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FAQ: Coronavírus – 37

FAQ: Coronavírus – 37

| Sally | | 24 comentários em FAQ: Coronavírus – 37

Tá vendo? O Tarcisio Meira morreu. E ainda tem gente contra a terceira dose de vacina.

Não acho que tenha ninguém “contra” a terceira dose da vacina. O que se questiona é se essa é a melhor estratégia no momento.

Uma coisa que as pessoas precisam entender: há escassez de vacina. Não é por você estar vacinado, por sua avó estar vacinada, que todos tenham vacina. O cenário mundial ainda é de escassez e o Brasil não está tão bem quanto as pessoas parecem supor. Se houvesse vacina sobrando para dar terceira dose em todo mundo, eu duvido que alguém fosse contra.

O que está sendo discutido e perguntado é: adianta proteger alguns grupos vulneráveis com uma terceira dose se, para isso, deixamos outros grupos totalmente sem vacina, permitindo que o vírus circule e surjam novas variantes, que vão demandar novas doses de reforço para grupos vulneráveis? Fazer isso não seria ficar eternamente correndo atras do próprio rabo?

Inclusive esses dias recebi um argumento recorrente de alguns espíritos sem luz: “Você prefere então deixar seu filho sem uma terceira dose e arriscar que ele morra?”. Eu não tenho filhos, mas tenho pessoas que amo na minha vida. Não, eu não prefiro, minha vontade é que as pessoas que eu amo tomem a terceira dose e o resto do mundo se foda. Mas, eu também tenho a consciência de que a minha vontade, influenciada pelas minhas emoções, pode não ser a melhor escolha para algo que afeta a toda a humanidade. Decisões que afetam a toda a humanidade não podem ser tomadas com base no que eu acho melhor para mim.

Talvez dar duas doses em todo mundo proteja mais os grupos vulneráveis do que aplicar uma terceira dose e correr o risco de ver surgir uma nova variante mais agressiva. E eu digo “talvez” pois eu realmente não tenho essa resposta. Não sabemos o que vai acontecer. É um vírus novo, estamos todos passando por isso pela primeira vez.

Além disso, não é como se as pessoas com duas doses estivessem desprotegidas. Elas só não têm proteção máxima. Cabe a quem é grupo vulnerável ou tem grupos vulneráveis na família zelar por sua proteção, sabendo que vacina não é uma garantia 100%. Tem que manter isolamento social, tem que usar máscara, tem que lavar bem as mãos.

A própria família do Tarcísio Meira declarou publicamente que sabia que, apesar da vacina, por sua idade e por suas comorbidades, ele precisaria de cuidados extras, incluindo isolamento social e que ele foi contagiado por “um descuido”. Então, desculpa, mas o plano vacinal não pode ser “vamos vacinar vulneráveis até que eles possam lamber maçaneta e depois vacinamos que não tem nenhuma dose de vacina”.

Ninguém é contra uma terceira dose. O que se contesta é aplicar uma terceira dose às custas de outras pessoas ficarem sem nenhuma dose de vacina. Repito: não existe “eu” em uma pandemia. O foco tem que ser em estratégias que mais vão beneficiar a humanidade. Decisões inteligentes em uma pandemia são pensadas tendo como base o coletivo.

O que beneficia mais a coletividade: vacinar com uma terceira dose grupos vulneráveis e deixar este pequeno grupo mais protegido ou usar vacinas para imunizar o mundo todo com duas doses impedindo o surgimento de novas variantes?

Sinto muito, eu queria que tivesse vacina para dar dez doses em cada pessoa, mas não é essa a realidade. Grupos vulneráveis como idosos, imunodeprimidos e outros deveriam segurar as pontas com duas vacinas e isolamento social, para o bem da humanidade.

E nem precisa pensar em termos globais. Essa semana saíram várias notícias sobre o risco de faltarem segundas doses de vacinas para o brasileiro mesmo. Por exemplo, 3 milhões de pessoas podem ficar sem a dose da AstraZeneca. A previsão de entrega para agosto e setembro não é suficiente para dar a segunda dose em quem tomou a primeira dose em maio e junho. E aí? Tem certeza de que o país tem essa fartura toda para dar terceira dose?

Mas, não se preocupe, a julgar pela postura do Brasil em toda a pandemia, o país vai sim aplicar uma terceira dose. E provavelmente mesmo quem não precisaria vai acabar tomando, por um jeitinho ou por outro. Só vou deixar uma dica aqui para reflexão: vocês deveriam estar mais preocupados com a vacinação de crianças.


Recebi pelo grupo do zap um estudo publicado em algum lugar da África dizendo que quem toma Cloroquina antes de entrar no hospital morre menos e que estão revendo essa certeza de que Cloroquina não funciona. Procede?

Não, não procede. Uma dica para a vida: chegou via WhatsApp? É mentira, até que se prove o contrário.

De fato, esse estudo existe, mas já foi refutado por um motivo bem simples: não foi feito da forma correta, foi realizado de forma injusta e tendenciosa. Tanto é que você não vai encontrá-lo publicado em nenhuma revista científica séria, e os próprios animais que o apresentaram já estão se desculpando.

Sim, nesse “estudo” as pessoas que tomaram Cloroquina antes da internação morreram menos, mas o que esqueceram de te contar é que nesse estudo quem tomou Cloroquina tinha faixa etária de 40 anos, enquanto que os que não tomaram tinham faixa etária superior a 60 anos, ou seja, se tivesse dado jujuba, água ou feijões mágicos, o resultado seria o mesmo.

O sistema imunológico de uma pessoa na faixa dos 40 anos, via de regra, é mais eficiente do que o sistema imunológico de uma pessoa com mais de 60 anos, portanto, é o caminho natural que pessoas mais jovens morram menos. É a ordem natural das coisas, não a ação da Cloroquina.

Justamente para evitar manipulações como essa, se exigem uma série de regras em estudos científicos sérios, que vão desde a seleção dos candidatos, aos testes até a forma como os estudos são conduzidos. Esse “estudo” que está circulando tem zero validade científica, vale o mesmo que um papel de pão escrito por uma criança com problemas mentais.

Virem a página: Cloroquina não funciona. Para que Cloroquina funcione é preciso que cientistas e médicos do mundo todo, de mais de 300 países, estejam errados e/ou estejam conseguindo esconder dado. Parece plausível que o mundo todo esteja errado e apenas alguns brasileiros estejam certos?

Basta olhar para o Brasil, um país onde morreu muito mais gente (falando de mortes por milhão, ou seja, independente da quantidade de habitantes) do que a média de mortes mundial. Deveriam ter morrido, pela média de habitantes, pouco mais de 90 mil. Morreram mais de 500 mil. Se Cloroquina funcionasse, o número seria esse? O país teria mais mortes que a média?

Pelo amor dos seus filhinhos, esqueçam Cloroquina e virem essa página.


Tem aumento de morte em idosos, é a vacina perdendo a eficácia. Tem que dar uma terceira dose ou os velhos vão todos morrer.

Calma, gente. Não tem gente morrendo por perda de eficácia de vacina não. A eficácia das vacinas está sendo controlada e, até aqui, não está reduzida pelo passar do tempo. Senta. Toma uma maracujina e acompanha comigo o raciocínio.

Começou a pandemia. Ninguém tinha vacina. Morria muito idoso pois o sistema imunológico tende a ficar menos eficiente com a idade, portanto, os idosos eram mais vulneráveis ao vírus, seja para impedir que ele se instale no organismo, seja para impedir os danos decorrentes dele. Morria quem tinha o sistema imune menos competente. Guarde essa informação.

Surgiram as vacinas, que alegria! Em quase todo o mundo, os idosos foram os primeiros a serem vacinados, justamente por serem um grupo mais vulnerável. O que aconteceu? A taxa de mortalidade entre idosos caiu e o grupo mais vulnerável ao vírus passou a ser o de pessoas entre 40 e 60 anos, que tinham o sistema imune menos competente que jovens entre 20 e 40 anos.

O tempo passou, a vacinação avançou e o grupo entre 40 e 60 também foi vacinado. Pessoas com menos idade também. Por mais que não esteja todo mundo com a segunda dose no braço, como deveria (se a vacinação tivesse sido feita no tempo certo, em maio deste ano todo brasileiro teria duas doses de vacina), uma dose gera alguma proteção.

Então, é como se “zerasse” tudo. Se grupos de todas as idades, em sua maioria, estão com algum grau de vacinação, qual deles vai ser mais vulnerável à covid? O grupo que produzir a pior resposta imune às vacinas, que, no caso, são os idosos.

Isso quer dizer que as vacinas estão “parando de funcionar”? Não, se estivessem, veríamos um número de idosos mortos tenebroso, similar ao do começo da pandemia. Isso quer dizer que a vacina “funciona menos” em idosos, portanto, quando está todo mundo vacinado, eles voltam a ser o grupo que mais morre. Parem de espalhar essa coisa de vacina perder a eficácia, não tem nada comprovado nesse sentido. Vão assustar as pessoas de forma desnecessária.

Em vez disso, cuidem dos seus idosos, cuidem de qualquer pessoa que esteja dentro do grupo vulnerável com sistema imune debilitado. Vacina não é mágica, vacina não é escudo protetor invisível. Isolamento social continua sendo necessário para os mais vulneráveis. Vacina reduz as chances de dar um problema grave, mas não as elimina.

O mesmo vale para quem me perguntou se, por estarem morrendo idosos vacinados, isso significa que o efeito das vacinas expirou por completo. NÃO! Está morrendo a mesma quantidade de idoso do que no ano passado? Não, né? Se a vacina tivesse “parado de funcionar” o Brasil retomaria o número antigo de mortos.

O motivo pelo qual está morrendo idoso vacinado é que agora só tem idoso vacinado. Quando só tem vacinado, é inevitável que só morra gente vacinada, percebem? Nós avisamos que isso iria acontecer em outro FAQ: quando só tiver gente vacinada, só vai morrer gente vacinada e aí vai ter quem diga que as vacinas não funcionam.

Novamente: vacina não é mágica, se o sistema imune não fizer uma boa resposta à vacina, a pessoa pode continuar vulnerável ao vírus. Por isso, é importante seguir com uso de máscara, distanciamento social etc. Daqui pra frente vamos começar a ouvir falar muito de casos em que vacinados adoecem (os chamados “breakthrough cases”) e isso de forma alguma quer dizer que as vacinas não funcionem. Então, escutou falar em “breakthrough”, já sabe: é vacinado que adoeceu.

O problema é: o brasileiro está se portando como se a pandemia tivesse acabado ou como se a vacina fosse mágica e, quando dá ruim, culpa as vacinas. Não se portaram como deveriam nem quando tinha 4 mil mortes por dia, não vão fazer agora. Mas ao menos tenham a decência de não colocar a culpa nas vacinas…


Alicate ficou bem depois que teve covid?

Sim, vaso ruim não quebra.

Para dizer que é curioso ver quem não queria tomar nem a primeira dose espernenando para tomar a terceira, para dizer que estava tão bom sem falar de covid ou ainda para perguntar se o vírus que contaminou o Alicate passa bem: sally@desfavor.com

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