Anula Eu!: Pagando o pacto.
| Somir | Anula Eu! | 21 comentários em Anula Eu!: Pagando o pacto.

Nesta última segunda-feira, a presidente Dilma veio a público (em termos, foi na NBR, mal lembro que esse canal existe…) para propor cinco pactos relacionados com as exigências dos manifestantes que tomam as ruas do país há mais de uma semana. Se não fosse pelo layout de Dilma, até desconfiaria que foram propostos por uma candidata à Miss. Mas dentre as propostas vagas, uma se destaca: O plebiscito pela reforma política. Por bem… e por mal.
Quem leu o último texto desta coluna escrito por mim não vai se surpreender com essa afirmação: O sistema político brasileiro faliu. Partidos sem função ou representatividade social, fisiologismo escancarado (em tese deveria ser feio exigir cargos e vantagens para cumprir a função pela qual foram eleitos) e a onipresente corrupção.
Mas ênfase na palavra escolhida aqui: Falência. Falência como em falência de órgãos, não como falência de falta de recursos para se sustentar. Sabemos bem que dinheiro para sustentar o sistema político tupiniquim é o que não falta. O problema é que esse elemento essencial para uma sociedade saudável já não funciona mais, se é que já funcionou algum dia. Ele foi criado baseado em ideias como representatividade e pluralidade de opiniões. Em 1988 a Constituição foi escrita por gatos escaldados, recém saídos de uma ditadura militar extremamente autoritária.
Preferiram até mesmo pecar pelo excesso. Se antes só existiam dois partidos “de mentirinha”, agora poderíamos ter tantos quanto quiséssemos. Os candidatos não ficavam presos à distritos para dificultar o trabalho de quem tentasse coagi-los a não participar do processo. O voto obrigatório era uma forma de botar todo mundo nesse novo jogo democrático e obrigar o poder público a dar condições para tal para todos os cidadãos. Se pudéssemos resumir a Constituição de 1988 em uma frase, ela seria: “Vocês vão ter uma democracia e vão gostar dela!”.
Pessoalmente, eu até preferiria que fosse MUITO mais difícil começar um partido, que o voto fosse distrital e que não fosse obrigatório. Acho uma solução democrática condizente com uma sociedade mais madura. Mas como acabei de escrever no parágrafo anterior, esse pacote incorre em algumas dificuldades que não seriam incomuns num país como o Brasil. Não existem soluções perfeitas.
Digo isso porque o sistema atual tem sua lógica e não é a pior das soluções, mas nem de longe. Mas como vimos, deu errado. Deu muito errado. O importante aqui é entender que o jeito atual não é uma aberração por si só, talvez funcionasse numa boa num país um pouco mais bem desenvolvido. Talvez até já esteja funcionando no limite da efetividade quando gerenciado por brasileiros!
Não existe nenhum outro sistema que seja imune à corrupção e ao jeitinho brasileiro de querer levar vantagem em tudo. É lindo que o povo saia às ruas para demonstrar que não gosta do resultado dessa mentalidade imediatista que permeia todo o sistema político, mas é só bravata até se dê motivos práticos para crer que há vontade real de mudar hábitos, opiniões e atitudes que incentivam e facilitam essa bandalheira. Não existe reforma política que se baste por uma canetada ou um plebiscito. Tem que votar direito, não é negociável. Tem que votar em gente que sabe do que está falando e tem visão de longo prazo.
Sally pode falar melhor sobre essa parte legal, mas até onde vimos, tudo o que Dilma propôs nesse sentido não passou de populismo barato. Já vazaram comentários de Ministros do STF (os “defensores da Constituição”) falando que essa consulta popular não pode forçar porra nenhuma a não ser que se faça uma revolução e se “resete” todo o Brasil. Com consulta ou sem consulta, existem trâmites legais que devem ser respeitados.
O máximo que dá para fazer é gastar um dinheirão fazendo um plebiscito onde as pessoas podem dizer que querem um sistema político mais justo e honesto. Voltando a analogia da Miss: Vão perguntar o sonho de cada brasileiro, e a maioria vai dizer “paz mundial”. Porque isso não é previsível, imagine só… Os deputados e senadores entrarão em choque ao descobrir que corrupção e inépcia na verdade não são o que os brasileiros querem! Até dá para maneirar no sarcasmo aqui… afinal, eles foram eleitos por esses mesmos brasileiros.
Pode fazer a reforma política que quiserem, porque se for só isso, já vão conseguir burlar o sistema na próxima eleição. Muito inocente achar que campanha se financia com dinheiro declarado, seja de quem for. A OAB propôs algumas ideias bacanas, uma das que eu mais gostei foi a de separar a eleição do legislativo em turnos: Votando nos partidos no primeiro turno e nos candidatos no segundo. Assim o povo pode fazer a estratégia de divisão dos partidos no poder. Bacana mesmo! Mas… vai acabar desvirtuado e corrompido. Principalmente debaixo de um lulismo descarado, querendo fazer a manobra Hugo Chávez de fazer plebiscitos para atropelar os outros poderes.
Sou à favor de dar mais voz ao povo, mas existe um equilíbrio mínimo a ser considerado. Se fizessem um plebiscito hoje sobre maioridade penal, o povão ia fazer uma cagada das grandes que aumentaria a criminalidade ao invés de reduzi-la (encher cadeia é fortalecer crime organizado). O cidadão médio nem é obrigado a entender tão a fundo questões como essa. Tudo bem, para isso existem representantes no sistema democrático: Gente que, em tese, deveria estar mais bem informada e mais preparada para tomar decisões com implicações duradouras. Em tese, porque na prática votam no Tiririca.
Governos populistas como o de Lula (vestido de Dilma) fazem a festa quando conseguem usar o povão para validar suas vontades. Eu sei que parece certo que as pessoas decidam mais, mas não se esqueçam que elas já decidiram três vezes por esse governo federal que está aí propondo plebiscitos (caros e inúteis) só para fazer pose. Numa democracia representativa, não é para ficar fazendo consulta popular dessa escala só para saber opinião. A votação dos deputados e senadores JÁ deveria ser a consulta popular.
Não é o sistema que é podre, são as pessoas nele, elas faliram a política. Esse tipo de manobra como a que Dilma está fazendo tem toda a cara de transferência de culpa. A reforma política é muito bem vinda se for um sinal de amadurecimento do eleitor brasileiro, mas se for só canetada, não vai mudar porra nenhuma. E todos os espertalhões lá em Brasília já sabem disso, por isso é até capaz de ir para a frente desta vez.
Vamos pentelhar o Congresso até eles votarem uma reforma política? Beleza. Isso é um avanço. Vamos deixar de votar em quem achamos que não nos representa? Ah, isso sim é uma reforma.
Des Potismo já !!!
Resetar o Brasil…
Isso pode virar frasesinha de Anonymous depois…
… mas honestamente já passou da hora da guerra civil!
Prevejo essa merda de conchavos criar um vácuo que vai foder mais as classes ‘de baixo’, especialmente com a ‘crise brasileira’ batendo às portas (juros fodendo, bolsa explodindo, inflação acelerando), e aí vão criar um ‘amansa classe média’ às custas do ‘amansa classe pobre’ do PT, voltando lentamente o povo fodido pra condição de… fodido. Aí de ‘vandalismo e baderna’ vai virar escaramuça e contagem de corpos… só que uma hora o pessoal cansa de ‘só morrer’ (pq com a nossa polícia, vai ser um massacre…) e o terrorismo impera – qualquer vagabundo que conhecer milico pelo nome, e aí o terrorismo não vai perdoar, e aí vai ficar pior, no estilo Brasília com ‘checkpoint’, revista sem permissão explícita, violação caralhal de direitos humanos – que vão ser os primeiros a ‘sumir’, figurativa e literalmente, e aí cambada… estoquem ração humana e água em casa porque todo país grande do mundo se fodeu em guerra sangrenta pra caralho (exceto Índia, mas lá também já já vai entornar o caldo), EUA, Rússia, China, até o México teve dessa merda.
Só vai ser engraçado porque todo mundo ‘se resolveu’ no século XIX ou XX. Aqui vai ser no XXI, então estou curioso pra ver o que vai rolar…
Se os manifestantes começarem a se armar, eu acredito em uma guerra civil
Ao que me lembro, precisa-se de 500k de assinaturas para formar um partido, não acho pouca coisa não, como no braÇil não existe direita e esquerda definida(ainda que a maioria esquerda), talvez facilitando a formação de partido surgisse gente bem intencionada no meio, e se o voto não fosse obrigatório para o populacho que na hora de eleger leva em consideração apenas a exposição que o candidato teve/benefício que o candidato deu(dinheiro, feira, carona até as urnas), poderiam canalizar esta gente bem intencionada. Claro que arrumaram um jeito de fazer dinheiro com um partido só por este existir, aí começa os problemas, voltamos a ideia de que não existe sistema perfeito.
Uma coisa que acabei de pensar: Se o voto não fosse para TODO MUNDO, e para grupos específicos(pessoas com nível superior, por exemplo, e colocava uma cadeira obrigatória de política em todos os cursos), os gastos absurdos com campanhas políticas não seriam justificados! Talvez nem houvesse necessidade de ser vinculado na TV, um site linkando os sites dos partidos, diminuiria ainda mais os gastos das campanhas, e isto seria democracia, não de que as pessoas são obrigadas a votarem, mas que as pessoas podem se eleger.
Li o texto inteiro achando que foi a Sally que escreveu.
Se um texto do Somir pode ser confundido com um texto meu é sinal de que eu melhorei muito a minha escrita. Fico feliz
Eu achei até o “Sally pode falar melhor sobre essa parte legal”. Se bem que eu deveria ter notado a ausência de palavrões…
Comigo já aconteceu algo semelhante uma vez… Penso que isso seja porque quem é leitor fiel, de vir aqui todos os dias, acaba percebendo que a maioria dos textos são da Sally e não do Somir então…
Ah, e quanto ao plebiscito, não acho boa ideia, pois no último que teve o povo escolheu “Fuleco”. Sem mais.
Fuleco é um resultado emblemático de votação popular. Não, obrigada. Mesmo o plebiscito se restringindo a “sim” ou “não”, eu sou da ideia que primeiro educa, depois pergunta.
Você já viu esse vídeo?
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=E7fsRkul38Y
Não tinha visto, mas não me surpreende!
Muitas vezes tento entrar aqui no Desfavor e a página está fora de ar. Não é problema da minha Internet, porque consigo acessar outros sites facilmente. Depois de tudo o que aconteceu nas últimas semanas, cheguei à conclusão de que a culpa é da Dilma. Vou pra rua protestar contra todo esse desfavor!
Dilma está bloqueando o Desfavor. Ela, o Governo dos EUA e a Rede Globo.
what? é vero? pq as vezes tenho o mesmo problema!
Esse texto me representa! haha
Ainda não sei muito sobre o plebicito, mas não concordei até onde consegui pensar.
Texto fantástico Somirzinho! Uma pena que isso muito provavelmente nunca será ensinado para o grande público!
Veja como até o Exercito se borra nas calças… Concurso para Padre/Pastor dos Milicos… Tenha dó!
http://www.pciconcursos.com.br/concurso/exercito-brasileiro-4-vagas-21832
Isso porque o Estado é laico (mas o concurso para o Exército prevê vaga para líderes/representantes religiosos).
Alguns pontos Somir:
1- Plebiscito é algo desesperado e não é eficiente, além de autoritário como disse. A pergunta nunca é do tipo “deixar como esta ou mudar pra isso”, e sim do tipo “vamos mudar quase nada e deixar ruim ou deixar pior”. Além disso, não acho que a ‘maioria’, ou o povo, seja omais qualificado pra opinar sobre este tipo de coisa. Um povo que nem lê, nem é politizado pra provar reforma politica?!
2- A proposta do Passe Livre para estudantes também me da nos nervos. Cinema e teatro já mais caro (pra TODO mundo), por conta das meias-entradas. Esse povinho alienado com a beleza comunista que ganha voz na GLobo pra falar de “serem contra o latifúndio urbano”, acham que quando algo se torna ‘di gratis’ ele ´passa não ter custo. Baixa a tarifa num lugar, se aumenta imposto em outro. Governo só faz benesse com dinheiro alheio.
3- Não aguento ouvir “tem de votar direito”, a ‘coisa esta sim por que não soube votar’, ‘na próxima vez vote melhor’… Votamos diretamente praticamente somente par chefes do executivo. No legislativo pra citar um exemplo, de 50 e tantos deputados, somente uns 30 foram eleitos pelo voto direto, o restante foi por coeficiente eleitoral. Então não vem com essa de não saber votar. votar não muda nada com o atual sistema eleitoral. Um proposta de reforma nisso seria bem vinda, mas nunca ocorrerá, e o povo não vai pedir justamente por repetirem esse tipo de máxima.
4- A Dilma quer (parecer) fazer em 12 meses o que o PT não fez em 12 anos.
Apontamentos quanto as suas posições, Hugo:
1) Plebiscito não é necessariamente algo desesperado (ainda que isso possa se aplicar ao caso atual). Pode ser também uma forma bem planejada de se utilizar do pleito popular na tentativa de legitimar ou não a posição que você está defendendo.
2) Eu sei bem dessa questão da não existência de “almoço grátis”, mas e ai? Provável que eventuais reduções nas tarifas possam ser bancadas a custo de subsídios, uma vez que mexer nos resultados financeiros das empresas não é exatamente uma boa estratégia. No limite, podemos ter o problema de um transporte sucateado, mais problemático que o atual e sustentado a custa de subsídios que poderiam ir para outras áreas. Mas sabe como é a prioridade nos “Movimentos do Meu Pirão Primeiro”, né?
PS: Não… Cinema e teatro não estão mais caros somente por conta das meias-entradas. Há outros fatores que também entraram com peso relevante nesse inflacionamento.
3) Vivo falando da questão do coeficiente eleitoral para meus conhecidos e levo em consideração esse modelo de voto proporcional na hora de votar, ao contrário da maioria que vota em algum “zé tostão” porque é “gente boa” e acaba ajudando a eleger um “zé milhão” que está melhor inserido no jogo de maracutaias. E fazer mimimi por não achar justo o modelo político não resolve.
4) A Dilma como presidente é uma ótima comediante, a ponto de eu achar a parada da Dilma Bolada uma REDUNDÂNCIA. Me cago de rir só de ouvir os pronunciamentos dela.
O que mais me doi é a quase completa ignorância das pessoas quanto ao atual modelo político vindo defender plebiscito de reforma política (e sim, tinha reaça falando essa asneira bem antes de Tia Dilma emcampar a idéia).