Presidente Desfavor.

No Desfavor, nós alternamos entre autodepreciação e megalomania, porque a vida é feita de inconsistências. Hoje, resolvemos ir com a segunda. Vivemos reclamando de Bolsonaro e Lula, então, vamos sugerir algo melhor: nós. Os impopulares votam.

Tema de hoje: se você pudesse trocar o Lula por outro presidente, quem colocaria no lugar?

SOMIR

Eu escolheria a Sally.

Eu não conheço bem nenhum político de carreira nem mesmo nenhuma pessoa famosa para fazer uma defesa confiante para o cargo, e francamente, políticos de carreira e pessoas famosas tendem a ter problemas sérios com narcisismo e no mínimo leniência com corrupção e incompetência.

Eu conheço bem a Sally e posso dizer que além de uma leve dose de narcisismo (argentina, né?), para o resto ela tem o que é necessário de um ponto de vista de caráter e consistência ética. Eu já a vi lidando com situações horríveis, de perto e de longe, e todas as vezes eu percebi que tem uma linha guia dentro da mente dela que não vai ser negociada.

E para a presidência de um país tão caótico como o Brasil, esse foco é essencial. Desde que a gente se conhece, ela tem por hábito conversar comigo sobre problemas e até mesmo dilemas que enfrenta na vida. Por mais que eu saiba que eu, apesar de todos meus pesares, entrei num grupo seleto de pessoas muito confiáveis, o comportamento de ouvir o outro não existe num vácuo: é parte dela e acontece por um desejo honesto de coletar informações e pontos de vista para tomar as melhores decisões.

E isso não se simula. Ou a pessoa é desse tipo, ou não é. Eu mesmo sou da outra categoria, eu gosto de aprender, eu me esforço para entender pontos de vista diferentes, mas a minha fantasia de poder é baseada em saber mais que os outros. E pelo que eu vejo por aí, não sou único nisso não. Na verdade, acredito que esteja na maioria. Sally acredita de verdade no poder de ouvir.

O grau de complexidade de gerir um país enorme como o Brasil exige essa habilidade. Mas de nada adianta saber ouvir se você é um banana que só faz o que os outros dizem. Voltaríamos à estaca zero. Novamente, com a experiência de anos conversando com ela sobre temas simples e complexos, eu sei muito bem que desse mal o país não pereceria. Explico: eu sei que sou mais articulado que a imensa maioria das pessoas. Sei que se cair uma pessoa vulnerável na minha mão, eu posso convencê-la de praticamente qualquer coisa, pelo combo de segurança e uma espécie de erudição que meu discurso costuma ter.

E é aí que eu preciso ter um certo cuidado com a escolha de palavras e muito controle sobre temas mais passionais. Com a Sally eu falo sem filtro e sem medo. Eu sei que ela tem aquela linha-guia e que ela não se impressiona por nenhum truque argumentativo. Sally escuta o que você diz, pega o que interessa e joga fora o resto. Aliás, foi com ela que eu aprendi a não ter mais vergonha de dizer que não entendi alguma coisa. Ela faz isso tão na boa que eu percebi como era um otário de não perguntar e como você perde muito conhecimento com esse ego intelectual.

Toda essa viagem pela forma como ela lida com informação e ética para dizer que a cabeça para líder ela tem. A fundação está ali, inclusive com os defeitos que fazer de uma pessoa uma líder eficiente: Sally não se dói para cortar fora pessoas da sua vida, para fechar a porta para os caminhos que acha errado, e eu chamo de “defeito” porque ela faz isso num nível hardcore. Ela não é uma boa diplomata, mas grandes líderes não podem ser bons diplomatas: eles têm que deixar muita gente incomodada com suas decisões. Líderes tem que passar segurança, e mesmo nos momentos mais frágeis da Sally, eu nunca fiquei com medo dela não conseguir seguir em frente.

E agora, podemos ir para as questões mais banais: Sally tem conhecimento geral absurdamente acima da média, ela estuda qualquer coisa a qualquer momento, o que pode até ser visto no Desfavor. Eu criei o Desfavor Explica e ela tem 80% dos textos da coluna… e isso conta muito na hora de lidar com uma tarefa tão multidisciplinar como presidir um país. Eu sou ótimo para guiar os temas que me interessam e quero que os que não me interessam se explodam. Precisamos de um líder que no mínimo corra atrás de aprender um pouco sobre cada uma das áreas que vai gerenciar.

E um que valorize excelência. Sally não negocia com preguiçoso no trabalho. Sally não tolera gente estúpida que atrapalhe o que ela está fazendo. Ou entra no nível de qualidade que ela quer ou está fora. No Brasil isso seria muito importante: enquanto uma pessoa como eu desistiria e começaria a tomar decisões cada vez mais sozinho por causa da incompetência galopante, ela viraria o Executivo de ponta cabeça até encontrar um grupo de pessoas esforçadas, fiéis e comprometidas com qualidade que nem ela. Liderança está muito relacionada com saber trazer as pessoas para perto.

Por fim, algo inegociável num cargo desses: carisma. Em anos e anos de Desfavor, só com a versão escrita dela, Sally concentra 99% dos fãs apaixonados(as) e dos malucos raivosos(as) ao redor dela. Eu não estou me colocando em segundo plano, o Desfavor somos nós dois, mas a passionalidade que ela causa nas pessoas é prova inegável de carisma. Ao vivo então, ela é um perigo: faz você se sentir a pessoa mais importante do mundo com uma facilidade incrível. Um presidente que tenha esse magnetismo consegue fazer a parte mais importante do sistema funcionar melhor: o povo.

Joguem pedras, mas eu acho que precisamos de alguém que consiga criar comoções coletivas de uma sacada no poder. Gente mais distante emocionalmente como eu pode até funcionar bem em posições de conselho, mas na hora de fazer o povão mexer a bunda, uma personalidade carismática faz toda a diferença. Um bom presidente não organiza só o sistema político, ele faz com que o povo participe, que acredite numa causa.

Sally tem a capacidade de ouvir sem ser manipulada, tem conhecimento e disciplina para aprender mais sobre até mesmo o que não gosta, tem tolerância zero com gente incapaz no trabalho, agrega ao seu redor pessoas parecidas, tem uma ética invejável e além de tudo, ela consegue mexer com os sentimentos das pessoas o suficiente para fazê-las agir. Com uma boa equipe de segurança (se aqui tem gente raivosa, imagina no governo do país) eu a colocaria no poder sem medo de errar. Não existe governo perfeito, mas existem pessoas mais indicadas para entregar o país melhor do que pegaram.

Em resumo, a solução para o Brasil é menos Brasil.

Para dizer que colocaria o Alicate para tudo desabar logo, para pedir um cargo (cuidado, ela vai te cobrar trabalho), ou mesmo para dizer que a gente se merece: somir@desfavor.com

SALLY

Se você pudesse tirar o Lula e botar qualquer outra pessoa como Presidente do Brasil, quem colocaria?

Colocaria o Somir, pois no grau de escaralhamento que o país se encontra, não imagino que exista outra pessoa louca o bastante para fazer o que é necessário.

Situações difíceis demandam escolhas trágicas e uma frieza da qual poucas pessoas são capazes. Somir é. Ele tem a uma combinação boa para o papel: certeza de que tudo que ele vai fazer dará certo, convicção inabalável de que sempre está fazendo a coisa certa e que é mais inteligente que todo o resto. Com isso, ele seria capaz de ignorar todos os protestos e orientações para agir diferente.

E certamente arcaria com as consequências que essas escolhas polêmicas geram: uma onda de ódio que torna quase impossível a vida de qualquer pessoa que se importe minimamente com o que os outros pensam a seu respeito. Felizmente Somir não se importa com absolutamente nada que ninguém pense a respeito dele e acha até graça de ser xingado e esculhambado.

Além disso, manter essas escolhas trágicas demanda muita convicção, uma vez que muita gente reclamaria, criticaria e até ameaçariam. Somir é firme como uma rocha diante das suas convicções: pode vir Einstein provar por A + B que vai dar merda, pode vir uma pessoa armada ameaçá-lo, pode aparecer sua mãe chorando que ele não arreda o pé. Se ele acredita que aquilo vai dar certo, ele continua.

Somir não tem a menor atração por ser adulado, adorado e elogiado. Ocupando um cargo de poder, ele seria imbajulável. Seu ego está totalmente sob controle, eu duvido muitíssimo que em algum momento ele coloque um interesse pessoal dele acima do seu projeto – eu já o vi se portar assim em projetos muito menos importantes do que a condução de um país.

Somir tem a “frieza” (nem é esse o termo) de saber que se algo doloroso precisa ser feito para melhorar, tem que ser feito e não deve ser lamentado. Ele consegue não sofrer com decisões difíceis se tiver a convicção de que aquilo gera um resultado melhor no futuro.

Ele não faz amizades fácil, não permite que as pessoas se aproximem muito e não é amigão dos funcionários. Isso ajuda a conduzir as coisas com mais seriedade e respeito, principalmente no Brasil, onde, infelizmente, as pessoas confundem muito pessoal com profissional.

As coisas nas quais o Somir não é bom, podem ser todas facilmente delegáveis sem comprometer a administração de um grande projeto: organização, prazos, pontualidade, planejamento, gestão e outras questões que dizem mais respeito à forma do que à essência podem ser facilmente resolvidas com um Chefe de Gabinete de confiança.

Ele sabe identificar pessoas competentes e tem amor e respeito pelo conhecimento, então, indicaria pessoas técnicas para cargos técnicos – e os melhores. Foda-se quem são, em quem votam, qual é a cor da pele ou qual seu personagem de desenho favorito, se for o melhor naquela área técnica, para ele basta.

Somir coloca sua vida profissional na frente da sua vida pessoal. Não digo que seja uma qualidade, mas quando falamos de uma tarefa gigante como esta, está implícito que será preciso fazer escolhas e sacrificar algo do seu tempo. Não seria um problema para ele, se deixar ele trabalha 12h por dia e até esquece de comer.

E quando ele resolve se interessar e abraçar um projeto, liga um modo hiper foco que faz ele trabalhar como um psicopata, estudar como um psicopata e ele passa a viver, ser e respirar aquilo por bastante tempo. Suponho que esse seja o grau de entrega necessário para um projeto dessa magnitude.

O fato de não estar vinculado a nenhuma religião e ter total desprezo por qualquer coisa que não venha da ciência também faz um filtro poderoso para essa tarefa. Ele não apenas não acredita, como ainda abomina. Isso garante um país que não vai gastar dinheiro com imbecilidades religiosas ou babaquices holísticas. A ciência seria o templo do Brasil.

Além disso Somir não se apega a pessoas do trabalho, está tudo muito bem separadinho: se você não faz um bom trabalho, pode ser amigo, pode ser esposa, pode ser irmão, pode ser o que for, você está fora. Eu garanto que ninguém que renda menos do que o esperado permaneceria em cargo nenhum.

Por fim, Somir não se importa com a própria saúde, então, para ele não é nada de mais pular uma refeição ou passar vários dias dormindo pouco. Ele faz de boa coisas que eu não faria de forma alguma por receio de comprometer a minha saúde e um cargo desses certamente não te permite o luxo de ter a vida mais saudável do mundo.

Para finalizar, Somir é diplomata. Qualquer situação, por mais complicada que seja, ele resolve conversando e as pessoas dificilmente saem chateadas com ele. Ele é civilizado, sabe escolher as palavras e tem o dom de falar coisas horríveis sem que elas pareçam horríveis, portanto, as pessoas acabam gostando dele e aceitando seus pedidos e críticas.

Um plus: é o país dele. Ele é brasileiro. Ele mora no Brasil. A família dele mora no Brasil. Ele tem interesse em que o país melhore. Não seria algo meramente burocrático. Não seria a motivação principal, obviamente, mas eu acredito que as coisas saem melhores quando seu coração está no lugar certo.

Seria assustador no começo, mas no fim daria certo.

Para dizer que prefere o Lula a um de nós, para dizer que prefere o Bolsonaro a um de nós ou para dizer que prefere qualquer um a Lula e Bolsonaro: sally@desfavor.com

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Comments (16)

  • Pelo que um descreveu do outro e do (pouco) que conheço dos dois, daria certo se tivéssemos um sistema parlamentarista.

    Ela como presidente e ele, como primeiro-ministro, para lidar com o Congresso e convencê-los a apoiar as medidas. Assim, aproveitaríamos a capacidade combinada de entrega, de realização, de angariar múltiplas competências e, sobretudo, inteligência emocional, que é o que mais falta por aqui.

    Enfim, um governo em que houvesse cobrança maciça de impostos e taxas em cima de templos e de igrejas para começo de conversa…

      • Claro que muita coisa ainda pode – e deve – acontecer, mas também não creio que o Tarciso tenha cacife para tanto, apesar de já ter chegado a Governador de São Paulo. Ainda mais que a corrente política da qual ele faz parte está hoje como filme queimadíssimo…

        • Tarcísio começou a se dissociar do bolsonarismo logo que viu que a coisa estava afundando, mas não me parece ter potencial pra se tornar o novo nome forte da direita brasileira.

  • Só pra esfregar na cara do povo que cresceu escutando a mãe dizer pra estudar se quiser ser alguém na vida, botaria a mais recente celebridade de internet que chegou no topo: Luva de Pedreiro.

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