Clichês do cinema.
| Sally | Des Cult | 26 comentários em Clichês do cinema.
Como a semana passada foi amaldiçoada, cheia de brigas, problemas e desastres naturais, vamos descontrair hoje. Vamos rir, pois tanta dose de realidade ninguém aguenta. Bora falar sobre clichês do cinema?
Clichês são situações que se repetem exaustivamente a ponto de se tornarem engraçadamente previsíveis. E o cinema está cheio deles, (papo técnico: Tropes), não importa qual seja o gênero do filme. Talvez você nunca tenha reparado em alguns dele, mas, depois de ver, não será mais possível desver, você vai lembrar da gente quando um deles aparecer.
O maior clichê de todos é basear o roteiro na Jornada do Herói. A Jornada do Herói é composta basicamente por 10 etapas: 1) o herói é uma pessoa comum que vive uma vida comum; 2) ele é confrontado com uma situação que o tira da sua zona de conforto; 3) ele recusa o chamado a agir por medo ou dúvidas; 4) aparece um mentor para orientá-lo e ajudá-lo; 5) algo leva ou força o herói a aceitar o desafio; 6) ele encara desafios, conhece aliados e inimigos; 7) ele encara um desafio final, maior do que os anteriores e que está relacionado com seus medos e sua história; 8) ele trava uma batalha onde quase perde, mas algo nobre como seus sentimentos, amizades ou coisa do tipo faz com vença no último minuto; 9) o herói se descobre herói; 10) o herói se consagra aos olhos dos outros também.
Meus queridos, desde Jesus Cristo a Luke Skywalker, desde Matrix a Rei Leão, é tudo Jornada do Herói. O ser humano adora Jornada do Herói, não importa qual seja a alegoria na qual ela se passe: no espaço, na floresta, no gelo ou em uma realidade paralela. Esse é, sem dúvida, o maior clichê de todos. Se você olhar bem de perto, verá Jornada do Herói em metade dos filmes de sucesso.
Agora vamos aos clichês menores.
Vamos começar pelas ligações telefônicas em filmes. Normalmente os personagens não se despedem ao desligar o telefone. A conversa acaba e um bate o telefone na cara do outro, mesmo que não seja uma conversa tensa. Me foi ensinado nas aulas de roteiro que esse é um recurso para poupar tempo com falas inúteis, mas, qual é dificuldade de fazer o personagem dizer uma única palavra de três letras? “Bye” (em filme falado em inglês, claro). É menos de um segundo, pelo amor de Deus, façam as pessoas se despedirem antes de desligar!
Nos filmes de ação, em algum momento haverá uma toca de tiros. O mocinho estará fugindo com alguém que ele provavelmente está tentando salvar. Ambos vão correr com normalidade fugindo dos tiros e, quando e apenas quando eles pararem em um local seguro, o mocinho irá chegar sua jaqueta para o lado e veremos que ele foi baleado em algum ponto do seu tronco. Ele não falará nada e a pessoa que está com ele talvez não perceba. E é possível que ele continue a aventura como se nada, como se alguém baleado na barriga pudesse seguir vida normal.
Porém, quando os vilões forem muitos e o mocinho estiver em clara desvantagem, isso não acontecerá, pois começa a valer outra regra: os vilões atiram muito mal e nenhum tiro pega no mocinho, mesmo que ele esteja a céu aberto, sem nenhuma proteção. Basta rolar no chão, dar uma cambalhota, que nenhum tiro pega. Porém, por sua vez, todos os tiros do mocinho atingirão os vilões. Tudo que os vilões têm de erro na pontaria, o mocinho tem de acerto.
Quando alguém quer neutralizar outra pessoa, dará uma coronhada ou golpeará com algo sua cabeça. A pessoa atingida invariavelmente vai desmaiar na hora (não existe a pessoa apenas sentir dor e ficar ainda mais puta), e acordará muito bem, sem danos cerebrais, sem necessidade de ir ao hospital, no máximo com um pequeno filete de sangue escorrendo pela testa (não importa quão irrigada seja uma cabeça humana). A vida seguirá normal, a pessoa atingida nunca morrerá por causa da pancada, não será levada para uma tomografia e nunca terá sequelas.
Em filmes de ação, para mostrar como é fodão, seguro e confiante, o personagem caminhará lentamente quando uma explosão acontecer atrás dele, numa vibe “nada me abala”, sem qualquer medo que a explosão seja maior do que ele imagina e queime sua bunda, arremesse um objeto em chamas na sua cabeça ou de sofrer com o Blast, a pressão gerada pela explosão, que pode causar diversos danos sérios ao corpo humano, entre outros, surdez, hemorragia interna, perfuração intestinal, contusão cerebral e mais. Não há relatos na história do cinema de um personagem impactado pelo Blast.
Em filmes de heróis há sempre a necessidade de escalar cada vez mais o vilão, isto é, o vilão vai ficando mais poderoso e ameaçando cada vez mais coisas. No primeiro filme sequestra a mocinha, no segundo, ameaça o país, no terceiro, o planeta todo. E isso nos leva a um clichê fresquinho, recém-saído do forno: as consequências de um vilão tão poderoso (oi, Thanos) acabariam com a franquia, então, para reverter isso, escoram a continuidade dos heróis em multiversos. Aquele mundo e aqueles heróis o vilão destruiu, pois ele é poderosão, mas existe outro mundo onde todos ainda estão vivos.
Quem não quer apelar para multiversos, tem que cair no clichê do vilão que nunca consegue matar o herói. E, depois de um tempo, fica bem difícil criar um personagem perigoso e gerar tensão na trama sem matar o herói. O que nos leva a um segundo clichê, no qual o vilão, quando pega o herói, em vez de matá-lo de uma vez como qualquer ser vivo faria (até mesmo na natureza), gasta um longo tempo explicando seu plano maligno e contando sua história, o que não faz diferença alguma, já que ele pretende matar o mocinho, mas dá tempo para que o mocinho reaja de alguma forma, se solte e mate o vilão.
Alguns roteiros ainda mais infelizes ainda inventam armadilhas demoradas e elaboradas para matar o herói. Em vez de um tiro direto e reto no meio dos olhos, o vilão amarra o mocinho em uma cadeira dentro de uma sala que vai encher de água e quando a água chegar em determinado nível serão liberados jacarés famintos que foram especialmente irritados para aquela ocasião sendo expostos a músicas de Pablo do Arrocha… Francamente, é patético. É óbvio que no meio de um plano mirabolante o herói vai encontrar uma brecha para escapar.
Quando o roteirista é ruim ou preguiçoso, o filme já começa com o voice over, ou seja, com a voz do personagem principal narrando e situando o espectador para que ele entenda a trama do filme: “Eu sei o que vocês estão pensando, deixe-me explicar como vim parar aqui…”. Um bom roteirista de mostra, não te diz nada. Mas ultimamente muita gente não entende quando apenas é mostrado, cada vez mais é preciso dizer expressamente. Não são só as falas que precisam de legenda, a trama também precisa ser explicada em voz alta. Triste.
Os carros, nos filmes de ação, serão velozes e indestrutíveis. Levarão tiros, pegarão fogo, cairá um piano sobre eles e eles continuarão correndo a toda velocidade. Não importa o quanto batam em uma barraca de frutas ou de qualquer coisa que role ou se espalhe no ar, eles seguirão correndo, tanto o do mocinho, como o do bandido.
Já em filmes de terror, os carros pifarão do nada, sem motivo aparente, sem ter caído uma pluma neles. Ou não pegarão quando quem está fugindo tentar ligar o carro, ou vão morrer no meio da estrada mais escura, no trecho mais perigoso. Aliás, em filme de terror tudo falha: o carro, as luzes, as armas… sempre no momento em que mais se precisa deles.
Nos filmes de terror, a jovem família sempre se muda para a casa mais horrível, cagada, assustadora e velha possível. Ok, talvez eles não tenham muito dinheiro e não possam escolher um imóvel melhor, mas… quando os fenômenos assustadores começam, eles nunca saem correndo da casa. Mesmo tendo filhos pequenos vulneráveis. Ou fingem demência e não percebem até que alguém morre, ou, pior, ficam para “lutar” pela casa. Se é comigo, eu só peço licença ao demo para pegar o carregador do celular e saio correndo.
Nos filmes de terror nos quais há um assassino, sendo ele real ou de caráter paranormal, ele sempre caminhará lentamente em direção às vítimas. Não vai correr, não vai ser ágil. Ele apenas caminha. De Jason ao zumbi clássico, se é um contra um, será bastante comum que o bicho ante devagar. Porém, se forem muitos, talvez corram.
E geralmente o monstro fica bem escondido e só se revela quando a vítima se olha no espelho, aparecendo no cantinho do reflexo. E não ataca e mata imediatamente, ficam olhando de forma aterrorizante, dando tempo da vítima fugir.
“Mas Sally, se ele corresse ou matasse de imediato não existiria filme”. Existiria sim. Nos cursos de roteiro que eu fiz sempre nos obrigavam a escrever roteiros sem clichês e eu vi sair muita história maravilhosa com personagem partindo para cima, para matar, com rapidez e sem dó. Esses clichês não são necessidade, são um mix de preguiça do roteirista com um medo (fundado) do público não entender uma história que saia dessas fórmulas batidas.
Em muitos filmes vemos um idoso sábio, um mentor que ensina o mocinho, geralmente com toque de humor (ou é ranzinza, ou dá uma sacaneada do bem no mocinho, ou é um fanfarrão). De Pai Mei a Senhor Miyagi, de Mestre Shifu a Yoda. Muitas vezes esse sábio nem quer ensinar nada, mas é forçado pelas circunstâncias e, com o passar do tempo, cria fortes laços com seu mentorado.
Se, em algum momento, a mulher amada do mocinho morrer (o que, por si só, já é um clichê, como forma de motivá-lo a se vingar), a cena da sua morte provavelmente será retratada da seguinte forma: o mocinho com a moça nos braços, ferida/morta, ele gritando, olhando para cima, com a câmera focando de cima para baixo e, talvez, até se afastando um pouco.
Talvez ele apenas grite, talvez ele grite “NÃÃÃÃOOO”, mas é certo que a cena corta ali e quando retoma a história, o mocinho está muito puto e sedento por vingança. Eventualmente, podemos substituir a mocinha por qualquer afeto do personagem principal (filho, mãe ou até um pet).
Se a mocinha não morrer no filme, provavelmente vai demorar muito para que ela consiga ficar com o mocinho e todo tipo de impedimento, mentira ou barreira física vai atrapalhar. Mas, quando eles ficarem, boas chances de que se beijem e rolem no chão em frente a uma lareira. E boas chances que o filme termine com eles se casado ou com ela descobrindo que está grávida. E o único sintoma de gestação no audiovisual é enjoo e vômito, apesar de que, na vida real, os primeiros sintomas são outros. Mulher vomita em filme? Está grávida. Não existe intoxicação alimentar.
Se houver uma bomba, o fio que a desliga será cortado no último segundo e provavelmente por alguém que não tem muita certeza de qual fio cortar. Se uma porta está se fechando, o mocinho passará por ela no último segundo também. Se alguém estiver embarcando em um aeroporto, a pessoa amada chegará no último minuto para impedir o embarque e se declarar.
Se algum personagem vai receber alguma notícia ou informação impactante ele fatalmente estará bebendo água quando isso acontecer, para que ele possa cuspira e demonstrar assim o quanto ficou surpreso. Quando alguém “do bem” morrer, dificilmente será instantâneo, a pessoa vai agonizar e ter tempo para falar algumas últimas palavras reveladoras. Nunca é mandando cuidar dos seus filhos, é sempre um segredo extraordinário que ele não teve qualquer pudor de ocultar do personagem principal quando estava vivo.
Tem ainda a frases, que, de tão ditas, já viraram clichês: “Há apenas uma forma de descobrir” (antecedendo uma ação ou uma aventura), “Vamos terminar o que começamos” (idem), “Não há tempo de explicar!” (quando seria repetitivo recontar tudo que aconteceu para um personagem que acaba de chegar), “Você não precisa fazer isso” (aliviando a responsabilidade do mocinho), “Não é o que você está pensando” (muito usada da mesma forma ofensiva na vida real também), “Não faça nada estúpido” (sempre antes do mocinho fazer algo corajoso, porém estúpido) e muitas mais.
Sobre personagens, tem grandes chances do gordinho ou o feio serem os engraçados, os alívios cômicos do filme. A mocinha belíssima nunca sabe que é belíssima e é isso o que a torna especial. Não raro, ela começa mais feinha e se transforma durante o filme e se torna linda e todos os que a escrotizavam se sentem atraídos por ela. O mocinho frequentemente fala sozinho boa parte do filme e ninguém acha estranho ou pensa em esquizofrenia. As crianças são sempre fofas e bonitas, criança feia não existe em filme.
O cabelo do mocinho não despenteia, não importa a ação da cena. A calcinha da mocinha não aparece, não importa quão violenta seja a explosão, a tempestade ou a queda que ela sofra, estando de saia. Quando há uma passagem de tempo o filme mostra uma montagem com diversas cenas curtas mostrando pedaços do que aconteceu naquele decurso do tempo com o personagem e, no meio delas, sempre tem uma cena escovando os dentes para mostrar que o dia começou.
E não importa quão espetacular seja a morte do monstro no filme de terror, se a bilheteria for boa, ele vai voltar. Ele ressuscita, será clonado, será um irmão gêmeo… de alguma forma ele vai voltar. Quantas vezes for lucrativo.
Lembrou de algum clichê que eu esqueci? Deixa aqui nos comentários…
Mocinho e Mocinha apaixonados serem de lados inimigos: famílias rivais, religião, rico x pobre, popular x nerd, bad boy x estudiosa e por ai vaí.
Sim, Romeu e Julieta Template, tem sempre um enorme impedimento
Um dos primeiros clichês de cinema, hoje em desuso, era o da “donzela em perigo”, com o vilão, de capa, cartola e bigode de pontinhas retorcidas amarando a mocinha deitada nos trilhos do trem.
https://petticoatsandpistols.com/wp-content/uploads/2020/05/Damsel-on-Railroad-Tracks-1.png
Mais alguns clichês:
– Mocinha vista por todos como um “patinho feio” e que se torna um “lindo cisne” depois de tirar os óculos, soltar o cabelo e passar por uma bela produção/banho de loja. E essa produção/banho de loja, claro, são mostrados de forma editada em uma “montage”.
– Vilão despencando para a morte no final por descuido próprio, justamente quando ia dar um último e fatal golpe no mocinho, e, durante a queda, gritar “Nãããããããããããoõooooooooooooooooo….” silenciado apenas com o som do impacto no solo ou sobre um carro estacionado.
– Televisão que sempre é ligada quando um telejornal, naquele exato instante, exibe uma notícia que, se for o herói que estiver assistindo, será sobre o vilão que está tentando deter; e se for alguém buscando provar a própria inocência, será escrachando sua foto e repassando as acusações do crime que não cometeu.
– Protagonista que apanha até não poder mais e, quando tudo parece perdido, levanta e vence de forma improvável após uma provocação do vilão que matou ou aleijou seu pai/ irmão/mestre e que o leva a rememorar em flashbacks tanto seu duro treinamento em artes marciais quanto o motivo de sua vingança.
– Sempre que americanos vão ao Mexico, todos lá estão sempre de sombrero, soltando um “¡ay, caramba!” a cada cinco minutos e, de fundo, sempre está tocando de forma onipresente a manjadíssima música “El Jarabe Tapatío”, que pode ser ouvida neste vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=6qdX9jeVC6s.
Não sei dizer exatamente como seria, mas via isso muito tanto em filmes dos Trapalhões quanto em filmes japoneses. O herói faz de tudo para ajudar a mocinha, até salvando a vida dela, só para no final ela ir embora com outro (Trapalhões) ou no fim os dois não ficarem juntos, mesmo sem qualquer impedimento (filmes japoneses).
Outra é todo número de telefone em filme americano ter o prefixo 555. Isso faz sentido: no final do século passado, Pelé fez uma propaganda para a Nokia sobre o olho mágico, no qual aparecia um número que poderia ser real. E era: o número do celular da Tetê Espíndola. E ela recebeu mais ligações naquela primeira semana da propaganda do que no restante do ano.
Nossa, que triste isso da mocinha ir embora com outro, nunca tinha reparado!
Teve também o final do “Último Americano Virgem”. O rapaz ajuda a mocinha que havia engravidado a passar pela barra de ter engravidado e depois ter decidido abortar, indo junto na clínica pra realizar o procedimento.
Tudo isso para, no final, flagrar a mocinha aos beijos com outro cara (se não me engano, o mesmo cara que a engravidara)
O filho, inseguro e nervoso numa apresentação ou partida, olha desacreditado para a plateia e, lá na puta que pariu, identifica o pai acenando pra mostrar que chegou em tempo. Imediatamente o filho se enche de autoconfiança e vira o destaque do time.
SIIIIM
Talvez o pai se atrasou para o jogo, daí o pai chega no final, o filho vê o pai chegando, se enche de alegria e marca um gol ou cesta decisiva para o jogo movido por esse amor. Um clássico!
Sempre que tem algum policial ou agente trabalhando disfarçado, esse disfarce é sempre o mais estereotipado e caricato possível. Dá pra ver de longe, mas todos os outros personagens do filme só percebem quando algo acontece pra fazer a história andar e o “disfarce” é enfim revelado. Parece que fazem assim de propósito, porque talvez achem que o espectador médio é burro demais e só consiga entender o que está havendo se for assim. Pior que isso só mesmo quando há uma “quebra da quarta parede” e o “disfarçado” olha pra câmera como que se dirigindo ao público, faz um conspícuo “shhhhh…” com o indicador em riste diante dos lábios como que pedindo “não contem pra ninguém que sou eu!” e depois a ação é retomada.
sim, e tem sempre uma picadinha marota para relembrar ao público de que aquele personagem está camuflado
Além do clichê de “lutar pela casa”, ignorar todos os sinais de que há algo errado é um clichê levado ao extremo em filmes de terror. Eu me sinto muito inteligente quando os assisto, embora já tenha visto algumas boas exceções. Se tem um monstro perseguindo todo mundo que lê um livro ou toca em algo, simplesmente não leia o livro ou toque no objeto.
Fora a quantidade absurda de sangue que os personagens perdem e continuam levantando de boa. Quando muito, desmaiam por cinco segundos e depois revelam que só estavam pegando uma arma escondida para ganhar a luta.
Alguns desses clichês se aplicam a livros, mas às vezes a história é tão bem escrita que a gente perdoa a trope manjada. Inclusive, Sally, já leu As Sete Mortes de Evelyn Hardcastle? Tem um plot bem incomum e foi o único suspense que não consegui resolver antes do final nos últimos anos. Acho que nunca se tornou filme.
Não li, mas agora quero ler!
Deixo o link aqui para quem mais quiser ler: https://dlivros.com/Buscar?q=as+sete+mortes
Uma coisa que eu detesto é quando resolver o problema irresolvível acaba causando um problema exponencialmente maior saído diretamente da cavidade anal do roteirista.
Por exemplo, uma franquia tem um vilão que causa a morte de incontáveis inocentes, e danos incalculáveis e irreversíveis por onde ele passa, mas como o herói é um paladino lawful good, ele sempre se limita a capturar o vilão e mandar ele pra prisão, de onde ele vai fugir no começo do próximo episódio/capítulo/filme.
Pois bem, seja por acidente, ou por uma situação desesperada, o herói mata o vilão. Nosso paladino lawful good que até então sempre teve princípios inabaláveis imediatamente decide que esse é um bom jeito de resolver os problemas, então ele faz uma speedrun pra mudar de classe, saindo de paladino pra cavaleiro da morte, onde qualquer contraventor, desde um assassino pescotapa até o cara que esqueceu de declarar o imposto de renda vão pagar com a vida. Isso é especialmente recorrente com o Batman e o Super Homem.
Ou então, numa temática que eu gosto que é voltar ao passado pra consertar algo, consertar esse algo vai desencadear uma série de desgraças que causarão um futuro (ou presente) pior ainda. Teve um livro que eu gostei bastante do Stephen King chamado Novembro de 1963 em que salvar a vida do presidente Kennedy gerou um futuro em que literalmente a realidade está erodindo, com terremotos, furacões e tsunamis destruindo vários lugares do mundo e o próprio espaço sideral está implodindo.
Sobre esse voltar ao passado e cagar o presente, eu amo o filme “Efeito Borboleta”
Relendo meu post, acho que essa parte do volta ao passado ficou meio mal redigida. O Efeito Borboleta é realmente bom porque todos os caminhos têm indícios de como a coisa tem potencial pra desandar seguindo por eles. O que eu não gosto é quando tiram alguma coisa da cartola.
E eu escrevi essa parte mais pensando no livro do King, mesmo. Não tinha absolutamente nenhuma indicação de que salvar o Kennedy ia desencadear uma série de problemas, mas ele não se contenta em fazer com que tudo desse errado nessa linha do tempo alternativa, como ele literalmente faz a realidade entrar em colapso.
Será que seria engraçado um filme que zoasse com essa parada de “Jornada do Heroi”?
Todo filme que rompa com clichês acaba ficando muito divertido, o problema é que pode causar estranhamento no público, que está acostumado com velhas fórmulas, e flopar
Personagem X falando alguma coisa que personagem Y não poderia ouvir, e então se interromper e dizer “Ele(a) tá atrás de mim, não é?”
Ah, e criticar clichês também é um clichê por si só, em alguns filmes :B
sim!
Em pensar que vários desses clichês vieram da literatura… Na teoria literária, aliás, e especificamente na teoria da narrativa, a gente estuda muito isso, os clichês, as formas recorrentes de narração, os tipos de romance, os enfoques (seja no personagem, na mente dele, no ambiente onde se passa a cena, enfim).
Aliás, Sally, com quem tu fez aula de roteiro?
se eu contar, vou me tornar facilmente identificável…
Nós já sabemos que você se chama Sally Somir. O ChatGPT disse!
Lembrou de algum clichê que eu esqueci? Deixa aqui nos comentários… Dois.
1 – “Gear up”: em filmes de ação, é obrigatória a cena do protagonista se preparando para a sua “batalha final: trocando de roupa, vestindo armaduras, fechando fivelas, afiando facas, municiando pistolas e fuzis, abrindo bolsas ou painéis secretos cheios de armas que são pegas e penduradas pelo corpo todo, etc. Tudo isso ao som de uma música que evoque tensão, com uma edição repleta de close-ups e onde cada gesto é sempre muito “dramático” e enérgico, até mesmo uma simples abertura de zíper ou a amarração de um coturno.
2 – Melhoras de rendimento absuras em “training montages”: em filmes em que o protagonista é um atleta, a cena de treino quase sempre começa com o coitado se esfalfando, gruninhindo, suando em bicas e tendo uma dificuldade enorme em um exercício que é fundamental para se estar pronto para o “maior desafio de sua vida”. Conforme a montagem avança e a música da trilha sonoroa vai ficando mais e mais energética, no entanto, tudo muda da água para o vinho e, o que antes requeria um esforço hercúleo, fica agora super fácil e ao término da cena o mestre/ mentor/ sensei, antes severo, enfim sorri, dá um joinha e emenda um “Now you’re ready, kid…”
SIM!
– Compilção de “gearing up scenes” de vários filmes:
https://www.youtube.com/watch?v=dlZ10Dljkrs
– Training Montage em “Never Break Down” (filme sobre lutadores de MMA):
https://www.youtube.com/watch?v=5OZbydb0FdY