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Sally Surtada: Barulhentos.

| Sally | | 146 comentários em Sally Surtada: Barulhentos.

ss-barulho

Eu queria fazer só uma perguntinha, talvez alguém faça a caridade de me explicar. Porque homens tem que ser tão barulhentos? Alguém me explica? Reclamam que mulher fala demais, mas puta que pariu, pede para um homem não fazer barulho por uma hora e observa o filho da puta dar um jeito de fazer barulho, ainda que sem querer! Fazem barulho, acordam quem está dormindo e nem ao menos se desculpam, colocam o barulho como algo inevitável naquela ocasião! Acordar quem está dormindo deveria ser crime!

Você pede pouco, muito pouco: não dormiu direito na noite anterior e precisa descansar, ou precisa dormir cedo porque tem um compromisso importante no dia seguinte, ou simplesmente sente que está ficando gripada e para tentar evitar cair de cama vai descansar. Pela razão que for, pede que o maldito tente não fazer barulho. Ele te olha com cara quase que indignada, afinal, ele acha que nunca faz barulho. Ele concorda com uma certeza que te transmite confiança de tão segura. Você vira as costas e vai dormir achando que vai ter ao menos uma horinha de silêncio, nem que seja naquela primeira hora crítica onde se entra no sono profundo. Quão difícil é fazer uma horinha de silêncio? Para homem, muito.

E pior: eles não se acham barulhentos. Vai ter uma cambada de filho da puta nos comentários dizendo “Eu não faço barulhoooo”. Tá bom. Só acredito depois que tiver uma conversinha com as pessoas que coabitam com você. E olha que se para mim, pessoa sem filhos, já e duro, imagino como não é para quem tem um bebê em casa: todo o trabalho para colocar o bebê para dormir e vem um desleixado e estraga tudo. Não dá, não dá. Quando tem alguém dormindo homem devera ser trancado em uma caixa de transporte daquelas usadas para colocar cachorro dentro do avião!

Começa pelo momento em que eles escolhem para fazer barulho. Nunca é quando você está acordada ou quando já está embalada no sono. É sempre, SEMPRE naquele exato período em que você está quase dormindo, naquela vigília que antecede o sono. Se fosse antes de dormir não prejudicaria, se fosse depois as chances de você ouvir seriam menores, mas não. Nããããão! Os Zé Ruelas parece que sabem a exata hora em que estamos mais vulneráveis entrando no primeiro estágio do sono e deixam cair algo no chão, nos fazendo pular da cama ao teto e tremer com taquicardia. Daí você levanta descabelada e com cara de homicídio e em vez de ouvir um pedido de desculpas ainda tem que escutar “Te acordei?!. Não, filho da puta, eu ainda estou dormindo! É que sou sonâmbula e vim te matar durante meu sono, assim não posso ser presa! O pedido de desculpas vez? Não vem. Mesmo vendo que te acordaram, você se depara com esta odiosa frase: “Volta a dormir”. Claro, porque depois da enxurrada de adrenalina que o susto provocou, vai ser facinho pegar no sono novamente!

Outro evento nefasto e recorrente: o local onde você vai repousar ficou o dia todo disponível, o Zé Ruela não pisou lá. No minuto em que você decide dormir ali, surge uma necessidade repentina e imperiosa do filho de uma chocadeira de entrar lá para pegar alguma coisa. Teve o dia todo para pegar, mas é naquele momento sagrado que ele toma a iniciativa. Lá está você, deitada, tentando pegar no sono, quando de repente entra a criatura. Muitos já começam cagando no pau quando abrem a porta, fazendo um barulho que nos faz duvidar se foi um ser vivo com polegar opositor quem a abriu. Mais parece que foi algo com um casco que deu um coice na maçaneta. Você acorda, abre um dos olhos só para se certificar que não foi o demônio batendo os cascos quem abriu a porta, respira fundo, fecha os olhos e tenta continuar a dormir. Mas não contente em abrir a porta como um maneta, o Zé Ruela dá prosseguimento a seu show do barulho.

Não importa o que ele entrou para pegar, a busca não vai ser silenciosa. Ele vai derrubar algo ou abrir várias gavetas. Ele vai fazer o impossível, mesmo que seja um quarto sem móveis, apenas com um colchão, ele vai dar um jeito de te acordar, nem que seja pisando em uma tábua corrida do chão que vai ranger, isto porque a missão inconsciente dele é conseguir sua atenção. Quem você pensa que é para ousar dormir em vez de dar atenção a ele? Não, não, isso não vai ficar assim. E quando ele finalmente fizer barulho suficiente para você acordar, vem novamente a mesma indagação. Você está sentada na cama, com cara de fúria, braços cruzados, a franja em pé e ele olha e diz “Te acordei?”. Não, filho da puta, a luz da sua beleza iluminou o quarto e me fez abrir os olhos! Vem pedido de desculpas? Não vem. “É que eu tinha que pegar tal coisa aqui dentro”. Aproveita que pegou e enfia no cu. E roda.

Daí tem também aqueles desnocionados (não existe, eu sei e não me importo) que depois de serem comunicados da necessidade imperiosa de uma horinha de sono aproveitam que a mulher está na posição horizontal e vão deitar ao seu lado, com segundas (sexo) e terceiras (cu) intenções. Vamos esclarecer uma coisa: sexo é bom, quando se está com vontade de fazer sexo. Assim como beber água é bom quando se está com sede, mijar é bom quando se está com vontade de mijar e dormir é bom quando se está com vontade de dormir. Se misturar as estações e beber água quando se está com vontade de mijar ou fizer sexo quando se está com vontade de dormir, a coisa desanda. Então, assim, só para o caso de nunca ninguém ter dito isso a você, Meu Amigo Cueca, sua pica não é irrecusável a ponto de uma mulher querer fazer sexo a qualquer hora do dia com você. Sua pica é mágica e promove o descanso do organismo? Se a resposta é não, quando uma mulher te disser que tem a necessidade imperiosa de dormir, deixe-a dormir, por caridade.

Alguns Zé Ruelas tem um ímpeto incontrolável de ligar a televisão quando outro ser humano deseja dormir. Mas ligar a televisão não basta, é preciso que o volume esteja adequado. No caso, entenda-se por adequado alto o suficiente para ser ouvido mesmo com todas as portas da casa fechados enquanto está na programação normal, o que significa que pode nem impedir o sono, mas vai atrapalhar. Mas o mais importante: na hora do comercial, quando o volume automaticamente dobrar de decibéis, vai pegar a coitada que está dormindo novamente fragilizada naquele estado de vigília e fazê-la pular da cama. Quando a mulher aparece na sala, com um olho só latejando de raiva, recebe um pedido de desculpas? Não recebe. Porque eles nunca tem culpa de nada que dá errado, é sempre um motivo de força maior: “o volume subiu sozinho no comercial”. É, pois é, ninguém sabe que isso acontece.

Tem ainda aqueles que não contentes em promover um estupro auditivo qualquer, decidem perturbar os outros sentidos também. O que dizer de gente que espera você dormir para ir cagar no banheiro inserido dentro do quarto e se dedica a aquele longo e asqueroso ritual masculino de continuar sentado na privada depois de cagar chocando a merda enquanto lê, manda mensagens ou responde e-mail? Eu sei bem que um chamado da natureza não espera, mas se existir outro banheiro na casa, não custa poupar quem está tentando descansar. E mesmo que não exista, qual é a dificuldade de mandar uma cagada express, soltando o tolete e imediatamente depois dando a descarga? Não, por quê? Vamos perfumar o suave aroma CU DE URUBU, quem se importa? Cheiro acorda pessoas que estão dormindo. E nem ousem tentar amenizar a situação jogando aquelas merdas estilo Gleid, porque fica pior, fica uma merda floral ainda mais enjoativa do que o cu do urubu. Sério mesmo: cagada express, por gentileza! E não ousem deixar de dar a descarga “para não te acordar”, porque cheiro de merda atrapalha muito mais o sono do que uma descarga de dez segundos!

Tem também os que atrapalham seu sono por omissão. Você está morta, quebrada, com a cabeça estourando, precisa dormir urgente. Comunica o fato ao Zé Buceta que está ao seu lado, seja ele marido, pai, irmão ou qualquer outra coisa. Você vai deitar, você está pegando no sono. Daí toca o telefone. Confusa, em um estado de torpor, você pensa “porra, o telefone…” mas aí se lembra que tem alguém para atender e relaxa, tentando retomar o sono. Mas não… o telefone continua tocando, e tocando, e tocando. O número de toques que ele vai dar é quase matemático: o suficiente para te irritar, fazer subir adrenalina graças à revolta e perder a capacidade de dormir. Você levanta estalando os dedos em um aquecimento para desferir uma porrada. O Zé Ruela se desculpa? Não, ele não se desculpa, afina, não foi ele quem ligou e te acordou! Só essa pessoa tem culpa! Você range entre os dentes que o telefone estava tocando. O pedido de desculpas vem? NEM FODENDO. “Eu sei, eu ia atender”. Deve ser um caso raro de gêmeos xifópagos, coitado: ele nasceu com o cu colado no sofá.

O caso do telefone pode ter inúmeras variações: o cachorro que late, o bebê que chora, a criança que grita… não importa. O que importa é a omissão. Nem por um segundo o Zé Ruela vai pensar “Putz, a Fulana está quebrada, morta, precisando dormir, vou fazer o que estiver ao meu alcance para cessar este barulho, assim ela não acorda”. Não. Por quê? Vale pontos? Passa de fase? Dá dinheiro? Aparece mulher pelada? Dá para se gabar em uma roda de amigos? Não? Então não há motivação para fazer. Fulano Xifópago do Sofá continuará na sua inércia contemplativa, focado no que quer que seja (futebol, joguinho, etc) e seu sono que se foda, porque ele provavelmente dorme até com um grupo de pagode cantando ao pé da cama e é incapaz de se colocar no lugar dos outros.

Tem ainda os filhos duma égua que se comportam como cachorro: não gostam de ficar sozinhos em um cômodo da casa. Daí você vai deitar e o seu “rabo” vai junto. Se você dorme, ele vai deitar e dormir também, porque não fazer absolutamente tudo juntos é sinal de que não há amor. O problema é: a maior parte dos homens ronca. Daí sua horinha de descanso vira musculação: você alterna exercícios de perna e braço para dar totozinhos na criatura, de modo a que ela pare de roncar. Isso quando não é preciso virá-lo de barriga para baixo para atenuar o ruído de porco no cio. Claro, temos também as derivações do mesmo tema: gente que fala dormindo, gente que se mexe epilepticamente dormindo, gente que peida bombasticamente dormindo… a lista de predicados é infinita, mas o denominador comum é um só: no fim das contas, a pessoa atrapalha seu sono. Sono é uma atividade individual, e por sinal, para majorar o sucesso de qualquer relação casais deveriam ter a opção de dormir em quartos separados.

Tem ainda os portadores de Distúrbio de Deficit de Atenção que simplesmente se esquecem de que você comunicou que precisava de uma horinha de sono e entram no quarto como se nada, ligando a luz. Porque você simplesmente não é tão importante para que ele retenha esta informação: na próxima hora estarei dormindo. Não. Não é. Ele sabe toda a escalação do time de futebol, ele sabe de cor o nome de todos os personagens dos filmes que ele gostou. Quando entra uma mariposa grande na sala e faz sombra voando pelo lustre ele olha e sussurra “Toruk Makto”. Mas lembrar que há dez minutos atrás você disse está moída e vai dormir nem pensar. Daí ele liga a luz e por uma fração de segundos seu olhar cruza com o dele, ele lembra que tinha uma pessoa dormindo, faz cara de cachorro cagando na chuva e apaga a luz em silêncio, como se ao ficar em silêncio ficasse invisível e apagasse a merda que fez. Esquece a hora do jogo de futebol? Esquece a hora de ir trabalhar? Esquece de limpar a bunda depois de cagar? Não, só esquece que você estava dormindo. E aparentemente, você não pode se ofender por esse esquecimento. Siago Tomir era craque nisso: “Esqueci, o que é que eu posso fazer?”. Não esquecer!

Não podemos deixar de prestigiar uma das categorias mais cara de pau de todas: aqueles Zé Ruelas que te acordam propositadamente para perguntar algo idiota e não urgente: “onde está o abridor de garrafa?”, “Você viu minha blusa branca?” ou ainda a versão Marido Didi Mocó: “Tem pão?”. Seguinte: uma pessoa dormindo é algo sagrado. Uma pessoa dormindo apenas se incomoda em caso de incêndio. Acordar deliberadamente uma pessoa que está dormindo é algo que deve gerar um karma tão ruim que na próxima encarnação o filho da puta que o faz deve voltar como besouro de esterco. É obrigação de qualquer ser humano minimamente decente fazer sua parte para que a pessoa que está exausta tenha o direito a um repouso vital para seu organismo. Privar uma pessoa de sono é tão cruel como tomar o copo de água das mãos de alguém que está com muita sede ou negar uma privada a quem está se cagando nas calças. Será que eu estou me fazendo entender?

Tem aqueles que tem o dom de não fazer nada de anormal, mas mesmo em suas atividades rotineiras mais simples conseguem acordar os outros. Um exemplo clássico: a porra do chinelo. Tem homem que anda arrastando o chinelo de uma forma que o vizinho de baixo chega a pensar que está rolando uma festa rave no andar de cima. Porque tem disso: não é apenas o barulho alto que acorda e irrita, o barulhinho chato e repetitivo estilo torneira pingando também pode atrapalhar o sono. Está você tentando dormir, quando começa a ouvir: “flop, flop, flop, flop, flop, flop, flop, flop…”. Quando você está acordada o elemento não levanta para nada, é uma espécie de Stephen Hawking só que menos cabeçudo, até copo d’água você tem que levar para ele, mas basta você dormir que ele resolve circular pela casa e a sinfonia da irritância (não existe, eu sei e não me importo) começa: “flop, flop, flop, flop, flop, flop, flop, flop…”. Por quê? POR QUE justamente na hora em que a gente vai dormir? Sério, reflitam, porque fazem isso com a gente?

“Porra Sally, que mau humor…”. Será? SERÁ? SE-RÁ? Talvez você, Zé Ruela, nunca tenha passado por isso e não sabe como é desagradável. Porque nós, mulheres, via de regra somos ninjas quando tem alguém dormindo. Não andamos, flutuamos no ar. Nos esgueiramos nas sombras. Conseguimos pegar qualquer pertence sem sermos notadas, ou improvisamos o que queremos fazer com algo que esteja à mão. Não incomodamos por besteira e temos a maravilhosa capacidade de nos colocar no lugar do outro. Então, talvez, se você fosse sistematicamente incomodado durante seu sono por uma pessoa que está agindo sem um pingo de consideração, o acúmulo destes pequenos feitos ao longo dos anos também te deixariam de “mau humor”. Talvez seja hora das mulheres contabilizarem o número de vezes que foram acordadas sem necessidade e fazer começar a impor represálias.

Não sei ao certo porque uma parcela significativa dos homens se porta assim. Egoísmo? Negligência? Arrogância? Erro de cálculo? Nunca saberemos. Creio eu que homem tem vocação para intestino: todo enrolado e só sabe fazer merda. A verdade é que a impressão que passam indica descaso. Se você estivesse dormindo e alguém falasse “Se ela não acordar na próxima hora, vou te dar cem mil dólares”, eu tenho certeza mais do que absoluta que eles se policiariam com o máximo de empenho para não fazer um ruído, ou seja, a capacidade existe, só não existe a motivação. Uma pena que não o façam quando os cem mil dólares somem da equação.

Fica aqui meu pedido encarecido: vamos respeitar o sono alheio e pensar duas vezes nos próprios atos quando outro ser humanos estiver dormindo nas adjacências? Grata.

Para me chamar de mal-amada e demais ofensas costumeiras, para reforçar que eu vou morrer solteira ou ainda para mostrar que não é nerd e me perguntar o que caralhos é Toruk Makto: sally@desfavor.com

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