O Paradoxo de Fermi – Parte 2

No primeiro texto, eu mencionei em linhas mais gerais o que poderia gerar a famosa pergunta: “se os alienígenas existem, por que não os vemos?”, e hoje pretendo continuar com hipóteses mais… exóticas… sobre a questão proposta. Vamos partir do princípio que existe vida inteligente fora do planeta, mas que por algum motivo, não podemos ter contato com ela.

O poder da computação:

Computadores fazem parte da nossa vida hoje em dia, estão em todos os lugares e decidem muito do nosso cotidiano. Só não podemos esquecer que a era da computação é recente, muito recente. Pouco mais de cinquenta anos de avanços na área em comparação a pelo menos uns 10.000 anos de história humana relativamente civilizada. E só nesse minúsculo período de tempo (ainda mais absolutamente irrelevante em comparação com a história da vida no planeta) já vivemos num mundo basicamente inexplicável para quem nasceu uns 100 anos atrás.

Tenha isso em mente quando estivermos pensando em civilizações alienígenas. Se o poder da computação estiver disponível para eles, é de se imaginar que tenham avanços tão superlativos quanto os nossos. E considerando a escala de tempo do universo, a chance de outra forma de vida inteligente estar exatamente no mesmo passo que a gente é minúscula. Basta surgir um milhão de anos antes (um nada nos bilhões de anos até aqui) para estar inimaginavelmente mais avançados que nós nessa área.

E poder de computação conta. Se o ser humano médio de hoje já tem dificuldades de levantar a cabeça por causa de seu smartphone, imagine o que alguns milhares de anos de virtualização podem fazer por uma sociedade… simular um cérebro ainda é muito complicado para a humanidade atual, mas quase tudo o que fazemos com computadores também era poucas décadas atrás. Uma civilização que conquista o poder de processamento para simular cérebros tende a fazê-lo. E se a morte funciona do mesmo jeito para eles, a tentação da imortalidade digital ficaria grande demais para ser rejeitada.

E então, quatro caminhos que esconderiam esses alienígenas de nós: no primeiro, a sociedade deles decide que é melhor subir as mentes para seus computadores e deixar apenas robôs (e talvez alguns selecionados) de fora para fazer a manutenção. Nesse caso, a necessidade de expansão de sua civilização fica muito menor. Basta uma estrela relativamente estável provendo energia para suas máquinas que eles estão seguros por bilhões de anos. Lembrando também que nas últimas décadas, ficamos muito bons em reduzir o consumo de energia de nossas máquinas. Com alguns milhares de anos que seja de evolução, eles talvez consigam rodar simulações completas sem precisar consumir recursos da sua região com muita voracidade.

Talvez até consigam ficar escondidos atrás da emissão de energia da própria estrela, não chamando atenção de mais ninguém nos arredores. E dentro de seus universos simulados, poderiam viver vidas espetaculares, de novo e de novo, baseados em suas imaginações. Aparte imbecil: talvez a humanidade tenha tido contato com alguma dessas civilizações antes em sua história e ao ouvir isso, formaram a ideia de céu… mas, voltando ao que faz mais sentido, o universo é sim grande e fascinante, mas não deixa de ser um tanto quanto repetitivo. As leis da física garantem uniformidade no que se espera encontrar seja lá para onde for.

Se você quer algo mais fantástico, especialmente do mundo natural, sua melhor opção é configurar uma simulação realista com algumas regras diferentes. Quase tudo de mais impressionante que colocamos na nossa ficção simplesmente não acontece na natureza. É de se imaginar que uma civilização com capacidade suficiente para simular uma realidade fantástica aproveite essa oportunidade. É um caminho meio nerd e escapista, mas até aproveitando o gancho do texto de ontem, é também meio para onde a humanidade caminha. Mais simples do que demorar milhões de anos para viajar pelo universo é quebrar as leis da física dentro de uma simulação e fazer as coisas do jeito que você acha mais divertidas e interessantes.

Mas talvez as próprias leis da física não permitam tanto poder de processamento nos padrões atuais. E nesse caso, aliens muito próximos de chegar nesse ponto – mas sem energia e tecnologia para fazer suas simulações perfeitas – possam simplesmente esperar. O universo é frio em média, mas o tempo só vai deixá-lo mais. O caminho esperado para o desenrolar da expansão do universo como calculamos hoje é esfriar e esfriar até tudo estar basicamente congelado. Num universo muito frio, surge uma vantagem: a computação fica muito mais eficiente. Não é à toa que todo computador tem alguma forma de dissipar calor, nem que seja com uma ventoinha. Calor atrapalha processamento de dados.

Então, uma civilização poderia simplesmente armazenar seus dados (mentes) em um planeta, lua, asteroide ou estrutura artificial, e esperar alguns bilhões (ou trilhões) de anos para tirar o máximo das suas máquinas. Com um frio quase que absoluto, qualquer buraco negro (que são as estruturas mais duradouras do universo) ou estrela anã (segundo lugar nisso) fornece energia mais do que suficiente para rodar simulações aceleradas, fazendo com que esses aliens possam viver simulados por trilhões de vezes mais tempo do que o tempo “real” do universo. Pode ser um caminho comum para várias dessas civilizações ficar de saco cheio da realidade e esperar até as coisas ficarem mais satisfatórias para eles. Talvez eles estejam próximos, mas sem emitir nenhum sinal claro. Talvez só algumas de suas máquinas façam uma vigília eventual para garantir a segurança dos dados.

Outra opção é que… isso já aconteceu. Se estamos numa dessas simulações, existem vários motivos bem lógicos para não vermos nenhum alien: economia de energia e processamento e/ou objetivo da simulação. Se for por economia, é bem mais simples simular só a Terra e um cenário ao redor. Menos interações para calcular e menos problemas possíveis. Se for pelo objetivo, faz sentido também: se quem ligou essa simulação quer saber como o ser humano funciona, por que colocar mais e mais elementos na simulação para gerar confusão? Se nós somos o objetivo disso, é bom manter a concentração. Outra possibilidade é que não exista ainda função para “ligar” os aliens nessa simulação. Estão esperando chegarmos mais longe na nossa tecnologia espacial para ativar os aliens. Jogos usam essa tecnologia, carregando apenas o estritamente necessário para o ponto de vista do jogador, e mostrando uma versão tosca da realidade onde ele só pode ver de longe. Talvez nossa realidade seja apenas um truque para economizar processamento.

Se as civilizações tendem à computação, a verdade é que nossa existência é mais provável como simulação do que como realidade. E aí, pelos motivos citados acima, o paradoxo de Fermi está tranquilamente explicado. É mesmo algo bizarro, mas algo bizarro que faz parte integrante da nossa realidade.

Para dizer que isso foi nerd ao quadrado, para dizer que sabia que isso era uma simulação, ou mesmo para dizer que ainda devem ter mais possibilidades (sim, tem): somir@desfavor.com

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Comments (1)

  • Se as civilizações tendem à computação, a verdade é que nossa existência é mais provável como simulação do que como realidade. Que idéia mais doida, Somir! Mas até que tem sentido. E eu curti seu texto… Pensando nisso, será que estaríamos mesmo todos dentro de alguma “matrix” e não sabemos? Isso levaria aquela frase shakesperiana clássica “Há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia” a outro nível.

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