Skip to main content

Colunas

Arquivos

Remédio amargo.

Remédio amargo.

| Sally | | 14 comentários em Remédio amargo.

Eu tenho uma lista de assuntos sobre os quais gostaria de falar aqui, mas nunca consigo, pois desde janeiro o Brasil é um atropelo de Desfavores. E hoje não foi diferente. Um final de semana de barbáries me obriga a comentar um assunto mais do que desagradável.

Tempo de leitura: 30 segundos

Resumo da B.A.: PATRIOTAS ESTAO QUERENDO TIRAR NOSSA LIBERDADE, ABRÃO OS ÓLEOS

POWERED BY B.A.

Todos devem estar cientes da barbárie que aconteceu no Recife, uma suposta briga de torcida, que acabou com espancamento, pessoas seriamente feridas e homem com o ânus dilacerado por uma barra de ferro. Também tivermos um episódio da mesma espécie em um show da Anitta, onde um homem foi estuprado de forma violenta.

Eu não vou entrar em detalhes de nada, só quero chamar à reflexão o quanto mais o brasileiro vai esperar a barbárie evoluir para fazer algo. Todas as propostas que eu vejo são inexequíveis ou de longo prazo. O que será feito hoje para evitar que os filhos de vocês sejam vítimas da barbárie?

“Ain Sally, falar é fácil, dá uma sugestão você então”. Ok. Eu tenho uma sugestão, só que ela não é bonita. Quando deixamos as coisas chegarem a um ponto extremo, a solução também tem que ser extrema. Na minha opinião, eventos que envolvam grandes reuniões de pessoas deveriam ser proibidos no Brasil até que se encontre uma solução, até que o Poder Público consiga controlar esse animal que é o brasileiro médio, para que ele não mate, bata ou estupre o colega.

O problema do brasileiro é que ele não aceita a merda que é. O brasileiro acredita nos eufemismos e maquiagens, no “problema todo país tem”, no “mas aqui tem muita coisa boa também”. O Brasil está em um patamar de barbárie nível país shithole. Problemas extremos demandam soluções extremas. Não dá para resolver problema de shithole com norma de país de primeiro mundo.

Vai ser legal? Não. Mas um povo que não sabe se portar não pode se reunir. É realmente tão difícil de entender a lógica? Quando as coisas passam dos limites nesse ponto, o remédio é sempre amargo. Bota um limite de pessoas e nada acima disso é autorizado (e precisa ser coibido), pois obviamente quando há muitas pessoas reunidas o Poder Público não consegue dar conta da índole animalesca do brasileiro médio, então, que não se reúnam mais em grandes números.

E aí a mentalidade subdesenvolvida aciona uma sirene na cabeça das pessoas: “Não é justo punir todo mundo por causa de uma minoria”. Primeiro que não é punir, no caso, é proteger. Nem toda limitação ou restrição é punição. Segundo que, bem-vindo ao mundo, é assim que as leis são feitas, são criadas restrições baseadas nos abusos que uma minoria comete. Ou por acaso você acha que todo mundo que dirige bêbado mata alguém? O que se tutela é o risco. Não queremos o risco. Terceiro que quão merda é sua cabeça de não querer abrir mão de um jogo de futebol ou um show para tentar reverter essa bosta que é o Brasil?

O brasileiro médio é bicho. Não tem modos para nada. Isso tem um custo. Manter a população nesse patamar de precariedade humana tem um custo. E ele não é baixo. Como não é possível antever quem vai cometer uma barbárie, sim, todos pagam, todos ficam proibidos de se reunir, pelo seu próprio bem.

Criar uma situação dessas de desconforto acelera o processo de educação de um povo. Se mais ninguém puder ir a show, jogo, a porra de lugar nenhum em massa, as pessoas rapidamente vão tentar resolver o problema (ou pressionar para que se resolva) e melhorar, para poder voltar a se reunir. E, quando for liberado, talvez pensem duas vezes antes de cometer uma barbárie, pois saberão que isso pode custar a perda do direito de se reunir novamente.

Mais: se as pessoas sentirem esse remédio amargo, quando forem autorizadas a se reunir novamente, elas mesmas se encarregarão de neutralizar quem queira cometer uma barbárie, pois saberão que se isso acontecer, todas voltarão a sofrer proibições. Uma proibição dessa “severidade” faz com que a própria sociedade se engaje em impedir que isso aconteça.

“Mas Sally, seria impossível de fiscalizar”. Não. Seria difícil, mas não impossível. Sem contar que, ao ser proibido, todos os eventos oficiais de aglomeração de pessoas seriam suspensos e isso barra boa parte do problema. Nenhum dos dois exemplos de hoje teria acontecido: nem jogo de futebol, nem show.

E, não sou idiota, sei que isso não vai acontecer nunca, pois todos os eventos que envolvem aglomeração de pessoas geram muita arrecadação, movimentam muito dinheiro, então, jamais, em tempo algum, serão suspensos. A razão pela qual trago o tema hoje é pelo mecanismo, pela forma de pensar: é hora de vocês aceitarem que, no patamar em que o país chegou, só remédio amargo resolve. Nesse caso específico e em muitos outros.

O brasileiro vive nesse devaneio de querer que as coisas se resolvam, mas de uma forma que não o limite, que não o incomode, que não implique em restrição. Isso não existe. Isso gera medidas “para inglês ver”, que são a maioria das leis brasileiras. Se querem controlar essa barbárie que se tornou o país, tem que ser medidas incômodas, restritivas, chatas, que causem aborrecimento em todo mundo.

Tire hoje da sua cabeça e jogue no lixo esse mindset de que com medidas administrativas, com aumento de pena, com qualquer coisa que não seja radical e restritiva, as coisas se resolvem ou melhoram. Não se resolvem. Não melhoram. Bicho a gente não educa com normas, educa com proibição, pois bicho não tem discernimento para seguir normas. Bicho não se importa com normas. Bicho pode até acabar preso, que faz coisa de bicho mesmo assim.

Bote hoje na sua cabeça a noção de que, se existe uma chance de conter essa barbárie, é com medidas que vão implicar em restrições para você também. Medidas que vão te privar de coisas que você gosta. Medidas que vão te deixar revoltado. Quem mandou deixar chegar nesse ponto de atraso civilizatório? Quando mais o problema cresce, mais difícil ele se torna de resolver.

Essa chavinha tem que virar na cabeça das pessoas, se não, elas sempre vão se acomodar em soluções cômodas, como a criação de leis, que não resolvem porra nenhuma. Todo mundo vai ter que dar um passo atrás e ceder um pouco da sua liberdade, do seu conforto, da sua diversão. É necessário. É o único jeito.

E nessas horas sempre vem uma alma descolada da realidade dizer que isso é conformismo, coisa de gado ou algo do tipo. Não, meu anjo, conformismo é aceitar que medidas que não coíbem barbárie continuem a ser apresentadas como soluções válidas. Conformismo é permitir que tudo continue como está em um país no qual você, seu pai ou seu filho podem sair na rua e ter o cu dilacerado. Quem é conformista é você.

Vamos aproveitar o diferencial deste caso e refletir a respeito: agora as vítimas são homens. E no Brasil, as pessoas que fazem as leis são homens em sua maioria. Talvez agora que a barbárie chegou no cu dos homens, alguém se levante e queira fazer algo realmente efetivo a respeito. Agora é hora de discutir sobre medidas mais restritivas. Se acontecer, não recuse de cara. Faça uma reflexão sobre perder alguns direitos em troca de maior segurança.

E não venham faniquitar sobre perda de direitos. Grandes merda não ir em jogo de futebol ou em show de música ruim. O governo já tirou direitos muito mais importantes de vocês e ninguém fez escândalo. Menos, bem menos. O direito de estar em segurança no meio de multidão vocês nunca tiveram, o que estamos falando aqui é de apenas admitir isso.

Tem que parar com essa postura subdesenvolvida de fazer o herói da resistência, que não vai admitir abrir mão de direitos. Caiam na real, o governo já arrombou todos os direitos de vocês e está todo mundo caladinho.

Nunca vou entender essa lógica de permitir que um governo te tome direitos na mão grande para que ele ganhe mais dinheiro, mas dar um piti quando a redução de direitos é voltada para manter a sociedade um pouco mais segura. Qual é a disritmia no cérebro do brasileiro que causa isso?

Não adianta viver em negação. Não adianta repetir discurso de aumento de pena, de prender mais, de construir mais presídios, de pena de morte, de prisão perpétua, do que for. Nada disso é imediatamente exequível. Enquanto outras medidas de longo prazo não são tomadas, é preciso proteger as pessoas hoje. O brasileiro médio está se portando como bicho, é um absurdo permitir eventos multitudinários. Primeiro se educa um povo, só depois se dá liberdade.

Fazer cinco jogos sem público vai mudar o que? Nada. Não existe nenhuma providência que possa ser tomada em cinco semanas que melhore a situação. Todo jogo no Brasil deveria ser com portões fechados e torcidas deveriam ser proibidas de se reunirem de forma multitudinária em qualquer lugar. Bichos. Bichos não tem direitos. Bichos agressivos não podem andar em bando.

Mas, como já dissemos, não vai acontecer. O que sim pode acontecer é você ler este texto e deixar cair a ficha de que a situação é muito grave e que quando as coisas chegam nesse ponto são necessárias medidas muito restritivas para começar a tentar resolver. Não é sobre o “seu” direito de ir a um show ou a um jogo, é sobre uma sociedade doente, animalesca, que não em a civilidade mínima para conviver em grandes bandos.

Seu “direito” de ir a um jogo não é nada quando comparado ao direito de outra pessoa de não ter o ânus dilacerado por uma barra de ferro. Não é sobre você. É sobre uma sociedade doente e animalesca que precisa de contenção. E contenção para bicho é física mesmo. Força policial obviamente não dá conta, portanto, tem que impedir que se reúnam.

Este texto é para te pedir que reflita sobre medidas desagradáveis, impopulares, que privam todo mundo de algumas liberdades e direitos, pois, por piores que elas sejam, não as únicas que podem conter a barbárie que virou a sociedade brasileira. Hora de começar a pensar com carinho nelas, não como uma solução definitiva, mas como uma forma de estancar o sangramento enquanto o tratamento não começa.

Preparem a cabeça de vocês para medidas mais restritivas, pois mesmo que não seja agora, em algum momento elas serão necessárias. O Brasil não caminha para uma maior civilidade, muito pelo contrário. Em algum momento essa realidade vai se tornar insustentável para todos, a ponto do brasileiro fazer o maluco, dar uma de argentino e votar em outro maluco que execute o remédio amargo necessário.

Aceitem: não tem saída de problema de terceiro mundo com regras de primeiro mundo. As regras, as medidas, as soluções têm que ser condizentes com terceiro mundo. E regra para terceiro mundo é arbitrária mesmo. É restritiva. É injusta. Pune uma maioria por causa de uma minoria. É excessivo. É opressor. Sinto muito, esse é o remédio que cura a doença de vocês. Ou toma o remédio amargo ou continua doente.

Eu realmente sinto muito que o Brasil tenha chegado nesse patamar. Sinto muito mesmo, de verdade. Acho o Brasil um país com um puta potencial. Mesmo nessas condições animalescas ainda consegue produzir muita coisa boa para o país e para o mundo. Imagina se fosse um ambiente minimamente decente e igualitário?

E é justamente por confiar no potencial do Brasil que eu estou aqui defendendo medidas mais extremas. Não é para sacanear ninguém, não é para punir ninguém. Eu acredito que um tratamento de choque pode ser o começo de uma reversão dessa cultura brutal, atrasada. Mas o choque vai precisar ser grande.

A boa notícia é que quando a população estiver educada, poderá ter até mais liberdade do que tem hoje. Você não vai viver para ver, mas seu filho vai. Que tal fazer esse esforço por ele?

Não precisa fazer manifestação, marcha ou protesto. Apenas entenda que o remédio, para funcionar, terá que ser muito amargo. Com isso já se dá um passo importante na direção da solução. Apenas entenda que o país não é a sua bolha, portanto, uma medida que soa ofensiva, excessiva e exagerada para você é apenas adequada para o brasileiro médio.

E, como a lei é para todos e o cumprimento da lei é premissa básica de um país civilizado, pelo bem da coletividade você vai ter que se sujeitar a futuras restrições bem expressivas. Mesmo que não esteja doente, vai ter que tomar o remédio amargo junto com toda a sociedade.

“Ain conformista, abaixando a cabeça para o Estado, gado…”. Então beleza. Fica aí em um país onde podem dilacerar seu ânus na rua. Eu moro em um país onde isso não acontece. Boa sorte.


Comments (14)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: