Se não é um OVNI, então o que é?
| Sally | Desfavor Bônus | 2 comentários em Se não é um OVNI, então o que é?
O ponto de partida deste texto é: você acha que viu uma nave alienígena. Nós não descartamos a existência de vida alienígena, entretanto, existem outras possibilidades que podem ser facilmente confundidas com um OVNIs e nem sempre são conhecidas. Começa agora o jogo mais educativo e científico que você jogou nos últimos tempos: “Se não é um OVNI, então o que é?”
Nosso cérebro quer entender tudo que acontece por uma série de motivos, mas o principal é nos proteger. Então, quando algo totalmente fora do “normal” acontece, ele vasculha todas as informações que têm sobre o assunto e tenta encontrar a mais provável entre elas. Quando ele não tem referências, a melhor explicação possível é um OVNI, que, por ser algo desconhecido, pode se encaixar em praticamente qualquer hipótese.
Então, o que vamos fazer hoje é municiar seu cérebro para ter mais opções na hora de avaliar coisas estranhas no céu. Para isso, vamos te contar tudo que parece ET mas não é ET.
Antes de começar o texto em si, sugerimos que pesquisem as imagens e vídeos correspondentes a cada um destes itens para visualizar como eles são, já que nem sempre um texto escrito consegue traduzir a magnitude ou forma do fenômeno. Já tendo visto antes, vai ser mais fácil identificar se, por uma sorte ou azar do destino, você se deparar com ele ao vivo.
Dito isto, vamos a tudo aquilo que parece ET mas não é ET.
Os mais competentes em pregar um susto nas pessoas e fazê-las acreditar que tiveram um contato com alienígenas são os fenômenos atmosféricos. Em parte, por serem visualmente extraordinários e diferentes de tudo que estamos acostumados e em parte por serem muito pouco conhecidos. Alguns parecem efeitos especiais de filme de ficção, é quase impossível cogitar que sejam algo natural.
Um dos fenômenos atmosféricos que mais se assemelha a uma nave alienígena é o “raio globular” ou o “raio em bola”. É um fenômeno elétrico que ainda não tem consenso na explicação. Existem várias hipóteses, todas complexas demais para serem explicadas em um texto como este (desde silício vaporizado queimando por oxidação até oscilação de partículas carregadas de plasma).
O que importa é o resultado: faz com que apareçam esferas luminosas (geralmente em uma cor brilhante esverdeada) que são visíveis por uma fração de segundos e desaparecem, podendo reaparecem logo depois em outro lugar. É um prato cheio para confundir a mente de alguém. Eu mesma, se vejo uma bola brilhante pairando sobre a minha cabeça, na dúvida, saio correndo, independentemente de qualquer explicação científica.
Outro fenômeno atmosférico pouco conhecido, mas visualmente impactante é o Sprite. Além de ser um refrigerante, Sprite também é o nome que se dá a uma descarga elétrica que acontece na atmosfera e gera uma “chuva de raios” (papo técnico: a descarga gera um flash de plasma que, por alguns milissegundos, se torna iluminado).
O curioso é que essa descarga pode desenhar formatos no céu, criando desenhos ou colunas de luz, com diferentes cores. Nós, seres humanos, temos um cérebro condicionado a procurar e reconhecer padrões, basta olhar para o alto e observar uma nuvem: é muito comum que a gente acabe identificando o formato daquela nuvem com algo do nosso dia a dia (um animal, um objeto, etc.). O mesmo vale para o Sprite.
Imagina uma pessoa sozinha em uma estrada, dirigindo na paz, quando, do nada, colunas de luz com cores começam a aparecer no céu, em formatos estranhos. Pior ainda se essa luz tiver algum formato remotamente parecido com algo que a pessoa conheça. Não precisa muito para o medo dominar e fazer você identificar aquela luz com algo que conhece, é o cérebro tentando entender para te proteger.
Procure imagens de Sprite online e certamente, mesmo sem estar na situação de medo e estresse, você vai acabar identificando formas conhecidas: árvores, dragões, animais alados. Dá para ver o que mais te assustar nelas, principalmente por ficarem aparentes por frações de segundo, não dando oportunidade de analisá-las com calma e frieza.
O mais diferentão é o Sprite Vermelho, especialmente perturbador para evangélicos no geral e pessoas que temem o diabo. Mas, o fenômeno em si é assustador para qualquer um que não o compreenda – e é bem difícil que pessoas comuns conheçam o fenômeno. Inclusive a explicação dos Sprites é algo relativamente recente. No Brasil, o primeiro Sprite só foi documentado em 2002! Em 13 de janeiro deste ano teve Red Sprites em Santa Catarina.
Para piorar, os Sprites costumam vir em salvas, isso é, aparece em um local, desaparece, aparece um pouco mais à frente, desaparece, aparece um pouco mais à frente… e assim por diante. Então, se a pessoa der o azar de estar em uma rota que coincida com as rajadas de Sprite, pode ter a clara sensação de estar sendo perseguida. Francamente, mesmo sabendo como funciona, se eu estou em uma estrada escura e uma imagem iluminada aparece diante dos meus olhos, eu descarto a ciência e corro.
Também temos um fenômeno atmosférico chamado “Light Pilars” ou “Pilares de luz”. Geralmente ele ocorre em locais frios e funciona da seguinte forma: quando a atmosfera está repleta de partículas de gelo e incide luminosidade na intensidade e angulação necessárias, a luz interage com as partículas de gelo formando desenhos no ar.
O resultado disso, na melhor das hipóteses, são colunas de luz que se acendem do céu para a Terra, como um grande feixe vertical. É como se alguém estivesse apontando vários holofotes para baixo. Às vezes os feixes de luz não são simultâneos: aparecem um em um lugar, logo depois outro ao lado, e mais outro… criando uma sensação de progressão, de que tem alguém se preparando para descer ou espionando.
Se o céu estiver nublado então, é especialmente assustador. Fica parecendo que tem um monte de nave acima das nuvens, que não estão visíveis por estarem encobertas, e que elas estão emitindo raios ou luzes em direção à Terra. Uma vez que seu cérebro toma essa versão como a mais provável e, portanto, a verdadeira, qualquer indício mínimo será uma confirmação de que sim, as naves estavam lá e você as viu.
Outro fenômeno que atua com o mesmo princípio são os Halos, só que em vez de criar um feixe de luz, a luz rodeia algo, geralmente um corpo celeste. Quando o halo está em volta do sol ou da lua, é bem fácil de identificar, já que são dois corpos celestes familiares ao ser humano. Mas, quando o halo está em torno de outo corpo celeste, pode causar um susto.
Um erro muito primário, mas muito comum, é confundir o planeta Vênus com avistamento de OVNI. “Mas Sally, quem é o idiota que confunde um planeta com uma nave espacial?”. Não é tão difícil quanto parece, eu arrisco dizer que com o grau certo de autossugestão, qualquer um de nós poderia. Autossugestão não é coisa de idiota impressionável, todos nós estamos sujeitos, não apenas a ela, como a ilusões de ótica e falhas de interpretação do nosso cérebro.
O primeiro fator que gera essa confusão Vênus x ET é a posição do planeta: ele não está “no alto”, como nosso imaginário espera que um planeta esteja, e sim próximo do horizonte, o que faz nosso cérebro meio que descartar a ideia de que seja um planeta. O segundo fator é que ele brilha muito mais dos demais corpos celestes, o que causa uma sensação de que ele não pertence à mesma classe que os demais. Além de brilhar mais, ele pode brilhar “diferente”, pois, ao estar perto do horizonte, ocorre um fenômeno de refração que pode fazê-lo cintilar ou até passar a impressão de estar mudando de cor.
Mas o terceiro fator é o principal responsável pelo mal-entendido, uma ilusão de ótica que pode ocorrer à noite: um ponto brilhante em um fundo escuro sem mais referências por perto pode passar a falsa impressão de que está em movimento. Então, por mais que você saiba que Vênus está próximo ao horizonte e que brilha diferente, não espera que esteja em movimento. Ao ver a falsa ilusão de movimento, imediatamente o cérebro descarta que auilo seja um planeta e começa a buscar por outra explicação melhor.
Outro gato por lebre muito comum são os bólidos. Bólidos são fragmentos de corpos celestes que entram na atmosfera atraídos pelo campo gravitacional da Terra. A grande armadilha é que eles brilham muito, mas muito mesmo, sendo capazes inclusive de ofuscar o brilho da lua.
A diferença do Bólido para uma estrela cadente comum é o tamanho: a maioria é um pequeno fragmento de corpos celestes (pequeno mesmo, papo de menos de um milímetro). Pense no meteoro como um balão de passeio e nos bólidos como confetes.
Uma coisa é UM grande meteoro entrando e provocando um clarão, por entrar em contato com atmosfera e queimar (por causa do atrito com o ar, que o aquece muito), outra coisa são centenas, milhões de partículas, todas explodindo juntas, causando um clarão difuso.
É de conhecimento popular a hipótese de um meteoro ou uma “estrela cadente” cair na Terra, o máximo que alguém vai fazer é um desejo. Porém não é sabido e notório que às vezes corpos celestes se desfazem em mil partículas pequenas e elas também podem entrar na atmosfera terrestre de forma incandescente e brilhante. Logo, só pode ser um ataque alienígena, certo? Errado. Bólidos. Quem estava em Porto Alegre em 28 de novembro de 2020 pode descrever a experiência em detalhes.
Outra resposta comum para explicar supostos avistamentos de naves alienígenas é que sim, seja uma nave espacial, mas deste planeta mesmo. São muitas possibilidades: aeronaves, satélites e até lixo espacial que entrou na atmosfera terrestre podem dar um susto ou iludir alguém.
Os satélites da Red Iridium podem brilhar mais do que Vênus, o que faz com que chamem muito a atenção, ainda que seja por poucos segundos. O brilho extremo chama a atenção dos olhos, faz com que a gente se volte em direção a ele, mesmo que inicialmente só tenhamos visto com a visão periférica. A Estação Espacial Internacional brilha menos, mas quando ela passa você pode vê-la por vários minutos, o que também causou muito mal-entendido, pois ela não deixa dúvdas de que a pessoa viu: uma coisa um flash, uma fração de segundos, outra é um avistamento demorado.
Até o clássico Starlink do Elon Musk pode ser facilmente confundido, se você nunca viu um vídeo das “bolinhas brilhantes” em ação. Felizmente, em todos esses casos, são eventos programados, com data e hora mensuráveis, procurar algum site como o Heavens Above e pesquisar o que estava passando por cima da sua cabeça na data em que você viu algo estranho. Com sorte, está explicado lá.
Até o clássico e inofensivo avião pode enganar, graças a algumas ilusões de ótica. Dependendo da manobra ou da forma como a luz reflita na aeronave, ele pode passar a impressão de aparecer e desaparecer ou de se mover de forma estranha (que pareceria impossível para os padrões que conhecemos). A chave é: seu avistamento envolve luzes verdes, vermelhas e brancas? É provável que seja um avião, que usa estar três cores de luz, somado a alguma ilusão de ótica que o fez parecer executar manobras impossíveis.
Balões meteorológicos também são grandes responsáveis por taquicardias, sustos e relatos de avistamentos. Quando falamos em “balão”, as pessoas esperam um formato conhecido, clássico, previsível. Mas nem sempre os balões que existem atendem a esse formato ou tamanho, principalmente quando estão murchando. Um balão murcho pode parecer com um objeto alongado, mais ou menos como a cabeça do Snoopy.
Até mesmo nuvens podem enganar por causa de formato inusitado. Quando pensamos em nuvens, pensamos naquele formato clássico de “moita”, porém, existem mais tipos de nuvens do que sua vã filosofia pode imaginar. Um deles é especialmente propenso a mal-entendidos, as nuvens lenticulares. Elas têm o formato de esferas ou discos e se movimentam de forma muito atípica, podendo passar tranquilamente a imagem de ser um disco voador pairando, se estiverem em um cenário confuso.
Por fim, temos o recordista moderno de mal-entendidos: os drones. Relate um avistamento a qualquer ufologista sério e você verá que a primeira preocupação dele é descartar drones. Pelo tamanho, agilidade e formatos variados, drones podem te fazer ter certeza de que as manobras realizadas não poderiam ser executadas por nada vindo da Terra. Mas, lembre-se, nossos olhos e perceção frequentemente nos enganam.
Outros eventos menos frequentes como paraquedistas, mísseis e até balões comuns podem enganar, se vistos do ângulo certo, com a iluminação certa e no contexto certo. Então, além de focar no objeto, observe o entorno, para descrevê-lo quando for apurar o que aconteceu. Se puder, filme ou fotografe.
Sem querer desacreditar de ninguém, afinal, não é impossível que em meio a milhões de relatos alguns sejam realmente avistamento de naves alienígenas, é nossa obrigação dizer que a maior parte dos casos são totalmente explicáveis pela ciência. E agora você tem algumas ferramentas para avaliar melhor. Se não é um OVNI, você já pode cogitar o que é.
Para perguntar se o Somir está bem (sim, está), para dizer que você prefere desconsiderar este texto e se sentir especial por ter visto uma nave alienígena ou ainda para dizer que se houver vida inteligente em outro planeta certamente não passarão nem perto da Terra: sally@desfavor.com
Não precisa publicar meu comentário, mas apenas curioso pra saber se a censura que a justiça determinou para retirar o stand up do Léo Lins do ar vai virar Desfavor da semana.
Me mandaram via whatsapp um trecho que continha piadas de estupro e pedofilia. Achei engraçado e não vi nada demais. Me lembrou um stand up do David Lachapelle (O Somir até fez um post sobre isso na época) onde o stand up inteiro era sobre piadas de estupro, incesto e pedofilia. Por causa do post do Somir fui atrás do stand up do David Lachapelle e achei inteligente.
Sobre essa decisão da justiça, acho que o tiro saiu pela culatra e vai dar mais Ibope pra ele. Acho que tudo mundo vai fazer upload só pq é “proibido”. Eu fiquei curioso pra ver e agora estou caçando links.
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2023/05/17/justica-proibe-leo-lins-de-sair-de-sp-por-mais-de-10-dias-sem-autorizacao-judicial-por-comentarios-odiosos-contra-minorias.ghtml
A principal piada que motivou a decisão judicial foi com o LULA e, sim, vai ser tema do Desfavor da Semana!