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Ruídos submarinos.

Ruídos submarinos.

| Sally | | 13 comentários em Ruídos submarinos.

Muito se fala em avistamentos de criaturas estranhas, alienígena ou naves espaciais. A visão costuma ser a principal evidência de fenômenos que ainda não conseguimos explicar. Porém, existe outro sentido que capta estímulos inexplicáveis e é pouco divulgado, a audição. Você sabia que centenas de ruídos estranhos são registrados no fundo do mar sem que encontremos qualquer explicação satisfatória para eles? Antes de querer solucionar mistérios de outros planetas, seria bom acabar de compreender o planeta no qual vivemos.

Talvez um dos ruídos inexplicados vindos do oceano mais famosos seja o “Bloop”. O ruído foi documentado no fundo do mar e ganhou esse apelido por ser a onomatopeia mais próxima para descrever o som. O que chamou a atenção do Bloop é o ineditismo (nunca se havia escutado nada parecido) e a intensidade. O som era muito mais alto que qualquer outro e foi captado simultaneamente por vários microfones de vários países que monitoravam o oceano, microfones que estavam a mais de 5000km de distância entre si.

O Bloop foi registrado oficialmente em 1997, por uma organização americana chamada NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica). Apesar do som ser “alto”, era de baixa frequência, ou seja, grave, típico de alguns animais aquáticos. O problema é: para que esse som venha de um ser vivo, o bicho teria que ser muito, mas muito grande. Algo entre 800 metros.

Em um primeiro momento, o som parecia biológico, emitido por um animal. Cientistas chegaram a cogitar que fosse o som de uma baleia azul, mas o tamanho de um animal para propagar o som a 5000km teria que ser bem maior. Normalmente os sons produzidos por este animal alcançam, no máximo, 1000km. Até onde se sabe, não existe hoje um animal capaz desse alcance. Se existir, definitivamente sai da categoria “baleia azul” para uma um novo bicho nunca antes visto.

Depois se cogitou que o Bloop fosse resultado de alguma atividade sísmica: placas tectônicas se mexendo, colidindo. Porém, durante décadas microfones captaram todo tipo de atividade sísmica no oceano e nunca nada foi nem parecido com este ruído. Aí surgiu a teoria que o Bloop seria resultado de um evento único, como por exemplo, um grande iceberg que se despedaçou. Parte da comunidade científica refuta essa ideia, dizendo que não existe iceberg com tamanho suficiente para produzir um som com este impacto, mas boa parte acredita que seja perfeitamente possível.

E aí, sem explicação, a coisa fica a critério da imaginação de cada um. Há quem diga que é um animal muito grande e ainda não descoberto, pelas características do som, que de fato indicam para um ser vivo. Quem defende isso alega que de tempos em tempos a ciência toma uma rasteira e descobre que existe um bicho que ela não conhecia, como é o caso da Lula Colossal.

Durante muito tempo se achou que a maior Lula possível era a gigante, com 5m, mas um dia, do nada, apareceu a Lula Colossal, com até 15m. Foram séculos desconhecendo a existência deste animal e acreditando que ele não passava de uma lenda, até que um dia um exemplar deu as caras. Por isso, parte da comunidade científica não descarta que existam animais nas profundezas que nós ainda não tenhamos conhecido. Mas, explicar algo com a própria ignorância dói no ego e a maioria refutou esta teoria. Os cientistas, em sua maioria, acreditam não ser possível existir um animal desconhecido no planeta.

No saldo final, a maioria acredita que seja mais provável um iceberg enorme, fora do convencional, do que um animal enorme, fora do convencional. Porém nunca ficou provado de forma definitiva o que é o Bloop.

Ainda em 1997, outro som estranho foi registrado e apelidado de o “Slow Down”. Recebeu esse nome graças a uma peculiaridade muito atípica: durante os sete minutos de gravação, sua frequência vai diminuindo lenta e progressivamente, até desaparecer. Os primeiros estudos indicavam uma lula muito, muito grande, mas a maioria dos cientistas defenderam, novamente, que se houvesse um bicho desse tamanho no oceano, já teria sido encontrado. Mais uma vez, alegaram se tratar de um iceberg em deslocamento sendo freado pelo leito marítimo.

Ainda em 1997, um novo som foi registrado e chamado de “The Train”, por se parecer com o barulho de uma locomotiva a vapor. O barulho é muito nítido e realmente parece com rajadas e vapor, apesar de estar debaixo dágua. Novamente discórdia na comunidade científica e, novamente, o que prevaleceu foi uma teoria ligada ao um iceberg: o barulho de trem era resultado do atrito de um iceberg com o fundo do mar.

Outro som captado pela NOAA é o “Julia”. Ele foi registrado em 1999 e é um ruído estranho, que parece uma pessoa chorando debaixo dágua. Para variar, não houve muito consenso na explicação: parte da comunidade científica disse que era o som de iceberg se arrastando no fundo do oceano, mas uma outra parcela significativa deu um piti irritada com as constantes explicações culpando os icebergs de todos os sons vindos do fundo do mar, sem qualquer evidência que justifique estas respostas.

Durante anos o iceberg foi usado pelos cientistas como a virose é usada pelos médicos: não sabe o que é? Provavelmente foi um iceberg. Isso gerou um movimento de resposta, de pessoas chateadas com a facilidade pela qual tudo era atribuído a estas pedras de gelo. Conclusão: em vez de procurar pelo que era, resolveram começar pelo que não era. Começaram a estudar detalhadamente os sons que poderiam ser causados por icebergs, para descartar esta explicação, que vinha sendo dada de uma forma muito cômoda. E, curiosamente, dali pra frente, cada vez menos sons receberam essa explicação.

Mas, nem sempre os icebergs levam a culpa. Em 1991, um barulho chamado Upsweep foi registrado no Pacífico Sul. É um ruído curioso, que se parece muito com a sirene de uma ambulância. Não se cogita que possa ser emitido por um ser vivo, pois o som não tem nenhuma variação de tom. Na real, ninguém teve coragem de bater o martelo sobre o que causou esse som, que mais parece um alarme disparando. A única teoria que tiveram coragem e apresentar é de que se trata do som proveniente da evaporação da água em contato com lava quente de erupções vulcânicas submarinas, porém, nunca foi comprovado. No saldo final, a maioria foi no doloroso “não sei explicar isso”.

Existem alguns sons que não são pontuais, são recorrentes, como é o caso do som chamado de “Biopato”. Registrado no Oceano Antártico desde a década de 60, som é similar a um pato grasnando e não foi captado apenas por microfones de monitoramento. Pessoas que transitaram pelo local em submarinos escutavam o ruído com frequência.

O mistério ficou 50 anos sem explicação, apenas com teorias e possibilidades (muitas delas culpando icebergs), quando, em 2014, finalmente perceberam do que se tratava. Era um ruído feito por um determinado tipo de baleia, que emitia esta frequência apenas quando ela vinha à superfície (no fundo do mar o ruído que elas emitiam era outro). Se tivessem passado menos tempo justificando cada peido subaquático com icebergs, teriam percebido mais cedo.

Outros sons, apesar de antigos, continuam sem explicação, como é o caso do ruído apelidado de Quacker. Ele foi escutado diversas vezes nos oceanos Atlântico e Ártico, não apenas por microfones como por tripulantes russos de submarinos, que por sinal, foram os responsáveis pelo nome deste som: uma alusão à onomatopeia que os russos utilizam para descrever o coaxar de um sapo. O ruído de fato parece um sapo gigante. Até hoje não se sabe o que foi. Parte da comunidade científica diz que veio de uma Lula Gigantge, que não foi captada pelo sonar do submarino por não possuir ossos, mas outra parte refuta com força esta teoria. Se for um bicho, é um animal totalmente desconhecido.

E nem sempre estes ruídos causam curiosidade, alguns dão medo mesmo. Um som que apavorou vários países foi o “Mistpouffers”, sons que pareciam o disparo de canhões ou outras armas. Esses estrondos foram testemunhados em vários locais, como o lago Seneca, em Nova York e por um instante levaram algumas nações a pensar que poderiam estar sendo atacadas.

No começo se pensou que gases submersos cujas bolhas estouram na superfície eram os responsáveis, mas, estudos mais aprofundados provaram que eles não poderiam gerar um som tão alto. Conclusão: ninguém explicou até hoje de forma convincente o que são esses “disparos”. Gastaram uma quantia considerável de dinheiro em estudos e saíram sem qualquer explicação

Em 2014 a teoria “não pode ser um bicho desconhecido, nós saberíamos” levou uma paulada na nuca. Um som desconhecido veio da parte mais profunda do oceano: a Fossa das Marianas. O som foi apelidado de “Western Pacific Biotwang” chamou a atenção por ser muito estranho, alternando frequências muito graves com frequências muito agudas e, em alguns momentos, o ruído parece metálico. Em 2015 o som foi escutado novamente. Após dois anos estudando os sons, chegaram à conclusão que vinha de um ser vivo, provavelmente uma baleia. O problema é: nenhuma baleia conhecida emite esse som. Ou seja, grandes chances de que exista algum bicho na Fossa das Marianas que ainda não vimos.

Mais ou menos na mesma época, uma população de esquimós de Nunavut, Canadá, formalizou uma reclamação com as forças armadas do país sobre um zumbido vindo do fundo do oceano que estava assustando os mamíferos do local, fazendo com que todos fujam. Isso estava comprometendo a sobrevivência dos esquimós, que não conseguiam caçar, logo, não conseguiam se alimentar.

Em um primeiro momento acusaram uma empresa de mineração de realizar perfurações no local. Foi investigado e comprovado que nenhuma atividade foi desempenhada na área. O faniquito dos esquimós continuou, gerando mais investigações. Chegaram a cogitar que o Greenpeace estivesse reproduzindo esses sons para espantar os animais e assim evitar que fossem caçados. Greenpeace veio a público indignado dizer que jamais de opôs à pesca de subsistência e que nunca realizou qualquer atividade no local.

Cientistas pesquisaram, pesquisaram e pesquisaram sem conseguir encontrar resposta para a origem do tal zumbido. Nem ao menos hipóteses. Nada. O zumbido foi escutado, foi registrado, é reconhecido que ele existe e vem do fundo do mar… mas não se sabe de onde, nem o que o causa.
Para terminar, existem sons tão poderosos vindos do oceano que podem ser captados por satélites da NASA. Um dos mais conhecidos é chamado de “Zumbido de Rossby”, um ruído de frequência inaudível pelo ouvido humano, que se origina no mar do Caribe. Ninguém explica ao certo de onde vem esse som, mas se sabe que ele é tão poderoso que sua frequência foi captada pelo satélite Grace, da NASA. Então, “se tivesse algo a gente saberia” vírgula, menos arrogância, que ainda tem muita coisa não explicada.

Mesmo sem explicar de onde vem cada um destes sons, há uma parte da comunidade científica que os vê como um fenômeno único. Acreditam que eles estão aumentando exponencialmente e isso está afetando a vida de animais marinhos. Recentemente se descobriu que golfinhos estão “falando menos”, ou seja, simplificando seu vocabulário para “resposta mais curtas”. Há uma teoria que credita isso ao aumento de sons marinhos não explicados, que gerariam problemas de comunicação entre os animais.

É como se você estivesse em um bar lotado tentando se comunicar com alguém: a tendência é dar respostas curtas e simples, graças à poluição sonora. O mais curioso é que isso acontece em áreas que não são de trânsito humano, ou seja, não dá para colocar a culpa desta poluição sonora 100% em motores de barcos e escavações. Tem algo ou algos fazendo barulho no fundo do mar, cada vez mais barulho, a ponto de mudar os hábitos dos animais marinhos.

Todos estes sons estão disponíveis online, basta que você digite o nome deles no Google ou Youtube e aparecerá um áudio ou vídeo correspondente. É, no mínimo, algo curioso de se escutar.

A resposta definitiva para explicar cada um deles nós não temos, nem a comunidade científica, mas saber que eles existem e conhece-los já é um passo importante.

Para dizer que isso é coisa do Bolsonaro, para dizer que isso é coisa do PT, ou ainda para dizer que deve ter muito bichão desconhecido no fundo do mar: sally@desfavor.com

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