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Somir Surtado: Muita muita informação informação.

| Somir | | 14 comentários em Somir Surtado: Muita muita informação informação.

Simples, muito simples...

Este texto vai falar (também) sobre alguns jogos de computador, então me sinto obrigado a rotular o texto com o grau 8 na escala de nerdice para textos do desfavor. Escala inventada agora, mas que eu vou utilizar a partir deste texto. Se você, leitor ou leitora, não gosta dessas coisas, deve evitar qualquer texto meu rotulado com um grau maior que 3.

E caso você não tenha percebido, Somir Surtado virou minha coluna para assuntos nerds. Eu gosto dos assuntos e ainda irrita as histéricas, win/win.

O grau 1 engloba assuntos científicos com utilização clara na vida social de uma pessoa que se importa com sua vida social.

O grau 2 trata de idéias que influenciam de sua vida cotidiana, mas que não vão te fazer mais atraente para o sexo oposto.

O grau 3… Cacete, quanta informação só para falar de uma escala de nerdice inventada na hora… Eu tenho um talento natural para complicar as coisas, mas vivemos num tempo onde a quantidade de informações e idéias disponibilizadas diariamente para uma pessoa comum é tão grande que você é bem capaz de estar pensando no que seria o grau 3 e qual a relação entre toda essa enrolação e a frase inicial sobre o jogo de computador. Provavelmente enquanto está trabalhando em duas ou três coisas ao mesmo tempo.

Para complicar ainda mais, o texto vai voltar para os jogos agora. Mantenha próxima a menção ao excesso de informação na sociedade moderna para acompanhar o raciocínio. Você deixou a porta de casa aberta? Bom, como eu ia dizendo:

Há alguns meses eu venho “jogando” um RPG online de temática espacial. Só essa informação já garante pelo menos 7 na escala de nerdice para este texto. O fato de que eu pago para “jogar” garante o grau 8. “Jogando”, entre aspas, porque eu simplesmente não tenho tempo para jogar. Basicamente o mongo aqui paga 15 dólares por mês para ter uma conta no jogo e um ícone no desktop que já está juntando teias de aranha virtuais.

Você, tão acostumado a processar qualquer informação inútil que absorve, deve estar pensando que não faz o menor sentido pagar para não jogar. Pois bem, neste exato momento, o meu personagem no jogo está estudando a habilidade de lançar pequenos robôs de sua nave para atacar os inimigos. Não acaba aqui: O personagem já sabe fazer isso, mas precisa estudar para conseguir lançar estes robôs cinco quilômetros mais longe do que consegue lançar atualmente. E para fechar o caixão: O tempo que demora para este personagem aprender a lançar os robôs cinco quilômetros mais longe é de UMA SEMANA. Semana da vida real.

Neste exato momento eu estou pagando para isso. Enquanto minha conta estiver ativa, o meu personagem no jogo continua aprendendo essa habilidade. Aqui, na vida real, eu não tenho a menor previsão de quando eu vou ter algumas horinhas livres que sejam para ver esta incrível façanha em ação, jogando o jogo, só para variar.

É difícil passar a idéia da deliciosa insanidade que é toda essa bobagem para quem nunca jogou um jogo do tipo. Mas fica aqui a minha tentativa.

Se você agüentou a enxurrada de informações aparentemente (mentira, são mesmo) inúteis que eu disparei até agora, não precisa se preocupar: Vai piorar. Quem não sacou a idéia do texto até aqui já desistiu de ler, então eu fico mais livre para subir o nível (de maluquice):

Eu não estou pagando os tais quinze dólares mensais para a empresa islandesa que criou o jogo só por causa dos tais “robôs”. O que me cativou desde o começo foi a complexidade absurda do jogo. Ficção científica e temas espaciais são sim interessantes para um ser como eu, mas jamais me fariam colocar a mão no bolso (isso sim que é um feito) se não fosse a quantidade avassaladora de informações necessárias para se jogar “minimamente” bem.

É um jogo onde conhecimento específico define o seu sucesso. Tempo livre não faz diferença. Essa é a graça. Se alguém ainda achava que eu me chamava de nerd de brincadeira, pode esquecer. (Sally sempre nutriu uma esperança que um belo dia eu fosse acordar e dedicar minha vida a dançar axé…)

Não é nem propaganda do jogo, porque mesmo se eu cativasse outro(a) masoquista intelectual a jogar, eu não teria tempo para acompanhar de qualquer forma. E quanto menos brasileiros em qualquer comunidade virtual, melhor.

Sem contar que companhia é o que não falta. A média é de pelo menos 30 mil pessoas online ao mesmo tempo no mesmo servidor. E talvez até uma ou duas mulheres também.

Comparando com o grande sucesso do gênero, que reúne mais de 10 milhões de jogadores, parece pouco. Mas quanto se contabiliza a dificuldade e o grau de frustração que ambos os jogos podem proporcionar, é de se estranhar que o único maluco pagando para aprender a mandar robôs mais longe não seja o maluco que lhes escreve.

E já entenda que esses jogos online são coisa exclusiva de nerd só aqui no Brasil e em outros lugares mais pobres. Já é “mídia de massa” nos países ricos. Ao invés de abrir o “paciência” no computador, abrem o World of Warcraft… (o grande sucesso do gênero mencionado anteriormente)

E guardadas as devidas proporções, até mesmo esse jogo jogado por milhões e feito para ser o mais amigável possível até para as mães dos que jogam (sério, elas jogam mesmo), World of Warcraft é complexo pra caralho. Não é a tortura que eu gosto, mas facilmente um jogador pode ter que entender mais de cinqüenta funções diferentes do seu personagem, sem contar os milhares de itens e inimigos disponíveis.

Tudo isso por puro entretenimento. As pessoas parecem estar cada vez mais dispostas a acumular quantidades enormes de informação para realizar até mesmo seu lazer. Tem gente que escreve LIVROS sobre um RPG Online e tem gente que COMPRA. Um passeio rápido pelo Google e você vai encontrar milhões de páginas com guias complexos sobre esses jogos, feitos por outras tantas milhões de almas viciadas. E nem todos se encaixam na definição estereotipada do nerd sem vida.

Pois bem, depois dessa queimação de filme eu entro no mérito do excesso de informação na vida cotidiana novamente. Você não adora essas mudanças repentinas de foco?

O mundo está perdido? Eu usei tantos exemplos do meu jogo que eu “não jogo” (mas estou babando para poder jogar) para demonstrar como um reconhecido descompensado e assumido nerd pensa. Mas eu e os 500 mil que também jogam o complicadíssimo somos apenas um leve desvio dos milhões e milhões que jogam os complicados.

Mais pessoas sabem como aplicar a Espadada Mágica +10 do que o número de pessoas que sabem como se cria gado, como se previne da AIDS ou mesmo como funciona o eletromagnetismo…

As pessoas estão carregadas de informações inúteis? As informações só são inúteis quando a pessoa não as utiliza. Quando eu aprendi algumas das informações do jogo que menciono na coluna, senti o prazer de ver as idéias encaixando e de perceber novas oportunidades. Aquela boa sensação de ter resolvido um problema.

Não era um problema real. Mas consideremos que algumas pessoas (mulheres e frouxos) choram assistindo filmes… Não são situações reais. A maioria das pessoas tem a capacidade natural de se imaginar numa situação e se adaptar praticamente em tempo real a uma nova realidade.

E não podemos esquecer que a maior parte da população mundial acredita numa fantasia maluca de que existe um ser mágico nos céus que as observa o tempo todo…

Eu sempre desconfiei que os “nerds” eram basicamente a próxima geração humana começando um pouco antes da maioria. Não chamo de grande evolução saber como aplicar a Espadada Mágica +10 ou mesmo pagar para que um personagem aprenda a enviar robôs cinco quilômetros mais longe, mas a evolução em larga escala é uma coisa bem lenta. Os antigos nerds eram simplesmente a média do público mais jovem das últimas gerações.

(Gente desajustada e anti-social não precisa gostar de excesso de informação inútil para ser desajustada e anti-social…)

Gente viciada em informação complexa, e em grandes quantidades, nada mais são do que as pessoas comuns vivendo num mundo com um bombardeio incessante de mensagens publicitárias, textos, músicas, vídeos e idéias o dia todo. A adaptação do cérebro aos tempos modernos está tornando a simplicidade obsoleta.

Eu adoro falar sobre sociedade com exemplos assim. Aproveitem enquanto ainda não é o padrão. Aposto que nossos descendentes vão estudar sociologia com informações colhidas diretamente de RPG’s Online.

Claro que o texto poderia ser bem mais claro e direto, mas que graça teria?

Para dizer que eu me superei desta vez, para reclamar do meu atraso e descobrir que eu não ligo, ou mesmo para me pedir 15 dólares por mês para não fazer nada de verdade em troca também: somir@desfavor.com

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