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Soluços.

Quem nunca teve uma crise de soluços? Os espasmos involuntários que vêm garganta acima acompanham o ser humano podem ser apenas um incômodo passageiro ou uma condição terrível sem fim. E hoje eu estou aqui para te explicar que soluços… não existem.

Da próxima vez que você começar a soluçar, basta se lembrar que soluços não existem. Sério, mentalize que é uma condição imaginária, que seu corpo não tem nenhum motivo para fazer isso e que provavelmente é um bug evolutivo que vem desde o tempo de nossos ancestrais marítimos. Claro, o movimento de soluçar existe, mas ele é resultado de alucinação que todos temos, porque não faz nada que não possa ser parado imediatamente.

O simples fato de pensar que soluços não existem é capaz de fazê-los parar imediatamente. É como se você acordasse de um transe. Desde que eu descobri que soluços não existem, no primeiro que eu tenho eu faço esse reforço mental que eles não existem e todas as vezes que fiz isso, o soluço parou imediatamente. Não um minuto depois, o próximo soluço que parecia que viria simplesmente desaparece.

Agora que você saiu da Matrix, eu quero que você faça esse experimento da próxima vez que começar a soluçar. Não precisa nada além de pensar para você mesmo que soluços não existem e comprovar na prática que eles param. E que só continue lendo o resto do texto depois de ter tentado fazer isso pelo menos uma vez.

Se você já sabia que soluços não existem ou já fez o teste prático, pode continuar lendo.

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    Agora, vamos falar a verdade. Soluços existem. Eu “menti” para você primeiro porque quero que você tenha a experiência completa de conseguir parar um processo físico com o poder da mente. Os motivos usados para explicar esse fenômeno são bem discutíveis.

    Mas é verdade que para muita gente o simples fato de pensar que soluços não existem e são apenas uma ilusão mental resolve na hora. Eu testei isso e realmente, nunca mais passei de um ou dois soluços. Vem, você lembra que pode parar com eles imediatamente só pensando nisso e não acontece de novo!

    O que não quer dizer que funcione com todo mundo. Talvez um de vocês que tenha descoberto isso agora não tenha tido sucesso, e só agora começou a entender sobre o que diabos é este texto. E se você avançou o sinal e leu sem fazer o teste prático, saiba que não impede o funcionamento da tática, só tira um pouco da mágica do processo.

    Soluços são reais, mas são muito suscetíveis à vontade do dono em condições normais de temperatura e pressão. Todo mundo já ouviu um truque infalível, antes da “simpatia da negação ontológica do ser soluçal” eu tentava a de segurar a respiração, com resultados medianos. Nenhuma alternativa é mais válida que a outra, são todas imaginárias do mesmo jeito.

    Mas o que é o soluço?

    Sei lá.

    Tá bom, espera… existem teorias com diversos níveis de fundamentação sobre o fenômeno. Uma coisa que corrobora com a existência do soluço no plano material é que outros mamíferos também têm soluços. E é claro, crianças pequenas também soluçam, não poderia ser uma construção mental pura numa mente ainda não desenvolvida.

    O mecanismo evolutivo que gera os soluços não é bem compreendido, porque em tese eles não fazem nada que preste para o ser vivo em questão. Nós sabemos que é um espasmo do diafragma (músculo usado puxar e soltar o ar mexendo na pressão dentro da sua garganta), e que a lógica dos músculos e nervos que controlam a respiração é bem parecida entre várias espécies, voltando até o passado oceânico da vida. Isso sugere que seja lá a função original do soluço, pode ter começado tão no passado que o mundo de hoje nem bate mais com as condições da época. Seja lá o que for, ficou até hoje.

    Uma das ideias prevalentes é que o soluço é um movimento respiratório que evoluiu antes dos pulmões. Girinos usam algo parecido com um soluço para puxar ar antes de terem seus pulmões plenamente desenvolvidos. E não, não acontece com seres humanos nem na nossa fase de “girino”: o bebê sai respirando com pulmões feitos e na barriga é a mãe que respira, mandando sangue rico em oxigênio para o feto. Se essa é mesmo a resposta, soluços são algo que ficou perdido lá nos seus instintos ancestrais e que eventualmente dispara por algum estímulo. É para parar assim que o estímulo para, ou até antes se você conseguir fazer seu corpo mudar o foco.

    Por não ter função definida para nos ajudar, o soluço pode ser combatido pela via psicológica com o truque de dizer que ele não existe. Você não perde nada ao deixar de soluçar. Espirro você tem que deixar sair, mas soluço não. É realmente irrelevante se ele acontece ou não.

    Como aparentemente a idade diminui a chance de ter episódios de soluços, existe uma teoria que o soluço seja uma vantagem evolutiva para mamíferos jovens, porque removeria bolhas de ar do esôfago e aumentaria a capacidade de absorver leite materno. Está definido? Não, mas explicaria algumas coisas e faria o processo ser menos inútil.

    Como lidar?

    O que é a ciência diz é para você esperar calmamente porque passa rápido, raramente mais que meia hora. Se você realmente não conseguir parar de soluçar depois de várias e várias horas, pode começar a considerar suas opções. Explico: soluços podem ser sintomas de algum problema mais sério, é raro, mas acontece. Se você passar umas 12 horas soluçando sem parar, vai para o pronto-socorro porque é melhor pecar pelo excesso nessas horas. Provavelmente não vai ser nada, mas pra quê arriscar, né? Fala para o médico escrever o nome em latim do soluço (Singultus) para o atestado ficar menos vergonhoso para você.

    Soluços que duram mais que 48 horas são chamados de persistentes, e existem pobres almas que passam por soluços intratáveis: são os que duram mais de um mês. Quando você chega nesse tipo de duração de soluços, não é mais para você tentar resolver sozinho, vai precisar de médicos. Existem vários tratamentos realizados por profissionais, e nos casos mais hardcore, dá até para colocar um estimulador do nervo vago, que literalmente fica zapeando o nervo com eletricidade para controlar o movimento involuntário.

    Eu quase não mencionei porque pode ser divertido demais para a semana Antiviral: existe um caso estudado de um paciente que tinha soluços constantes depois de uma operação na traqueia, e que ele descobriu que uma massagem com o dedo no… ânus fazia passar. Depois disso, com outra crise de soluços tentou de novo, e funcionou de novo. Longe de mim querer julgar o outro, se eu tivesse soluços constantes e me dissessem que só passaria com uma massagem anal… é compreensível. A minha dúvida só é com como esse cidadão descobriu isso pela primeira vez. Mistérios da ciência.

    Bom, cura mesmo não tem. Porque faltam estudos aprofundados sobre o tratamento, e francamente, até sobre o que é o soluço. É uma minoria pra lá de minoria da humanidade que tem soluços intratáveis, quase todos nós vamos passar a vida sem pensar mais que meia vez neles. É o tipo de caso que se entende a falta de pesquisa: pouca demanda.

    Claro, além de falar sobre o fascinante truque da negação mental do soluço, eu também queria deixar escrito em algum lugar que é uma solução fascinante, mas que não é para todo mundo e quando impede, só impede o soluço comum, chamado de benigno. O soluço existe sim e quem disser o contrário está tirando conclusões sem fundamentação na realidade.

    Mas que é fascinante parar soluço dizendo que ele não existe… isso é. Espero que eu não tenha estragado essa solução placebo para você, para mim continua funcionando.

Para dizer que isso é o que eles querem que pensemos, para dizer que volta aqui quando tiver soluço, ou mesmo para dizer que realmente foi uma semana antiviral: comente.

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corpo humano, psicologia, saúde, soluço

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