Microcosmo.

Muitos de nós pensamos sobre quão gigantesco o universo pode ser. Quanta coisa tem além da parte observável? Será que é só um pouco maior ou será que é absurdamente maior? Será que tem algum limite de tamanho que a realidade pode alcançar? São todas perguntas sem resposta. Mas pensar em distâncias imensas e bilhões de anos-luz não é a única forma de se perder na ideia de escala da realidade. Quem disse que tem limite de quão pequenas as coisas podem ser?

Um dos campos de estudos mais importantes da ciência está relacionado com a descoberta das partículas elementares: desde os filósofos gregos há milhares de anos atrás, postulamos sobre o que compõe o que. O átomo foi teorizado muito antes de termos qualquer chance de comprovar sua existência, e nem ele era a partícula fundamental da realidade. Átomos eram diferentes entre si. Descobrimos prótons, nêutrons e elétrons. E mesmo eles não duraram muito: hoje consideramos que pelo menos prótons e nêutrons são formados por elementos ainda mais fundamentais: os quarks.

Até este momento, não temos evidências de subdivisões ainda menores da matéria, o que obviamente não quer dizer que está tudo decidido. As leis da física funcionam suficientemente bem com esse limite mínimo, é possível prever com segurança vários resultados de experimentos com a matemática disponível. Acho importante fazer esse aparte: sim, a ciência não existe para dar respostas definitivas, tudo está disponível para ser questionado, mas depois que testamos bastante algumas hipóteses, dá pra tomar decisões baseadas nesse conhecimento. Teoria nesses casos não significa palpite, e sim algo analisado exaustivamente.

Mas, como disse antes, questionar não é proibido, muito pelo contrário, é encorajado. Só tenha a decência de estudar um pouco sobre o tema antes de ir ocupar o tempo dos verdadeiros especialistas. Não é método científico, é só bom senso mesmo. E se for questionar ou teorizar em cima do conhecimento consolidado, faça como eu e avise antes: o que vem a partir de agora é um exercício de imaginação que não pode ser provado.

A mente humana tende a “travar” quando pensamos no tamanho imenso do universo. Por maior que você imagine que seja, sempre vem a dúvida sobre o que está ao redor. E ela nunca vai parar: não importa o tamanho que alguém te diga que a realidade tem de verdade, você automaticamente vai pensar numa bolha dentro de alguma outra coisa. A ideia de universo infinito tem conexões com os cálculos feitos por alguns cientistas, mas no final das contas não deixa de ser a mente humana tentando colocar uma coisa dentro da outra. Imaginação é infinita, o universo não necessariamente.

Mas já pensou que dá para fazer o caminho oposto? O que nos impede de achar que tem outras partículas dentro do quark? E que existem mais e mais dentro dessas, criando outro infinito mental? Alguém bem estudado pode dizer que está tudo liberado até chegar numa medida chamada “comprimento de Planck”. Bobagem explicar isso em detalhes num texto desses, mas resumindo: é a distância que a luz consegue percorrer durante o “tempo de Planck”, outra medida criada pelo mesmo físico, definida como o menor tempo possível para alguma coisa acontecer na realidade.

Então, comprimento de Planck seria o que a velocidade máxima do universo consegue percorrer no menor tempo possível para qualquer coisa mudar na escala quântica. Qualquer coisa menor do que isso quebra todo o conhecimento científico que temos. O que não é problema nenhum, conhecimento científico está aí pra ser quebrado e refeito mesmo, mas chegamos num ponto de pura especulação se quisermos algo menor ainda que um comprimento de Planck.

E aí, eu não sei te dizer se é imaginação querendo colocar uma coisa dentro da outra infinitamente, ou se tem lógica mesmo: mas nada impede que existam bilhões de universos dentro da suposta menor escala conhecida da realidade. O que a gente considera espaço vazio, pequeno ou grande nada mais é do que os limites da nossa percepção.

A ciência costuma parar nos limites encontrados por equações para não gastar energia com bobagem: se algo é tão pequeno que não dá para detectar nem com um fóton, começa a ficar bem complicado saber se tem algo lá ou não. Em tese, impossível. Mas ausência de evidência é evidência de ausência.

Uma ideia que muita gente tem para acalmar essa dúvida sobre quão pequenas as coisas podem ser é baseada em espaço vazio. Conseguimos imaginar coisas colocadas em espaços vazios. Se chegássemos numa partícula fundamental, significaria que não existe espaço vazio algum entre as coisas. E nesse sentido, estamos longe de ter paz: um átomo é basicamente só espaço “vazio”. O núcleo é uma bola de futebol no meio de um estádio, com os elétrons girando pelas arquibancadas. Tudo com o qual interagimos é espaço praticamente vazio. Só parece que não porque existe um campo eletromagnético ao redor dele que rebate as coisas de volta e não deixa (na maioria dos casos) um átomo entrar dentro do espaço vazio do outro.

Continuando nas analogias, um átomo é uma bolinha de gude com um “campo de força” do tamanho de uma casa. Por isso que não desaparecemos uns nos vazios dos outros. Porque espaço vazio é o que não falta. Até onde sabemos, não tem nada nesses espaços vazios. Nada que possa ser detectado. Nossa capacidade real de análise nessas escalas não consegue ir muito mais longe do que detectar átomos individuais e presumir com alguma segurança o que acontece dentro dele.

Agora, se existir uma partícula ainda mais fundamental no meio desse espaço vazio, ou mesmo compondo elétrons e quarks, não temos nada com o que olhar para elas. Algo tão minúsculo não vai ser detectado. Um elétron batendo nessa partícula fundamental poderia ser algo como um grão de areia entrando em rota de colisão com um planeta! Podem ter trilhões desses grãos de areia ao redor de todos nós, mas como somos tão absurdamente maiores que eles, é virtualmente impossível saber que eles estão lá.

Um ser humano só sabe que está carregando trilhões de bactérias porque alguém conseguiu olhar para elas com tecnologia. Se dependêssemos de sentir o peso delas ou de ver algum sinal visual, não saberíamos sequer de sua existência, como de fato, não sabíamos até relativamente pouco tempo atrás. Detectar alguma coisa significa ter uma interação perceptível com ela.

Talvez essas partículas ainda mais fundamentais sejam a matéria escura, que numa escala gigantesca interferem muito nas coisas, mas que é invisível se você tentar olhar de perto. Talvez sejam até a gravidade e/ou a energia escura. Certeza não temos ainda. E dependendo dos limites do que o ser humano pode conseguir detectar, pode ser que nunca tenhamos.

Espaço e vazio são conceitos que existem na nossa mente, baseados no tamanho com o qual interagimos de forma perceptível com o universo. O espaço entre o núcleo e o elétron de um átomo pode ser suficiente para abrigar um multiverso inteiro. Com as leis da física que conhecemos na nossa escala é impossível, mas nada impede que exista a micro física quântica, que funciona para partículas que não conseguimos enxergar. E a micro física quântica poderia explicar tudo o que vemos na nossa escala.

E mais insano ainda: nada de novo impede que dentro desses supostos multiversos existentes no que consideramos vazio, existam outros multiversos com o que uma inteligência daquela escala considere vazio. O grande pode ser infinito, mas o pequeno também. O que temos da ciência hoje em dia são as “regras de funcionamento” do universo que conseguimos observar, mas podem existir zilhões de níveis para cima e para baixo.

Porque sim, podemos estar num dos universos do multiverso que forma um quark da realidade acima da nossa. Nosso conhecimento da matéria aqui pode ser a chave para seres da realidade maior entenderem fenômenos que acontecem por lá. Um Big Bang na nossa escala pode ser a aniquilação de duas partículas para o nível de percepção deles.

O que muita gente chama de outras dimensões, especialmente no que tange a Teoria das Cordas, podem ser muito bem tamanhos diferentes de realidade. Na verdade, é tudo a mesma coisa, só muda o ponto de vista. A realidade pequena cria a gravidade que sentimos, e a gravidade que sentimos cria a conexão entre partículas da realidade grande ao redor de nós.

Eu sei que está parecendo bastante com papo de drogado, mas existe uma lógica por trás de pensar nisso: a de que a compreensão exata da realidade não é possível. Tudo o que temos são cálculos e experimentos que nos ajudam a prever como as coisas vão interagir na nossa escala de percepção. É uma boa ideia para sua vida levar em consideração o esforço de cientistas e estudiosos em geral, não porque eles estão descobrindo uma realidade inquestionável, mas porque a imaginação é infinita por definição, e tudo o que você quiser imaginar é possível por lá.

O verdadeiro problema é conseguir imaginar coisas que geram resultados previsíveis. É para isso que a ciência existe. Saber é efêmero, quase que um efeito colateral de fazer testes para saber o que é previsível ou replicável. Informações sobre o universo que podem ser usadas para entender mais sobre o universo.

Se o seu conhecimento não está te levando a entender mais sobre a realidade e fazer previsões mais seguras sobre os resultados de suas ações ou das ações de terceiros, ele é imaginação. Imaginação é bacana, mas não tem obrigação nenhuma de se ater ao que se pode entender de verdade. O universo pode ser infinitamente maior do que vemos, crescendo ou diminuindo, o único limite para o conhecimento é sua capacidade de chegar até ele.

Sempre que possível, faça o mundo ser do tamanho que você consegue lidar, porque ninguém vai te colocar limite.

Para dizer que eu estou treinando para ser coach, para dizer que deve ter gente tocando funk dentro dos seus átomos, ou mesmo para dizer que não sabe se sente insignificante ou magnificente: somir@desfavor.com

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Comments (6)

  • Ou seja… Sequer somos capazes (e talvez nem seremos) de ver a totalidade do universo. E algo tão limitado como um ser humano, perante isso, ainda quer ter certezas e ter opiniões sobre tudo…

    • Pois é. Eu gostaria de ensinar o conceito de “melhor resposta possível” nas escolas. A única certeza é não ter certeza, não quer dizer que você precisa ficar travado sem fazer nada, só que aprender e revisar o conhecimento é parte normal da vida. Trabalhe com a melhor resposta possível no que você faz, mas sempre sabendo que não tem impedimento nenhum de ter uma melhor ainda que você não sabe.

  • Muito interessante essa idéia de “haver várias realidades, uma dentro da outra” que você expôs no seu texto, Somir. Por favor, me corrija se eu estiver errado, mas pensei se essas realidades coexistindo em incontáveis escalas diferentes também não poderiam ser entendidas como matrioskas, aquelas bonecas russas de vários tamanhos que se encaixam umas dentro das outras. E existem infinitos “infintos” dentro daquilo que a gente consegue perceber como sendo “o infinito”. Nós podemos tanto ser ridiculamente insignificantes perante a grandiosidade do universo que nos cerca quanto inimaginavelmente gigantescos diante do “micromundo” dos átomos, prótons, elétrons, nêutrons, quarks, bósons & cia. E, assim como existe o infinito “para fora”, medido em distâncias astronômicas, existe também o infinito “para dentro”, mensurado na escala quântica do(s) microcosmo(s). Até dói a cabeça pensar nisso, não?

    • O limite é não ter limite. Porque você ainda pode considerar que em cada um desses possíveis níveis de tamanho, ainda existam simulações, adicionando mais camadas nessa boneca. Podemos estar na maior realidade possível, ou podemos ser uma simulação da menor. Mas considerando a lei da mediocridade, são pequenas as chances de sermos um dos extremos.

      • Este vídeo de comparação de tamanhos de um canal de YouTube chamado MetaBallStudios se inicia tratando de coisas como Cordas (da Teoria das Cordas), Espuma Quântica e Comprimento Planck, mas vai apenas até o tamanho máximo do nosso Universo Observável. Apesar de os números aí já serem imensos, mal se começou a “arranhar a superfície” em relação a esse assunto e também não foi citada a questão da existência de “infinitos ‘infintos’ dentro daquilo que a gente consegue perceber como sendo ‘o infinito”, cada um com suas múltiplas e incontáveis realidades coexisitindo. Mesmo assim já dá para ficar impressionado.

        Eis o link: https://www.youtube.com/watch?v=NrRPg0pH9xc

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