
Preconceito de gênero.
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Com tantas discussões de gênero na sociedade moderna, Sally e Somir não se escondem da polêmica e dizem qual deles não se importam em nunca mais ver. Os impopulares são cancelados.
Tema de hoje: se você tivesse que abdicar de um gênero de filme para o resto da sua vida, qual seria?
SOMIR
Tempo de leitura: 118 minutos mais os trailers
Resumo da B.A.: o texto perpetua masculinidade tóxica ao dizer que sentimentos não são importantes e que mulheres devem ser proibidas de se expressar.
Drama. A vida já tem o suficiente. O enunciado é importante aqui, porque não estamos proibindo os outros de verem o que nós não gostamos. Estamos apenas nos levantando e saindo do cinema sem fazer alarde. Se você tem menos de 30 anos de idade, talvez precise pesquisar o que é um cinema.
Eu não ligo para dramas. E sim, eu sei que drama não é sinônimo de história triste por ser triste, que o gênero embarca desde histórias preguiçosas para forçar lágrimas (pornografia sentimental) até muitas das maiores obras-primas do cinema mundial. Eu com certeza perderia a chance de ver alguns filmes excelentes no resto da minha vida, mas… convenhamos que a média não é lá essas coisas.
O drama está muito conectado com histórias banais da vida humana. Algo que na mão de roteiristas, diretores e atores de qualidade pode ser fascinante, mas sem essa fagulha de criatividade e sensibilidade, tende a ficar meio parecido com novela mesmo. Eu não sei mais quantas vezes eu consigo ver histórias sobre gente tomando chifre, se afastando de amigos e família, ficando doente ou tendo dificuldade de pagar as contas com algum interesse genuíno.
Talvez minha mente mais orientada a objetos do que pessoas enjoe disso com mais facilidade (é mais comum homens terem esse tipo de mente, mas não é exclusividade). O resultado continua sendo que dramas me parecem repetitivos demais com o passar dos anos. Se você já for adulto há um bom tempo, grandes chances de ter passado pelas situações de filmes de drama em primeira pessoa. Falta novidade.
Novidade que eu consigo encontrar nos outros gêneros, mesmo os que eu acho meio merda como a escolha da Sally. Talvez fosse minha segunda opção não fossem os dramas. Filmes de ação, comédia, ficção científica, fantasia e os mais diversos outros tipos conseguem me entregar coisas que não fazem parte do meu cotidiano. Sim, mesmo comédias, porque por mais que aconteçam coisas engraçadas na vida, às vezes estamos dentro demais da situação para perceber a graça.
Pode chamar de escapismo, porque talvez seja mesmo. Eu prefiro ver na tela coisas que não são a minha vida, nem nada que tenha cara que possa acontecer na minha vida. A graça da imaginação é multiplicar os caminhos que a mente pode seguir. Dificilmente o drama faz algo do tipo.
E eu sei que alguém pode argumentar que no fundo todos os filmes são dramas, porque sem conexão emocional nenhuma história avança. Faz sentido, mas não cabe na discussão do tema: temos que escolher um gênero, e o gênero Drama existe, tanto que em prêmios como o Globo de Ouro separam de Comédia e Musicais. Minha opinião impopular aqui é que filme que não tem mais nada para se definir acaba na vala comum de drama, é meio como se na falta de outro adjetivo, focassem nessa parte.
Então sim, faz sentido dizer que no fundo todo filme é drama, mas nesse argumento eu posso encaixar que eu prefiro ficar com os filmes que fizeram por merecer outra categoria antes de ficarem sem opção nenhuma além de drama. Porque se você pensar bem, é o fundo do poço mesmo.
O que influencer faz quando não tem mais nada para dizer? Drama. Chilique, choro, briga, vitimização… é o gênero de quem não tem outro gênero. Mesmo que eu ache musicais um saco também, alguém ali tinha talento para fazer música e cantar.
Repito: alguns dos melhores filmes de todos os tempos são dramas. Drama não é sinônimo de porcaria, é só a categoria final onde os filmes mais sem graça e imaginação caem juntos. Mesmo num filme de terror horrível daqueles que eu gosto há uma tentativa de sair do marasmo da vida cotidiana.
Vai além do gosto. O meu é uma desgraça, eu prefiro ver duas horas de alguém consertando uma placa de computador antigo do que ver 99% dos filmes que saem hoje em dia. Nem estou dizendo que se você gosta de drama seu gosto é objetivamente pior, mas estou dizendo que é um gênero onde a qualidade compete diretamente com o entretenimento. Filme de terror ruim ainda pode ser engraçado. Drama ruim é chato demais.
Eu aceito perder filmes espetaculares desse gênero para nunca mais lidar com a mediocridade entediante do gênero.
SALLY
Tempo de leitura: 7 minutos
Resumo da B.A.: o texto é a favor de proibir a música e de regulamentar o cinema nacional.
Se você tivesse que abdicar de um gênero de filme para o resto da sua vida, qual seria?
Musicais. Primeiro por achar insuportável e causar mal-estar ao meu cérebro ver as pessoas abrindo a boca para falar e cantando. Segundo por ser uma forma de não excluir gênero algum, já que musicais pode ser de qualquer outro gênero combinado, como drama, comédia, ficção, etc.
O que eu espero de um diálogo em um filme: que as pessoas abram a boca e falem. Não é muito, certo? Podem abrir a boca e cantar também, mas com a intenção de cantar. Fala e canta, cada um no devido momento, no devido contexto. Abrir a boca para falar e falar cantando me incomoda. Me soa algo como teatro infantil.
Talvez eu seja tosca? Talvez. Sagrado direito meu. Se quero ver cantar vou a show, se quero ver atuar, vou a filme. Quero ver atuar cantando? Não quero, mas se quisesse iria a musicais de teatro. Cinema cantado me estressa. Uma coisa meio barro, meio tijolo, que não aproveita o que tem de melhor no filme nem na música.
“Mas Sally, qual é a diferença? Por que musicais no teatro não te irritam?”. Me irritam, mas eu considero uma abominação menor, já que você pode desfrutar de pessoas cantando bem ao vivo, que certamente é uma experiência muito mais válida do que ver pessoas cantando em playback.
Ir ao cinema para ver gente mexendo os lábios enquanto toca uma gravação me parece vazio, sem propósito e sacal. Sem contar que três horas seguidas cantadas dá nos nervos, nem em show de banda ou cantor famoso temos isso: canta 4 minutos, fala um pouquinho com a plateia. Se show fosse 3 horas seguidas cantando sem parar me incomodaria da mesma forma.
Ainda tem o agravante de que musical geralmente tem um ar teatral que eu detesto. Já devo ter dito isso aqui algumas vezes, mas vou repetir, afinal, nunca é tarde para fornecer as pedras que vão atirar em você: eu vou ao cinema para ver gente bonita. Se quisesse ver gente feia voltava ao Brasil e dava um rolê no centro do Rio de Janeiro. Eu preciso de pessoas belas, cenários belos. Nada de pobreza, gente assimétrica, cenário deprimente.
E musical, salvo honrosas exceções, tem sempre essa aura teatral precária ou over. Não, obrigada. Tem musical que foge à regra? Tem. Moulin Rouge, todos belíssimos, glamurosos, simétricos. E as músicas não focam em diálogo de personagem e sim e músicas que já existem que foram encaixadas no contexto dos personagens. Gente bonita + cultura pop = tolerável. Mas a regra? Tudo um horror estético, ou para o lado da pobreza, ou para o lado over querendo agradar o público gay afetado.
Agora não me venha com coisa séria, supostamente para me emocionar ou deixar tensa, cantadinha. Acho um desaforo. Fica ridículo. Tipo Grey’s Anatomy quase matando uma personagem importante em um acidente e o episódio todo ela cantando entre a vida e a morte. Enfia um abacaxi no cu e roda – enquanto canta. Sou tosca. Sou simplória. Sou tudo de ruim que vocês quiserem, mas não vejo valor artístico nisso, só ridículo.
Vamos tentar transcender minha tosquice e ver como, muito além dela, abrir mão de musicais é a melhor escolha.
Pense nos principais gêneros: drama, comédia, ação, ficção, suspense, terror… Todos eles certamente têm filmes memoráveis que você não gostaria de perder. Remover um deles seria um decréscimo de obras que impactaram sua vida de forma positiva. Agora me diz, se a gente tirasse o musical, o quanto isso te impactaria?
Tirando a Noviça Rebelde, que, cá entre nós, tem a maior parte do filme falado, as músicas só são cantadas quando os personagens de fato cantam, praticamente nada. Musical não é filme para impactar sua vida, é filme para ator mostrar como é versátil. “Mas Sally, La La Land…”. Não vi. Não vejo musicais faz bastante tempo. Estou limpa desde 2002 e não penso em recair.
Passar mensagem cantando me parece coisa para criança que não consegue focar três horas de atenção em falas. Me ofende. Me dá desgosto. “Mas Sally você não tem sutileza artística…”. Nenhuma. Qual parte do “se não tiver gente bonita eu nem quero ver” você não entendeu? Me deixa em paz. Vai ver filme nacional, cheio de gente oleosa, pobreza, favela e pessoas assimétricas. Aproveita que está em alta, pois com a vitória do Trump os hippies do Oscar vão prestigiar tudo que encontrarem mais à esquerda.
Dramas nos preparam para problemas da vida real, nos permitem aprender com os erros dos personagens sem precisar vivenciá-los, nos permitem entender como pessoas deram a volta por cima depois de situações difíceis. Eu não abro mão de dramas, eles têm algo a me acrescentar. A menos que a pessoa esteja cantando, pois aí o bom conteúdo foi para a casa do caralho e a preocupação principal dos diálogos é com rimas ou com a métrica da música.
O simples fato de cantar já tolhe a interpretação. Dificilmente um ator vai conseguir expressar um sentimento comovente de dor, tristeza ou qualquer outro se estiver cantando. O tom de voz, a linguagem corporal, tudo fica comprometido. E a música distrai de todo o resto. Não, mil vezes não, vão cantar no chuveiro ou em show de música, no filme, por gentileza, falem.
Se eu quiser ver gente cantando, vou ver ao vivo. E vou ver gente que faz isso: canta. Assim como cantor atuando, via de regra, não costuma ser grandes merda, ator cantando também não. Cada um no seu quadrado. Quando quero boa música vou em show, quando quero boa atuação vou em filme. Tentar fazer os dois em um quase nunca dá certo, fica atuação capenga, trama capenga, música capenga.
Vai cantar no palco, filho da puta! No filme, por gentileza, fala. É pedir demais?
Acho que se for pra essolher, fico com a Sally nessa. Musicais recentes são chatos mesmo, não faz falta. Musicais antigos são mais interessantes e bem feitos.
Quanto ao texto do Somir, eu acho que entendo o ponto em que ele precisa de algo pra estimular a mente, a imaginação, enfim. Mas, de toda forma, não dá pra menosprezar o poder do drama, já que ele pode muito ao mexer com nossas emoções, nos dar lições de vida, enfim.
Musicais. Parecem tortura chinesa.
Até o filme do South Park me desceu um pouco travessado porque inventaram de colocar músicas cantadas pelos personagens ao longo da história.
Amo musicais e drama. Eliminaria os filmes de ação com certeza
PS: Assistiram “Ainda Estou Aqui”?
E ficar sem obras-primas da humanidade como Rambo, Rambo II, Rambo III… e até mesmo Rambo IV? Corajosa.
Rambo é um Drama sobre a dificuldade de reinserção dos veteranos de guerra com pitadas de ação.
Quem ficaria sem Rambo seria você….
O primeiro filme do Rambo, baseado em um livro, é realmente interessante e dramaturgicamente relevante. Há críticos que dizem até que é um raro caso em que o filme é superior ao livro. Já os demais longas da série, porém, não são tão bons.
Não, o “Ainda Estou Aqui”, pelo menos ainda, “não me fez falta”.
Chega de musicais. Mesmo considerando teatro, o único que gostei (e creio que foi pela idade, eu mal tinha 14 anos) foi Fantasma da Ópera.
Cortaria musicais e, pessoalmente, também filmes baseados em obras literárias e em fatos reais. Fazem gambiarras para compactar a obra ou o fato real em 2h no máximo de filme e, a partir daí, não consigo desassociar os atores e o enredo do filme com o que está no livro ou com o que aconteceu efetivamente de fato.
Faço minhas as suas palavras, Suellen. Dramatização de obras literárias ou (re)encenações de fatos reais costumam funcionar melhor em minisséries, com mais tempo pra se desenvolver histórias e personagens e podendo manter a fidelidade ao material original, sem a necessidade de suprimir trechos pra fazer tudo “caber” em pouco mais de duas horas.
Nem fale em adaptações de obras literárias… A mais recente que me lembro de ter visor foi o homem duplicado, de Saramago, e ensaio sobre a cegueira. Cagou geral com o enredo da narrativa.
Fico com a Sally nessa. Musicais, decididamente, não me atraem nem um pouco. Eu até reconheço o mérito de um “Cantando na Chuva”, de um “Mary Poppins” e de alguns poucos longas animados da fase áurea da Disney, mas o gênero, como um todo, simplesmente não faz minha cabeça. Ah, e eu acho que há pelo menos outras duas coisas que a Sally desgosta tanto ou mais do que musicais de cinema: adaptações para os palcos da Broadway de filmes (como o “Rei Leão” que me parece estar eternamente em cartaz lá em Nova York) e versões para cinema de musicais que foram originalmente pensados apenas para o teatro (como o recente desastre que foi “Cats”).
Gosto de dramas, entre outras coisas, porque, quando são bem-feitos, nos contam histórias plausíveis, ou ao menos, apresentam situações com as quais nós podemos nos relacionar e nos inpsirar. É preciso, no entanto, diferenciar o que é realmente “drama” e o que é “dramalhão”. “Drama” trata de pensamentos e sentimentos que são ao mesmo tempo particulares e universais: amor, ódio, busca pela felicidade, epifanias, tribulações, dilemas, questões éticas e morais, dúvidas existenciais, amadurecimento… Já o “dramalhão” é onde tudo é caricato, sentimentaloide, exagerado, cheio de canasrtrice com “caras e bocas”, cafona, brega e apelativo em uma procura pela empatia forçada e pela lágrima fácil de descontrolados emocionalmente que choram à toa.
Ãh? Fizeram “Cats” versão filme? Caralho, a versão “musical” já é insuportável, assim como são insuportáveis a cara de quem a criou (aquele Lóid Uéber parece um Walter Mercado caído no tanque de dejeto tóxico que nem o Emil do Robocop!) e a história original (inglês tem uma tara esquisita por gatos).
Sim, meu caro Charles D.G.. Foi em 2019, e com um elenco recheado de nomes de peso como Idris Elba, Judi Dench e Ian McKellen. Na época, foi enxovalhado pela crítica de forma quase unânime. Para você ter uma ideia, dá uma olhada nesse vídeo do canal no YouTube do ator, crítico e apresentador Otávio Ugá: https://www.youtube.com/watch?v=4BgQRvSwT3U
Kkkkkkkk! Morri de rir com essa análise do Otávio (que, por sinal, eu não conhecia!). Obrigado pela dica, W.O.J.!
Induzido por essa conversa, fui procurar de novo esse Cats versão musical full, do qual eu já tinha assistido a partes muito tempo atrás, por curiosidade (sempre ouvi falar maravilhas desde sempre a respeito… talvez mais hype do que coisa que prestasse mesmo. Eu acho esse Lóid Uéber meio superestimado; a única coisa que ele fez de peso foi pegar a Sarah Brightman, uma das mulheres mais lindas que já vi)…
Meeeeeeu amiiiiigooo… que troço mais besta, infantilóide e chatoba. Até a música me deixou irritado depois de assistir de novo! Daí já vem minha contribuição para este artigo, no qual voto na Sally: musicais deviam ser inscritos nos róis de crimes hediondos/contra a humanidade!
Mas creio que Cats, ainda que seja muito ruim, perderia na hora de concorrer ao Framboesa de Ouro para “Dois Filhos de Francisco” se acaso os dois filmes tivessem sido lançados no mesmo ano.
Tem dois que eu não suporto, filme de hominho (especialmente com o padrão de humor Disney) e filme de crítica social foda.
Eu não gosto de filme nacional de crítica social foda, porque são panfletários, parciais e tendencioso.
Mas de outros países eu gosto.
Falou muito bem, Sally. Taí um tipo de coisa que eu também não suporto. E, a propósito, eu também tenho ranço de filme-cabeça, experimental, “de arte”, todo hermético, cheio de metáforas obscuras e muita punhetação mental…
Eu também não me importaria se não houvessem mais musicais. Acho todos chatérrimos. E, a respeito desse seu último comentário, W.O.J., eu também não curto esse tipo de “cinema-cabeça” e me aborrece até ver entrevistas na TV com o pessoal que faz esses filmes. É sempre aquele ar blasé de gente que se acha pra caralho, que se crê intelectualmente superior e que fica enfadada por ter que explicar pra “gentalha inculta” (nós) o que, afinal, suas “obras-primas” (cof! cof!) querem dizer….
Agora tu pense numa sala de qualquer semestre dum curso superior de Cinema: todo mundo (de todos os gêneros) com boininha, bigodinho, pullover cor sim, cor não, oclinho redondo de aro preto, calça preta brilhosa colada e sandália estilo martírio de São João Batista, todos praticando o sexo fluido no mesmo anfiteatro do campus depois de assistirem à última obra do iraniano Salem Al Kasseltzer sobre o desabrochar das rosas bravias do deserto.
Misericórdia… Cena deplorável! Rs