Holodomor

Uma tragédia humanitária que provavelmente não tem paralelos na nossa história. Alguns historiadores sugerem até 12 milhões de mortos durante uma fome generalizada na União Soviética do começo dos anos 30. Holodomor é uma palavra ucraniana criada para se referir ao evento, uma mistura das palavras morte e fome na língua deles. Tem gente que diz que Stálin foi pior que Hitler, e é difícil não concordar depois de conhecer mais sobre essa história…

Mas como ninguém é obrigado a saber todos os detalhes, vamos estabelecer o período histórico. Estamos no começo da década de 30 do século passado. Stálin é o líder da ainda jovem União Soviética, com o poder consolidado depois da morte de Lenin em 1924 e o exílio de Trotsky para o México em 1929, o caminho fica livre para a mão de ferro de Josef Stálin e suas ideias peculiares de como tocar a Revolução a partir dali. O mecanismo de poder dele não podia ser mais simples: mandava para a prisão quem discordasse um pouco e mandava matar quem causasse qualquer problema. Antes mesmo da fome, muita gente já tinha morrido por causa dele.

Só que nenhuma atrocidade cometida pela Revolução tinha preparado o povo ucraniano (e outros como veremos depois) para o grau de terror que aconteceria a seguir. Stálin não mandou soldados metralharem pessoas aleatórias, fez algo muito pior. E não estamos só falando da ruim e velha incompetência comunista, estamos falando de ações deliberadas para matar pessoas da forma mais cruel possível.

O projeto econômico de Stálin era o da coletivização. Ele queria que o povo soviético deixasse a agricultura de subsistência e começasse a trabalhar em grandes comunidades para aumentar a produção e alimentar toda a população. Se você quiser contar essa história de uma forma bonita, é só dizer que os soviéticos queriam criar grandes cooperativas para produzir muito alimento e não deixar mais nenhuma pessoa passar fome. E pode ter certeza de que essa foi a propaganda da época. Lindo no papel.

Em 1930, a Ucrânia, um dos países anexados depois da Revolução Comunista, era considerada a principal produtora agrícola da região. Historicamente, os fazendeiros ucranianos produziam o suficiente para a própria alimentação e ainda tinham sobras para alimentar boa parte dos russos. O povo ucraniano era bom nisso e tinha orgulho do seu papel. Mas, como era comum naquele tempo, a maior parte da produção vinha de pequenos agricultores que vendiam o excedente para o mercado externo. Como de costume, alguns tinham mais sucesso, com fazendas de grãos, leite e carne maiores que a maioria. Costumava-se chamar esses expoentes de Kulaks. O Kulak não era um barão da agricultura, porque eles nem existiam ainda, mas tinha uma estrutura razoável que o permitia contratar trabalhadores e ter dinheiro disponível para investimentos.

O plano de Stálin previa tomar todas as terras produtivas ucranianas e redistribuí-las para grandes grupos de camponeses. Em tese, cooperativas sob o controle do Estado, na prática, uma bagunça que desfez em uma canetada séculos de trabalho e experiência. Da noite para o dia, o dono de uma fazenda que produzia muito e contratava pessoas passou a ter o mesmo poder de decisão que o cidadão que recolhia a bosta das vacas no campo. E antes que você ria da desgraça da burguesia, esse poder de decisão era zero, para todo mundo. O governo decidia o que seria produzido, em que quantidade e em que prazo, o trabalho de todos os presos naquela comunidade era bater as metas. E só.

Evidente que os Kulaks não gostaram nada disso. Trabalho de gerações desfeito em nome de um governo que nunca pisou numa fazenda… como era de se esperar, houve muita resistência. Mas a máquina de propaganda soviética sabia muito bem como lidar com isso. Todo dissidente era burguês inimigo do povo. Kulak deixou de ser o termo para o agricultor que tinha seus negócios em dia (a maioria não chegava nem perto de ser rica) e virou sinônimo de explorador. Ser acusado de kulak era uma sentença de pobreza, pois tudo o que a pessoa tinha era tirado dela e dado para os camponeses. E é óbvio que muita gente se aproveitou disso para criar uma caça às bruxas: acusavam os desafetos de kulaks e viam toda a fúria do Estado recair sobre eles.

E, acreditem ou não, as coisas ainda iam bem aqui. Com o povo local abraçando a causa, toda pessoa que tinha um pouco mais de dinheiro ou recursos era acusada de kulak. Só que piora: a próxima grande ideia de Stálin e cia. era pegar esses kulaks que provavelmente ficariam reclamando e causando problemas onde estavam e enfiar em trens rumo à Sibéria. Na lógica da propaganda comunista, eles aprenderiam uma lição sobre igualdade e por tabela ajudariam a desenvolver áreas pouco povoadas do país. O que poderia dar errado, não?

Então, o desastre começa a se desenhar em duas linhas distintas: as áreas produtivas da Ucrânia esvaziadas das pessoas que sabiam como fazer as fazendas produzirem, e um monte de gente (milhões!) sendo enviada com uma mão na frente e outra atrás para o meio da Sibéria. E se não fosse o suficiente, o clima não colaborou nem um pouco em 1932. Todo mundo sabe que eficiência e organização não impedem o azar, mas com certeza ajudam a diminuir o seu impacto. Foi a tempestade perfeita.

Ao saber que perderiam tudo, muitos kulaks ficaram furiosos e destruíram suas fazendas, matando o gado e tocando fogo nas plantações e todo o maquinário necessário para a manutenção. Os camponeses que herdaram aquilo normalmente só obedeciam ordens ou plantavam o suficiente para alimentar a família. Não tinham noção de como trabalhar em largas escalas. E como na prática viraram escravos do governo, muitos também não aceitaram as condições: estavam mal antes, piores agora. Some-se a isso ao mau tempo que destruiu o pouco que restava e temos um problema muito sério.

Muita gente ia sofrer. Mas em outras condições, provavelmente conseguiriam apertar o cinto por um inverno como esse povo já tinha feito diversas outras vezes. Ia morrer gente, mas não era para ser o desastre que chamamos de Holodomor hoje em dia. Alguns historiadores apologistas dizem que essa grande fome ucraniana foi resultado de uma péssima administração pública e as dificuldade inerentes a uma mudança tão radical de sistema social. Mas os próximos fatos dessas história sugerem que foi sim um genocídio, pra lá de intencional.

A produção agrícola ucraniana seria terrível de qualquer jeito, mas Stálin criou a condição para as milhões de mortes ao aplicar metas absurdas de produção para os camponeses locais ignorando totalmente os problemas locais. Stálin queria uma produção ainda maior que a do tempo dos kulaks. Segundo ele, com fazendas maiores e mais trabalhadores, era para conseguir aumentar imensamente a produção mesmo com o tempo ruim. E quando Stálin pedia uma coisa, não colocava “por favor” antes. As ordens desciam do Kremlin sem nenhuma contestação, e os agentes do partido comunista no caminho sabiam que morreriam se não entregassem o pedido.

E aí que a gente chega em algo que provavelmente rivaliza ou até ultrapassa os crimes humanitários do Holocausto: o exército soviético vinha pegar toda a produção das fazendas ucranianas considerando as metas obviamente impossíveis estabelecidas pelo partido. Depois de meses de trabalho nas piores condições, sem gente competente para ajudar ou qualquer incentivo do governo, os camponeses ucranianos tinham que ver os soldados de Stálin pegar tudo o que produziram a duras penas e ir embora. Ninguém era capaz de bater a meta e ter comida de sobra. Não adiantava chorar para os soldados, porque os soldados sabiam que morreriam se não fizessem exatamente aquilo.

Alguém mais atento deve estar pensando que se era um regime comunista, de uma forma ou de outra essa comida voltaria para eles. Afinal, o Estado se obrigava a alimentar todo mundo, não? O problema é que Stálin não estava nessa para alimentar o povo, e sim para exportar toda a comida que pudesse para o resto da Europa. Nos anos de menor produção agrícola, as exportações de grãos aumentaram mais de 1000%. Ou seja: Stálin estava vendendo a comida do seu povo para fazer caixa. O partido comunista usou esse dinheiro para começar o processo de industrialização e equipamento do seu exército para travar guerras externas.

Não tinha como Stálin e todos os outros membros do partido informados sobre a situação ucraniana não saberem que estavam matando aquele povo. Não tinha comida suficiente para eles. Eles entregavam tudo o que produziam e não recebiam quase nada de volta. No começo de 1933, Stálin manda uma ordem oficial para não perdoar ninguém que tivesse escondido comida dos soldados. Ele sabia o que estava acontecendo, e estava disposto a mandar matar quem tentasse escapar da fome.

O que talvez não seja óbvio para quem está lendo sobre isso pela primeira vez é que havia uma vantagem para Stálin em destruir a Ucrânia: como eram os grandes produtores agrícolas, tinham poder e organização para resistir ao partido. Stálin, notório paranoico, não aceitava viver com esse risco: num genocídio só, matava pessoas que poderiam se voltar contra ele no futuro e juntaria muito dinheiro para suas aventuras expansionistas. O povo ucraniano foi definhando com o passar dos meses. Idosos e crianças morreram primeiro. Famílias expulsavam de casa quem tivesse menos chance de sobreviver para economizar comida. Muitos relatos de canibalismo. As ruas das cidades rurais ucranianas se encheram de corpos esquálidos, e ninguém tinha energia para sequer enterrá-los. Quem tentasse fugir dali era fuzilado pelos soldados. As estimativas de pessoas mortas naquela fome generalizada vão de 3 a 12 milhões de pessoas.

E eu nem falei sobre os kulaks enviados para a Sibéria. Por falta de organização do governo (muito provavelmente maliciosa), famílias inteiras foram jogadas no meio da floresta durante o inverno, sem comida ou mesmo qualquer ferramenta para cortar lenha ou construir abrigos. Estima-se que meio milhão de pessoas morreram nesses primeiros dias de abandono, e as que sobreviveram contam histórias de terror, de novo com canibalismo e o pior do comportamento humano em situações de crise. Tudo sob a vigia de soldados, que davam basicamente a escolha entre morrer de fome, frio ou fuzilamento. Num dos casos, colocaram 6.000 pessoas numa ilha minúscula no meio de um rio com alguns quilos de farinha. O lugar foi chamado de Ilha da Morte, e milhares de corpos foram deixados lá, congelados no frio siberiano com vários pedaços faltando.

Quando Stálin percebeu que havia acabado com os kulaks e juntado dinheiro o suficiente, afrouxou as regras e ameaçou de morte qualquer um que abrisse o bico sobre a história. O caso é normalmente relacionado à Ucrânia, mas a mesma coisa aconteceu no Cazaquistão e várias outras partes mais rurais da União Soviética na mesma época. Como as pessoas que viveram esse capítulo horrendo da história humana ficaram escondidas atrás da Cortina de Ferro até o começo dos anos 90, não temos filmes, monumentos e histórias para lembrar. Você pode negar Holodomor à vontade, e é capaz até de ser elogiado por combater essas “mentiras capitalistas” se o fizer. Uma pena que isso ficou tanto tempo escondido. Uma pena que ninguém aprende de verdade sobre isso na escola.

Não por causa de comunismo ou capitalismo, e sim porque o ser humano pode ser terrível se tiver poder suficiente. Porque muita gente aprende o perigo está numa denominação política ou outra, mas não entende que no final das contas, é o poder absoluto que cria a oportunidade para essa corrupção horrenda dos valores humanos. Não é comunismo, não é o capitalismo, somos nós. Quando eu escrevo este texto, não quero te convencer de nada além do valor dessa pra lá de imperfeita democracia. Ninguém deve ter tanto poder. Porque uma hora ou outra, da direita ou da esquerda, cria-se a situação perfeita para aterrorizar milhões de pessoas cujo único crime foi nascer no lugar errado.

Lembre-se do Holocausto, mas não deixe de se lembrar de Holodomor.

Para dizer que gosta de começar a semana com temas leves, para dizer que eu sou bolsominion por criticar Stálin, ou mesmo para perguntar quando eu vou falar da China de Mao (em breve): somir@desfavor.com

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Comments (24)

  • Parabéns, Somir! Você é excelente em explicar assuntos difíceis ou pouco divulgados! Facilita muito pra ter uma visão de conjunto.

  • Seus assuntos estão ficando cada vez melhores, heim Somir?
    Textão da porra!!….
    Pra quem quiser saber um pouco mais sobre, tem 2 livros que são muito bons, narrados por pessoas (povão) da época, mas depois que o regime caiu:
    “Sussurros” Orlando Figes
    “O fim do homem soviético” Svetlana Aleksiévitch (e os demais livros dela… são ótimos tbm)

  • Geraldo Renato da Silva

    Quem defende o comunismo (socialismo) se esquece dessa tragédia, uma entre tantas. Quando vejo alguém defendendo, simplesmente saio de perto; meus neurônios doem.
    Na nossa querida pátria, o nazismo é demonizado e o comunismo é tratado como “ideologia libertadora”: nada tira isso da cabeça de nossos intelectuais e políticos.
    O único sistema econômico que realmente funciona, ainda que tenha as suas distorções, é o capitalismo, um sistema com quase mil anos de existência. Isso nada tem a ver com direita, esquerda, centro, cima ou baixo: é pura lógica.

    • Capitalismo nem deveria ter nome. Seres humanos fazem trocas visando acúmulo de recursos desde… bom, desde que são humanos. Não é uma das alternativas, é o processo natural. Deve ser regulado? Com certeza. Mas não adianta fazer o ser humano mudar um mecanismo tão básico.

  • Alguém aí saberia me dizer se na Ucrânia hoje o comunismo é proscrito por lei como é na Polônia e em algumas ex-repúblicas soviéticas?

  • Agora fica claro e (até) compreensível que os ucranianos tenham recebido os nazistas de braços abertos durante a Operação Barbarossa. E lutado ao lado deles.

  • JULIO SOARES (Guarulhos/SP)

    Excelente texto ! aguardando a China de Mao … e pode vir com mais esse pessoal aqui: Mussolini (Itália), Pol Pot (Camboja), Franco (Espanha), Salazar (Portugal), Idi Amin (Uganda), Ceaucescu (Romênia), Ferdinand Marcos (Filipinas), Pinochet (Chile), Reza Pahlevi (Irã), Videla (Argentina), Médici (Brasil) e Mobutu (Zaire).
    Abraços !

  • Por isso que às vezes discordo de você quando fala em “evitar extremos e caminhar para o centro”, tem coisas que simplesmente não devem ser relativizadas senão abre espaço pra barbárie.

    Tenho a impressão de que a relativização está fazendo a humanidade involuir: ser barulhento é simpático e caloroso, pichação é cultura, cuspe num quadro é arte, estudar é opressão, se comportar como primata sem autocontrole é liberdade. E ai de você se criticar.

    • É, mas você está me dando menos crédito que eu mereço, não?

      Não estou dizendo que temos que achar um meio termo entre “pregar a morte de negros” e “respeitar direitos humanos básicos”, assim como não estou dizendo que dá para conciliar “amor em todas as idades” com “proteção de crianças”.

      Tem coisa que não tem meio termo. O centrista não é uma massa amorfa e amoral, é apenas quem não dá monopólio da verdade para nenhum movimento político.

  • Autoritarismo e controle populacional é o sonho molhado das elites atuais também. Antes era pra proteger o povo da “ameaça burguesa” (ou “ameaça comunista” dependendo de onde se morava), hoje é a “ameaça das mudanças climáticas”.
    Pareço conspiralouco? União Europeia discute taxar todas as carnes pra reduzir o consumo em até 67% para a próxima década.
    https://www.forbes.com/sites/davekeating/2020/02/03/eu-urged-to-put-climate-tax-on-meat/#4077fac0c758
    Ou, tirando as palavras bonitinhas, veganismo forçado. Mas só pro povão. A elite vai continuar tendo carne, comida de verdade, água de verdade, filhos normais, posses, casa própria. Pra gente vai ser comida de inseto, água reciclada de cocô, drogas, vícios, castração, pod apartment, alugar e compartilhar em vez de possuir.

    Proibição dos canudinhos de plástico foi só o começo, a ecochantagem ainda vai piorar muito.

    • Nada é de graça nessa vida. Os recursos para 10 bilhões de pessoas vivendo no padrão americano de consumo simplesmente não existem, isso eu entendo.

      Mas é foda como a conta cai na nossa mão. Sem totalitarismo e “camisas marrons” do ambientalismo, vai ser dose convencer esse povo.

  • Já sabia de muita coisa sobre essa abominação chamada Holodomor, mas sempre que eu tentava falar sobre esse assunto, quase ninguém dava bola. Acho inaceitável que algo tão horrível seja simplesmente ignorado por tanta gente e não cause as mesmas consternação e revolta que o também medonho Holocausto. Ah! E quanto ao “(…) ou mesmo para perguntar quando eu vou falar da China de Mao (em breve)”, eu estou mesmo esperando, viu? São momentos terríveis da História, mas que não podem ser esquecidos, sob pena de que se repitam. Por fim, se algum desvairado vier nos encher o saco, deve-se argumentar com o que foi exposto no final deste texto: a questão aqui não é Comunismo x Capitalismo. Quem ainda pensa assim simplesmente não entendeu nada! O importante é saber que, independentemente de sistemas ou ideologias, quem tem poder demais é – ou se torna – um ser humano podre, vil, mesquinho, desprezível, agarrado a seus privilégios e capaz das maiores barbaridades apenas e tão-somente para “não largar o osso”.

    • Para complementar o texto – e já que vocês anunciaram outro sobre a China de Mao a ser publicado em breve – , vejam este trecho sobre os ditadores do século XX do filme “Nós Que Aqui Estamos Por Vós Esperamos”:

      https://www.youtube.com/watch?v=0Qp8h79SvrY.

      Na lista de monstros que aparece no vídeo, temos, além de Stálin, outras figuras abjetas como Hitler – claro! – e também Mao Tsé-Tung. Na seqüência, aparece uma galeria que prova que o pior da Humanidade aparece em qualquer lugar do mundo e sob todos os matizes ideológicos: Mussolini (Itália), Pol Pot (Camboja), Franco (Espanha), Salazar (Portugal), Idi Amin (Uganda), Ceaucescu (Romênia), Ferdinand Marcos (Filipinas), Pinochet (Chile), Reza Pahlevi (Irã), Videla (Argentina), Médici (Brasil) e Mobutu (Zaire).

    • É tão pouco falado que eu não tinha noção do grau da barbárie até fazer a pesquisa do texto. Achei que seria o mesmo grau de incompetência tragicômica do comunismo asiático, que Mao e Kim Il-Sung aprontaram nas décadas seguintes, mas era muito mais escroto e intencional.

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