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Trump, Trump, Trump…

Trump, Trump, Trump…

| Desfavor | | 8 comentários em Trump, Trump, Trump…

A volta de Trump ao poder continua rendendo, não só no seu país como em diversos outros como o Brasil. Precisamos falar tanto dele assim?


Desfavor da Semana.

SALLY

Tempo de leitura: 12 horas

Resumo da B.A.: A cuestão do Trump é abordada de um jeito que… sei lá. Não pode deixar voltar o comunismo, nossa bandeira nunca será vermelha!

POWERED BY B.A.

Em um mundo ideal, pessoas que acrescentam à sociedade seriam as mais relevantes. No mundo real, se fazer relevante é um dom e muitas vezes pessoas com merda na cabeça conseguem mais relevância do que quem descobriu a cura para uma doença. É o que está acontecendo. A semana toda falando sobre o maluco laranja e, ainda assim, ele continua relevante para ser o Desfavor da Semana.

O brasileiro não para de falar no Trump, de olhar para o Trump, de especular sobre o Trump. Metade da população sem saneamento básico, desempenho vergonhoso em PISA, maior índice de homicídios do mundo, floresta pegando fogo, índio morrendo, falta de vacina, falta de medicamentos básicos, escândalos de corrupção toda semana, dólar alto, comida cara, sigilos, orçamento secreto, gente morrendo na fila de hospital. E estão falando do Trump.

Todo mundo tem uma opinião sobre o Trump, mesmo que nem saiba pronunciar o nome dele. Muita gente está se deixando impactar de uma forma desproporcional pelas medidas do laranja, que, salvo raras exceções, não afetarão em nada suas vidas.

“Mas Sally violação a direitos humanos tem que ser repudiada!”. Tem sim. Mas… sabe onde mais acontecem violações a direitos humanos diariamente? No Brasil. Acho, só acho, que isso deveria ser prioridade. Mas aí esbarra em uma barreira ideológica: no Brasil quem está no poder se diz de esquerda. Aí não pode criticar.

Se estabeleceu essa premissa equivocada de que criticar é tentar derrubar o outro, é se posicionar no sentido contrário do outro, é ser oposição. Se você é de esquerda, não pode nunca criticar a esquerda, pois seria traição. E agora nem tem a falácia de que se criticar o Lula o Bolsonaro volta, pois o Bolsonaro está inelegível. Mesmo assim, nunca é momento de criticar o Lula.

Resta canalizar tudo para o Trump, que sim, é um escroto, mas não enganou o eleitor. O americano votou naquilo ali mesmo. O povo dos EUA queria exatamente aquilo. E democracia é isso, é a vontade da maioria prevalecendo. Se a pessoa se diz defensora da democracia, deveria respeitar a vontade da maioria. Ou só é democracia quando a sua vontade converge com a da maioria?

Mas não. Nãããão. As pessoas têm uma tara doentia por ser “resistência”, por “lutar contra” o que quer que seja, parece que precisam disso para se sentirem úteis, boas. E pagam com sua saúde mental por isso, pois é um estilo de vida inviável. E culpam Trump e a sociedade por seus problemas. Vamos falar verdades? Não é um bom entorno que faz sua saúde mental, com um bom entorno qualquer um tem saúde mental. Sua saúde mental é fruto do seu estado interno e o grande desafio é aprender a mantê-lo bem, não importa qual seja o entorno.

“Mas eu não consigo ficar bem vendo essas atrocidades”, escreveu Wesley, morador de Xique-Xique, Bahia. Curioso, pois as atrocidades, seja no Brasil, seja nos EUA, sempre aconteceram, mas só agora incomodam. Será que é mesmo pela atrocidade? Ou será que é apenas uma oportunidade para arrotar virtude?

Sabe quem foi o Presidente que mais deportou? Obama. Sabem quem deportou mais do que Trump? Biden. Em ambos os casos, deportados forma mantidos em condições de total violação a direitos humanos e enviados de volta para casa com algemas. Houve comoção? Não. Será que é mesmo preocupação com imigrante? Ou é construir um discurso histérico contra o Trump?

Trump faz atrocidades o suficiente para não precisar de nenhum discurso histérico para criticá-lo. Se apelarem para a histeria, vai ficar parecendo que tudo é histeria e nada de ruim vai colar nele. As pessoas que acham que o estão atacando estão, na verdade, blindando-o.

Curioso que a pessoa não tem gana para procurar um trabalho melhor, para aprender outro idioma (dá para aprender sem gastar um centavo), para se exercitar, para melhorar a própria vida e a de sua família, mas tem energia para “combater” o Trump. Para isso sobre uma disposição enorme. Portão da casa descascado, precisando pintura, louça suja na pia e um monte de tarefas por cumprir, enquanto a pessoa gasta energia com o Trump.

E pior: quanto mais desempoderada a pessoa, mais combativa ela fica. Deve ser algum mecanismo de compensação ou coisa no estilo. Chegaram a deixar comentários no Desfavor dizendo que pessoas que se sujeitam ao Trump são conformistas e submissas. Irmão, o tio é muito mais forte do que o teu país, não peitar um sujeito desse não é conformismo, é realismo. Mas, senso de realidade é o que mais falta nessas pessoas.

Não que eu não queira que o Lula peite o Trump. Eu quero. E muito. Mas não por essa babaquice de soberania nacional e orgulho de ser tupiniquim atrasado. Eu quero ver o Lula se fodendo e passando vergonha mesmo. Mas tem um pessoal completamente prexeca das ideias que acha que realmente se deve peitar o Trump. Beleza, estrutura teu país, vira uma potência nuclear, faz o dever de casa para ser realmente intimidador e depois você peita. Enquanto o que você tem para mostrar for coqueiro, batuque e turismo sexual, não pode peitar ninguém.

Esqueçam o Trump. Olhem para o próprio rabo. Primeiro porque o Brasil precisa, tem muitos problemas a resolver. Segundo porque é justamente essa histeria, esse frenesi, essa comoção o que alimenta o Trump e lhe dá poder. Ele consegue pegar isso e reverter em força a seu favor. Parem de dar poder para quem dizem odiar.

E coloquem-se em seus lugares: se os EUA mandarem, o Brasil tem que enfiar o dedo no cu e rasgar. Não é submissão, é realismo. É o preço que se paga por ser um país de terceiro mundo que nunca investiu em evoluir e se tornar uma potência. É consequência das escolhas do Brasil. Tentar fingir que peita o Trump só vai causar vergonha e sanção. Querem ser um país respeitado em vez de um pau mandado? Melhorem. Façam por onde.

SOMIR

Tempo de leitura: 1 mandato

Resumo da B.A.: O autor DESTRÓI as mentiras da mídia comunista e diz que TRUMP é o maior presidente da história dos EUA! FORA IMIGRANTES!

POWERED BY B.A.

Falar sobre como não é saudável ficar falando do Trump não é falar mais ainda do Trump? Sim. Mas tudo nessa vida costuma ser questão de dose. Não podemos negar que o superpoder do presidente americano é pautar a mídia e as redes sociais. Foi o que criou uma carreira de celebridade para ele e o que eventualmente se tornou sua bala de prata para vencer o concurso de popularidade que é a eleição presidencial. Duas vezes.

Não estamos aqui para dizer que o certo é fingir que ele não existe. Mais ou menos como fizemos durante o governo Bolsonaro no Brasil, é claro que é importante reagir de alguma forma ao que seus governantes dizem e fazem, mas sem esquecer que é parte do jogo dessas figuras públicas soterrar todo mundo em polêmicas.

Primeiro porque mantém seus nomes na boca do povo, o que ajuda a manter a popularidade; e segundo que se você estiver sempre renovando o assunto, nenhum deles tem tempo de se criar na mente do povo. É a estratégia da direita populista moderna, e funciona muito bem. Faça as pessoas ficarem olhando para mil direções diferentes, e faça que sempre pareça uma ameaça.

Eu não acredito que tenha sido um plano muito complexo, são pessoas que naturalmente tem essa característica. Trump, Bolsonaro e até Milei na Argentina naturalmente se enfiam em polêmicas dia sim, dia também. Quando essas pessoas ganham mais atenção, suas personalidades fazem o resto. É um tipo de carisma emergente que atrai amores e ódios sem exigir muito esforço da pessoa. Eles são assim, só tem mil câmeras apontadas para a cara deles.

E isso é importante de perceber: da mesma forma que não é inteligente para uma pessoa normal chamar para a briga um lutador profissional de MMA, não é inteligente chamar Trump e similares para uma briga de atenção. Ele não tropeçou e caiu na presidência, foi o resultado de uma capacidade muito acima da média de prender atenções.

Não considero Trump uma pessoa muito inteligente, não é um completo retardado como os detratores dizem, mas basta escutar ele falando por alguns minutos para saber que o que quer que esteja em sua cabeça alaranjada, não é muito profundo. Agora, ele é extremamente esperto: o que falta em capacidade de introspecção sobra em velocidade de expressão. Ele reage muito rápido e muito no alvo.

Ele projeta muita segurança no que diz, e conecta os pontos superficiais tão rápido que é como se entrasse na mente de quem está ouvindo o que diz e pensasse por ela. É aquele talento de vendedor, gente que te convence de alguma coisa antes de você ter tempo de concordar ou discordar do tema. É um atalho mental conhecido, mas difícil de enfrentar, porque acontece antes de você pensar se vale a pena conversar nos termos dele.

É assim que ele sequestra a imprensa. Muitos jornalistas sabem que esse é o truque, mas são arrastados pela torrente de “assuntos urgentes” que ele impõe todos os dias. Se uma mentira demora 10 segundos para dizer e um minuto para expor, é certeza que no tempo limitado que a mídia tem para lidar com ele não vai dar tempo de apresentar provas e contextos para combater todas. E é assim que ele faz o mesmo com as redes sociais: o alcance dele é tão maior que o do povo tentando combater que o barulho vence.

Repito: não é para ignorar o mundo e deixar esse povo “metralhadora de maluquice” reinar livre, mas é para entender que não é eficiente disputar com eles justamente no campo em que levam a maior vantagem. Porque já está provado que essa estratégia de combate direto nas regras deles é uma estratégia perdedora. A pessoa pode falar burrices imensas e mesmo assim ser uma máquina de moer argumentando. Existem truques para ser mais carismático e chamativo, e eles não dependem de intelecto avançado.

Seu diploma de Filosofia não é vantagem no meio do picadeiro, o palhaço sabe o que está fazendo lá, você não. Passou da hora das pessoas entenderem que Trump é espetacular no que se propõe a fazer, que conseguiu fazer boa parte das pessoas inteligentes do mundo morderem a isca de disputarem habilidade de ser palhaço com ele, e que quanto mais tentarem vencer ele nesse campo, mais ele aperfeiçoa sua vantagem.

Se a disputa é para ver quem faz as acusações mais insanas e cria os apelidos mais engraçados, Trump ganha. Ele é bom nisso de verdade. Essa mania de ficar só arremessando xingamentos de um lado para o outro típica da mídia moderna fortalece a turma do fundão, não os nerds. Pode chamar o Trump, o Bolsonaro e o Milei de nazistas, fascistas, malucos e tudo mais o que quiser à vontade, porque para eles é um campeonato de arremessar merda um no outro, não só encaram muito mais na boa o fedor do jogo como foram treinados a vida toda nessa arte.

Sem contar o “fator microfone”: em shows de stand-up, de tempos em tempos aparecem pessoas que acham uma boa ideia xingar ou tentar fazer piada com o comediante no meio da apresentação. Isso é uma péssima ideia pelos motivos que eu estou falando até aqui, ou seja, chamar para uma disputa de insultos engraçados alguém que literalmente trabalha fazendo isso; mas também porque o comediante tem um microfone e você não. As luzes estão apontadas para ele e o som da voz dele é muito mais alto. De cada 1000 pessoas que tentam sacanear o comediante nesses casos, 999 são humilhadas para a alegria da plateia.

Trump tem o microfone, o com o volume mais alto do mundo. O microfone, o exército e o dólar. A vida do cidadão o colocou na posição mais vantajosa de todos os tempos para fazer o que gosta de fazer. Não adianta ter essa mentalidade combativa na base da lacração, não adianta tentar falar mais alto que ele. O “homem laranja mau” é presidente eleito do país mais poderoso do mundo. Ainda tem chão até ele perder esse poder quase que absoluto, se é que vai perder. Porque antes da Covid no primeiro mandato, tudo parecia bem alinhado para ele se reeleger. O mundo não se rege pelo que achamos mais lógico, ele pode continuar sendo extremamente popular até 2028, especialmente se toda a estratégia dos detratores for dar chilique e manter o jogo 100% focado nos pontos fortes dele.


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