Séries (Parte 3)

Bom, fui incumbido de cobrir o texto de hoje pois Sally estava sem internet. O problema é que não tenho tempo hábil de fazer pesquisa, então vai ter que ser algo mais fácil. Vamos para o volume III do Descult: Séries!

Marco Polo – Netflix

A Netflix continua me surpreendendo positivamente com suas séries. Sim, sei que estou indo na contramão de muita gente que achou uma porcaria, mas definitivamente não é para tanto. As comparações com Game of Thrones não são necessariamente válidas, e até maldosas. Não confundamos alhos com bugalhos.

Para quem não sabe, Marco Polo se passa mais ou menos no começo do século 14, ambientada quase que exclusivamente na corte de Kublai Khan, (neto de Gengis Khan) durante o império mongol. Só a escolha da época e da locação já demonstram um excelente compromisso com a originalidade, estranho que tão pouco tenha se dito sobre um dos maiores impérios que já passou pela nossa Terra.

A personagem central da história (em tese) é o próprio Marco Polo, vindo de Veneza para servir na corte mongol. Uma das críticas que a série recebeu foi a falta de importância dele na história, crítica da qual discordo não pela veracidade mas por não achar um problema. Já estou de saco cheio de ver a história girar ao redor do ocidental cristão, foi uma excelente surpresa ver como a série pareceu se importar mais com o conflito entre mongóis e chineses (e seus protagonistas) do que fazer o batido “arco do herói” com o galã da vez e deixar todo o resto como pano de fundo.

É sobre o lugar onde a série acontece, não sobre a visão ocidental sobre tudo isso. As melhores personagens são justamente as que já estavam lá quando Marco Polo chegou. Não nego que a trama seja um tanto quanto novelesca, bem menos “ardida” que Game of Thrones, mas falar que uma série com um cenário diferente e personagens interessantes é ruim é forçar demais. Sim, é meio previsível e sim, tem vários clichês, mas é muito bem feita e cria um “choque cultural” bem interessante.

O grau de violência e nudez se equipara com a série épica mais famosa, mas mesmo nos momentos mais apelativos tudo parece muito mais relevante para a história do que os momentos “taí um par de peitos para vocês” tão comum no GoT. Atenção para a melhor cena de luta já exibida numa série até hoje: vocês vão saber quando virem (e provavelmente vão concordar comigo se forem homens).

O kung-fu faz parte da história e as lutas são exageradas. PONTO POSITIVO! A segunda temporada já está encomendada.

Vikings – History Channel

Vikings é uma série sobre… vikings! Nada como um nome descritivo. Essa se parece muito com Marco Polo na exibição de uma cultura diferente no seu habitat natural. Na época em que a série acontece, a Escandinávia ainda era muito isolada e os costumes locais basicamente intocados. O nível de produção não é tão nababesco quanto o de Marco Polo, mas mesmo assim é tecnicamente muito bem feita. Os cenários, diálogos e cenas parecem ter o objetivo de ensinar sobre a cultura nórdica nos mínimos detalhes.

Mas é claro, nem só de história vive uma série. A jornada de Ragnar Lothbrok em busca de novas terras para saquear tem uma série de personagens interessantes e a trama é carregada de surpresas e reviravoltas. Desde os vikings até suas vítimas, todos bem construídos e divertidos. É uma série mundo cão, mostrando na prática como uma sociedade tida como bárbara funcionava.

Bacana que a série mostra mulheres fortes e excelentes personagens femininos sem parecer aquela baboseira de inclusão social que tanto vemos por aí, as mulheres vikings eram hardcore (talvez na vida real não tenha sido tão fodas assim, mas aposto que nem os homens) e lutavam de igual para igual na parede de escudos.

Agora, é impressionante como batem no cristianismo. Do ponto de vista dos vikings, os cristãos são uma piada. Logo no começo da série os vikings atacam um monastério. Se você quiser ver cristãos morrendo e aprender sobre a história dos vikings, vale muito a pena.

Já teve duas temporadas, a terceira já está encomendada. Ah sim, se você não gostar do Floki, não pode mais ser meu amigo.

Penny Dreadful – HBO

Eu não sei como eu me sinto sobre essa série. Vamos para o conceito básico: Penny Dreadful é o nome de um tipo de publicação literária de ficção inglesa do século 19, histórias de terror baratas e seriais. A série se aproveita desse conceito e é situada em Londres na mesma época.

Nela, personagens famosos da literatura de terror se encontram com um grupo de aventureiros, às vezes como aliados, às vezes como inimigos. A personagem central da história é Vanessa Ives (Eva “sempre pelada” Green), uma mulher com poderes especiais ajudando um típico explorador inglês a resolver o mistério do desaparecimento de sua filha.

Por que eu não sei como me sinto sobre essa série: tem boas ideias, mas se arrasta demais. Não se sabe se a história está avançando ou não. Mas as personagens secundárias ajudam demais. Vários dos ícones das histórias de terror aparecem na trama, e percebe-se muito cuidado para não deixá-los parecerem meros monstros. Todos tem motivações e personalidades reconhecíveis.

É uma daquelas que você dificilmente se amarra pelo primeiro episódio, eu mesmo só fui ficar animado a ver o capítulo seguinte lá pelo meio dela. Se você for fã da Eva Green (mesmo vestida!), vale a pena encarar. Não te culpo se você desistir no meio, mas até que compensa se você esperar o capítulo que explica muitas coisas mal resolvidas.

Também é dessa leva mais adulta, com violência e sexo mais livres do que o habitual. A segunda temporada deve estrear logo logo.

Boss – HBO

Essa já é um pouco mais velha e já foi cancelada, mas ainda está disponível no Netflix. Mas só um pouco mais velha: terminou em 2012. Boss é a história de um fictício prefeito de Chicago (Boston?) diagnosticado com uma doença degenerativa incurável.

É praticamente impossível não comparar com House of Cards, se você gostou dessa, VAI gostar de Boss, é muito parecida. A personagem principal é interpretada por Kelsey Gramer (o Frasier), e ele dá um show comparável com o que Kevin Spacey fez em House of Cards. Os atores são muito bons, a história é interessante (tirando a parte com a filha que é meio chata) e… porra, se você gostou de House of Cards, não tem como não gostar dessa.

E tem uma pegada de Breaking Bad, com a doença como trampolim para uma série de comportamentos reprováveis. Bacana como o avanço da doença vai sendo visto em “primeira pessoa”, deixando em dúvida quase tudo o que acontece pela possibilidade de alucinações. Muitas vezes você tem que fazer o papel de detetive para ver se o que está acontecendo faz sentido ou não.

E é claro, sempre uma diversão torcer pelo bandido. De herói o prefeito não tem nada, é bacana ver como ele tem que se livrar de situações cada vez mais complicadas na base da força e da esperteza. Eu já falei que quem gostou de House of Cards VAI gostar dessa?

True Detective – HBO

Acho que só faltava eu para assistir, mas vai que alguém perdeu. Provavelmente a melhor série policial já feita. Tudo feito com muito esmero e talento, desde a abertura sensacional até mesmo o roteiro. True Detective é a prova que dá para colocar qualidade de cinema em séries.

Na melhor tradição americana, a série coloca dois policiais com personalidades conflitantes num mesmo caso. Eles chamam o gênero de “buddy cop”, mas de buddies os dois não tem nada. Matthew Machkuywehey (escrevi certo?) e Woody Harrelson interpretam as personagens com extrema competência, mas é o “galã” Matthew que rouba a cena: ele está acabado na série, e sua personagem é um poço niilista de verdades doídas que parece não ter fundo. Rust é uma personagem incrível: os monólogos dele valem o ingresso.

Dessa eu posso falar muito pouco da trama, afinal, qualquer detalhe já é um spoiler. Mas já adianto que a trama é pesada, densa e difícil de encarar às vezes. Mais mundo cão impossível. A série faz algo ótimo: respeita a inteligência do espectador. Nada de flashbacks convenientes ou longas explicações do que está acontecendo, se não prestar atenção se perde mesmo.

Essa é a mais indicada de todas dessa lista, e de longe. O bacana é que logo logo chega a segunda temporada e você pode começar por ela: cada temporada é uma história e um grupo de personagens. Tem que ter bolas para não continuar com personagens que já caíram no gosto do público!

Ah sim, também é “adulta”, mas hoje em dia não sobrou mais série boa nova que não mostra peitos e bundas.

Para indicar mais séries com peitos e bundas, para dizer que bom mesmo é TBBT (eca!), ou mesmo para dizer segue os ensinamentos de Rust: somir@desfavor.com

Se você encontrou algum erro na postagem, selecione o pedaço e digite Ctrl+Enter para nos avisar.

Etiquetas:

Comments (10)

  • Comecei a assistir Arrested Development graças à recomendação do Somir em um desses posts sobre série (não lembro qual foi). E gostaria de deixar minhas recomendações quanto às últimas séries que assisti:
    – Demolidor (Netflix): o cara é cego e senta a porrada em todos que julga como responsáveis pelo tráfego de pessoas que acontece em sua cidade. Tem como não gostar? Hahahaha
    – Orphan Black (BBC America): uma série sobre um clube de clones humanos, e que rendeu um Emmy para a atriz principal pela atuação como todos os clones femininos (além de trazer para a pauta de discussão a ética quanto a várias decisões que envolvem ciência, não apenas a clonagem). Curti tanto que no ócio acabei vendo os 30 episódios em 3 dias.

    Próxima na lista, ao mesmo tempo que assisto Arrested Development, é Narcos, que é lançada hoje no Netflix. Espero não estar criando muita expectativa quanto a essa série, mas que ela promete, promete!!!

  • Marco Polo: Típico “protagonista-observador” branco em um universo exótico, em 90% das cenas com mulheres asiáticas, elas estão peladas (com exceção da virgenzinha reservada para o interesse romântico do Marco Polo, claro); sem caras sem camisa para balancear as cenas de mulher pelada; as cenas de “sangue, muito sanguee” não chegam a compensar a morosidade da história. Parei de assistir principalmente porque os personagens não desenvolviam profundidade. Para ser sincera, comecei a assistir inocentemente, pensando que seria sobre as viagens do verdadeiro Marco Polo. Fuen. Resumindo: A intenção era boa, porém a execução não. Muito dinheiro gasto pra pouca merda. Único personagem bom: Hundred Eyes. Apenash.

    Vikings: A história é legal, a música de abertura é da Fever Ray, os coadjuvantes são interessantes, DEUSES NÓRDICOS CHAFURDANDO NO SANGUE DOS INIMIGOS CATÓLICOS (umidade), as cenas de guerra são fodas e não chegam a ser cansativas, pecado cometido em alguns episódios de Game of Thrones. As cenas de secso são boas também.

    Penny Dreadful: Preciso assistir. As sobrancelhas da Eva Green fazem ela parecer permanentemente triste.

    Boss – Kem?

    True Detective: Roteiro interessantíssimo. Nunca assisti nada parecido antes, a experiência assemelhou-se à leitura de um bom livro.
    O site Vigilant Citizen (sim, aquele paranóico “tudo é illuminatti”) publicou uma análise convincente de cenas que passaram em branco para mim, e algumas teorias boas. A quem possa interessar, Google: “The Deeper Meaning of “True Detective”. As referências contidas lá me renderam umas horas de leitura na internet.
    Me controlando para não dar uma de fangirl do Rustin Cohle jovem. Inteligente, analítico, misterioso, obscuro, mau humorado, porradeiro… Que homem, que homem… *suspiros*
    Espero que a S2 não desaponte, apesar de eu achar muito difícil manterem o nível da primeira temporada.

    Dos seriados que nunca foram citados nessa coluna, eu recomendo Orange is the New Black. Pela sinopse parece ser bestinha, tem aquele cara de American Pie e a protagonista é uma sósia da Alicia Silverstone, o que me causou relutância em assistir. Porém, o roteiro é ótimo, não foca tanto no drama da loirinha presa, e os episódios revelam as histórias de cada personagem, te deixando vários momentos com vontade de saber como sua personagem favorita foi parar lá. Tudo de uma forma bem humorada, sem deixar de humanizar as detentas ou menosprezar suas trajetórias de vida.
    Bônus: Tem uma personagem fanática religiosa, no estilo “evangélico presidiário redimido” que conhecemos tão bem no Brasil. Eles batem em crente, não tem como não amar.

    • True Detective é muito bom. Roteiro. Fotografia (no season finale, dá pra pausar em quase toda cena e babar pelo enquadramento e composição das cenas!), diálogos verossímeis, etc.

      Orange is new black assisti dois episodios. Mas naõ engoli aquela montagem de cenas a la comédia romantica com protagonista gratuitamente lésbica. Não sei se dou nova chance…

  • “Bom, fui incumbido de cobrir o texto de hoje pois Sally estava sem internet.”

    E depois dizem que milagres não acontecem!

  • House of Cards
    (cuidado contém pequenos Spoilers, tanto da ficção, quanto da realidade)
    ……
    ……
    Ando assistindo com bastante interesse a Série da Netflix sobre politica americana.
    Algo inevitável é fazer comparações (não da realidade americana, e sim desta ficção) culturais dos americanos e brasileiros.

    Ontem por exemplo, em um dos episódios, O Vice presidente (Spacey), esta sendo atacado por sucessivos escândalos. Desde um amante passado de sua esposa até a amizade com um ex criminoso ‘acidental’ que hoje em dia é dono de seu restaurante preferido. E vc vai vendo as reuniões que são feitas para se traçar estratégias, para se livrar de cada ataque, e até mesmo a preocupação do governo de NÃO se mostrar aninhado mesmo que minimamente com alguém que cumpriu pena; e tudo o que vc pode pensar é : AMADORES!

    Se aprendessem com o Brasil, tudo seria facilmente resolvido: dizendo que ninguém sabia de nada. Que foi o governo quem permitiu o FBI investigar eles próprios. Ao invés de se defender de qualquer acusação, apontar o dedo para o mensageiro. E ao invés de tentar se desvincular de bandidos julgados, exaltassem eles como heróis maltratados pela Justiça do País.

    Se tudo o mais desse errado, era só dizer que eles roubaram sim, mas na época de George Washington, se roubava muito mais e ninguém nunca investigou…

  • Bojack Horseman

    Não é algo em que vc vai gargalhar como em SouthPark ou Simpsons em seus tempos áureos, mas tem me conquistado.

    A série passa entre o humor sutil, e o drama pesadissímo. O personagem principal não é alguem com quem vc cria empatia automaticamente, mas essa é a grade condutora da história. Em diversos momentos, vc não sabe se torce a favor ou contra o personagem. E ele passa por situações que criticam a sociedade de consumo, o mundo da fama, e até mesmo ataques sutis a histeria coletiva em torno de minorias e politicamente correto.

    A primeira temporada foi boa. Mas acredito que a segunda será ótima. Tem muito potencial.

    Ah trilha é fantástica.

    Ah, e adoro a abertura:
    https://www.youtube.com/watch?v=rQvIR1oL1vE

  • Destas só me interessei por True Detective.

    Penny é muito canastrona.

    Marco Polo é batida.

    Vikings pode ser interessante..mas vou esperar.

  • Sugiro “Black Mirror”, série britânica com foco na tecnologia e em seus impactos no indivíduo e nas comunidades. Os episódios são independentes, e cada um retrata, de maneira (não tão) distópica, “admiráveis” mundos novos criados a partir dos avanços na computação e nas redes sociais. Para mim, embora seja (apenas?) uma ficcção, as situações criadas são quase perspectivas para os tempos futuros.

Deixe um comentário para Hugor! Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: