Dose insuficiente.

João Doria (PSDB) desistiu na tarde desta quinta-feira (31) de se manter no cargo de governador de São Paulo e recuou do plano anunciado a aliados horas antes, pelo qual desistiria de concorrer à Presidência da República. LINK


A situação de Dória é desesperadora na tentativa de se tornar presidente. Mas… deveria ser assim? Desfavor da Semana.

SALLY

Existe uma chance de 99% deste texto ser mal interpretado, mas vamos escrever mesmo assim. O Desfavor da Semana é: não adianta fazer uma coisa boa pelo povo, isso não gera votos.

Estamos falando de Dória, João Vacinador, o responsável pela vacina no Brasil. Não estou falando apenas de ter Coronavac, estou falando de ter vacina mesmo, sentido amplo. Não fosse a pressão, o terror, o dedo no cu e gritaria que o Dória promoveu, Bolsonaro teria continuado sem responder os e-mails da Pfizer e sabe-se lá quando vacinas teriam chegado ao braço do brasileiro.

Não estamos fazendo campanha pelo Dória, estamos avaliando o retorno que ele teve ao mover céu e terra para garantir que o Brasil tenha vacina. Não estamos sequer dizendo que ele fez isso por ser legal, sabemos de todos os interesses e jogos de poder. O que estamos dizendo é muito simples: o responsável pela vacina que salvou milhões de vidas não teve reconhecimento por isso.

Se estivéssemos diante de rivais eleitorais que também fizeram muito pelo povo, compreenderíamos que a escolha fosse feita por afinidade. Mas, convenhamos, Lula não faz nada além de alimentar seu ego, lacrar e viver de passado. Bolsonaro… não precisamos dizer a quantidade de pessoas que ele matou nessa pandemia, algumas diretamente, permitindo que se realizem experimentos em seres humanos como no caso da Prevent Senior.

Então, por qual motivo Bolsonaro e Lula estão tão à frente de Dória nas intenções de voto? Pelo motivo que sempre falamos aqui: o brasileiro não vota naquele que faz o melhor para o país, o brasileiro vota naquele que acha mais esperto, naquele com o qual se identifica mais ou até naquele que vai gerar desgosto nos seus desafetos.

É um país onde candidato que distribuí dentadura periga ter mais votos do que candidato responsável pela vacina. Isso fala muito sobre os critérios e a autoestima do brasileiro. Fazer melhoras estruturais não gera voto. Por isso tem crise energética, por isso metade do país não tem esgoto, por isso falta o básico do básico: esse tipo de ação não gera voto. O brasileiro busca um benefício pessoal.

O recado que vocês estão passando para políticos é: continuem assim, dando esmolinha, dando brinde, dando pequenos agrados, que nós daremos nosso voto a vocês. Não façam obras estruturais, não façam investimento em infraestrutura, industrialização nem nenhuma melhor de base a longo prazo, pois nós não vamos recompensar isso. Depois reclamam que o país não vai para frente “por causa dos políticos”. Sim, por causa dos políticos que vocês escolhem prestigiar.

“Ain mas você acha que com o Dória…” – Não é um texto sobre o Dória ou defendendo o Dória. Ele está envolvido em uma situação muito específica, pontual, que não traduz sua carreira, que ilustra um ponto no qual batemos faz tempo: não adianta fazer coisa boa, o brasileiro não reconhece e não retribuí com voto. Quem quer se eleger tem que apelar para medidas populistas e discurso polarizado e lacrador (tem lacre de esquerda e de direita).

É isso, basicamente ganha quem tem carisma, não quem tem preparo. Ganha quem consegue emular alguma conduta que gera identificação com o povo ou que bate em quem o povo não gosta. Onde vocês acham que vão parar se continuarem votando assim?

Não tem que votar pensando em como irritar o Fulano, não tem que votar pensando no benefício pessoal que aquele candidato vai gerar para você, não tem que votar por achar o candidato simpático. Voto é pensando no melhor para o país, no melhor para todos, em um projeto de igualdade, dignidade e justiça.

Mas desde quando o brasileiro quer igualdade? Ele que se dar bem. Ele quer te mais do que outro. Ele que ser esperto e conseguir um jeito fácil de ganhar dinheiro e se vangloriar disso. Ele acha mais importante a alegoria que o candidato usa para se apresentar (“contra isso”, “a favor daquilo”) do que o projeto que aquele político tem e tudo o que ele já fez.

Quantos brasileiros votam conhecendo o projeto do candidato e depois, com esse projeto nas mãos, vão cobrando o que não foi feito? Político brasileiro tem a certeza de que pode dar calote no povo que todo mundo vai aceitar de boa – a maioria nem vai perceber. Está implícito que tá ok prometer e não cumprir, isso é tolerado no Brasil.

Vocês acham que para ser um bom cidadão basta ir na urna de quatro em quatro anos e tá tudo certo? Um bom cidadão acompanha, fiscaliza, reivindica. E não é que o brasileiro não tenha capacidade de fazê-lo, ele é muito bom nisso, inclusive. Fiscalizar, cobrar e se mobilizar. Vemos bem isso em reality show. Ele não tem interesse em fazer com político.

Se o político deu um carguinho de confiança para o filho dele, botou asfalto na rua ou bancou um churrasquinho no bairro, tá tranquilo. Não tem qualquer pensamento a longo prazo. Não tem qualquer foco no coletivo. Não tem qualquer compreensão de que, para que o país melhore, é preciso fazer um projeto de investimento em infraestrutura que, em um primeiro momento, não vai gerar benefício imediato para ninguém.

Hoje, a situação energética do Brasil é a seguinte: o país não pode ter todas mais indústrias pois não tem energia para bancar seu funcionamento. Isso significa que o país está estagnado, sem produzir mais, sem vender mais e sem gerar empregos por não ter fuckin’ luz para fazer as fábricas funcionarem. Político se importa? Não, os que estão aí não. Foda-se se o país não se desenvolve, foda-se o que vai acontecer dentro de 50 anos, eles estão ali, ficando ricos.

E isso é um reflexo de um povo que não se importa, que não leva nada a sério, que não sabe nada de planejamento e não consegue pensar a longo prazo. O brasileiro é aquela criança do experimento, para a qual se oferece uma bala agora ou cem balas dentro de dez minutos e ele escolhe uma bala agora.

Mas o pior não é isso: o brasileiro não sequer consciência de que é assim, ele coloca toda a culpa em “político bandido” e se acha vítima, como se o “político bandido” fosse escolhido por sorteio, não por voto popular. O político só é “bandido” por ser eleito pelo povo, que tem a mesma índole.

Esqueçam a alegoria que o político usa, esqueçam sua aparência, esqueçam tudo que não seja seus projetos para o Brasil e, depois de eleito, fiscalizem, cobrem, infernizem a vida de quem não está agindo em nome dos interesses da coletividade. E se você acha que não pode fazer isso, vá fazer terapia, não é possível que uma argentina tenha mais fé em você do que você mesmo.

Para dizer que estamos fazendo campanha para o Dória (sempre tem um infeliz), para dizer que Dória só comprou vacinas para instalar um chip nessa sua fascinante mente e ler o que tem nela (basta abrir suas redes sociais) ou ainda para dizer que vai ganhar quem falar menos merda: sally@desfavor.com

SOMIR

Vote no Dória.

Sentiu alguma vontade de fazer isso? Não? Então relaxa que eu não tenho poder sobre você. Mesmo se eu quisesse fazer campanha para o ex-governador paulista, não é assim que a banda toca na vida real, pelo menos não num ambiente como o Desfavor. Passamos mais de uma década selecionando um público chato pra caralho que só faz o que quer. Ainda bem, a gente também é assim. Então, se quiser dizer que os textos de hoje são propaganda, pode dizer; nenhum dos impopulares vai acreditar, ou sequer se importar mesmo se achar que é.

Pois bem. Vamos ao foco do texto então, porque fui eu que insisti nesse tema: não é bizarro que o político que fez a imagem de defensor das vacinas durante uma pandemia não tenha conseguido nenhum capital político a partir disso? Eu nunca votei no Dória e meu plano continua sendo não votar nele, mas é chocante como nem precisamos criticar ele atualmente.

Eu esperava que a essa altura do campeonato, eu estivesse pelo menos escrevendo aqui que apesar da história da vacina, o Dória não era confiável, que fazia só as coisas que davam mais vantagem para ele, e lembrar todo mundo que ele se elegeu puxando o saco do Bolsonaro. Mas, precisa? Cidadão não sai dos 2, 3% nas pesquisas. Nem o partido dele se importa, por que a gente deveria?

Eu estou maluco ou o Dória é o único candidato com algo para mostrar? Bolsonaro andou de jet-ski e derrubou farofa em quase quatro anos de governo, a única indústria que comemorou seu governo foi a que produzia cloroquina… Lula, por sua vez, escapou da cadeia porque Moro foi incompetente no único trabalho que tinha. Era para sobrar só o Dória. O Dória tinha o ângulo de ser o cara da vacina, que peitou o governo federal e fez as coisas funcionarem minimamente no país. Era alguma coisa.

Mas não, isso não serviu para nada. O povo tomou vacina meio contrariado, reclamou de ser levemente incomodado com o arremedo de isolamento social praticado e agora está achando que tudo se resolveu, mesmo com mais de 660 mil mortos na conta da pandemia. Resetou tudo, estão pensando nas mesmas coisas de antes da pandemia: uma dicotomia estúpida entre falsos comunistas e falsos fascistas.

E todo mundo que não entrou de cabeça nessa divisão foi esquecido. Dória e toda a suposta Terceira Via estão percebendo a duras penas que o brasileiro médio quer se afundar num buraco à direita ou à esquerda, sem qualquer outra alternativa considerada. Ou você alimenta o fanatismo político-religioso do Brasil moderno, ou você não existe.

Eu sabia que a memória do brasileiro era curta, mas estou surpreso com quão curta ela é. A pandemia não só acabou, como nunca existiu. Dória deveria estar putíssimo da vida agora: tudo o que fez não serviu para absolutamente nada. A briga que ele comprou valeu menos que uma foto de sunga do Lula! Qual a lição que vai ficar a partir dessa história toda?

Que esse povo sequer merece atenção do poder público. É tudo inútil. O povo não percebe ou não liga para ações que não sejam imediatas. Bolsonaro voltou a crescer nas pesquisas porque o auxílio financeiro do governo tem outro nome. Lula está na frente nas pesquisas porque ficou cacetando Bolsonaro nesse meio tempo, mas não fez absolutamente nada pelo país, seu partido igualmente: tinha a maior bancada no Congresso e ficou coçando o saco durante o governo Bolsonaro todo.

Conclusão: não fazer nada na pandemia te coloca em primeiro lugar, ser contra vacina durante uma pandemia te coloca em segundo. O povo não liga, não se importa. Faça o que quiser, roube o que quiser, deixa gente morrer e vai andar de jet-ski, esse povo parece nem querer que as coisas melhorem. Acho que o brasileiro se acostumou com a bandalheira e acha que as coisas têm que ser assim mesmo. Talvez se ofendam com a ideia de resolver algum problema.

Sim, você pode ter mil motivos para não querer votar no Dória, eu também tenho. Mas era para ele ter pelo menos alguma coisa para mostrar nas pesquisas depois de sua atuação pelas vacinas. Será que pra ninguém isso valeu a pena? Será que carisma é literalmente o único fator em consideração numa eleição presidencial? Percebam que nem mesmo o Dória perde seu tempo falando do que fez. Não tem discussão nenhuma sobre projeto de governo.

O argumento do Lula é não ser o Bolsonaro, o argumento do Bolsonaro é não ser o Lula. Acho que isso deixa os outros candidatos meio sem ter o que falar, já que a parte de projetos e ações anteriores não importam de nada para o eleitor. As eleições presidenciais são basicamente uma votação do BBB: ninguém tem motivo pra nada a não ser ir com a cara da pessoa ou não, e os fã-clubes ficam animando a massa para ir com eles, na base da meme mesmo, porque quem vai perder tempo argumentando?

Talvez o grande desfavor dessa história nem seja exatamente o fracasso do Dória, mas do modelo de eleição baseado em alguma coisa além de popularidade. Os políticos brasileiros estão se adaptando a essa nova realidade: ou você age exatamente como um participante de reality-show, ou você vai ser atropelado nas pesquisas e nas urnas.

O que me leva a outro pensamento assustador: eu temo ficar com a mesma sensação com o Lula. Porque ele talvez não consiga se segurar e tente disputar a eleição com projetos e ideias nos próximos meses, e isso pode muito bem fazer o Bolsonaro (que vai 100% no método BBB de eleição) chegar perto e até passar. Sintam o drama: deve ter alguém na equipe do Lula agora segurando ele para não propor porra nenhuma e não criar nenhum assunto técnico de presidência para não enfraquecer sua posição.

O povo pune quem tentar fazer algo diferente. Eu diria que a democracia brasileira chegou no seu auge: é literalmente o que esse povo quer, um reality show com fã-clubes se xingando e nada para forçar eles a pensar em coisas difíceis. Fazer alguma coisa na pandemia forçou o brasileiro a pensar na pandemia, e eles não queriam isso. Dória foi punido por uma ação que talvez uns dez anos atrás o ajudaria nas intenções de voto, mas que hoje em dia o fez ficar com uma imagem ruim em comparação com os dois bobos da corte que estão no topo das pesquisas.

Eu queria estar xingando o Dória aqui, mas ele foi tão sacaneado pela estupidez do brasileiro médio que eu acabei ficando é com pena. Obrigado pelas vacinas e boa sorte na carreira política que não vai dar em nada…

Para dizer que vai boicotar o Desfavor por campanha política, para dizer que ele não fez isso por ser bonzinho (a gente disse isso desde o começo), ou mesmo para dizer que não vai com a cara dele (ninguém vai): somir@desfavor.com

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Comments (14)

  • Wellington Alves

    O problema do Dória é que ele não tem palavra, só marketing. Se ele tivesse cumprido a palavra de ser prefeito por 04 anos, sem reeleição, teria deixado A prefeitura no auge (lembremos que a imagem do “João trabalhador” estava bombando), poderia ter passado toda a quarentena em Miami e voltado agora sendo aclamado para ser presidente.
    É como dizem: você pode enganar algumas pessoas durante algum tempo, mas não pode enganar todo mundo o tempo todo.

  • Bom publicitário que é, ele vai dar um jeito de subir nas pesquisas. Vai jogar sujo e baixo (como já fez antes).
    Foi eleito prefeito na onda de antagonizar o PT, foi eleito governador na onda do PSDB e do Bolsonaro. Ele vai pensar em algo agora.
    Não voto nele, mas fiquei feliz por ele concorrer. Ansiosa pelas fotos dele tomando pingado e sendo abraçado por populares suados. Plus: em campanha nacional vai ter gafe no nordeste e norte *vibrando

  • Poderia até apoiar o Dória não fosse os extensos cagaços que ele vem fazendo desde 2016, quando era candidato a se lançar pelo PSDB a prefeitura de São Paulo.
    Convenhamos que com a pandemia ele agiu mais bem do que mal, mas era aquela coisa “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”.
    Muito bonito Dória ir querer viajar na virada de 2020 pra 2021 pra Miami por exemplo, né? Ele recuou com a história de que o vice dele estava com Covid, mas o fato é que a história pegou muito bem.
    Se a treta dele com o Bolsonaro foi bom pra gente, ótimo, mas não é algo que o credencie a presidência onde infelizmente temos que suportar Lula e Bolsonaro, dois políticos podres com base política bem chegada em conspiracionismo e que tem um bando de alienados no entorno.

    • Sim, Dória tem mil defeitos e fez mil cagadas, mas, se olharmos pro lado, os outros também fizeram e nenhum trouxe vacina para o Brasil.

  • O povo não percebeu que não existe esquerda ou direita no Brasil, mas somente espelhos que correspondem ao que o próprio povo “pede” só para estar certo. Aí os espelhos enriquecem sem grandes problemas em dizer a quem for conveniente “ok, você está certo dessa vez, toma aqui teu biscoito”.

  • Eu acho que o Somir devia “produzir” um candidato apto a atender a demanda (equivocada) dos eleitores e vencer a eleição, e que serviria de fantoche para a verdadeira presidente, a Sally. Até imagino ela passando orientações via ponto eletrônico direto da Argentina (é brincadeira, mas não seria tão ruim, não).

    Não entendo nada de estratégia política, mas acompanho as redes de (agora) dois ex-governadores, Leite e Dória, e como qualquer político em cargo que fique em evidência, sempre há uma quantidade esmagadora de críticos (com ou sem razão). Me parece que só surgirá uma terceira via relativamente forte (talvez não o suficiente para vencer uma eleição) com alguém de fora da política, ou no máximo deputado (como foi com o Bolsonaro). Quanto menos tenha ficado em evidência, menor a chance das pessoas odiarem.

    De toda forma, eu fico cada vez mais desanimada com o futuro.

    • Me dá poder para você ver o que acontece: na primeira semana declaro independência de São Paulo para baixo fundando a Nova Argentina. Depois mando explodir Rio de Janeiro e Bahia. Por fim, o resto eu devolvo para os índios e que façam o que quiserem.

      Falando sério, uma pena que o Pilha não possa se candidatar (ficha mais do que suja), ele teria chance real de vencer!

      • Olha, a gente pode investir no futuro… A Laurinha! Não a Bolsonaro, mas a Pilha! Se ela conseguir chegar limpa na presidência, é digna de voto! É esse feminismo, essa sororidade que eu quero!

        Dispense a Pocket, vá de Pilha!

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