Skip to main content

Colunas

Arquivos

Solução de homem.

Solução de homem.

| Somir | | 6 comentários em Solução de homem.

Considerando os números assustadores nos comentários de ontem sobre as diversas formas de abuso que mulheres lidam diariamente, eu comecei a pensar numa coisa que provavelmente vai soar bem machista…

As mulheres não parecem ser capazes de lidar com o problema de homens abusivos. Não estou falando do óbvio de não conseguir impedir alguém fisicamente muito mais forte, estou falando da própria ideia de como se resolve situações dessas. Uma coisa é ouvir a reclamação delas, outra bem diferente é seguir os planos delas para chegar numa solução.

Sim, eu sei que homens e mulheres não são esse bloco monolítico que só pensa de um jeito, o que eu estou tratando aqui são sobre tendências dos gêneros. Dado o mesmo problema, é comum que homens ofereçam um tipo de solução e mulheres outro. Eu não sei te dizer exatamente onde acontece essa separação, mas me parece que homens enxergam melhor o sintoma e mulheres enxergam melhor a doença.

E mantendo o tema dos abusos que mulheres encaram na vida, eu posso afirmar do alto da minha mente masculina que é muito mais natural pensar no caso de uma mulher sendo encoxada no ônibus pelo ângulo da encoxada. Eu começo a calcular qual o incômodo do ato de ter alguém pressionando o corpo contra o seu. É um cálculo inconsciente de quanto abuso ocorreu e qual o grau de punição que ele merece.

Sim, racionalmente eu entendo o que a Sally disse no texto de ontem, que vai muito além do ato físico, mas eu posso afirmar que é um exercício de empatia ir além da prática do abuso. Porque numa mente focada em sintomas, a doença pode ficar em segundo plano.

E na mente focada na doença, os sintomas não registram como caminho de cura. Por incrível que pareça, eu começo a ter uma visão diferente sobre como muitas mulheres falam sobre machismo estrutural e masculinidade tóxica. Não que eu esteja prestes a pintar o cabelo de azul e brigar contra o patriarcado, mas me faz mais sentido que mulheres tentem lidar com o problema dessa forma. Doença e sintomas.

Se você quer mexer na causa desses abusos, faz todo sentido dizer que homem tem que aprender a não estuprar. Tem que criar o homem desde cedo para não achar que está tudo bem abusar de mulheres, tem que mudar a mentalidade corporativista do homem nesses casos. A questão é que nesse caso, o sintoma precisa ser tratado também: é uma doença contagiosa. Se o sintoma dessa mentalidade doente de abusar de mulher continuar acontecendo, ele transmite para outros homens (e mulheres).

E por esse ângulo, eu argumento que controlar sintomas é um trabalho mais indicado para homens. Nas últimas décadas, essa coisa toda de reprimir esses abusos foi jogado nas costas das mulheres. Quase todo homem minimamente decente vai dizer que é claro que concorda que elas devam ficar seguras, mas por um misto de acomodação masculina e histeria feminina, ficou impensável homens tomarem conta desse problema.

E eu tento entender o outro lado: se o homem mal consegue entender por que uma “passada de mão no peito” é tanto drama assim, ele nem sabe qual o problema. Não faz sentido ir em médico que te diz que não tem problema vomitar um pouco de sangue. Justo.

A questão aqui é que mesmo sem entender a doença, o homem é mais do que capaz de notar o sintoma. E mesmo que não dê para confiar na capacidade do homem de tratar a mentalidade que faz com que tantos abusem de mulheres; se nós estivermos mais focados em reconhecer e impedir a prática do abuso, já estamos fazendo a nossa parte.

E aqui algo que pode irritar muito homem: a mulher moderna tem esses arroubos de lacração histérica porque é mãe solteira de filho feio. Os movimentos sociais que emanciparam a mulher desde o século passado foram na base de mulher reclamando até o homem ceder o ponto. O homem não abraçou a participação e a liberdade da mulher, ele só foi empurrado um pouco e deu um espacinho.

Porque a gente faz isso: quando mulher enche o saco, a gente se desinteressa do tema meio que como vingança. Acho que muita mulher está vendo a vida passar diante dos olhos agora… vamos dar um tempo para elas pensarem. Reclamar funciona, mas gera concordância maliciosa. Quer viver sem me obedecer? Beleza, mas eu não ajudo com mais porra nenhuma. Vai estudar, trabalhar, cuidar dos filhos e não pode embarangar. Homem ficou mais encostado pós liberação feminina.

O que esse povo redpill e incel fala tem muito a ver com dizer isso em voz alta. Percebam que quase sempre gira ao redor da mulher não ser como eles querem que ela seja, e em troca eles não formam laços ou mesmo se aproximam. O homem moderno está se desengajando da vida da mulher. É muito fácil sair culpando homem por ser encostado ou mulher por ser chata, mas não resolve nada.

O que eu acredito que resolva é entender que são vidas interconectadas. Ninguém vai resolver sozinho. Tem algo errado na estratégia feminina de tratar homem como doença e tem algo errado na resposta masculina de só perceber os sintomas do que elas estão fazendo. Faltou combinar. Em tese queremos a mesma coisa: mulher que se sente segura. Para elas o benefício é óbvio, para nós costuma ser uma vida bem mais tranquila e com diversas regalias.

Na prática, eu entendo que está faltando sim a participação masculina em tornar o mundo mais seguro para elas. O que eu acho que está dando errado é que a informação que é espalhada por aí é o método feminino de lidar com a coisa. O que, por diferenças de funcionamento cerebral, é bem chato para a gente. Escutar palestra sobre como ser mais respeitoso no trabalho? Ler literatura feminista? Escutar e aprender como mulheres poderosas? Olha…

Feministos são tão chatos porque são claramente homens fingindo serem o que não são. Repetem sem entender, participam sem acreditar. Muitas vezes são apenas mendigos de buceta que acabam maltratando mulher na primeira oportunidade. O que eu quero dizer aqui é que homem precisa ser mais homem na hora de lidar com proteção das mulheres. O problema é literalmente estarem enfiando dedos na bunda de mulher na rua. Esse tipo de coisa homem entende bem, se o homem tratar a coisa de forma mecânica de não fazer isso e reprimir quem faz isso, já é uma forma excelente de ajudar as mulheres.

Tudo bem não entender de coração o sofrimento feminino, mas se tratar como pária o homem que abusa covardemente de mulher já resolve muito. Muito mesmo. Amigo, pode achar papo feminista um saco e aquela gente de cabelo colorido um bando de lixo humano, só não pode deixar passar quando um conhecido seu resolve tirar a calcinha de uma mulher dormindo.

A gente é homem, a gente resolve as coisas de forma mecânica. Toda vez que um filho da puta faz isso com uma mulher, ele piora a vida de todos os outros homens, porque deixa a mulher com mais medo. Deixa a mulher com raiva justificada pela impunidade. E essa raiva vai virando todo esse movimento lacrador que demoniza homem.

Pudera, a gente está falhando numa missão básica. O macaco maior não está protegendo a macaca menor. A mulher vai perdendo a linha mesmo, porque alguém tem que fazer alguma coisa… e eu posso até ir longe dizendo que essa coisa de abrir fronteira, por exemplo, tem a ver com a esperança inconsciente de homens protetores.

A gente tem que ser mais agressivo uns com os outros, quebrar a “camaradagem” quando ela significa deixar passar abuso contra mulher, porque mesmo numa análise totalmente amoral da coisa, é uma falha grotesca de masculinidade que torna as mulheres menos interessadas em viver em nossa função. Estamos quebrando a confiança. Eu nem acho que o homem do passado era tão melhor assim, é que como a mulher ficava mais sob o controle de um homem, no mínimo ela sentia que tinha um porto seguro.

Foi um avanço dar mais liberdade para as mulheres, mas estamos numa fase de retrocesso sobre a ideia básica de que é parte da nossa missão como homens manter elas seguras. O mundo no qual elas eram propriedade não volta mais, não adianta fazer essa “operação tartaruga” contra elas, já saiu até do controle da mulher. O que muitas fazem hoje com demonização do homem é uma resposta histérica de quem está se sentindo abandonada.

Essa parte cultural eu acredito que elas consigam resolver entre si assim que o homem aumentar o controle interno e ser mais agressivo contra quem comete abusos cotidianos como os que a Sally descreveu ontem. E a gente não se controla com teorias acadêmicas e rodas de conversa, a gente se controla estufando o peito e brigando se precisar. Está de saco cheio de mulher maluca? Até elas estão. Mas está faltando homem ajudar como homem. Não precisa aguentar papo chato nem se abrir para ouvir os sentimentos delas… mulher resolve isso bem entre elas. O que elas precisam da gente é que homem tenha medo de outros homens se começar a mexer com mulher.

Isso elas não conseguem fazer. Elas estão tentando mil outros caminhos justamente porque o mais simples, o caminho de tratar os sintomas para poder cuidar da doença aos poucos, só homem vai conseguir.

Nós somos permissivos demais com outros homens, e eu realmente acho que é um acordo maligno de abandono para forçar elas a voltarem correndo para debaixo do nosso controle. Como só vemos sintomas, incomoda a ideia de que você não pode mais ter uma mulher como seu instinto diz que você deveria ter. Falta ver a doença, que é uma queda brutal de confiança da mulher no homem fazer coisas de verdade.

Não tem nada a ver com ser ativista, tem com se regular e regular seus amigos e conhecidos com linhas claras do que não pode fazer. Não tem área cinza na maioria das coisas que a Sally falou no texto passado, salvo gente muito brutalizada, nós sabemos que é abuso. Se você bateria num homem fazendo isso com uma mulher querida, é óbvio que passou do ponto. A gente sabe o que é, a gente sabe até que tem um monte de comunidades online focadas em compartilhar abusos. A gente costuma ter uma certa preguiça de lidar com abusos em mulheres “dos outros”. Não está funcionando assim, as mulheres estão ficando piores por causa disso. Não estamos ganhando nada.

Sim, tem que pensar: não é inteligente ir se meter sozinho em casos de violência doméstica, existe polícia para isso. Mas você tem uma força como homem que mulher simplesmente não tem, se você reagir negativamente contra abusos, isso começa a regular o comportamento de outros homens. Eu já fiz isso na prática, já consegui tirar grupos de homens de transes coletivos de tolerância com abuso de mulher dizendo um “não, mano!”. Já isolei uma pessoa da minha vida por agir assim. É uma merda que não se respeite mulher da mesma forma que um homem, mas é uma realidade: como homem você tem um poder bem maior de convencimento de outros homens que uma mulher.

Mas eu vejo mais e mais homens envenenados por ideologias que tratam mulheres como inimigas. É a mesma porcaria da mulher histérica chamando todo homem de estuprador, é insanidade. Nós estamos ficando desinteressados porque elas falham no papel de ser a cola da sociedade, elas estão ficando neuróticas porque nós falhamos como defensores da sociedade. E eu realmente acho que por motivos de força e poder social, são os homens que tem que começar a resolver isso. Elas estão tentando do jeito errado, a gente nem tentando está.

Falta confiança porque falta ação. Nem acho que precisa fazer tanta coisa assim: não abuse e não incentive ou tolere abusos vindos dos homens que você conhece. Vamos ver como elas reagem se o mundo parecer mais seguro. Eu realmente acredito que vai ser melhor para a gente do que como está agora.

Comentários (6)

Deixe um comentário para Somir Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.