos meses feito uns cornos dando banho em compras de supermercado e fazendo outras coisas que não eram cruciais para proteção enquanto saíamos sem máscara.

Hoje temos as informações. Hoje que sabemos exatamente como se dá o contágio, o que deve ser feito para preveni-lo e que temos vacinas. Nesse cenário, lockdown não deveria ser necessário. E, vejam bem, não estou falando mal de lockdown, vocês vão encontrar toneladas de textos antigos meus defendendo quarentena com unhas e dentes. Apenas estou dizendo que não é mais o momento.

E, ressalva: não é necessário quando as pessoas e o governo se comportam como gente e fazem o que tem que ser feito. Quando nem as pessoas nem o governo se comportam como gente, não tem lockdown, não tem reza braba, não tem macumba ou oração que ajude. Então, em um cenário de quem não fez o dever se casa, lockdown pode acabar sendo uma medida desesperada.

Vamos fazer a seguinte comparação: você tem uma infestação enorme de cupins na sua casa. Qual é a medida mais adequada a ser tomada? Fazer uma dedetização ou descupinização, algo que você deveria fazer anualmente. Não fez. Deu merda. Você liga e solicita o serviço. Se, nesse meio tempo entre o chamado e a chegada do serviço os cupins estiverem povoando seu quarto, sua cama, seu travesseiro, você pode até jogar um pouco de inseticida neles para conter temporariamente o alcance da infestação (mesmo sabendo que isso não vai resolver em definitivo o problema), como medida emergencial. Mas tem que saber que isso é só uma contenção provisória, o que soluciona é a dedetização.

O mesmo vale para covid agora. Se uma cidade está com poucos vacinados e o sistema de saúde colapsou, sim, muito válido que se faça lockdown para contenção imediata de estragos. Mas não é essa a solução, é apenas para ganhar tempo. A solução é vacinar, é usar a máscara certa (PFF2) da forma certa, é reduzir a circulação de uma forma racional, é não aglomerar, é tomar todas as medidas para evitar o contágio.

Então, não é uma questão de discutir se lockdown funciona ou não (funciona, isso não tem discussão), é uma questão de discutir qual é a medida mais adequada para este momento. Estamos em momento de vacina + cuidados.

E é isso que vocês devem cobrar do Poder Público e dos coleguinhas: vacina + cuidados.

Para dizer que ainda não teve “Ei, Você” em 2022, para dizer que é só a vizinha postar foto do filho sendo vacinado que a Dona Maria Negacionista corre pro posto para vacinar o seu também ou ainda para dizer que é real que no Brasil estão racionando testes contra covid-19: sally@desfavor.com

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Comments (6)

  • Vcs acham que o negacionismo tende a perder força em 2022? Seria a Ásia o continente menos negacionista nesse momento?

  • Muito obrigado pelo seu esforço de nos informar.
    Infelizmente, meu filho recebeu hj o positivo pra covid. Iríamos tomar a terceira dose essa semana.
    A cidade não está testando e o número de “gripados” só aumenta. Teste particular por $400.
    Isso não acaba tão cedo. Ainda bem que temos vacina.

  • Por que agora estão querendo meter terceira, quarta, milésima dose com Pfizer em todo mundo? Achei que a marca da vacina não importava.

  • E chegamos à 50ª edição do FAQ sobre o Coronavírus! Apesar de ninguém agüentar mais sequer ouvir falar dessa praga, infelizmente ainda há muito o que se discutir e muita dúvida para se esclarecer. E é admirável o empenho e a abnegação da Sally em continuar escrevendo esta coluna por todo o tempo que a pandemia está durando. Em meio a um oceano de estupidez e com tantas notícias falsas se espalhando como fogo na palha, é um alento poder encontrar informação de verdade por aqui.

    O problema é que as bobagens e mentiras são “gritadas com megafone” enquanto que a verdade é quase que apenas “sussurrada” e em um “idioma” que muita gente não domina, embora não haja a mínima intenção de se “falar difícil”. E a receita do desastre fica completa quando soma-se a isso o triste fato de que o populacho, que já tem imensa dificuldade em entender praticamente tudo o que lê, acaba ficando é com um “ponto de interrogação na testa” quando se trata de compreender dados científicos, mesmo que a explicação seja feita “desenhando”.

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