Essa pessoa não existe.

Se você entrar neste site, vai ver a foto de uma pessoa aleatória com todas as características básicas de um ser humano, que, salvo uma coincidência astronômica, simplesmente não existe. Essas faces são criadas por uma inteligência artificial a cada vez que você carrega a página, e eu tenho certeza que um desavisado jamais notaria qualquer artificialidade na imagem.

Já neste site, você pode escrever uma frase (em inglês) e uma inteligência artificial completa o texto com o que acredita ser o tema da frase. Às vezes o resultado não faz muito sentido, mas sendo realista, está mais ou menos no mesmo nível de coerência de um ser humano médio. E com certeza escreve com menos erros gramaticais.

No site das fotos, é utilizado um sistema chamado Rede Generativa Antagônica (GAN na sigla em inglês), que tenta gerar resultados válidos para os pedidos recebidos gerando uma competição entre algoritmos internos. O sistema é treinado com milhões de fotos de pessoas até começar a reconhecer padrões, e vai sendo recompensado de acordo com o quão próximo chega de uma foto de uma pessoa real.

O segredo é reconhecer nos pixels da imagem os elementos que configuram um rosto humano. Olhos, nariz, boca… o básico tem que estar lá. A partir disso, a inteligência artificial vai analisando as variações e detalhes únicos, como gênero, etnia e até mesmo sardas, marcas faciais e pelagem. Usando fotos reais como treinamento, o sistema entende que mulher careca e negro sardento não são combinações muito válidas, recebendo menos pontos quando monta uma imagem do tipo. Do ponto de vista da máquina, nem existe uma imagem, e sim combinações de códigos de cor a cada pixel e sua relação com o vizinho.

Não é como nosso cérebro que já tem símbolos pré-definidos do que configura um nariz, por exemplo. Para a GAN, só existe a informação que combinar pixels daquela forma mais ou menos no meio do rosto costuma gerar recompensas maiores, e como são redes em competição, não sobra muito espaço para inventar: se não fizer algo realista, perde a disputa. O caminho da inteligência artificial é consideravelmente diferente do nosso, mesmo que com o tempo aprenda o que configura um nariz realista, pra ela é só uma regra arbitrária que ele não esteja no meio da testa.

Só que durante um tempo, pra gente também era… nossos primeiros contatos com o mundo são confusos, borrados e sem muitos significados. Para nossa sorte, já nascemos com uma programação avançada de sobrevivência que já prevê um modelo de realidade básico menos as informações. Bebês sabem que estar perto de outro corpo humano é bom, mesmo que ainda não entendam o conceito de “mãe”. Sabem que reconhecer um rosto e formar uma relação é questão de sobrevivência, mesmo que não saibam ainda o que é vida ou morte. A grande diferença entre máquinas e humanos no momento é que já saímos de fábrica com alguma regras essenciais de funcionamento que passam pelo DNA. Não sabe porque diabos o nariz está no meio do rosto, mas vai chorar bastante se tiver o seu tapado.

Já no dos textos, o sistema é baseado no modelo GPT-2, da Open AI do Google. Com base em gigabytes de texto coletados da internet, a inteligência artificial tenta prever a próxima coisa que seria escrita depois de um conjunto de palavras. Já é mais ou menos assim que seu celular prevê o que você vai digitar em sequência nas mensagens de texto. Como dependemos de padrões de linguagem para nos comunicar, temos um conjunto de regras que pode ser aprendido na base da “força bruta” por um sistema com velocidade de processamento suficiente. Não precisa filosofar para presumir que “vermelha” tem precedência sobre “atômica” depois da palavra bola. Nós aprendemos o significado das palavras desde cedo e vamos as concatenando de acordo com o objetivo de cada sentença. Tecnicamente, o trabalho de entender a relação entre as palavras já fizemos por essa inteligência artificial, para ela basta ler o que já treinamos há milênios, mesmo que não tenha sequer condições de entender o que cada frase significa.

Mas… se pararmos para pensar… um bebê não entende o que está falando também. Aprendemos a falar por imitação, até por isso crianças mais novas soltam frases completamente malucas com alguma frequência até entenderem melhor o que cada coisa significa. E levando em conta muito do que se escreve na internet, o campo da escrita ainda é um admirável mundo novo para muita gente. Conhecem as palavras, mas não sabem como trabalhar com elas num meio diferente da fala, treinada desde a infância. Os significados das nossas palavras raramente têm relação direta com o som real do objeto, um engano que inclusive é comum em crianças, chamando cachorros de “au-au” e coisas do tipo.

Nossa comunicação escrita e falada é baseada em uma base de dados pré-existente, o que outras pessoas já convencionaram usar. Cérebros infantis não fazem um caminho tão diferente assim de inteligências artificiais, tentando prever quais palavras costumam seguir umas às outras. A função de recompensa humana é a aprovação dos adultos e conseguir o que se quer através da comunicação, na máquina é um número maior. Eu lembro que quando era pequeno, escutava uma palavra nova e começava a testar onde ela cabia em uma sequência de frases insanas e outras pessoas bem confusas, claro que com a diferença essencial que eu tinha alguma noção do sentimento relacionado à palavra, coisas que máquinas ainda não são capazes de entender.

O método humano ainda é mais complexo e completo. Até porque temos sistemas de recompensa internalizados para desenvolver habilidades de comunicação e socialização, mas a forma como armazenamos informação não deixa de ser através de química e eletricidade. Quem analisar o funcionamento do cérebro humano sem nenhuma base do que a pessoa está pensando e fazendo vai ver só impulsos elétricos e reações químicas aparentemente sem sentido. No fundo, o que nos diferencia mesmo são bilhões de anos de vantagem na corrida pela inteligência generalista. Somos resultado do aprendizado hardcore da evolução, acumulando os acertos de bactérias, peixes, mamíferos e macacos num “processador” do tamanho de um planeta.

Máquinas nada mais são do que uma continuação do processo evolutivo. Sem o primeiro ser que saiu do mar para viver na terra, sem o rato que sobreviveu a uma era glacial, sem o macaco pelado que aprendeu a domar o fogo, nenhuma inteligência artificial seria possível. Tanto que os avanços recentes são baseados na ideia de redes neurais, pequenas partes que não entendem o todo, mas que em conjunto conseguem os melhores resultados por tentativa e erro. Nenhuma linha de código precisa entender a complexidade do universo, assim como nenhum neurônio seu sabe mais do que receber e enviar sinais de acordo com estímulos específicos.

A ideia de evolução é muito maior que uma Teoria da Biologia, é um olhar para o mecanismo de funcionamento da realidade: as partes que formam o todo não precisam entender o todo. As mitocôndrias que estão nas suas células produzindo energia só estão se mantendo vivas. As bactérias que fazem sua digestão aprenderam que viver em estômagos e intestinos é excelente, por isso não saem de lá. O resultado disso é um ser vivo multicelular, mas não é o objetivo claro de nenhuma das partes. Cada célula só quer seguir sua vida, e a cooperação positiva entre elas (mais células vivas significa maior chance de sobreviver) que torna estruturas complexas possíveis. E é exatamente assim que a inteligência e futuramente corpos artificiais vão surgir: gerando benefícios para todas as pequenas partes do processo até algo maior poder surgir disso.

E como disse, é uma ideia de funcionamento da realidade: você pode aplicar isso para reações químicas (átomos “gostam” de configurações estáveis e vão nos obedecer sempre que facilitarmos isso), para processos de aprendizado (cada neurônio ou parte de uma rede neural artificial tem que estar sendo recompensado pelo seu trabalho) ou mesmo para sociedades humanas. Se as partes não estiverem ganhando nada no processo, o todo simplesmente não funciona.

Para dizer que esse texto tomou um caminho estranho, para dizer que valeu pelos links, ou mesmo para dizer que agora sabe quem escreve os discursos do Trump: somir@desfavor.com

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Comments (18)

  • A punição gráfica do Somir acabou ou durará até o fim do ano? Fiquei curioso para ver o C3P-Dilmo em uma ilustração: corpo de C3p0 e rosto da Dilma. No fundo, uma figura oculta, que é um R2D-cão. O Pilha de Luke Skywalker, a Lindàmar de Yoda.

  • “somir is a fool. c3p-dilmo is just a program that searches similar generic texts on the internet.”

    In short, I know of no evidence at all that anyone in the Kuznetsov family, or anyone in the government, had any role in the crime, or any knowledge of the plot prior to or after it. And it’s certainly not evidence that the Kuznetsov family or any member of it were involved. The Russian government did not know anything about the crime before it happened. The murder was an inside job, perpetrated by someone inside the Kuznetsov family. And I know that because the evidence says so.

    I’m aware that in America we sometimes take a different approach to investigation. If I tell you that your brother was murdered, I don’t expect you to be suspicious. You don’t need to know the details of the crime, you don’t need to be able to solve the case or find the killer. But you do need to know that the person who committed the crime was your brother. And you

  • Eu não sei quando é montagem. Faço zoeiras no tinder com essas fotos de pessoas que não existem e o povo não percebe.

    • Disse 1% da humanidade.

      A imprensa fez um carnaval tentando provar que aquela foto da Greta no trem com crianças africanas fora da janela era falsa… com essa foto, eu provavelmente venço uma campanha para vereador em qualquer cidade do país.

      • Vi três fotos. Uma delas era visivelmente uma montagem: o desalinhamento do rosto e o o posicionamento do plano de fundo denotavam isso. Suponho que haja muito o que evoluir…

  • If Somir is trapped in the closet, then he (…)

    C3PDILMO:

    is trapped in that space for the rest of his life, but in that closet he will not be trapped from anyone’s judgement.

    I know, it is a long shot, but it’s one I am confident in.

    We will all have our differences. Somir is different. Somir is not alone in his own room. Somir has a lot of people who love him. Somir has a lot of people who care about him. Somir has a lot of people who will help him if he ever needs it. Somir has an uncle who cares about him, someone who is not in the closet and has been there for him. Somir has his father, his mom, his brothers, his sisters. Somir has a family who loves him.

    The people who are in the closet will always have a place for Somir in their lives. The people who love him will always love him. The people who care about him will always care about him. The people who want to help him will always help him. Somir is not

    Eu não tenho maturidade para esse tipo de coisa.

    • Você tentou me difamar, mas C3P-DILMO só tinha amor para oferecer. Temos muito o que aprender com nossos amigos robóticos…

  • If Somir asked a she-male to push his big car, then both [complete]

    C3P-DILMO:

    If Somir asked a she-male to push his big car, then both were considered to be male for that moment. Somir even said he would make his own car, and then made a truck (that I know nothing about), but he would make his own truck. I asked him if he’d rather do this or not, but he replied, “No, I’m going to do this. I’m going to create cars.” So if I asked him what would he make first, he’d say, “A car”.
    The “boy’s toy” was very much a part of his personality. When he asked the other kids to play with it and they didn’t, he’d say, “You’ll be sad when you see how big it is. How will you ever use it?” I asked, “Would you have to push it or would it be a lot easier if you could just walk around it?” “No,” he replied, “I’m going to push it. It will be the best. I’m going to make a really good car.” When the boys didn’t want to play with it, he’d

    Somir, o robô te safou nessa aí do traveco. Vamos ver mais situações:

    If Somir had broken both his own arms, then he should whipe his ass (…)

    C3PDILMO: like an Italian!”

    The other two nodded, and turned back to the door.

    “I’ll take that one,” said the man.

    The door shut, and as they watched the two boys walk off, they couldn’t help but notice that one of them was carrying a little bundle, and looked rather sad.

    The man took off after the boys. He didn’t talk much, but the other two had learned a little English by this point, and managed to follow him without any trouble. They soon caught up with them. The little bundle was in the arms of the boy who had taken off his pants and underwear.

    The man grabbed it.

    “I think you were going to take me to my mother and father.”

    “You didn’t want to go?”

    “No, but you had to. If I’d stayed, I’d be gone for good. It’s only a matter of minutes.”

    “It’s a nice home, this little one, isn’t it?”

    “You

    • Eu não deveria falar isso, mas acho que você quebrou a DilmAI escrevendo “wipe” errado.


      If Somir had broken both his arms, then he should wipe his ass and put on an armband with his arms to let people know that he is alive,” she said.

      “The last time I met him, he was so tired and his arms were so bruised. I could see he was not doing well,” she said. “I told the police that the boy must be brought to me because he is still missing.”

      “When they said that they have no information, I said, ‘Don’t let them make us wait. Tell us. If I can’t do it, you can.’ I told them that he was lying in a pool of blood and his hands had been cut off,” she said.

      “Then they told me they have been told that he was shot,” she said.

      Somir, the father of five, died on Friday morning after his body was found on the railway tracks near Srinagar’s Bazar area.

      He was shot dead by militants who had ambushed his vehicle near his home on July 9, an official of the Army said.


      Apertem F…

  • If I am a man and have a vagina, then my dog [complete]

    C3P-DILMO completou:

    If I am a man and have a vagina, then my dog is a woman.” In this case, though, the dog is a man in the case of the former.

    That said, this is not a new argument. As I noted in “The Case For Not Allocating Taxpayer Money To Support Women’s Health Care,” the idea of transgender men and women using men’s facilities has been a contentious issue in this country for a while now. But that disagreement is not about which gender to assign to which body. It’s about how to assign gender to people who do not feel like they fit that box.

    It’s a real issue for people with gender dysphoria, but it’s a different issue from the question of whether transgender people should be allowed to use the facilities of the sex to which they’ve designated themselves. It’s just not fair to assign someone a gender based on the way they look or how their body feels, regardless of their wishes.

    Temos aqui o padrão. Primeiro tentou fazer silogismos a partir de premissas incongruentes, depois procurou no banco de dados alguns relatos clichês associados ao tema central identificado. Por enquanto, tem que comer mais feijão.

  • Coloquei: If I have a gay friend and he became a nazi, then [complete]

    A Inteligência Artificial me respondeu o seguinte:

    If I have a gay friend and he became a nazi, then I would be gay. But for this to happen, he is a nazi. If you are gay, why do you need to be a nazi?

    “You can hate me if you want but I am still gay. If a nazi is gay, then it means that he is going to marry the girlfriend he’s sleeping with. That is not a thing.”

    The Facebook group is set up as a safe space for people to talk and discuss what they perceive to be homophobia. The group has over 2,000 members.

    The leader of the group, who goes by the name ‘Zakir Khan’, said: “We want to be open about it. People can see that we are normal people, we do not need to hide. There are people who would try and put us down but we don’t give in. This is a place where we can say we are normal and normalised.

    “There have been occasions where some people have made a derogatory comment about us, but people have been supportive, especially after a lot

    Conclusão: o ponto da Dilma está ligado a uma inteligência artificial.

  • Fui testar o gerador de lero-lero e ganhei uma declaração de amor.

    I miss my home, I miss my friends and I love to read but most of all I love you. I love you so much that sometimes when I look at you I am filled with sadness. I want you to know that I do understand, I do understand that this is a difficult thing to do but I am doing it. I love you.

    Que comece a era das waifus!

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