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Atentado nas Olimpíadas.

Atentado nas Olimpíadas.

| Sally | | 31 comentários em Atentado nas Olimpíadas.

Estou ouvindo uns rumores de atentado terrorista sendo orquestrado para as OlimPIADAS do ano que vem. Achei bacana falar no assunto enquanto ainda é um embrião, que pode ou não se desenvolver. Parece que escutas, provavelmente dos EUA, estão monitorando atividades nesse sentido. Fala-se de uma bomba a ser colocada nos eventos de maior público. Eu ri. Meus Queridos, nem percam tempo, podem mudar o canal da escuta, não vai ter atentado terrorista aqui no Rio. Não mesmo. Explico os motivos.

Começa com o duro processo de trazer qualquer artefato explosivo para o Rio. Não que a fiscalização dos aeroportos seja boa, como já falei no texto sobre o Galeão, o detector de metais não funciona, já embarquei com canivete, faca e até aparelho de choque dentro da bolsa. O problema maior é o extravio de bagagens. Grandes chances de essa bomba ir parar em outro estado, bem distante do Rio, ou então de ficar perdida em algum depósito no próprio aeroporto internacional, sem identificação e sem uma alma boa que se disponha a achar o dono. Tudo que vão conseguir é o pessoal da cia aérea repetindo o mantra de não saber onde está.

Claro, sempre tem a chance de a bomba ser detonada quando acomodam as bagagens no avião, considerando a delicadeza com a qual tratam as malas. Jogam as malas com a força de quem está mal remunerado em um aeroporto tão precário que nem ar condicionado decente tem. Numa dessas a bomba explode, levando junto o delicado que acomodou a bagagem. Torcemos para que não aconteça, mas, a julgar pelo estado em que as malas tem chegado, é uma possibilidade.

Supondo que Sr. Terrorista tenha o cuidado de trazer a bomba na mala de mão,  não sei se sobrevive ao calor do aeroporto, que dia sim, dia também, está sem ar condicionado. Leve-se em conta o fato de que não raro as malas são largadas no sol, a céu aberto, esperando para serem colocadas dentro do avião.

Para quem não sabe, o aeroporto internacional do Rio de Janeiro fica no aprazível bairro da Ilha do Governador, um local onde lagartixa anda de guarda-sol. Sua enorme estrutura de concreto pode abrigar temperaturas de mais de 50° do lado de dentro. Quem eu quero enganar? Na Ilha do Governador faz mais de 50° do lado de fora também, alias, no Rio de Janeiro como um todo.

Além do calor, a umidade. E além da umidade, a maresia. As coisas enferrujam aqui em um piscar de olhos, logo, se a bomba sobreviver ao calor infernal, ela vai começar a enferrujar assim que chegar. Isso sem contar com todo tipo de animal repugnante que essa cidade maravilhosa abriga. Não demoraria até um verme raro ou um pequeno réptil entrar na bomba e cagar todo seu mecanismo. Eles estão por toda parte.

Se chover, também compromete todo o processo. Assim como as malas são largadas no sol, também são largadas na chuva. Mas nem precisa, o aeroporto internacional do Rio de Janeiro é um queijo suíço e quando chove, as goteiras abundam. Seria uma questão de tempo até a bomba ser molhada. Claro, sempre tem a chance de, além disso tudo, ela ser roubada. Dá mole no aeroporto do Rio e observa se vagabundo não passa e leva sua mala como se nada, enquanto você está na praça de alimentação lanchando! Se não colocar a mala no seu colo ou amarrada no seu corpo, sempre tem um habilidoso que tenta levar.

Mas, ainda assim, por um exercício criativo, vamos supor que a bomba sobreviveu a todas essas intempéries. Sr. Terrorista está saindo do aeroporto com uma bomba funcional nas mãos. Não tem problema. Não vai ter atentado mesmo assim.

O primeiro problema se apresenta na hora de pegar um táxi no aeroporto. O coitado do terrorista deve ter lidado com muitas pessoas ruins na vida, mas certamente nunca lidou com taxista carioca. Aqueles que ficam te abordando na saída: “Táxi? Táxi?” e depois roubam todos os seus pertences e te largam dentro de uma favela. Grandes chances de a bomba ser roubada por um taxista, que não saberia o que fazer com ela e acabaria vendendo-a no mercado livre como peso de papel.

Tem também a criminalidade nativa do local. Aquele trajeto do aeroporto internacional para qualquer local da cidade é permeado por uma favela grande, chamada Favela da Maré, que proporciona não apenas assaltos, como vasta distribuição de balas aos transeuntes. Alias, no Rio, todos os bairros tem uma favela em anexo, mesmo os mais ricos. As chances de ser parado pela criminalidade local seriam altas. Não sei o que os traficantes fariam com a bomba, talvez tentassem jogar bola com ela. Em todo caso, não chegaria a seu destino.

Chegando ao hotel, o traficante continuaria sem garantias. Inúmeros turistas são roubados em hotéis, ainda que de renome. É o que acontece com uma empresa que dá treinamento de excelência mas opera em uma cidade onde a mão de obra humana é excessivamente informal. Não há seleção, não há RH, não há treinamento que livre um estabelecimento de uma eventual cariocada. Funcionários que passam para comparsas que ficam no entorno do hotel o horário e a condição financeira dos hóspedes é mais comum do que se imagina. Então, a bomba pode sumir até mesmo do cofre do quarto do nosso amigo terrorista ou assim que ele colocar o pé para fora.

Mas, vamos supor que contra todas estas possibilidades, o valente terrorista consiga sair do hotel com a bomba debaixo do braço, em direção ao grande evento. Coitado. Não vai chegar. Vai chegar quando o evento estiver no meio. A cidade vai parar. Já é parada normalmente, imagina com mais três milhões de pessoas o que não vai acontecer! De carro ele não vai, pois as principais vias de acesso estarão fechadas para carro.

Vamos supor que ele tenha, vejam vocês que indignidade, ir praticar um atentado terrorista de ônibus. Tenho a convicção que só o sacolejar e as freadas bruscas dos motoristas cariocas detonariam a bomba. Sempre tem também as chances do assalto a ônibus, levam até tênis, imagina se não levariam a bomba. Levariam sim, desceriam do ônibus fazendo embaixadinha com ela. E, nesse caso, acrescento, porque não, a desistência voluntária. Tem coisas que nem terrorista deve suportar e uma delas é andar de ônibus no Rio de Janeiro.

Se, por um milagre ele não fosse assaltado no ônibus nem pegasse um motorista que dirige como um louco psicopata enfurecido, duas coisas muito improváveis, ele seria jogado nas imediações do evento, sem qualquer sinalização e demoraria bastante para encontrar seu destino. Nesse percurso, com certeza se depararia com a fina nata da criminalidade carioca, já estrategicamente posicionada para roubar os gringos, colocando a bomba na mira de assalto mais uma vez.

Sol, calor, umidade, chuva, tudo novamente. Se bobear, tudo em questão de meia hora. Não existe tempo mais bipolar do que o do Rio de Janeiro. Depois disso, quando se aproximasse do local do evento, o terrorista sentiria na pele a falta de educação do carioca no festival de empurra-empurra promovido em qualquer afunilamento. Um misto de falta de consciência do espaço corporal alheio com total desrespeito à dignidade humana faz surgir uma massa que te puxa e te empurra. Nessa a bomba poderia acabar detonada, lembrando sempre que não está excluído o roubo nessa etapa, pois no empurra-empurra sempre tem um que mete a mão na sua bolsa.

A revista não seria um problema. Como qualquer revista em eventos de grande porte, a polícia faz aquele trabalho de excelência de gritar para levantar a camisa. Se a pessoa tiver uma arma no tornozelo ou em qualquer outro lugar, foda-se, a PM carioca quer ver sua cintura. Levantou, passou. Alias, do jeito que as coisas estão, periga o policial perguntar se a pessoa está armada e, diante da negativa, dar a ela uma arma: “Toma, você vai precisar. Tá maluco? Vir ao Rio de Janeiro desarmado?”.

O problema depois de entrar seria chegar ao ponto onde a bomba deve ser colocada. Suponho que o terrorista tenha comprado um assento em um local estratégico para plantar a bomba ali. Bom, SE comprou direito, porque o que tem de ingresso falsificado não é brincadeira, ainda periga de chegar e ter um carioca abusado com o fiofó no seu lugar. Como bebida, até segunda ordem, vai ser liberada, o carioca estará bêbado. Até terrorista tem que ter medo de carioca bêbado. Vai ser um sufoco tirar o carioca do seu lugar. Mais fácil sentar no colo do carioca e se explodir, homem-bomba com assistente!

Se conseguir chegar ao seu lugar e não tiver ninguém, seria bacana ele repensar o detonador. O evento vai atrasar. Fato. E vai atrasar muito. Não tem como programar a bomba não, tem que ser no manual, porque não só o evento vai atrasar, como as pessoas também. Se ele detonar a bomba no horário marcado para o começo, só ele morre. Bate um avião em um prédio comercial no Rio de Janeiro as oito da manhã e me conta se três mil pessoas morrem. Não morre NINGUÉM, no máximo a tia do cafezinho ou a tia da faxina.

Não descarto as chances de roubo dentro dos locais de evento. Também não descarto o terrorista tomar um saco de urina nos cornos que molhe e inviabilize a bomba. Nem ter cerveja ou qualquer bebida derramada por um carioca bêbado ou apenas mal educado e sem noção de espaço corporal alheio. E se chover, e chove do nada no Rio, em dez segundos aparecem nuvens negras, vai se molhar, pois carioca não sabe colocar cobertura em grandes construções, vide o que aconteceu com o Engenhão, que nasceu irregular quase despencando e até hoje está fechado. É pedir demais colocar um toldo em um estádio, não vai acontecer.

E olha, mesmo que a bomba detone, vai matar pobre, que líder mundial importante não vem nessa selva e a nossa Presidenta nem deve estar lá por medo de ser vaiada. Então, francamente, desencanem com essa coisa de bomba, a própria cidade se encarrega de ser inviável. Só acho graça em pensar que algum infeliz da NSA teve o trabalho de ter este texto, por conter as palavras “bomba”, “terrorista” e “atentado”. Foi mal aí, gente! Beijo no Obama!

Para dizer que atentado terrorista no Rio significaria um mundo melhor, para dizer que terrorista nem sabe onde fica o Brasil no mapa ou ainda para dizer fazer uma campanha pedindo prioridade para Brasília: sally@desfavor.com

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