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Desfavor Explica: Jabulani.

| Sally | | 20 comentários em Desfavor Explica: Jabulani.

Exaliftin'Quando a polêmica começou, eu achei que não duraria mais do que uma semana, mas pelo visto ainda vai ser tema de muita discussão. Considerando os últimos acontecimentos, Desfavor concluiu que não vale a pena perder tempo falando sobre técnicos e jogadores desta Copa do Mundo, então, resolvemos dar uma moral para ela, que está cada vez mais famosa e badalada. Desfavor Explica fala sobre Jabulani, a bola da Copa do Mundo.

Esta bola é uma criação da marca Adidas, patrocinadora da Copa do Mundo e seu nome é de origem Bantu isiZulu, um dos onze idiomas falados na África do Sul. Significa algo como “Celebrar” ou “Celebração”. A bola tem 11 cores, em homenagem aos 11 idiomas oficiais da África do Sul. Eu devo ser meio idiota ou meio daltônica (ou ambos), porque estou aqui com uma Jabulani na mão e não consigo contar 11 cores, mas tudo bem, deixa pra lá. A Adidas falou, tá falado.

A FIFA impõe normas rígidas sobre tamanho e peso da bola, com intenção de padronizá-las. Daí veio um Troll da Adidas e pensou “Mmm… esses otários determinam o peso e o tamanho, mas ninguém disse nada sobre sua superfície externa”. Assim nasce esta piada de mau gosto chamada Jabulni. Mas será que ela é tudo isso de ruim que andam dizendo? Desfavor estudou e foi conferir.

Teve festa para o lançamento da Jabulani, você sabia? Nem eu. Ela foi apresentada ao mundo em 04 de dezembro de 2009, data do sorteio dos grupos da Copa. Cada país participante da Copa teve sua própria festa de lançamento da Jabulani, aqui no Brasil a festa foi no Pacaembu (e pelo visto foi muito mal divulgada, porque eu nem ouvi falar).

Depois de ouvir tanto chororô por causa da Jabulani, fiquei pensando cá com meus botões: “Poxa, que sacanagem só apresentar a bola às vésperas dos jogos, não deu tempo de ninguém se adaptar”. Foi quando, para minha surpresa, descobri que não foi bem assim que aconteceu. Por exemplo, a Jabulani foi a bola oficial do Mundial de Clubes da FIFA de 2009. Também foi utilizada em diversos campeonatos europeus e na Copa das Nações Africanas de 2010. Além disso, todas as seleções treinaram com a Jabulani, se está difícil para um, está difícil para todos.

Mas, apesar de todo o oba-oba em torno desta bola, não vai ser a Jabulani a bola oficial da final desta Copa do Mundo. Pois é, fizeram uma “edição comemorativa da edição comemorativa”, a bola usada na final vai ser uma versão da Jabulani chamada Jo´bulani. É uma homenagem à cidade de Joanesburgo. Podem reparar que antes dos jogos aparece em um pedestal uma bolinha escrito Jo´bulani.

A Jabulani foi muito criticada, especialmente por jogadores brasileiros.  Eu acho que ser criticado por Felipe Melo (“é que nem patricinha: não gosta de ser chutada”) é atestado de qualidade. Mas pegou mal. Chamaram a Jabulani de “bola de supermercado” para baixo nos cornos da patrocinadora da Copa. Bacana isso. Você dá uma entrevista com um painel de fundo escrito “Adidas” de ponta a ponta e fica falando mal do produto deles. Deselegante.

Ao longo da Copa do Mundo vimos muita barbeiragem futebolísitca sendo justificada pela polêmica em torno da Jabulani. Sempre que alguém chuta a bola na puta que pariu ou perde um gol feito, o narrador grita “Jaaaabulaaaaniiiii”. Será que procede? Desfavor foi investigar.

Cientistas dizem que a Jabulani pode apresentar trajetórias inesperadas porque seu formato seria “redondo demais”.  O problema seria que a Jabulani é uma esfera quase perfeita. Isso parece bom, mas pode trazer problemas.

Normalmente as bolas de futebol tem costuras externas, o que faz com que seu formato não seja tão redondo e isso faz toda a diferença na aerodinâmica da bola hora do chute, pois as costuras externas fazem com que a bola tenha uma trajetória mais estável e controlável. No caso da Jabulani, algum troll achou que seria divertido fazer a bola sem costuras.

Pelo fato de não ter costuras o formato dela é um pouco diferente das bolas convencionais, o que reflete na trajetória e velocidade da bola. Ela nem ao menos tem costuras “internas”, é feita por oito gomos unidos termicamente, sem costura. Porque as costuras (ou a falta delas) é tão importante? A ausência de costuras faz com que o ar não circule ao redor dela quando ela é chutada. Já nas outras bolas, onde o ar desce através das costuras. Em razão disso a Jabulani realmente fica mais instável.

Além disso ela tem umas rugosidades externas que fazem com que o ar próximo à superfície vire um “fluxo assimétrico” (passa de forma desigual em volta da bola). Forças laterais podem resultar em “desvios e mergulhos voláteis”. A bola tende a assumir o comportamento “imprevisível” (ou seja, diferente do que se está acostumado) quando passa da barreira dos 73 a 80 km/h. Não sou eu quem diz, é a NASA. Sim, a NASA se deu ao trabalho de estudar a Jabulani.

Vamos ouvir a explicação técnica de um Diretor de um Instituto de Ciências e Movimento: “Por causa do formato da Jabulani, o tempo de contato com o pé é menor. Em consequência, ela praticamente não gira mais. A bola terá uma trajetória mais flutuante e imprevisível, tanto para o batedor como para o goleiro”

“Mas Sally, então Julio César estava certo, a Jabulani é o terror dos goleiros!”. Nem tanto, vamos com calma. A Jabulani tem também seu lado positivo. Ela foi criada usando uma tecnologia chamada “grip’n’groove”, ou seja, colocaram na bola uma superfície rugosa, feita através de uma “pintura” com um “granulado” na parte externa, que facilita bastante a vida dos goleiros na hora de agarrar.

E a culpa nem sempre é toda da bola. Outros fatores como por exemplo a pressão do ar, mais fraca na altitude (África do Sul? Oi?), pode influenciar na trajetória da bola, seja ela Jabulani ou não. Outra coisa: a bola Teamgeist usada na Copa do Mundo de 2006 tinha uma superfície ultra lisa, o que poderia foder muito a vida dos goleiros, até porque tinha uma tendência a seguir uma trajetória mais curva do que a bola convencional, e a cair mais repentinamente no fim da sua trajetória no entanto ninguém reclamou disso. O que quero dizer é: todas as derivações de bolas tem prós e contras. A Jabulani tem prós e contras. Cabe ao profissional se adaptar ao material de trabalho. Houve tempo para isso, porém a uma semana da Copa começaram a meter o pau na bola.

O curioso é que os responsáveis pela criação dessa bola dizem exatamente o contrário de seus críticos: “Jabulani não tem as imperfeições das anteriores fabricadas à mão. Oferece uma precisão inédita aos atacantes” e ainda “esta bola é conhecida por reagir de maneira uniforme com o objetivo de deixar em evidência as qualidades técnicas dos jogadores”. Não, Amigo Leitor. A Jabulani não é tão vilã quanto se faz parecer. O problema é que tem muita gente ali patrocinada pela Nike, falando mal do rival.

“Mas Sally, se a bola tem rugosidades externas, isso não deveria aumentar o seu atrito e deixá-la mais lenta?”. Pois é, eu pensava assim também, até estudar o assunto. A rugosidade só aumenta o atrito ENTRE SUPERFÍCIES, mas quando se fala do atrito com o ar a história muda. Neste caso a rugosidade causa um efeito contrário, ou seja, reduz o atrito, pois os grânulos utilizados na pintura causam uma “rugosidade aerodinâmica”, (pense nas bolas de golfe, elas não tem aquelas depressões a toa). A Jabulani é mais rápida que as outras bolas.

“Mas Sally, como a física explica a Jabulani e suas trajetórias inesperadas?”. Anota aí para fazer bonito na mesa do bar: EFEITO MAGNUS. Tia Sally vai tentar simplificar: a gente sabe (ou deveria saber) que todo corpo tende a continuar em movimento em linha reta mantendo sua velocidade até sofrer a ação de uma força (spolier: Primeira Lei de Newton). Uma bola chutada sofre a ação de várias forças: atrito com o ar, peso da bola e outras variáveis que determinarão sua trajetória.

Essa força que desvia os objetos foi estudada por um cidadão chamado Heinrich Gustav Magnus e por isso acabou ganhando seu nome: Efeito Magnus. Como a Jabulani é mais rápida que as outras bolas por causa da sua rugosidade, está mais sujeita ao Efeito Magnus, quanto maior a velocidade, maior o Efeito Magnus. É esse efeito que a desvia e faz com que ela faça curvas “inesperadas”. Inesperadas se comparadas às bolas anteriores, porém, quando você treina por semanas com uma bola aprende direitinho os feitos que ela pode fazer.

Então a Jabulani tem sim uma trajetória diferenciada, é sim um pouco diferente, mas não é a responsável por todas as bolas fora que o Brasil mandou. E definitivamente não é imprevisível se você já treinou com ela. Tudo de ruim é culpa da bola, né? Que mais? O aquecimento global também é culpa da Jabulani? Um eventual erro ou outro pode ser creditado a ela, mas TODOS é exagero. Ou será que Julio Bola de Supermercado Cesar vai dizer que a culpa da trombada que ele deu com Felipe Bola Patricinha Melo foi da curva que a Jabulani fez? Nem mesmo a Argentina que tomou de 4 ousou reclamar ou culpar a Jabulani. Deixem a Jabulani em paz!

“Mas Sally, você está dizendo que os jogadores da Seleção Brasileira, os melhores do Brasil e talvez do mundo, não sabem chutar uma bola?”. Caro Leitor, você está dizendo que a Adidas, uma das melhores marcas de material esportivo do mundo, não sabe fazer uma bola?

Para dizer que mulher quando fala de futebol só fala merda, para dizer que estava crente que vinha um Sally Surtada e se decepcionou com este assunto masculino e para me perguntar quanto a Adidas me pagou pela postagem pró-Jabulani (nada, a resposta é sempre nada, ninguém nunca nos paga nada): sally@desfavor.com

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