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Nazistes.

Nazistes.

| Desfavor | | 29 comentários em Nazistes.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi considerado “persona non grata” pelo governo de Israel desde que fez um paralelo entre o Holocausto e a guerra em Gaza durante uma entrevista no final de semana. LINK


Mas a gente já não tinha discutido isso durante a semana? Sim, mas não foi o suficiente, embora a maioria das pessoas a da mídia já tenham enjoado do tema. Desfavor da Semana.

SALLY

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Minha ideia para a postagem de hoje era começar com dez páginas de prints nesse estilo, para causar impacto mesmo. Mas ficamos com medo de que muitos leitores pensassem que não haveria coluna, que as postagens estariam substituindo nosso texto, então, o número de imagens foi reduzido.

Saibam que o que vocês estão lendo é uma pequena amostra, muito pequena mesmo, e muito filtrada, descartando o discurso de ódio mais pesado e violento. E saibam também que não é só a dona maria da esquina e o seu joão da padaria falando. Por exemplo, esta senhora que se diz antissemita, é professora da Universidade Cândido Mendes.

É isso que está nascendo no Brasil. Independente das críticas que todos nós tenhamos a esta guerra, deixou de ser sobre a guerra. Agora é um problema do Brasil. É sobre o brasileiro. E sobre o brasileiro, mídia nenhuma vai falar, pois ninguém quer perder leitor. Só a gente. E a gente quer dar esporro.

Antes de entrar no tema em si, recomendo este vídeo. Agora sim, vamos ao texto.

A primeira coisa que eu quero relembrar é que não há mocinho e bandido em uma guerra. Eu não tenho dúvidas que Israel está cometendo muitos crimes de guerra. Não é um texto para tomar lados de governos e sim para te alertar sobre barbárie. Em toda guerra morrem muitos inocentes, por isso guerras deveriam ser inaceitáveis. Esse é o foco. As pessoas. Mas, a coisa escalou e já não é apenas sobre as pessoas que estão morrendo na guerra. É maior. Lula comparou o que Israel está fazendo a Hitler.

Ninguém tem que ousar abrir a boca para comparar nada com o Holocausto. NADA. Holocausto, além de ser um genocídio, não se compara a nada na história moderna, pois de fato, nunca aconteceu nada nem parecido com isso: a forma como foi planejado, executado, divulgado. Não me importa o que você acha, não é comparável. Vou repetir mais uma vez: nada é comparável ao grau de barbárie, violência e desumanidade do Holocausto e me dá vergonha ver um Chefe de Estado falando isso.

Mas, além de não existir simetria na comparação Israel x Hitler,  a fala do Lula foi muito além. Comparar um grupo ao seu pior algoz (Israel/judeus a Hitler) é um golpe baixo para ferir, massacrar e tripudiar. É cruel. Não é crítica, é impor sua preferência pessoal de lados nesta guerra para espezinhar o outro lado. É tentar jogar todo um país (o Brasil) contra um grupo que não fez nada nem remotamente parecido com Hitler. E pelo visto, está conseguindo.

Chefe de Estado tem responsabilidade no que fala. Quando abre a boca e diz que um país está fazendo o mesmo que Hitler, automaticamente boa parte dos brasileiros vai desejar a esse país o mesmo que deseja a Hitler. O resultado está aí, em redes sociais. Muitos posts antissemitas, gente relativizando Holocausto e muitas outras atrocidades.

“Mas Israel fez tal coisa…”. Não importa. Se você acha que eles são baixos, não justifica que você seja baixo também e os compare com algo incomparável. Sua moral, sua ética, seus valores não podem despencar pelo fato do outro ter se portado de forma vil, caso contrário, você é tão vil quando a pessoa que critica. Exagerar em algo para dar ênfase pode até ter lugar em uma conversa de bar, mas não na boca de um Chefe de Estado, do qual se espera seriedade, responsabilidade e um mínimo de vergonha na cara.

O mais curioso nessa história é ver a narrativa que está se construindo de “mas nem foi tão grave assim” que tenta colocar o Holocausto como um exagero. No que se transformou o Brasil, meus amigos? Por favor me digam, pois não moro mais aí faz bastante tempo…. No que se transformou o Brasil a ponto de tentarem atenuar o Holocausto?

Coisas pequenas geram uma enorme reação: errar um pronome sem querer, por exemplo. Mas o Holocausto, um genocídio arquitetado com requintes de crueldade para exterminar grupos da face da Terra, com uma campanha difamatória que sobrevive até hoje, isso não é tão grave assim. Isso pode ser comparado a uma guerra declarada para reaver reféns. Desculpa, mas me parece que vocês, como sociedade, estão ficando loucos. As vítimas do Holocausto não estavam lutando, não tinham armas e não decapitaram bebê nem estupraram mulheres.

Alguém discordar do seu voto é motivo para agredir, para brigar, para parar de falar… Mas uma das piores tragédias, massacres, violações a direitos humanos de toda a história, talvez não seja tão grave assim? Vocês estão ficando loucos.

Se tivessem feito com brasileiro um milionésimo do que foi feito no Holocausto, estava todo mundo gritando até hoje. O assunto seria tabu. Ninguém poderia nem ousar falar qualquer coisa que desmereça. Mas quando é com os outros pode? Não é fascinante como quando pisam no nosso calo é terrível, mas na hora de pisar no calo dos outros talvez não seja tão grave assim?

Faz esse exercício comigo: o Brasil tendo sido vítima de um Holocausto, da maior tragédia humanitária da história, guardando feridas profundas desse horror e aí vem um presidente de outro país e compara essa tragédia a um evento completamente diferente… e mais: compara o Brasil ao agressor que perpetrou o Holocausto no Brasil. Vocês gostariam? Como vocês reagiriam?

O povo que reclamava que Bolsonaro os fazia passar vergonha internacional (e fazia mesmo) agora cala quando Lula consegue a proeza de dizer a pior fala já saída da boca de um Chefe de Estado brasileiro sobre Holocausto ser declarado persona non grata, algo que Bolsonaro não conseguiu, mesmo bostejando por quatro anos seguidos.

O povo que fala que se dez pessoas se sentam à mesa com um nazista temos 11 nazistas, acha que tá tudo normal no seu Presidente dizer algo que é extremamente desrespeitoso com a maior tragédia que a humanidade já viu e que, de quebra, está incitando um monte de gente a hostilizar esse grupo. O povo que passou anos acusando os outros de serem nazistas (inclusive o atual Vice Presidente) agora equipara as vítimas de Hitler a Hitler. Vem cá, vocês estão malucos?

O povo que teve nacionais mortos e ainda tem sequestrados aplaude um Presidente cuja fala foi igualmente aplaudida pelos assassinos e sequestradores desses brasileiros (Hamas). Eu sinceramente duvido que em algum país do mundo isso fosse encarado com essa tranquilidade. Posso falar pela Argentina: se um grupo mata e sequestra argentinos e Milei fala algo elogiado por esse grupo, no dia seguinte o argentino bota fogo em todos os prédios oficiais do governo.

“Mas os judeus…”. NÃO TEM “MAS OS JUDEUS”. Uma guerra não é sobre um povo, é sobre as escolhas do Chefe de Estado. Vocês gostariam que o mundo pense que vocês são sinônimo do que o Bolsonaro e o Lula falam? Parem de colocar gasolina em um incêndio horrível que já está acontecendo! Olha o ódio a judeus que está se espalhando no Brasil!

Vocês que estão alimentando ódio a judeus são minúsculos. Tanto quem está colaborando para esse ódio aos judeus quanto quem está assistindo quieto. Minúsculos. Vocês são minúsculos. Esse embrião demoníaco que vocês estão gerando pode sair do controle e virar uma nova tragédia humanitária. O papel de vocês como povo é repudiar esse tipo de fala que equipara as vítimas de Hitler a Hitler.

Cobrem uma postura pelo menos humana do Presidente de vocês. Parem de aplaudir um babaca que polariza para ser o contraponto, o virtuoso, o correto. Um ególatra que nunca tem boas intenções, apenas intenções que beneficiam a si mesmo e a seu ego. Não é aceitável comparar as vítimas de Hitler a Hitler e é ainda mais inaceitável que dois zero à esquerda como nós precisem vir aqui dizer isso pois ninguém está falando de forma incisiva.

Se vocês toleram viver em um esgoto, num retrocesso civilizatório que ataca judeus, nós não. Aqui isso terá tolerância zero. Assim como na pandemia não aprovamos comentários que coloquem a ciência em questão para não gerar insegurança vacinal, daqui para frente guardaremos algumas críticas e não aprovaremos alguns comentários para não contribuir com essa maré asquerosa de antissemitismo que está se disseminando no Brasil. Responsabilidade sobre o que falar não se limita a divulgar conteúdo que não seja falso, mas também a o que falar, quando falar e como falar.

“Mas Sally, para quê isso se vocês são irrelevantes?”. Somos mesmo. Mas eu quero que qualquer um que leia, em qualquer época, saiba que diante do que aconteceu, a gente se posicionou, mesmo sendo a posição mais “impopular” e tentou contribuir para que esse absurdo não escale. Eu, mesmo que irrelevante, estou tentando fazer a minha parte. Você está?

Para se ofender (eu estou ofendida com o que o brasileiro está fazendo/tolerando, estamos quites), para tentar retrucar algo que jogue fogo no incêndio e ter seu comentário reprovado ou ainda dizer que “mas os judeus…” e ser banido: comente.

SOMIR

Eu também queria falar mal do brasileiro e da sua reação ridícula à fala de Lula, mas vocês acabaram de ler o texto da Sally. Eu não faço melhor do que ela essas coisas, então assino embaixo. Já não aprovava comentário de nazista de direita antes, é só uma continuação da lógica não aprovar os dos nazistes de esquerda (gênero neutro para ser mais inclusivo).

O que me resta fazer é analisar alguns pontos que não cabiam na parte da bronca. O primeiro deles é como o Brasil manteve sua imagem de imbecil inconsequente no cenário mundial. É parte da imagem deste país de terceiro mundo estar um grau abaixo do que se considera adulto responsável. É meio como se o país e o que vem dele estivesse num nível de exigência intelectual abaixo da média dos países realmente civilizados.

A reação internacional não foi grandes coisas. Israel soltou os cachorros, mas não foram os que mordiam, e sim os que latiam mais alto. Pessoas morrem quando Israel está realmente furiosa. Lula recebeu umas críticas pelo Twitter e o embaixador brasileiro foi exposto de forma vexatória por lá. Aqui chamou atenção, mas no resto do mundo foi mais conversa de corpo diplomático do que notícia de mídia de massa.

Quer dizer que Lula não falou algo tão bizarro assim? Falou. Tem mil motivos para explicar o terror da comparação que fez, mas ele estava mais protegido das consequências porque para o mundo, o Brasil é uma fazenda com praia, onde as pessoas dançam e não pensam muito. O presidente da França, por exemplo, nunca vai ser pego falando uma asneira dessas. Porque ele sabe que se ele fizer isso, vai pagar um preço enorme dentro e fora do país. Do país de onde vem, esperam um nível mais alto.

Mas era só o Brasil. Ninguém quis falar isso, porque seria muito deselegante, mas o Brasil nem é gente… o povo é muito ignorante, atrasado, faltou proteína na primeira infância… não é como se o que viesse daqui fosse muito sério. O que eu sim, acho preconceito, nem todo mundo aqui é nesse nível República das Bananas, mas o país não se ajuda quando manda broncos do nível de Bolsonaro e Lula falarem no cenário mundial.

Não deixa de ser uma zona de conforto: se a maioria do mundo acha o brasileiro meio bicho, um povo que não vale a pena “julgar como adulto”, é muito mais fácil se livrar das consequências pelos atos. OS EUA nitidamente trataram o Brasil como aquela “criança especial” na turma quando começaram a colocar panos quentes na briga com Israel. É confortável não pagar o preço cheio pelas besteiras que diz e faz, mas também significa que o que vem daqui não é levado a sério.

Para Lula e cia., isso está ótimo. Eles podem fazer seus showzinhos sem medo de consequências internacionais. Mas também não esperem nenhum peso na opinião brasileira em qualquer discussão de valor. Isso só muda quando o próprio Brasil se levar a sério. Quando o mundo olha pra cá e vê que a discussão não passa de treta de rede social e showzinho da oposição, sabe que nem a gente quer mesmo sair dessa posição de criança abobada da turma. O Brasil não é visto como sério porque não se leva a sério.

Não precisa ser nível Alemanha onde o presidente sairia preso do prédio onde desse uma declaração dessas (por motivos óbvios), mas no mínimo a coisa ficar tão feia para o presidente que ele tivesse que vir pedir desculpas em rede nacional e ficasse com muito medo de impeachment. Aqui no Brasil basta esperar o ciclo de notícias mudar, porque não vai dar em nada.

O que me leva ao segundo ponto: é impressão minha ou o ciclo de notícias está moldando o mundo ao invés do mundo moldar o ciclo de notícias? A fala absurda de Lula foi notícia por alguns dias e depois o assunto já tinha mudado. O quanto ele contava com isso para poder falar o que falou? É como se tudo tivesse prazo de validade, independentemente da gravidade. Aposto que alguns de vocês já estavam esperando um DS sobre os avanços da Polícia Federal sobre a trama (estúpida) de golpe de Bolsonaro e sua turma.

Não é um assunto inconsequente, mas não era para vir para o topo da atenção da mídia de massa enquanto a questão de Lula não tivesse alguma resolução. A gente ficar no tema da fala de Lula comparando Israel com os nazistas é uma anomalia no mundo atual. Já tinha saído de moda. Como a gente espera criar um país onde o crime não compensa se indignação dura só enquanto o ciclo de notícias permite?

Veja só: pode ter ficado “chato” para muita gente falar sobre isso. Ninguém é tonto nas altas escalas do poder, eles já trabalham com esse foco de atenção de peixinho dourado da sociedade. Vai lá, apronta e espera no máximo umas 72 horas até o mundo achar outro objeto brilhante. A última coisa que durou um pouco mais que isso foi o ataque dos vândalos “patriotas” em Brasília, e eu até temo que só tenha durado mais porque janeiro é um mês mais parado.

Lula escapa do grosso das consequências por fortalecer a imagem do Brasil de país que não serve para conversas adultas sobre o mundo, nos mantendo como índios incapazes aos olhos da comunidade internacional; e também se aproveita do minúsculo foco de atenção da grande mídia, que assim que vê o número de cliques diminuir um pouco já corre para o próximo espetáculo. É um ciclo que se repete e vai mantendo o país travado numa complacência incrível com suas autoridades e também com os absurdos que o povo diz todos os dias. Não tem consequência. O brasileiro parece gostar dessa situação, e projeta essa imagem todos os dias.

A coisa deveria ter ficado muito feia para o Lula, mas já estamos vendo o assunto desaparecer como se nada. O resto do mundo só teve reforçada a imagem de shithole da gente e a gente está nadando numa boa nesse monte de merda. O Brasil precisa de consequências, senão nunca vai sair da infância…

Para dizer que ninguém que ficaria ofendido consegue ler o texto da Sally até o final, para dizer que você está sendo oprimido por não poder ser nazista, ou mesmo para dizer que é mesmo confortável ninguém te levar a sério: comente.

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