FAQ: Coronavírus – 42
| Sally | Desfavor Bônus | 6 comentários em FAQ: Coronavírus – 42
Já se sabe se a Ômicron é mais transmissível, mais letal ou mais resistente?
Não. A única confirmação que temos é que ela é sim mais transmissível.
O que preocupa é ver que a Ômicron está se espalhando mais rápido que qualquer outra variante na África do Sul. Pensem comigo: quando a primeira variante preocupante chegou, a Alfa, era princípio de pandemia, portanto, ela encontrou pessoas sem qualquer defesa, sem qualquer anticorpo para covid. Foi tudo mais fácil para a Alfa. A Ômicron pode não ter encontrado pessoas vacinadas, mas encontrou um monte de gente que já teve covid-19, ou seja, pessoas que tem alguma imunidade “natural” à doença, cujos corpos já viram o vírus e já o combateram antes.
Ainda assim, a Ômicron está infectando mais rápido do que as variantes anteriores. Como se explica isso? Duas hipóteses, ambas sendo estudadas, para explicar o grau de contágio da Ômicron: ou é o vírus mais transmissível da história da humanidade, ou ela consegue um escape considerável ao sistema imune. Ou ambos.
Se ela fosse absurdamente transmissível ela estaria infectando tanto por conseguir encontrar quem ainda não teve covid e não tem imunidade natural. Fosse por escape vacinal ela estaria infectando tanto por conseguir contaminar quem a Delta não conseguiu pegar.
Que a Ômicron é muito transmissível, é fato. Para justificar a quantidade de contágios que ela promoveu em tão pouco tempo tomando por base apenas o fato de ser mais contagiosa, teríamos que presumir que a taxa de transmissão dela seria de 20 a 30 pessoas por caso, o que é algo inédito no mundo (o vírus mais transmissível é o sarampo, que contamina entre 15 a 18 pessoas por doente). É possível? É possível, mas é bastante improvável.
O mais provável é que, além de ser mais transmissível, a Ômicron também consiga infectar pessoas que a Delta não consegue. Isso quer dizer que a Ômicron está infectando pessoas imunes.
Aí vem a pergunta: imunes por vacina ou a imunidade natural de quem teve covid? NÃO SABEMOS. Você vai escutar muita gente dizendo que a Ômicron não escapa de vacinas e vai escutar muita gente dizendo que a Ômicron escapa de vacinas, mas a verdade é que isso ainda não foi confirmado, pois não deu tempo de fazer todos os testes necessários. Quando for, nós vamos fazer um FAQ sobre isso contando todos os detalhes.
O que se sabe sobre escape imune até aqui: ela é muito boa em escapar da imunidade natural do corpo, ou seja, a imunidade que quem teve covid adquiriu. Estima-se que ela consiga escapar da imunidade natural de 90% das pessoas. Isso significa que aquele papo de “vou pegar logo para ficar imune” recebeu a última pá de cal: a imunidade natural, do seu corpo, não serve mais, ela não barra a Ômicron.
Então, de hoje em diante, em hipótese alguma você deve se sentir protegido com o pensamento “já tive covid, tenho anticorpos”. NÃO. Ao que tudo indica, já temos uma variante que consegue burlar esses anticorpos de quem adoeceu. Esquece a ideia de imunidade de rebanho se todo mundo se contaminar. Não vai acontecer. Se contaminar é colocar em risco a sua vida, é se colocar em risco de sequelas, para nada, pois, até onde se sabe, não te protege contra a Ômicron.
E a imunidade obtida por vacinas? Essa é a pergunta de um milhão de dólares, para a qual ainda não se tem resposta. Você vai ler laboratório dizendo isso ou aquilo, mas a verdade é que ainda está sendo testado. Não sabemos o quanto cada vacina protege, mas tudo indica que essa resposta vem em uma ou duas semanas. Então, repito: você não sabe o quanto a vacina que tem no braço te protege, custa sossegar o cu até saber essa reposta?
Mais um detalhe: não deve ser uma resposta de “sim” ou “não”. Sim, escapa de todas as vacinas ou não, não escapa de nenhuma vacina. É possível que algumas vacinas tenham uma proteção maior contra ela e outras tenham uma proteção menor. Pode ser que vacina de vetor viral se mostre ineficiente e vacina de vírus inativado supereficiente – ou vice versa. Então, neste exato momento, é como a Vacina de Schrödinger: estamos todos com a melhor vacina ou com a pior vacina, até que não saiam os resultados dos estudos.
Sobre a seriedade da doença que ela causa, até aqui, nada indica que seja mais letal, mas, sem querer ser escrota, não deu tempo dela concluir um ciclo inteiro e da gente ver pessoas morrendo ou de ver o potencial de hospitalização que ela causa: a transmissão acontece nos sete primeiro dias, os sintomas normalmente aparecem sete dias depois e os sintomas graves, que demandam hospitalização, normalmente aparecem depois da segunda semana do contágio e o tempo de morte após a hospitalização demora entre duas semanas a um mês.
Não deu tempo de acompanhar esse ciclo todo com a Ômicron, ela foi detectada no dia 24 de novembro, não deu tempo de ver como os casos vão progredir. Ela pode ser menos letal, ela pode ser mais letal ou ela pode ter a mesma letalidade de outra variante. Então, segura a comemoração. Tudo leva a crer que ela, pela severidade da doença até aqui, que ela não seja mais letal, mas certeza a gente só vai ter em algumas semanas.
Vale lembrar que uma variante não precisa ser mais letal para matar mais gente. A Europa, com a Delta, que parece ser menos contagiosa do que a Ômicron, está vendo gente morrer por falta de hospital. O que vocês acham que vai acontecer quando entrar a Ômicron por cima, em pleno inverno? Covid tratada mata pouco, covid não tratada mata muito. Uma variante, pelo simples fato de ser mais contagiosa, pode acabar, indiretamente, sendo mais letal pelo colapso hospitalar que provoca.
Vale lembrar também que tem estado brasileiro com 70% de não vacinados, que justamente são as regiões que tem a pior infraestrutura de saúde. Nesses lugares podemos ver um desastre.
“Mas Sally, na África do Sul, onde poucos tem vacina, estão morrendo pouco, isso não é sinal que a gente vai tirar de letra?”. Não necessariamente. É uma população jovem. Não sabemos como a Ômicron vai se comportar quando chegar a uma população mais velha e não sabemos como ela vai se comportar quando confrontada com a imunidade de vacina. Se ela escapar da imunidade de vacina com a mesma facilidade que escapa da imunidade natural, podemos ter problemas sim.
Desculpa essa resposta cheia de “não sabemos”, mas essa é a grande verdade. Não sabemos, mas vamos saber rápido, são respostas que vem em poucas semanas ou até poucos dias. Tem gente trabalhando dia e noite para responder isso.
Então, fica aqui meu apelo: como deve ser uma questão de dias, sosseguem o cu em casa até saber. A Ômicron já está espalhada pelo mundo todo, provavelmente já está no seu país e no seu estado. Tentem não sair a menos que seja muito necessário até entender exatamente com o que se está lidando.
A OMS pediu que não fechem as fronteiras com a África do Sul. Não entendi o motivo, já que tem uma nova variante vinda de lá.
São dois motivos: 1) não adianta e 2) acaba sendo um estímulo à falta de transparência.
Fato: o ser humano não consegue perceber as mutações de covid em tempo real. O vírus muta, infecta um monte de gente e só depois nós percebemos. Às vezes leva meses. Então, quando finalmente nos damos conta de que existe uma nova variante circulando, ela já se espalhou. Não adianta nada fechar as fronteiras com o país ou com o continente de onde ela supostamente surgiu, ela já está nos quatro cantos do mundo.
A Ômicron ainda é muito recente para mapeamento, mas sabe-se que no Brasil a variante Delta, que surgiu na Índia, entrou através de europeus e americanos (foram constatadas mais de 200 entradas diferentes). Adiantou fechar as fronteiras com a Índia? Não. Já estava espalhado, pessoas de outros países a trouxeram. Se é para fechar fronteiras, fecha com o mundo todo ou não fecha.
O controle de fronteiras eficientes é outro: é testagem, é quarentena de quem chega isolado em hotel (pois existe uma janela que às vezes é de dias na qual a pessoa pode estar com covid mas não ser acusado no teste PCR), é rastreio de contatos e tantas outras coisas que o Brasil não faz.
Além de ser ineficiente, o fechamento de fronteiras do mundo todo com aquele país gera inúmeros prejuízos para ele e para sua população: estigma, baque econômico, perda de turismo e muitos outros.
O que seria o certo: o país diz “pessoal, temos um problema aqui” e o mundo todo manda testes, vacinas, remédios e cientistas para ajudar. Joinha. Isso estimula a que todos os que tem problemas falem dele em voz alta, pois sabem que receberão ajuda.
O que não ajuda: o país diz “pessoal, temos um problema aqui” e todo mundo fecha as portas na cara dele, deixando-o sem turismo, sem comércio e com um estigma que cola na sua população. Causa um baque financeiro, gera discriminação e desconfiança.
Quando isso acontece, a tendência é que os países escondam novas variantes ou qualquer outro tipo de problema, para não terem as portas fechadas na sua cara. Eles deixam a variante se espalhar torcendo para a bomba explodir no colo de outro país. Não queremos isso, queremos? Por isso, a postura mundial tem que ser de acolhimento e ajuda, assim se incentiva a que, ao menor sinal de problemas, os países os reportem.
O vírus é mundial, o problema é mundial e se resolve com cooperação, não apontando dedos e fechando portas. Tá aí o Brasil para provar, que fechou a fronteira com diversos países africanos e tá com Ômicron até o pescoço. Aliás, muito feio ver brasileiro falando mal de país africano e defendendo fechamento de fronteiras, parece que esqueceram que também criaram uma variante…
O fato da Ômicron ter mutado para um vírus mais transmissível não é uma boa notícia? Não quer dizer que esse é o caminho que ele vai tomar, me vez de se tornar um vírus mais letal?
Não.
Primeiro que ainda não temos como aferir a letalidade, com base em poucos casos e sem deixar passar todo o período de tempo necessário para o vírus agir. Segundo por não existir uma trilha determinada do caminho do vírus como você falou. Uma hora ele pode ir por um caminho, outra hora por outro.
Naquele lugar específico, a variante que triunfou foi pelo caminho da maior transmissibilidade e de aprender a burlar a imunidade natural pois eram essas as barreiras que impediam o contágio: pessoas não vacinadas que já pegaram o vírus só se contaminam se surgir uma variante que seja muito contagiosa e que saiba escapar à imunidade natural do corpo.
Isso mostra que o vírus tem “disposição” para mutar até conseguir ser efetivo novamente. Naquele contexto, ele conseguiu as mutações necessárias. Daí fica a pergunta: quando ele chegar em um contexto de muita gente vacinada, ele vai ser capaz de mutar até escapar à imunidade das vacinas? Não sabemos, esperamos que não, mas pode ser que ele consiga.
E o ser humano parece determinado a ajudar o vírus: muitos países estão contando apenas com a vacinação, sem impor medidas de isolamento social, fazendo com que o vírus circule por vacinados e tenha que dar um jeito de infectá-los. Pode ser que o vírus nunca consiga escapar das vacinas, mas pode ser que ele consiga, principalmente quando esse é o único empecilho para que ele continue a se espalhar.
Na minha cidade não precisa usar máscara em lugar aberto se não tiver outras pessoas por perto. Isso é seguro? Quando devo colocar a máscara?
Eu juro que eu não consigo entender essa dinâmica. Como isso funciona? A qualquer momento uma pessoa pode se aproximar de você. Nesse caso, o que se faz? Se coloca a máscara correndo? E se a pessoa estiver, por exemplo, em uma bicicleta? Vai dar tempo? Eu não sei quem é que acha legal viver nessa gincana de tira e bota, sinceramente, me parece mais fácil ficar o tempo todo de máscara e ficar em paz.
E, cá entre nós, eu não confio na orientação que dão no Brasil. Sim, eu sou assim de arrogante. É que um estudo recente feito com variantes mais transmissíveis constatou que a regra talvez seja outra: o risco de transmissão de duas pessoas sem máscara onde uma está infectada é de 90% mesmo estando a 3 metros de distância, ou seja, o que recomenda o Brasil me parece insuficiente. É fato cientificamente provado que, sem máscara, você pode se infectar estando a 3 metros de distância.
Nesse mesmo estudo, se constatou que se uma das pessoas estiver usando uma máscara PFF2, o risco cai para 20% e se ambas estiverem usando uma máscara PFF2 o risco cai para 0,5%. Então, eu sinceramente prefiro usar máscara sempre.
Mas vamos supor que você não prefira. Vamos supor que você quer saber quando é seguro estar sem máscara. Nesse caso, esqueça a orientação de X metros de distância, vamos usar outro critério. Vou usar emprestado uma comparação que vários infectologistas estão fazendo: fumaça de cigarro.
Ao olhar para outra pessoa, pense da seguinte forma: se essa pessoa estivesse fumando um cigarro, você conseguiria sentir o cheiro? Se sim, tem que usar máscara. Se não, ainda é seguro. Perceba que, para não sentir o cheiro de fumaça de cigarro, um fumante tem que estar muito, mas muito longe de você. Se tiver um fumante na esquina, eu sinto. E, novamente, minha recomendação é usar máscara sempre.
Não custa lembrar que a única máscara que te protege efetivamente é a PFF2, desde que: bem colocada (que não entre ar por nenhuma fresta e que ela não se mova no seu rosto), que não esteja úmida (se estiver é hora de trocar), que você não encoste na máscara, não a aperte e não a mova. Qualquer vacilo agora é ainda mais perigoso.
Para terminar, não sei se vocês sabem, mas muitos estados estão reportando surtos de outras doenças respiratórias, como gripe e outros vírus respiratórios. Inclusive entre crianças, há um aumento alarmante de casos de um vírus chamado Vírus Sincicial Respiratório (para o qual não existe vacina). Isso é mais um motivo para usar máscaras o tempo todo, se não pela covid-19, pelo resto.
Não jogue dinheiro fora: use apenas PFF2: https://www.pffparatodos.com/
(não é publi, não ganhamos dinheiro, permuta, nem ao menos um “obrigado” por divulgar esse site). Encontre a que melhor encaixa no formato do seu rosto, a que veda completamente e não fica frouxa e use apenas PFF2. Não precisa jogar fora depois do uso, pode deixar descansar por uns dias (alternando com outras PFF2) e usar novamente.
Qual a melhor vacina para dose de reforço?
A que tiver no posto. TOME. O que te oferecerem, tome. Qualquer vacina hoje é melhor do que esperar chegar vacina X ou Y amanhã. O Brasil está lento na aplicação de dose de reforço, em parte pela inércia da população, que, segundo pesquisas “não vê necessidade” dessa dose, em parte por quererem escolher vacina.
POR FAVOR, TOMEM A DOSE DE REFORÇO, que, na real, nem deveria ser chamada assim, pois estudos indicam que a dosagem correta para proteção são três vacinas. Quem tomou duas está, na verdade, com o esquema vacinal incompleto.
Os estudo que existem são indicando necessidade de uma nova vacina após o quinto mês da data de aplicação da segunda dose, mas não tem nenhum problema em tomar quatro meses depois, como estão fazendo alguns estados brasileiros. Tome. Tome o que te derem, quando te derem. Se estão aplicando, foi aprovado por laboratório, pela ANVISA e por cientistas do mundo todo.
Tome essa e todas as vacinas correspondentes (a da gripe inclusive). Tome e vacine seus filhos, pois o Brasil está com a pior cobertura vacinal dos últimos 40 anos, arriscado a voltar a ter casos de poliomielite e sarampo por falta de vacinação.
E, PORRA BRASIL, VACINEM AS CRIANÇAS CONTRA COVID-19 antes dessa porra de Ômicron explodir!
Mesmo quem não se preocupa com saúde, pensem na economia, no estrago que faria um novo surto, com novos fechamentos, com novos colapsos hospitalares. Nem que seja para proteger a economia: se vacinem, vacinem estados com pouco vacinados e vacinem as crianças.
Para dizer que está infeliz pelo FAQ ter voltado (o que voltou foi o vírus), para dizer que já tem uma boa desculpa para não ir às festas de Natal ou ainda para dizer que vai sentir saudades do Desfavor não-monotemático: sally@desfavor.com
Uma nova variante do vírus que pode ser mais contagiosa e/ou mais letal + brasileiros incapazes de aprender com seus erros e despreocupados achando que o pior já passou = merda.
O problema é que brasileiro não fecha a porra da boca um segundo, andam falando no celular, andam gritando, cuspindo e tossindo. Por mais que eu odeie andar com essas focinheiras, odeio mais que cuspam as pestes na minha cara.
Mesmo que todos fossem mudos: ao respirar jogamos gotículas no ar, ao espirrar também, ao tossir também. Se tem boca, tem que usar máscara.
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