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Preconceito de gênero.

Preconceito de gênero.

| Desfavor | | 22 comentários em Preconceito de gênero.

Com tantas discussões de gênero na sociedade moderna, Sally e Somir não se escondem da polêmica e dizem qual deles não se importam em nunca mais ver. Os impopulares são cancelados.

Tema de hoje: se você tivesse que abdicar de um gênero de filme para o resto da sua vida, qual seria?

SOMIR

Tempo de leitura: 118 minutos mais os trailers

Resumo da B.A.: o texto perpetua masculinidade tóxica ao dizer que sentimentos não são importantes e que mulheres devem ser proibidas de se expressar.

POWERED BY B.A.

Drama. A vida já tem o suficiente. O enunciado é importante aqui, porque não estamos proibindo os outros de verem o que nós não gostamos. Estamos apenas nos levantando e saindo do cinema sem fazer alarde. Se você tem menos de 30 anos de idade, talvez precise pesquisar o que é um cinema.

Eu não ligo para dramas. E sim, eu sei que drama não é sinônimo de história triste por ser triste, que o gênero embarca desde histórias preguiçosas para forçar lágrimas (pornografia sentimental) até muitas das maiores obras-primas do cinema mundial. Eu com certeza perderia a chance de ver alguns filmes excelentes no resto da minha vida, mas… convenhamos que a média não é lá essas coisas.

O drama está muito conectado com histórias banais da vida humana. Algo que na mão de roteiristas, diretores e atores de qualidade pode ser fascinante, mas sem essa fagulha de criatividade e sensibilidade, tende a ficar meio parecido com novela mesmo. Eu não sei mais quantas vezes eu consigo ver histórias sobre gente tomando chifre, se afastando de amigos e família, ficando doente ou tendo dificuldade de pagar as contas com algum interesse genuíno.

Talvez minha mente mais orientada a objetos do que pessoas enjoe disso com mais facilidade (é mais comum homens terem esse tipo de mente, mas não é exclusividade). O resultado continua sendo que dramas me parecem repetitivos demais com o passar dos anos. Se você já for adulto há um bom tempo, grandes chances de ter passado pelas situações de filmes de drama em primeira pessoa. Falta novidade.

Novidade que eu consigo encontrar nos outros gêneros, mesmo os que eu acho meio merda como a escolha da Sally. Talvez fosse minha segunda opção não fossem os dramas. Filmes de ação, comédia, ficção científica, fantasia e os mais diversos outros tipos conseguem me entregar coisas que não fazem parte do meu cotidiano. Sim, mesmo comédias, porque por mais que aconteçam coisas engraçadas na vida, às vezes estamos dentro demais da situação para perceber a graça.

Pode chamar de escapismo, porque talvez seja mesmo. Eu prefiro ver na tela coisas que não são a minha vida, nem nada que tenha cara que possa acontecer na minha vida. A graça da imaginação é multiplicar os caminhos que a mente pode seguir. Dificilmente o drama faz algo do tipo.

E eu sei que alguém pode argumentar que no fundo todos os filmes são dramas, porque sem conexão emocional nenhuma história avança. Faz sentido, mas não cabe na discussão do tema: temos que escolher um gênero, e o gênero Drama existe, tanto que em prêmios como o Globo de Ouro separam de Comédia e Musicais. Minha opinião impopular aqui é que filme que não tem mais nada para se definir acaba na vala comum de drama, é meio como se na falta de outro adjetivo, focassem nessa parte.

Então sim, faz sentido dizer que no fundo todo filme é drama, mas nesse argumento eu posso encaixar que eu prefiro ficar com os filmes que fizeram por merecer outra categoria antes de ficarem sem opção nenhuma além de drama. Porque se você pensar bem, é o fundo do poço mesmo.

O que influencer faz quando não tem mais nada para dizer? Drama. Chilique, choro, briga, vitimização… é o gênero de quem não tem outro gênero. Mesmo que eu ache musicais um saco também, alguém ali tinha talento para fazer música e cantar.

Repito: alguns dos melhores filmes de todos os tempos são dramas. Drama não é sinônimo de porcaria, é só a categoria final onde os filmes mais sem graça e imaginação caem juntos. Mesmo num filme de terror horrível daqueles que eu gosto há uma tentativa de sair do marasmo da vida cotidiana.

Vai além do gosto. O meu é uma desgraça, eu prefiro ver duas horas de alguém consertando uma placa de computador antigo do que ver 99% dos filmes que saem hoje em dia. Nem estou dizendo que se você gosta de drama seu gosto é objetivamente pior, mas estou dizendo que é um gênero onde a qualidade compete diretamente com o entretenimento. Filme de terror ruim ainda pode ser engraçado. Drama ruim é chato demais.

Eu aceito perder filmes espetaculares desse gênero para nunca mais lidar com a mediocridade entediante do gênero.

SALLY

Tempo de leitura: 7 minutos

Resumo da B.A.: o texto é a favor de proibir a música e de regulamentar o cinema nacional.

POWERED BY B.A.

Se você tivesse que abdicar de um gênero de filme para o resto da sua vida, qual seria?

Musicais. Primeiro por achar insuportável e causar mal-estar ao meu cérebro ver as pessoas abrindo a boca para falar e cantando. Segundo por ser uma forma de não excluir gênero algum, já que musicais pode ser de qualquer outro gênero combinado, como drama, comédia, ficção, etc.

O que eu espero de um diálogo em um filme: que as pessoas abram a boca e falem. Não é muito, certo? Podem abrir a boca e cantar também, mas com a intenção de cantar. Fala e canta, cada um no devido momento, no devido contexto. Abrir a boca para falar e falar cantando me incomoda. Me soa algo como teatro infantil.

Talvez eu seja tosca? Talvez. Sagrado direito meu. Se quero ver cantar vou a show, se quero ver atuar, vou a filme. Quero ver atuar cantando? Não quero, mas se quisesse iria a musicais de teatro. Cinema cantado me estressa. Uma coisa meio barro, meio tijolo, que não aproveita o que tem de melhor no filme nem na música.

“Mas Sally, qual é a diferença? Por que musicais no teatro não te irritam?”. Me irritam, mas eu considero uma abominação menor, já que você pode desfrutar de pessoas cantando bem ao vivo, que certamente é uma experiência muito mais válida do que ver pessoas cantando em playback.

Ir ao cinema para ver gente mexendo os lábios enquanto toca uma gravação me parece vazio, sem propósito e sacal. Sem contar que três horas seguidas cantadas dá nos nervos, nem em show de banda ou cantor famoso temos isso: canta 4 minutos, fala um pouquinho com a plateia. Se show fosse 3 horas seguidas cantando sem parar me incomodaria da mesma forma.

Ainda tem o agravante de que musical geralmente tem um ar teatral que eu detesto. Já devo ter dito isso aqui algumas vezes, mas vou repetir, afinal, nunca é tarde para fornecer as pedras que vão atirar em você: eu vou ao cinema para ver gente bonita. Se quisesse ver gente feia voltava ao Brasil e dava um rolê no centro do Rio de Janeiro. Eu preciso de pessoas belas, cenários belos. Nada de pobreza, gente assimétrica, cenário deprimente.

E musical, salvo honrosas exceções, tem sempre essa aura teatral precária ou over. Não, obrigada. Tem musical que foge à regra? Tem. Moulin Rouge, todos belíssimos, glamurosos, simétricos. E as músicas não focam em diálogo de personagem e sim e músicas que já existem que foram encaixadas no contexto dos personagens. Gente bonita + cultura pop = tolerável. Mas a regra? Tudo um horror estético, ou para o lado da pobreza, ou para o lado over querendo agradar o público gay afetado.

Agora não me venha com coisa séria, supostamente para me emocionar ou deixar tensa, cantadinha. Acho um desaforo. Fica ridículo. Tipo Grey’s Anatomy quase matando uma personagem importante em um acidente e o episódio todo ela cantando entre a vida e a morte. Enfia um abacaxi no cu e roda – enquanto canta. Sou tosca. Sou simplória. Sou tudo de ruim que vocês quiserem, mas não vejo valor artístico nisso, só ridículo.

Vamos tentar transcender minha tosquice e ver como, muito além dela, abrir mão de musicais é a melhor escolha.

Pense nos principais gêneros: drama, comédia, ação, ficção, suspense, terror… Todos eles certamente têm filmes memoráveis que você não gostaria de perder. Remover um deles seria um decréscimo de obras que impactaram sua vida de forma positiva. Agora me diz, se a gente tirasse o musical, o quanto isso te impactaria?

Tirando a Noviça Rebelde, que, cá entre nós, tem a maior parte do filme falado, as músicas só são cantadas quando os personagens de fato cantam, praticamente nada. Musical não é filme para impactar sua vida, é filme para ator mostrar como é versátil. “Mas Sally, La La Land…”. Não vi. Não vejo musicais faz bastante tempo. Estou limpa desde 2002 e não penso em recair.

Passar mensagem cantando me parece coisa para criança que não consegue focar três horas de atenção em falas. Me ofende. Me dá desgosto. “Mas Sally você não tem sutileza artística…”. Nenhuma. Qual parte do “se não tiver gente bonita eu nem quero ver” você não entendeu? Me deixa em paz. Vai ver filme nacional, cheio de gente oleosa, pobreza, favela e pessoas assimétricas. Aproveita que está em alta, pois com a vitória do Trump os hippies do Oscar vão prestigiar tudo que encontrarem mais à esquerda.

Dramas nos preparam para problemas da vida real, nos permitem aprender com os erros dos personagens sem precisar vivenciá-los, nos permitem entender como pessoas deram a volta por cima depois de situações difíceis. Eu não abro mão de dramas, eles têm algo a me acrescentar. A menos que a pessoa esteja cantando, pois aí o bom conteúdo foi para a casa do caralho e a preocupação principal dos diálogos é com rimas ou com a métrica da música.

O simples fato de cantar já tolhe a interpretação. Dificilmente um ator vai conseguir expressar um sentimento comovente de dor, tristeza ou qualquer outro se estiver cantando. O tom de voz, a linguagem corporal, tudo fica comprometido. E a música distrai de todo o resto. Não, mil vezes não, vão cantar no chuveiro ou em show de música, no filme, por gentileza, falem.

Se eu quiser ver gente cantando, vou ver ao vivo. E vou ver gente que faz isso: canta. Assim como cantor atuando, via de regra, não costuma ser grandes merda, ator cantando também não. Cada um no seu quadrado. Quando quero boa música vou em show, quando quero boa atuação vou em filme. Tentar fazer os dois em um quase nunca dá certo, fica atuação capenga, trama capenga, música capenga.

Vai cantar no palco, filho da puta! No filme, por gentileza, fala. É pedir demais?


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