
Remédio amargo.
| Sally | Flertando com o desastre | 14 comentários em Remédio amargo.
Eu tenho uma lista de assuntos sobre os quais gostaria de falar aqui, mas nunca consigo, pois desde janeiro o Brasil é um atropelo de Desfavores. E hoje não foi diferente. Um final de semana de barbáries me obriga a comentar um assunto mais do que desagradável.
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Resumo da B.A.: PATRIOTAS ESTAO QUERENDO TIRAR NOSSA LIBERDADE, ABRÃO OS ÓLEOS
Todos devem estar cientes da barbárie que aconteceu no Recife, uma suposta briga de torcida, que acabou com espancamento, pessoas seriamente feridas e homem com o ânus dilacerado por uma barra de ferro. Também tivermos um episódio da mesma espécie em um show da Anitta, onde um homem foi estuprado de forma violenta.
Eu não vou entrar em detalhes de nada, só quero chamar à reflexão o quanto mais o brasileiro vai esperar a barbárie evoluir para fazer algo. Todas as propostas que eu vejo são inexequíveis ou de longo prazo. O que será feito hoje para evitar que os filhos de vocês sejam vítimas da barbárie?
“Ain Sally, falar é fácil, dá uma sugestão você então”. Ok. Eu tenho uma sugestão, só que ela não é bonita. Quando deixamos as coisas chegarem a um ponto extremo, a solução também tem que ser extrema. Na minha opinião, eventos que envolvam grandes reuniões de pessoas deveriam ser proibidos no Brasil até que se encontre uma solução, até que o Poder Público consiga controlar esse animal que é o brasileiro médio, para que ele não mate, bata ou estupre o colega.
O problema do brasileiro é que ele não aceita a merda que é. O brasileiro acredita nos eufemismos e maquiagens, no “problema todo país tem”, no “mas aqui tem muita coisa boa também”. O Brasil está em um patamar de barbárie nível país shithole. Problemas extremos demandam soluções extremas. Não dá para resolver problema de shithole com norma de país de primeiro mundo.
Vai ser legal? Não. Mas um povo que não sabe se portar não pode se reunir. É realmente tão difícil de entender a lógica? Quando as coisas passam dos limites nesse ponto, o remédio é sempre amargo. Bota um limite de pessoas e nada acima disso é autorizado (e precisa ser coibido), pois obviamente quando há muitas pessoas reunidas o Poder Público não consegue dar conta da índole animalesca do brasileiro médio, então, que não se reúnam mais em grandes números.
E aí a mentalidade subdesenvolvida aciona uma sirene na cabeça das pessoas: “Não é justo punir todo mundo por causa de uma minoria”. Primeiro que não é punir, no caso, é proteger. Nem toda limitação ou restrição é punição. Segundo que, bem-vindo ao mundo, é assim que as leis são feitas, são criadas restrições baseadas nos abusos que uma minoria comete. Ou por acaso você acha que todo mundo que dirige bêbado mata alguém? O que se tutela é o risco. Não queremos o risco. Terceiro que quão merda é sua cabeça de não querer abrir mão de um jogo de futebol ou um show para tentar reverter essa bosta que é o Brasil?
O brasileiro médio é bicho. Não tem modos para nada. Isso tem um custo. Manter a população nesse patamar de precariedade humana tem um custo. E ele não é baixo. Como não é possível antever quem vai cometer uma barbárie, sim, todos pagam, todos ficam proibidos de se reunir, pelo seu próprio bem.
Criar uma situação dessas de desconforto acelera o processo de educação de um povo. Se mais ninguém puder ir a show, jogo, a porra de lugar nenhum em massa, as pessoas rapidamente vão tentar resolver o problema (ou pressionar para que se resolva) e melhorar, para poder voltar a se reunir. E, quando for liberado, talvez pensem duas vezes antes de cometer uma barbárie, pois saberão que isso pode custar a perda do direito de se reunir novamente.
Mais: se as pessoas sentirem esse remédio amargo, quando forem autorizadas a se reunir novamente, elas mesmas se encarregarão de neutralizar quem queira cometer uma barbárie, pois saberão que se isso acontecer, todas voltarão a sofrer proibições. Uma proibição dessa “severidade” faz com que a própria sociedade se engaje em impedir que isso aconteça.
“Mas Sally, seria impossível de fiscalizar”. Não. Seria difícil, mas não impossível. Sem contar que, ao ser proibido, todos os eventos oficiais de aglomeração de pessoas seriam suspensos e isso barra boa parte do problema. Nenhum dos dois exemplos de hoje teria acontecido: nem jogo de futebol, nem show.
E, não sou idiota, sei que isso não vai acontecer nunca, pois todos os eventos que envolvem aglomeração de pessoas geram muita arrecadação, movimentam muito dinheiro, então, jamais, em tempo algum, serão suspensos. A razão pela qual trago o tema hoje é pelo mecanismo, pela forma de pensar: é hora de vocês aceitarem que, no patamar em que o país chegou, só remédio amargo resolve. Nesse caso específico e em muitos outros.
O brasileiro vive nesse devaneio de querer que as coisas se resolvam, mas de uma forma que não o limite, que não o incomode, que não implique em restrição. Isso não existe. Isso gera medidas “para inglês ver”, que são a maioria das leis brasileiras. Se querem controlar essa barbárie que se tornou o país, tem que ser medidas incômodas, restritivas, chatas, que causem aborrecimento em todo mundo.
Tire hoje da sua cabeça e jogue no lixo esse mindset de que com medidas administrativas, com aumento de pena, com qualquer coisa que não seja radical e restritiva, as coisas se resolvem ou melhoram. Não se resolvem. Não melhoram. Bicho a gente não educa com normas, educa com proibição, pois bicho não tem discernimento para seguir normas. Bicho não se importa com normas. Bicho pode até acabar preso, que faz coisa de bicho mesmo assim.
Bote hoje na sua cabeça a noção de que, se existe uma chance de conter essa barbárie, é com medidas que vão implicar em restrições para você também. Medidas que vão te privar de coisas que você gosta. Medidas que vão te deixar revoltado. Quem mandou deixar chegar nesse ponto de atraso civilizatório? Quando mais o problema cresce, mais difícil ele se torna de resolver.
Essa chavinha tem que virar na cabeça das pessoas, se não, elas sempre vão se acomodar em soluções cômodas, como a criação de leis, que não resolvem porra nenhuma. Todo mundo vai ter que dar um passo atrás e ceder um pouco da sua liberdade, do seu conforto, da sua diversão. É necessário. É o único jeito.
E nessas horas sempre vem uma alma descolada da realidade dizer que isso é conformismo, coisa de gado ou algo do tipo. Não, meu anjo, conformismo é aceitar que medidas que não coíbem barbárie continuem a ser apresentadas como soluções válidas. Conformismo é permitir que tudo continue como está em um país no qual você, seu pai ou seu filho podem sair na rua e ter o cu dilacerado. Quem é conformista é você.
Vamos aproveitar o diferencial deste caso e refletir a respeito: agora as vítimas são homens. E no Brasil, as pessoas que fazem as leis são homens em sua maioria. Talvez agora que a barbárie chegou no cu dos homens, alguém se levante e queira fazer algo realmente efetivo a respeito. Agora é hora de discutir sobre medidas mais restritivas. Se acontecer, não recuse de cara. Faça uma reflexão sobre perder alguns direitos em troca de maior segurança.
E não venham faniquitar sobre perda de direitos. Grandes merda não ir em jogo de futebol ou em show de música ruim. O governo já tirou direitos muito mais importantes de vocês e ninguém fez escândalo. Menos, bem menos. O direito de estar em segurança no meio de multidão vocês nunca tiveram, o que estamos falando aqui é de apenas admitir isso.
Tem que parar com essa postura subdesenvolvida de fazer o herói da resistência, que não vai admitir abrir mão de direitos. Caiam na real, o governo já arrombou todos os direitos de vocês e está todo mundo caladinho.
Nunca vou entender essa lógica de permitir que um governo te tome direitos na mão grande para que ele ganhe mais dinheiro, mas dar um piti quando a redução de direitos é voltada para manter a sociedade um pouco mais segura. Qual é a disritmia no cérebro do brasileiro que causa isso?
Não adianta viver em negação. Não adianta repetir discurso de aumento de pena, de prender mais, de construir mais presídios, de pena de morte, de prisão perpétua, do que for. Nada disso é imediatamente exequível. Enquanto outras medidas de longo prazo não são tomadas, é preciso proteger as pessoas hoje. O brasileiro médio está se portando como bicho, é um absurdo permitir eventos multitudinários. Primeiro se educa um povo, só depois se dá liberdade.
Fazer cinco jogos sem público vai mudar o que? Nada. Não existe nenhuma providência que possa ser tomada em cinco semanas que melhore a situação. Todo jogo no Brasil deveria ser com portões fechados e torcidas deveriam ser proibidas de se reunirem de forma multitudinária em qualquer lugar. Bichos. Bichos não tem direitos. Bichos agressivos não podem andar em bando.
Mas, como já dissemos, não vai acontecer. O que sim pode acontecer é você ler este texto e deixar cair a ficha de que a situação é muito grave e que quando as coisas chegam nesse ponto são necessárias medidas muito restritivas para começar a tentar resolver. Não é sobre o “seu” direito de ir a um show ou a um jogo, é sobre uma sociedade doente, animalesca, que não em a civilidade mínima para conviver em grandes bandos.
Seu “direito” de ir a um jogo não é nada quando comparado ao direito de outra pessoa de não ter o ânus dilacerado por uma barra de ferro. Não é sobre você. É sobre uma sociedade doente e animalesca que precisa de contenção. E contenção para bicho é física mesmo. Força policial obviamente não dá conta, portanto, tem que impedir que se reúnam.
Este texto é para te pedir que reflita sobre medidas desagradáveis, impopulares, que privam todo mundo de algumas liberdades e direitos, pois, por piores que elas sejam, não as únicas que podem conter a barbárie que virou a sociedade brasileira. Hora de começar a pensar com carinho nelas, não como uma solução definitiva, mas como uma forma de estancar o sangramento enquanto o tratamento não começa.
Preparem a cabeça de vocês para medidas mais restritivas, pois mesmo que não seja agora, em algum momento elas serão necessárias. O Brasil não caminha para uma maior civilidade, muito pelo contrário. Em algum momento essa realidade vai se tornar insustentável para todos, a ponto do brasileiro fazer o maluco, dar uma de argentino e votar em outro maluco que execute o remédio amargo necessário.
Aceitem: não tem saída de problema de terceiro mundo com regras de primeiro mundo. As regras, as medidas, as soluções têm que ser condizentes com terceiro mundo. E regra para terceiro mundo é arbitrária mesmo. É restritiva. É injusta. Pune uma maioria por causa de uma minoria. É excessivo. É opressor. Sinto muito, esse é o remédio que cura a doença de vocês. Ou toma o remédio amargo ou continua doente.
Eu realmente sinto muito que o Brasil tenha chegado nesse patamar. Sinto muito mesmo, de verdade. Acho o Brasil um país com um puta potencial. Mesmo nessas condições animalescas ainda consegue produzir muita coisa boa para o país e para o mundo. Imagina se fosse um ambiente minimamente decente e igualitário?
E é justamente por confiar no potencial do Brasil que eu estou aqui defendendo medidas mais extremas. Não é para sacanear ninguém, não é para punir ninguém. Eu acredito que um tratamento de choque pode ser o começo de uma reversão dessa cultura brutal, atrasada. Mas o choque vai precisar ser grande.
A boa notícia é que quando a população estiver educada, poderá ter até mais liberdade do que tem hoje. Você não vai viver para ver, mas seu filho vai. Que tal fazer esse esforço por ele?
Não precisa fazer manifestação, marcha ou protesto. Apenas entenda que o remédio, para funcionar, terá que ser muito amargo. Com isso já se dá um passo importante na direção da solução. Apenas entenda que o país não é a sua bolha, portanto, uma medida que soa ofensiva, excessiva e exagerada para você é apenas adequada para o brasileiro médio.
E, como a lei é para todos e o cumprimento da lei é premissa básica de um país civilizado, pelo bem da coletividade você vai ter que se sujeitar a futuras restrições bem expressivas. Mesmo que não esteja doente, vai ter que tomar o remédio amargo junto com toda a sociedade.
“Ain conformista, abaixando a cabeça para o Estado, gado…”. Então beleza. Fica aí em um país onde podem dilacerar seu ânus na rua. Eu moro em um país onde isso não acontece. Boa sorte.
Se o BR não chegou nessa situação, é porque até pra isso falta competência.
Eu fico triste lendo isso, e mais triste ainda porque é verdade e precisamos de medidas extremas. Nenhum dos avisos sutis, nenhuma das medidas “de primeiro mundo” funcionou, e duvido que funcionará. O grau de barbárie em que chegamos é lamentável. E é estrutural, porque um povo incapaz de enxergar as pessoas ao redor como seres humanos iguais a ele sempre será violento, a não ser que sofra um choque grave, que pode vir através de medidas assim.
E não só em questão de violência física, embora ela seja muito presente: alguns meses atrás, houve uma festa de um time aqui perto com um som alto a ponto de causar ataques de pânico na maioria das pessoas que ao redor. Não apenas em autistas e pessoas que têm problemas com som alto no geral, vejam bem. Até as mais de 50 pessoas que estavam num bar ao lado tiveram sintomas de ataque de pânico, eu fiquei muito feliz por estar longe de lá quando soube. E parece que tem gente incapaz de se divertir sem agredir as pessoas, porque ao denunciar já precisamos assumir os riscos de apanhar e da polícia não fazer nada.
Eu sei que não será agora ou em breve, mas em algum momento vai ser necessário convocar uma Assembleia Constituinte e fazer uma nova Constituição revisando muita coisa. Desde a forma como se trata o preso (cadeia não ressocializa) até normas mais restritivas para a sociedade. E o pior: vai ser feito às pressas por incompetentes e corruptos.
Se o BR não chegou nessa situação, é porque até pra isso falta competência.
O bundil está chegando perto do México, país que já está tomado pelos cartéis (não acredito em aliança “governo + cartéis” como o imbecil laranja disse… acredito que o governo já não existe, nem tem mais nenhuma eficiência no combate aos cartéis e que estes já se tornaram numa espécie de “governo informal” do país, com a tal de xeibaun apenas de marionete). O México já se transformou num shithole com todas as suas características e o bundil segue o mesmo caminho, desgovernado e com as facções cada vez mais ricas, capilarizadas e infiltradas na estrutura sócio-econômico-política desta merda de lugar.
Sim, é muito triste ver o tanto que estão esperando para fazer alguma coisa.
Só vão fazer quando já for tarde demais…
Sally, sabe quem, em um passado recente, também teve que “tomar remédio amargo” para enfim resolver um problema grave? A Inglaterra. Durante a década de 70 e começos dos anos 80, a terra dos inventores do futebol moderno enfrentava uma verdadeira epidemia de confrontos sangrentos entre hordas de “hooligans” (torcedores fanáticos e violentíssimos) e a coisa escalou a ponto de prejudicar não apenas o esporte como a própria imagem do país no exterior. O soco na mesa de “basta” veio depois de duas tragédias: a de Heysel e a de Hillsborough, nas quais houve dezenas de mortes. Com base no “Relatório Taylor” (inquérito conduizdo pelo Lorde Chefe de Justiça Peter Taylor) e tendo à frente a própria Primeira-Ministra Marageth Tatcher, as autoridades locais tiveram que agir com extrema severidade, para banir de vez os “hooligans” dos estádios e mudar a péssima imagem dos torcedores ingleses.
Para além da forte repressão policial, a medida mais dura foi o banimento dos clubes ingleses por cinco anos de quaisquer competições internacionais. Muita gente na época reclamou que era um “excesso”, mas foi um mal necessário. Tendo que se contentar apenas com o campeonato doméstico, jogadores tiveram as carreiras prejudicadas por falta de visibilidade, clubes deixaram de arrecadar o dinheiro das cotas de transmissões de partidas e de patrocínios mais gordos e até as emissoras de televisão também saíram perdendo, com menor audiência e menos eventos para exibir.
Foi uma época ruim para o futebol da Inglaterra, mas as medidas duras surtiam o efeito desejado e, hoje em dia, não só praticamente não há mais casos de tumultos nos estádios e arredores como o próprio campeonato nacional local se tornou extremamente rentável e um modelo a ser seguido por outros países.
Pois é, quando você deixa a coisa sair do controle, só um remédio muito amargo funciona.
Excelente. Escreveu justamente o que veio à mente aqui ao ler o post.
Mais um ótimo texto da Sally que eu gostaria que não tivesse sido preciso escrever, mas as circunstâncias, infelizmente, obrigam. As ideias dela são muito semelhantes às minhas, especialmente no que diz respeito a problemas extremos exigirem soluções extremas e à necessidade imperiosa de se tomar medidas severas “para ontem” porque a época de tentar resolver na conversa já passou faz tempo. Indolente, o Brasileiro Mé(r)dio agora está litealmente tomando no cu e mesmo assim não enxergou o tamanho do problema! O que mais ainda falta acontecer? Será que já não chega?
E, por falar em “chega”, olha… Chega de convesa fiada de cretinos e intelectualóides tentando inutilmente “explicar as causas da violência” sem nunca resolver nada. Chega de se acumular mais e mais leis que ou são inócuas ou nem sequer chegam a ser cumpridas. Chega de discursinho populista barato de apresentadores de programas de TV mundo cão e de políticos que bravateiam se dizendo linha dura contra a bandidagem mas afinam pateticamente na hora do “vamos ver”.
A dorença do país é grave. O remédio pode ser amargo e difícil de tomar, mas muito mais amargos serão o arrependimento por não se ter feito nada e as lembranças ideléveis da dor de ter o cu dilacerado por uma barra de ferro…
Como eu disse no texto, não vai acontecer agora, há muitos interesses financeiros e a questão da legalidade da medida também seria complicada. Mas, em algum momento vai acontecer. Comecem a fazer as pazes com a ideia.
Concordo com você, Sally. Morando no Rio, mais ainda
Resta colocar a medida em prática de forma individual