Skip to main content

Colunas

Arquivos

Plantão Vinagre: Pagando o pacto (Parte 2).

| Sally | | 42 comentários em Plantão Vinagre: Pagando o pacto (Parte 2).

plantao-vinagre5

Finalmente Dilma se manifestou. Saudades do tempo em que ela ficava calada, viu? Vamos dissecar de forma técnica a “resposta” que ela encontrou para as reclamações do povo? Foram propostos cinco “pactos” para construir um país melhor. Será? A pergunta que SEMPRE tem que ecoar na cabeça de vocês quando ouvirem qualquer informação, ainda que seja minha, ainda que pareça verdade, ainda que não pareça existir outra possibilidade: SERÁ?

O primeiro item foi a RESPONSABILIDADE FISCAL. Dilma falou em garantir uma inflação baixa e estabilidade econômica, mas para mim responsabilidade fiscal é outra coisa. Porque não instituir um imposto agressivo sobre grandes fortunas? E a reforma tributária, criando novas faixas para que um pai de família não pague a mesma porcentagem de imposto que o Eike Batista? E o combate à sonegação fiscal praticada por grandes empresas? Porque, convenhamos, manter a inflação baixa não é novidade e não é nada além da obrigação dela. Seria como se você fosse comprar uma promoção no Mc Donald´s e tentassem te convencer que, porque você é muito especial, vão te dar um refrigerante! O povo brasileiro quer Sundae! Quem pode tirar onda falando em baixa inflação é FHC e mesmo assim, se ele o fizer, recomendo que o cubram de porrada, pois ele vendeu metade do país para conseguir isso.

O segundo ponto é uma reforma política que amplie a participação popular nas tomadas de decisão. Tá de sacanagem, né Dilma? Se participando de quatro em quatro anos com um simples voto o povo já faz merda pra caralho, se ficar consultando periga essa massa burra e evangélica acabar decidindo que tem que criminalizar homossexualidade. Primeiro se educa, depois se pergunta. Perguntar ao povo é sacanagem, ela sabe que perguntando da forma correta, com a jogada de publicidade correta, se consegue a resposta que ela quiser. Perguntar ao povo, no momento, não é solução para nada, o povo não sabe escolher nem o que come, basta ver essa massa de obesos, diabéticos e hipertensos que tem por aí! E perguntar ao povo custa caro. Seria como contratar a peso de ouro um analfabeto para tirar dúvidas sobre física quântica.

Ainda dentro do segundo ponto, ela falou em ampliar a cidadania e outras coisas interessantes, mas escorregou feio na forma, ao cogitar convocar uma Assembleia Constituinte. Por causa dos devaneios loucos que só posso atribuir ao cheiro do laquê danificando o cérebro dela, vou ter que falar um pouco sobre isso. Quando uma nação decide que sua Constituição (a lei máxima do país, lembram?) não os atende mais, está ultrapassada, pode ser convocada uma Assembleia Constituinte, ou seja, um grupo de pessoas que se juntarão e elaborarão uma nova Constituição. Só para não induzir ninguém a erro: essa é UMA das formas, existem outras, inclusive enfiar uma nova Constituição goela abaixo das pessoas sem consultar ninguém. Mas como Dilma está empenhada em não parecer tirana, isso não vem ao caso.

Acontece que fazer uma nova Constituição é completamente desnecessário. A atual Constituição é belíssima, garantista e atende perfeitamente aos anseios dos manifestantes. Não precisa fazer outra, basta colocar esta em prática. Vocês já viram o que a Constituição diz, ou melhor, manda, sobre salário mínimo? Vejam. Está no artigo 7°, incido IV, elencado como um dos direitos do trabalhador: “Salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo (…)”. O que falta é vergonha na cara de colocar em prática, só isso. Custa caro fazer uma nova Constituição, não há a menor necessidade disso. É como jogar fora seu carro porque arranhou a porta. Se for o caso, que se façam ajustes, mas uma nova Constituição? Tá muito bêbada de laquê esta Senhora!

Além disso, leva tempo. Não seria viável fazer uma nova Constituição até o ano que vem, que é a data que interessa à Dilma, pois ela vai se candidatar à reeleição. Honestamente, não sei quem foi gênio que prestou assessoria jurídica a Dilmão, mas pisou feio na bola com ela. Se convocar uma Assembleia Constituinte para fazer uma nova Constituição em vez de ajudar vai prejudicar a reeleição dela. Tanto é que ela já veio se “desdizer”, recuando da ideia louca e contraproducente de jogar fora algo que ainda esta funcionando para encomendar algo novo e caro que ela nem vai estar em casa para receber quando chegar. Não pode. Ficou feio. Não pode fazer esse discurso cheio de pompa de “cinco pactos” e dias depois se desdizer, ainda mais sobre algo grave e de grande porte. Vergonha. Mas ela sabe que o brasileiro médio nunca vai perceber a pisada de bola que deu. O que talvez ela não saiba é que existem pessoas prontas para apontar essa pisada de bola e divulgá-la.

Ainda dentro desse segundo item, ela pediu que se combata a corrupção. Sobre isso, tenho apenas uma coisa a dizer: estou no aguardo que os réus do Mensalão, em sua maioria do partido de Dilma, sejam presos. Aí sim a gente fala em combate à corrupção. Até lá me reservo o direito de continuar descrente. Aliás, falta o que para Lula ser devidamente investigado? Porque bandidos notórios como o Sr. Paulo Maluf estão soltos? Porque o Governo faz acordo e abre regalias para pessoas como o Sr. Eike Batista? Tantas perguntas… zero respostas. Dizer que quer combater a corrupção é fácil, volte quando resolver me contar COMO. Transformando em crime hediondo é que não vai ser.

Vamos falar um pouquinho sobre os crimes hediondos. O nome é forte, faz o leigo pensar que é algo punido com uma pena infinitamente maior do que os crimes comuns. Mas não é assim que a banda toca. Para quem tiver curiosidade, os crimes hediondos são tratados pela Lei 8.072/90. O que difere, em matéria de tratamento de um condenado, um crime hediondo de um crime comum não é nada tão grave: condenados a crimes hediondos não tem direito a anistia, graça ou indulto (benefícios conferidos a presos basicamente para tirá-los da prisão) e a fiança (para quem não sabe, fiança só é popular fora do Brasil, aqui poucos crimes funcionam com ela). Fora isso, a progressão de regime (tempo que o condenado leva para ir a um regime mais brando: aberto, semi-aberto…) é um pouco mais demorada que o normal, pois ele precisará cumprir 2/5 da pena (ou 3/5 se for reincidente). De que adianta enrijecer a situação do CONDENADO, se ninguém nunca é preso nos casos de corrupção?

Talvez o único benefício fosse o fato desta lei estabelecer que para crimes hediondos o regime prisional será sempre no regime fechado. Mas o STF já derrubou essa proibição faz tempo dizendo que a pena deve atender a requisitos pessoais do condenado e vários outros argumentos técnicos que não vem ao caso. Ou seja, transformar corrupção em crime hediondo só causaria algum medo SE corruptos fossem presos. E Dilma não nos contou o que pretende fazer para que corruptos sejam efetivamente presos. Mais eficiente seria aumentar a pena para a pena máxima do nosso Código Penal, punindo corrupção com trinta anos de prisão. Mas isso não vai ser feito. Uma pena, pois o corrupto mata (tirando dinheiro que era do remédio de uma pessoa com câncer), o corrupto comete dezenas de crimes indiretamente, fruto da sua corrupção.

Vamos dar um passeio pelo Código Penal? Por exemplo, o art. 315, que fala do emprego irregular de verba pública, prevê uma pena de um a três MESES ou multa. Para quem não sabe, a regra é que condenação criminal abaixo de quatro anos não gere pena de prisão (longa explicação, não cabe aqui). Os crimes de Concussão e Corrupção passiva (arts. 316 e 317) tem a pena mínima de DOIS anos, ou seja, dão margem para que um corrupto seja condenado e ainda assim não seja preso. Desanima, não desanima? Ela ainda fez menção a agilizar a implantação da Lei de Acesso à Informação, como se brasileiro fiscalizasse alguma coisa. A ONG contas abertas divulga verdadeiras barbaridades faz tempo e o brasileiro só toma conhecimento quando uma delas sai na mídia!

O terceiro pacto fala sobre saúde. Não admito sequer sentar para conversar se todos os médicos brasileiros não forem sujeitos a esse teste que é feito com médicos estrangeiros e só aqueles que forem aprovados possam exercer a profissão. Porque o fato de ser brasileiro não deveria gerar a presunção se saber mais do que os outros, alias, muito pelo contrário. Se eu que sou advogada, cuja profissão não costuma matar ninguém, tive que fazer prova da OAB para exercer meu ofício, com muito mais razão devem ser sabatinados os médicos locais, que são responsáveis pela vida ou morte do cidadão brasileiro. Até que todos os médicos façam a prova e só os aprovados possam exercer a medicina não tem mais conversa comigo sobre esse assunto.

O quarto pacto fala sobre transporte público. Melhorar a qualidade do que já existe e disponibilizar mais opções. Ela conta como liberou dinheiro, como se dinheiro apenas bastasse. Pergunta para qualquer baiano se com milhões e milhões de reais se constrói um metrô! Dilmão também quer assegurar a participação popular no processo de melhora dos transportes públicos, criando um Conselho que contará com a participação da sociedade civil. Desculpa mas povo não entende de planejamento urbano, isso é um mero “cala a boca”. Vou repetir algo que venho repetindo desde o começo do blog, em 2008/2009: os serviços públicos só vão melhorar quando for aprovada uma lei que imponha que todo político, seus cônjuges e filhos APENAS POSSAM UTILIZAR OS SERVIÇOS PÚBLICOS, por exemplo, filho de político é obrigado a estudar em escola pública, a andar de transporte público e a usar hospital público. Aí sim pode ser que se sintam obrigados a melhorar os serviços públicos. Tem que obrigar esses filhos da puta a se colocar no lugar do povo, a ver o que o povo passa.

O quinto pacto diz respeito à educação. No discurso Dilmão falou em destinar 100% dos royalties do petróleo à educação e dias depois decidiu reduzir essa quantidade. Vergonha novamente. Não pensa antes de falar não? Tudo bem, o brasileiro médio vai se contentar com menos. E, novamente, vale o mesmo que eu disse para transportes: rios de dinheiro não fazem uma educação de qualidade, rios de dinheiro podem ser desviados para os bolsos errados. Me chamem quando começarem a construir escolas “Padrão FIFA”. Mais uma vez Dilma disse o óbvio: o que precisa ser feito, e ignorou o mais importante: quais mecanismos usará para se assegurar que de fato tudo seja feito.

Você, cidadão, deveria se sentir ofendido por esse discurso da Dilma. Agora, quatro anos depois, ela quer mostrar serviço? Só porque a água está batendo na bunda ela quer aprender a nadar? Mérito algum. Poderia ter feito tudo isso em seu primeiro ano de governo, mas não, aparentemente ela precisou que o povo entre em colapso, em grau máximo de “insuportabilidade” e se revolte para tomar providências mais contundentes – pero no mucho. Eu acho ofensivo quando uma pessoa deixa claro que poderia ter feito aquilo antes e só o está fazendo agora porque foi pressionada. O fato da pessoa só fazer porque está sendo pressionada indica que quando a pressão cessar, o trabalho também cessa.

É inviável que o povo vá às ruas manifestar durante os quatro anos de mandato de um Presidente, então, o ideal é que se eleja alguém que não dependa da revolta popular para funcionar. Pelo visto essa pessoa não é a Dilma, com seu discurso “o povo quer mais”. E você, Dilma? Você não quer dar mais a este país? Pelo visto não, pois ficou em inércia contemplativa, distribuindo bolsa-esmola para pessoas que nem sempre faziam jus ao benefício nos últimos anos. É como o marido que só dá flores à esposa quando é flagrado fazendo alguma merda, não tem valor algum.

Eu sinceramente quero que a Dilma se foda. Perdeu o crédito, não confio. Passou três anos gastando fortunas para fazer propaganda direta ou indireta do PT, subornando eleitor com bolsa-whatever, tentando salvar o pescoço dos coleguinhas que caíram no escândalo do mensalão e fazendo bullying com seus subordinados. Agora é tarde. Além disso, os “pactos” são meros factoides de efeito que mais impressionam o leigo do que solucionam o problema. Marido que é flagrado pulando a cerca não tem o direito de pedir voto de confiança à esposa. Vai à merda, Dilma.

Para comunicar que ontem a Dilma bloqueou o Desfavor e você não conseguiu entrar no site, para dizer que não entendeu metade do texto mas eu falo com tanta certeza que te convenci ou ainda para continuar sonhando com o Processa Eu do Alicate: sally@desfavor.com

Comentários (42)

Deixe um comentário para Mary-RJ Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.