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Espionagem industrial.

Espionagem industrial.

| Sally | | 12 comentários em Espionagem industrial.

Nem sempre um produto lançado por uma empresa é de fato criação daquela empresa. Em muitos dos casos (mais do que você imagina), é, na verdade, produto de espionagem industrial: a empresa “roubou” uma ideia ou produto de uma concorrente. Graças a essa falta de ética mundial, o mercado de espionagem dentro das indústrias e escritórios cresce e se sofistica a cada dia: Desfavor Explica Espionagem Industrial.

Classificada como “conjunto de ações que roubam dados de uma organização”, a espionagem industrial movimenta milhões no mundo todo. Alguns casos famosos foram descobertos mas, estima-se que a maioria continue desconhecida, principalmente em tempos onde tudo está online. Fato é que a maioria das empresas, mesmo as grandes, não tomam o devido cuidado com sua segurança, permitindo espionagem por táticas banais.

Nem sempre a espionagem industrial envolve sutilezas, como descobrir um componente do produto, invadir um computador em busca de dados ou tentar neutralizar um lançamento do concorrente, às vezes é bem mais do que apropriação intelectual de uma parte do projeto. Há casos extremos onde se copia basicamente tudo, um roubo descarado do projeto por inteiro que, se bem financiado acaba ganhando status de verdadeiro.

Aconteceu com a boneca mais famosa do mundo: a Barbie. A Mattel, fabricante da Barbie, é acusada de praticar este tipo de espionagem por mais de uma década em sua concorrente mais fraquinha, a MGA Entertainment . Inacreditável, não é mesmo? Por mais de dez anos a Mattel afirmava que a boneca Bratz, não passava de uma cópia da Barbie, até que um dia a MGA, fabricante da boneca Bratz, entrou com uma ação judicial e provou que a Mattel, era a copiadora e vinha fazendo espionagem industrial por mais de 15 anos.

A MGA sabia que estava sendo espionada, pois a Mattel sempre acabava lançando suas ideias antes, mas ninguém entendia muito bem como acontecia. Depois de anos com a pulga atrás da orelha, conseguiram comprovar que funcionários da Mattel falsificavam crachás, entravam na fábrica da MGA, fotografam os produtos e copiavam suas ideias. Assim, na cara de pau, na mão grande!

É que pelo tamanho da empresa e nome no mercado, a Mattel conseguia produzir mais e mais rápido, jogando os produtos como sendo da Barbie, antes do lançamento da Bratz, dando à MGA o status de “copiadora”. Enganaram todo mundo por anos! O saldo final não foi nada agradável para a Mattel, esta espionagem de décadas resultou em uma condenação judicial de 310 milhões de dólares. Coincidência ou não, depois que foi descoberto, o preço das Barbies caiu e elas deixaram de ser hegemonia entre as meninas. Parece que sem copiar eles não conseguem criar nada interessante.

Achou um absurdo que funcionários de outra emprese entrem assim, sem maiores problemas, na empresa concorrente? Olha, é mais comum do que parece. Em 2007 a Philips flagrou um Gerente de Qualidade da marca LG zanzando por uma de suas fábricas, em Manaus. Ele estava pegando informações sobre uma nova TV de LCD, de 52 polegadas quando foi reconhecido. Em um primeiro momento, ele até tentou disfarçar, dizendo que era um funcionário novo, mas não adiantou. Passou vergonha e saiu expulso. Roubos de informações por funcionários de outras empresas já aconteceram em quase todas as grandes marcas, só que muitas preferem não divulgar, para não minar sua credibilidade (ninguém quer comprar produtos de uma fábrica que não tem a menor segurança, né?), então, só ficamos sabendo daquelas que terminam em ações judiciais.

Mesmo tomando conhecimento de poucos casos de espionagem industrial, há uma quantidade considerável de marcas processando e sendo processadas por esse motivo. Certamente você já ouviu falar de algumas das que vou citar. A prestigiada rede de hotéis Hilton já foi condenada por espionar e se apropriar de ideias da rival, a Starwood. A HP ficou tão puta quando viu informações suas vazadas, que decidiu usar espionagem não para roubar informações e sim para descobrir e se vingar de quem os espionou. A Motorola tomou anos de espionagem da chinesa Huawei. Até a Rede Globo tomou uma rasteira da Record, quando sua rival abriu um estúdio nas proximidades do Projac e surrupiou o contato de todos os fornecedores das redondezas.

A forma mais antiga e comum de espionagem industrial é obter a informação diretamente dos funcionários ou ex-funcionários da empresa concorrente: ou tentam infiltrar um funcionário seu para trabalhar na empresa rival, ou contratam funcionários da empresa rival para sugar deles todas as informações que puderem. Aconteceu com a gigante General Motors.

Mesmo demitido, um ex-funcionário não pode passar informações tidas como confidenciais para outra empresa. Usar esse tipo de informação é considerado espionagem industrial e a coisa certa a fazer é 1) não passar e 2) não aceitar. Em tese, essa premissa ética não é muito praticada, muito pelo contrário, empresas caçam funcionários das rivais para obter informações.

Foi o que aconteceu com um alto executivo da General Motors, que saiu para trabalhar na Volkswagen e levou junto diversos segredos, documentos e um grande projeto revolucionário de fábrica inovadora da GM, que acabou virando uma fábrica com tecnologia e modo de funcionamento totalmente novos… da Volks. Onde? Onde? No Rio de Janeiro! Imagina a raiva que não dá ver seu projeto de fábrica ser colocada no papel pelo rival! O resultado foi mais uma indenização bilionária e o afastamento do executivo, que encerrou sua carreira no mundo dos negócios e foi se refugiar em uma fazenda na Espanha.

Outra forma comum de espionagem industrial é “comprar” funcionários da outra empresa para repassarem informações à rival, sem tirá-los de seus cargos. Eles continuam trabalhando para a empresa que estão traindo e recebem uma bela quantia em dinheiro para passar ao rival o que lhes for pedido. Um caso famoso aconteceu entre a Coca-Cola (campeã de espionagem industrial) e a Pepsi, na década de 90. A Pepsi traçava estratégias para aumentar seu mercado na América Latina, porém, assediado pela Coca, um funcionário gravou e vendeu fitas contendo estas estratégias para a Coca-Cola, que tratou de tomar providências para neutralizar os planos da Pepsi antes mesmo que ela pudesse começar a coloca-lo em prática. Um gerente da Coca-Cola, que foi o encarregado de fazer a transcrição dessas fitas, confirmou o ocorrido depois de ser demitido.

Tem os que sejam mais discretos, porém menos dignos e apenas fucem a vida do rival, sem infiltrar ninguém do lado de dentro. Isso mesmo, tipo ex-namorada que passeia pela rua do ex para forçar um encontro. A forma mais comum dessa stalker-espionagem é, acreditem, revirar o lixo do concorrente! Não é só no amor e na guerra que vale tudo, nos negócios também.

Já aconteceu com gente grande. Em 2001 a Procter & Gamble (empresa responsável por marcas de peso como Pantene, Gilette, Pampers) achou que seria uma boa ideia revirar o lixo da rival, a Unilever (empresa responsável por marcas como Dove, Seda, Lux), tentando encontrar novidades em produtos para cabelos. Só que eles foram flagrados, olha que vexame! Um dos detetives contratados pela P&G foi descoberto revirando o lixo da Unilever e a empresa teve que pagar a módica quantia de 10 milhões de dólares para evitar o escândalo e um processo.

E não pensem que foi um caso isolado, acontece bastante. Outra grande empresa flagrada fuçando lixo foi a Oracle, que estava revirando o lixo da Microsoft. O escândalo afundou ambas as partes: a Oracle perdeu valor de mercado e sofreu reprovação social, mas levou a Microsoft junto, pois espionando seu lixo descobriu que o Congresso dos EUA acobertava o monopólio da Microsoft, violando a lei antimonopólio dos EUA. Conclusão: sobrou para a Microsoft também. Revirar o lixo compensa, Dr. House sabia das coisas.

Tem os casos de espionagem por motivos de: funcionários putos da vida. Funcionários que nem ao menos vão trabalhar para a concorrência, apenas saem dispostos a vender tudo que podem da empresa para a qual trabalharam, sem qualquer lealdade ou fidelidade. Pessoas que se sentem exploradas acabam depreendendo uma sensação de justiça ao conseguir lucrar de alguma forma com a empresa que os explorou. Em casos extremos de putez, nem cobram, vazam informações pelo prazer de ferrar com o antigo empregador.

Um belo exemplo aconteceu em 2014, quando alguns designers da Nike resolveram sair da empresa e abrir um escritório que passou a prestar informações à concorrente: Adidas. Mesmo enquanto ainda trabalhavam para a Nike, já putos da vida com a empresa e cientes de que iriam sair, utilizaram a infraestrutura da empresa e o tempo de trabalho para desenvolver um projeto de 93 milhões de dólares que guardariam para usar com a Adidas, ou seja, a Nike pagou salário e cedeu material e pesquisa para que seus funcionários desenvolvam um projeto milionário para a Adidas. Ainda entregaram toda a tecnologia da Nike e a melhoraram para a concorrente. É quase que fazer sexo com a amante na cama do casal, e depois fazer a esposa perder 93 milhões de dólares. Ainda entregaram toda a tecnologia da Nike e a melhoraram para a concorrente.

Mas, nem sempre a empresa topa essa baixaria. São poucas, mas existem empresas que não topam jogo sujo. Caráter? Pouco provável, medo da porrada judicial que vem, se for em um país com Judiciário decente. Aconteceu com a Bic. Um funcionário vazou (por pura raivinha) um projeto da Gilette para sua rival, a Bic, por fax, tipo “toma aí, quero que esses babacas se fodam”. A Bic, educadamente, devolveu o material, agradeceu a atenção e disse que não toparia participar desse jogo sujo, divulgando não apenas o que o funcionário da rival tinha feito, como também sua recusa em aceitar.

E, para fechar, é claro, não poderia deixar de citar um vexame tupiniquim. Em 2008 sumiram notebooks e outros matérias da Petrobras, que imediatamente afirmou estar sendo vítima de espionagem industrial, já que no material desaparecido havia informações importantes e sigilosas sobre a descoberta do Pré-sal. Rapidamente a Polícia Federal desmentiu a hipótese, prendendo quatro suspeitos que trabalhavam no porto do Rio de Janeiro e que apenas furtaram o material pelo material, não pelo conteúdo. Os computadores foram devolvidos aos donos e nada foi vazado. Era basicamente funcionário do porto querendo revender note para comprar cachaça. Bom saber que a Petrobras cuida tão bem do material contendo informações sigilosas que um grupo de estivadores consegue surrupiar.

Pense duas vezes antes de afirmar que determinado produto ou tecnologia foi de fato desenvolvido por uma marca, pois há grandes chances de que ele tenha sido roubado de alguém mais criativo, porém mais fraco, que não tinha infraestrutura para se defender. Muitos casos parecem teoria da conspiração, mas não são.

Para dizer que a Razer está procurando até agora os dois protótipos que sumiram, para dizer que espionagem industrial é revenge porn profissional ou ainda para finalmente acreditar que apenas duas pessoas no mundo detém a fórmula secreta da Coca-Cola: deixe seu comentário.

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