Disputa Renascentista.
Se tem um assunto que mexe com o brasileiro, é a rivalidade histórica entre dois grandes artistas renascentistas. É por isso que continuamos nossa Semana Antiviral com essa bomba: dentre dois dos mais famosos artistas da antiguidade, quem foi… melhor? Os impopulares fazem seu julgamento.
Tema de hoje: Leonardo da Vinci ou Michelangelo?
SOMIR
Eu escolho o polímata dos polímatas. Longe de mim fazer pouco do talento de Michelangelo, mas Leonardo conseguia se manter competitivo no campo artístico sem perder o amor pela ciência.
Eu não sei se aguentaria muito tempo ser amigo de nenhum dos dois, pois pelos registros históricos nenhum dos dois era flor que se cheirasse, muito competitivos, arrogantes e provavelmente bem frescurentos, mas o que a história nos deixa de suas criações sugere que tinha algo que compensava, e muito. Mesmo na relativamente progressista Itália renascentista, ainda estávamos sob controle total da Igreja Católica e homossexualidade ainda era crime.
Para tanta gente fazer vistas grossas para os inúmeros indícios nos dois, era porque realmente eram amados pelo povo. Pelo menos o povo que gostava de arte… digo isso porque se você tentar argumentar sobre os dois tentando descobrir quem era mais bacana de estar por perto, duvido que vá ter um claro vencedor. Duas divas.
Mas a diva da Vinci tinha aquele algo a mais: mesmo que boa parte dos seus ingressos na área científica tenham sido feitos sem muito estudo clássico (Leonardo não era muito fã de matemática), ainda sim suas ideias adiantaram muitas das tecnologias que seriam desenvolvidas no futuro.
É aqui que eu traço a linha. A arte de Michelangelo me parece tecnicamente mais apurada, mas de da Vinci é mais imaginativa. É a diferença entre obsessão técnica e obsessão criativa. Por mais que os grandes especialistas tenham ajudado muito na evolução da espécie, foram os polímatas e sua incapacidade patológica de concentração que foram juntando os pontos do conhecimento humano para avançar a ideia de tecnologia e ciência.
E a minha impressão sobre a relação entre os dois é que o próprio Michelangelo preferia Leonardo. Quando ambos se conheceram, Leonardo já era uma personalidade gigantesca na região, Michelangelo enxergava Leonardo como a geração anterior para enfrentar, o jovem sendo jovem. Leonardo não precisa pegar no pé de Michelangelo, mas Michelangelo precisava se posicionar sobre Leonardo para se apresentar ao mundo como uma criatividade própria.
E pelo o que sabemos da personalidade de ambos, Leonardo tinha mais capacidade de viver na sociedade vigente, é muito provável que o complicadíssimo Michelangelo se sentisse inferiorizado. Sim, todo mundo acha divertido o gênio incompreendido, mas são as pessoas menos fodidas da cabeça que realmente impactam o mundo. É muito provável que os ataques de pelanca de Leonardo fossem vistos com mais simpatia do que os de Michelangelo.
E esse reforço vira parte da história de uma pessoa: Leonardo cresceu durante a vida, impactando diversos campos do conhecimento, Michelangelo foi definhando pela obsessão pela perfeição. Séculos depois, um é lembrado como uma das molas de desenvolvimento humano e outro como um grande artista. Fez diferença.
E eu repito, da Vinci não era lá um gênio científico como se pinta por aí, era uma pessoa muito curiosa e criativa, mas suas teimosias (especialmente a arrogância de não querer se aprofundar em ciências naturais e matemática) impediram que a imaginação virasse ciência praticável. A imagem de Leonardo da Vinci como um grande inventor e estudioso é bem recente, historicamente ele passou a maior parte do tempo como sendo um artista influente mesmo.
E veja só, chegou nos tempos modernos disputando com Michelangelo no campo de Michelangelo. Leonardo da Vinci era comparável antes mesmo de considerarmos todas as criações fora do campo puramente artístico-religioso pelo qual os grandes mestres da Renascença eram analisados. Da Vinci tinha isso e mais.
Michelangelo inspira artistas, Leonardo inspira artistas, cientistas, engenheiros, médicos, etc. O impacto que ele deixou aumentou de tamanho imensamente com o passar dos séculos. Isso é prova de uma mente mais interessante. E sim, da Vinci não inventou o helicóptero ou as outras coisas que dizem por aí, porque quase nada funcionava matematicamente, mas ele pensou nos conceitos. Ele mexeu com a imaginação de muitos.
E ele criou uma figura histórica baseada em inteligência. Não era um lutador, não era um conquistador, nem mesmo alguém “tocado por um deus para ter talento artístico”, Leonardo era uma mente acima de tudo. E eu acredito que esse é o tipo de imagem que faz bem para a humanidade como um todo. Exemplos de mentes brilhantes.
É esse o modelo de pessoa que nos inspira a desenvolver o cérebro além de uma habilidade manual ou de modas que só valem naquele momento histórico. A mente brilhante é para sempre, e todo jovem que conhece a história de Leonardo da Vinci acessa um novo lugar da mente, um que preza o todo do nosso conhecimento. Um sonho de levar a inteligência a lugares que nunca foram visitados antes.
Como eu disse, eu até cedo o ponto que Michelangelo foi tecnicamente superior, mas não que foi uma figura histórica superior. Provavelmente muito sobre a vida dos dois foi alterado e aumentado nos séculos seguintes, provavelmente não eram pessoas tão iluminadas assim, mas o que sobrevive à história é o que realmente importa.
E nesse ponto, Leonardo é minha tartaruga ninja preferida.
Para dizer que te ajudou a dormir, para dizer que não se mete em briga de viado, ou mesmo para dizer que os dois acreditavam em cobra falante (naquele tempo era obrigatório): comente.
SALLY
Leonardo da Vinci ou Michelangelo?
Dando continuidade à nossa Semana Antiviral, com temas que amamos, mas que sabemos que não interessam à maior parte das pessoas, vamos trazer de volta uma rivalidade antiga. Qual desses dois gênios você prefere? Eu prefiro Michelangelo.
Para quem não sabe, Leonardo e Michelangelo só eram amigos no desenho das Tartarugas Ninja. Na vida real desgostavam um do outro e viviam trocando farpas. Michelangelo, talvez por ser bem mais jovem, era mais abusado.
Não é preciso estudar muito para perceber o quanto Michelangelo incomodava da Vinci, que fez tudo que podia para sabotá-lo, desde falar mal dele por todos os lados, até sugerir que se tape a genitália do Davi, insinuando que a obra era inadequada.
Por exemplo, em uma reunião na qual se discutia um trecho de um livre de Dante, da Vinci tentou jogar o jovem Michelangelo na fogueira. Quando perguntado sobre como ele interpretava aquele trecho, respondeu “Michelangelo vai explicar para vocês”. Michelangelo não se deixou constranger e respondeu “Explique-se você, que fez um modelo de cavalo que jamais poderia terminar.” Ele se referia à estátua chamada “O grande cavalo”, um projeto que da Vinci de fato nunca foi capaz de concluir.
Assim que eu gosto. Bem afrontoso. E essa personalidade se reflete em toda sua obra. Quem mais teria a ideia genial (e os culhões para executar) de pintar a Bíblia em quadrinhos? Melhor: deixou várias mensagens indecorosas ocultas nas obras que fez para igrejas. Vários easter eggs ofensivos. Tem como não amar? Ficou com o nariz deformado depois de levar um murro de um colega pelas críticas que fez ao trabalho dele? Ficou. Mas ganhou meu coração.
Não tem como não escolher um tio que pintou, com andaime e pincel, em 1508, o teto da Capela Sistina. Sozinho. Sem ajuda. Sim, você pode jogar na minha cara trocentos feitos relevantíssimos de Leonardo da Vinci, mas, para mim, nada nunca vai se comparar ao teto da Capela Sistina.
Não tem como não escolher um tio que viu um bloco de mármore e com um martelo e um cinzel tirou o Davi dali. Ou que viu um bloco de mármore e conseguiu esculpir a estátua de Moisés. São obras gigantes e com uma riqueza de detalhes absurda. Tem detalhes anatômicos de músculos e tendões que a ciência só catalogou séculos depois e estão esculpidos nas obras dele.
E trabalhava em condições insalubres. A precariedade da época, o material muitas vezes tóxico das tintas e até Papas desferindo golpes de bengala na sua cabeça por achar que estava demorando demais a terminar sua obra (só para citar um nome, o Papa Julio II o agrediu várias vezes por causa da demora na entrega do teto da Capela Sistina).
As obras de Michelangelo são a materialização da perfeição. Tudo estético, tudo bem harmonizado, tudo bonito. Pegar um bloco de mármore e cutucar até virar o Davi é algo que, para mim, sempre será além do humano. Por mais que me expliquem como ele estudou anatomia, dissecou cadáveres e fez o impossível para conhecer e reproduzir o corpo humano com perfeição, eu ainda acho o que ele fez inalcançável. São mais de cinco metros de altura e pesa mais de cinco toneladas. E é perfeito. Cada detalhe, cada veia, cada unha.
Além de tudo, o Michelangelo era ruim de delegar, acabava fazendo quase tudo sozinho, o que só aumenta seu mérito, quando pensamos na grandiosidade da sua obra. A Monalisa tem 77x53cm e demorou quase quatro anos para ficar pronta. O teto da Capela Sistina tem 40 metros por 14 metros de superfície e mais de 20 metros de altura e também demorou 4 anos para ser pintada – e sem ajuda de assistentes.
Sem querer ser escrota nem ignorante, reconheço totalmente o valor de Leonardo da Vinci, mas pintor de quadrinho pequeno bom temos vários. Michelangelo tivemos um só. Alguém que, sozinho, faça coisas dessa grandiosidade é um evento raro na história. Tanto é que quando Leonardo tentou fazer seu cavalão não conseguiu.
“Mas Sally, da Vinci era inventor”. De coisas que, em sua maioria, não funcionavam. Tenta voar com o helicóptero dele e depois me conta. É a síndrome do pato: corre, nada e voa, mas não faz nenhuma das coisas com excelência.
Eu fico com a impressão que as obras de da Vinci são muito boas, mas, boa parte da sua fama é pelo tanto que falam delas. Se a gente pudesse encontrar uma pessoa sem qualquer influência, que nunca tenha ouvido falar de nenhum dos dois nem de suas obras, e expuser o trabalho de ambos, eu duvido que a pessoa não fique mais deslumbrada com o do Michelangelo.
Provocações infantis à parte, quando falamos de arte, é questão de gosto. Ambos são, provavelmente, os artistas mais geniais que já pisaram no planeta. O seu favorito será mera questão de preferência sua. Pegue as obras mais famosas de um (A Última Ceia e a Monalisa) e compare com as obras mais famosas do outro (teto da Capela Sistina e Davi) e veja de quem você gosta mais.
Para dizer que Michelangelo é Rafael Pilha com pincel, para dizer que não nos deveria ser permitido sequer pronunciar o nome deles ou ainda para dizer que esta semana vai ser dura de engolir: comente.
Ge
Nossa, difícil essa. Lembro-me de ter visto uma exposição no ibirapuera uma vez, nos idos de 2006-7, sobre Da Vinci, que tinha duas partes: uma contendo a réplica das engenhocas que ele supostamente inventou, e outra contendo detalhes sobre anatomia humana que ele descobriu. Bem interessante, foi impactante num sentido positivo ver tudo aquilo.
Agora, entendo também o lado da Sally, até porque quem já esteve na Capela Sistina e viu de perto aquilo lá, olha… É realmente impressionante, tu fica sem palavras por tamanha experiência estética.
UABO
Dizem que, depois de ver “ao vivo” o teto da Capela Sistina, uma pessoa nunca mais é a mesma, tamanho o impacto…
Torpe
Não costumo comentar nesse tipo de tópico, mas devo dizer que apóio Michelangelo.
Mesmo sem o comentário sobre o possível “plágio”, tudo leva a crer que Deu Vinte tinha, na melhor das hipóteses, imaginação fértil sem se aprofundar no estudo (generalista é mestre de nada).
Sim, admirável o ensejo, mas pálida a execução.
Paula
Eu não conheço a obra dos dois o suficiente para opinar com propriedade, mas diria que Michelangelo fazia obras bonitas e Da Vinci fazia obras… rústicas. Prefiro o estilo do Michelangelo, mas não chego a desgostar do Da Vinci.
Ler sobre as brigas dos dois é fascinante, porém. Já tinha lido sobre a personalidade do Leonardo da Vinci num livro, mas não sabia que o Michelzinho era afrontoso assim, só tinha ouvido falar da treta da Capela Sistina. Vou ter de pesquisar mais, adoro tretas históricas!
Sally
Ninguém aqui conhece o suficiente para opinar, mas isso não nos impediu! hahahahaha
Suellen
“E eu repito, da Vinci não era lá um gênio científico como se pinta por aí, era uma pessoa muito curiosa e criativa, mas suas teimosias (especialmente a arrogância de não querer se aprofundar em ciências naturais e matemática) impediram que a imaginação virasse ciência praticável”.
“‘Mas Sally, da Vinci era inventor’. De coisas que, em sua maioria, não funcionavam. Tenta voar com o helicóptero dele e depois me conta. É a síndrome do pato: corre, nada e voa, mas não faz nenhuma das coisas com excelência”.
No sentido de curiosidade, há um livro chamado 1434, cujo autor (Gavin Menzies) alega que alguns dos projetos de máquinas de Da Vinci nada tinham de inéditos, mas sim teriam sido baseados em ilustrações de projetos existentes descritos em enciclopédias, mapas e outros documentos presenteados por chineses quando estes passaram por Veneza por volta de 1430 (chineses sendo pirateados, que irônico…).
Sugiro lerem 1421, também desse mesmo autor. Corroborou algumas cismas que tinha, como, por exemplo, a gramática de algumas línguas indígenas seguirem a mesma lógica do japonês…
Sally
Muito legal, vou ler!
F5
Muito legal e vou ter/ler, porém eu já estava concentrado em importar (sobre 4×3) um tal de “Sexta-feira é o novo sábado”…
Anubian
Pela história das sagas dos quadrinhos, o Michelângelo é a tartaruga ninja mais forte.
Sally
HAHAHAHAHAHAHAHA