FAQ: Coronavírus – 43
| Sally | Desfavor Bônus | 8 comentários em FAQ: Coronavírus – 43
O FAQ de hoje é uma única pergunta, que eu não quis misturar com as demais, por dois motivos: 1) achar a resposta importante demais e atemporal, então, deixá-la solo permite que ela seja consultada com facilidade a qualquer momento e 2) normalmente o FAQ se destina apenas a informações científicas, mas nesta, pela natureza da pergunta, vai entrar um pouco da minha opinião também.
Eu sei que o certo é sair só quando for necessário, mas o tempo todo me bombardeiam com argumentos para sair de casa. Você pode me ajudar me lembrando bons argumentos para não sair de forma desnecessária, mesmo quando todo mundo à minha volta está saindo?
Sim. Sempre um prazer.
Primeiro, como diz sua mãe (toda mãe fala isso), você não é todo mundo. E, no Brasil, “todo mundo” = pessoas que vem aqui perguntar se podem se enforcar com papel higiênico. Não queira ser todo mundo.
Vacinas são muito boas, mas não são mágicas. Uma pessoa vacinada pode sim adoecer e morrer. Então, por mais cuidados que você tome, você só vai descobrir o quanto a vacina te protegeu (ou não) no momento em que adoece. Não é legal pagar para ver. Ninguém vai paralisar sua vida por causa disso, mas não faz sentido sair de forma desnecessária.
Além disso, a variante Ômicron parece ser absurdamente mais contagiosa do que tudo que já vimos, o que aumenta as chances de infecção. Não é como se ela tivesse aprendido a passar pela máscara nem nada, mas qualquer descuido que a gente tiver, uma coçadinha no olho, uma ajeitada na máscara, pode ser um contágio. E todos nós damos uma vacilada, é quase impossível ficar horas sem tocar o rosto, os olhos, o nariz.
Pense nas pessoas com as quais você convive. Se você mora sozinho e não encontra outras pessoas, o risco é só seu e você faz o que você quiser, mas, se você convive com idosos, com crianças, com pessoas que tenham doenças crônicas ou qualquer grupo vulnerável, você pode ser o responsável pela morte dessas pessoas se passar o vírus para elas. E quando eu digo “convive”, não me refiro a morar junto, uma passadinha rápida na casa de um parente para dar um “oi” matou Tarcísio Meira e Nicette Bruno.
Outro motivo são as crianças. No Brasil, as crianças não estão vacinadas, e estão saindo como se estivessem. Já se estima que se a Ômicron for de fato tão contagiosa como dizem, é possível que faltem leitos de UTI Pediátrica (pois é, criança não vai para UTI comum), o que pode provocar um massacre infantil de mortes. Não é comum, não é normal criança ir parar na UTI, por isso nenhum país tem muitos leitos de UTI Pediátrica, mas, como a Ômicron se espalha muito, ela pode pegar com força muitas crianças. Considerando que o Brasil é o segundo país do mundo em matéria de mortes de crianças por covid, não custa tomar um pouco de cuidado, ao menos até a gente entender exatamente o que a Ômicron pode fazer.
Já que porra do brasileiro não está resguardando as crianças em casa, fique em casa você, pois vacinado não morre, mas pode carregar o vírus e contaminar quem está à sua volta. Para piorar, crianças muito pequenas não podem nem sequer usar máscara, quanto mais uma PFF2. Elas estão desprotegidas. A melhor forma de protegê-las na atual realidade brasileiro é saindo o mínimo possível.
Faça o mesmo por todos os demais grupos que não podem ser vacinados, mas precisam sair de casa, por exemplo, pessoas com doenças autoimunes, com câncer em tratamento quimioterápico ou tantos outros: não dá para suspender a quimioterapia, a pessoa é obrigada a sair de casa sem sistema imune. Amanhã ou depois podemos ser você ou eu, seus pais ou meus pais a precisar dessa proteção extra. Ninguém está livre de adoecer, então, vamos criar um ambiente que proteja quem precisa.
Mais um motivo: ainda não sabemos bem qual é a validade das vacinas, isto é, por quanto tempo elas te protegem com efetividade. Só vamos descobrir isso na prática, quando vacinado começara a adoecer e até a morrer. Aí alguém vai olhar e dizer “Estou percebendo que a vacina não protege mais, hora de reaplicar”. Não queria ser você essa cobaia que morre para que todos os outros percebam que é hora de tomar mais uma dose de vacina.
A tendência é no sentido de que três doses seja a dosagem ideal da vacina, ou seja, se você tem duas, está com a vacinação incompleta. Estava completa quando pensamos no covidão raiz, aquele da China, que foi o usado para desenvolver a vacina. Para as atuais linhagens do vírus, está protegido quem tem ao menos três doses da vacina. Hoje, sabemos que duas doses não bastam, que depois de alguns meses a proteção cai muito e é preciso uma terceira dose. Se você tem apenas duas doses e mais de cinco meses da data da vacina, você pode estar sem uma proteção eficiente. Nesse caso, fique em casa pela sua saúde e sua vida.
E não pensem que terceira dose é a solução de todos os problemas: não sabemos. O Chile já está indo para a quarta dose e isso não os protegeu contra variantes: o país suspendeu a abertura para turistas e fechou as fronteiras terrestres. Entendam, de uma vez por todas, que vacina é desenhada apenas para a pessoa não morrer, não para impedir vírus de circular ou mutar.
Além disso, se considerarmos a forma como a humanidade está se portanto, pode acabar surgindo uma mutação com total escape vacinal, que a gente apelidou carinhosamente de variante fode-vacina, que contamina da mesma forma quem tomou e quem não tomou vacina. E nós só vamos perceber que ela está circulando semanas depois de seu surgimento, quanto muito vacinado começar a morrer. Não seja você a cobaia que vai morrer para que o mundo perceba que as vacinas não impedem mais a transmissão.
Não existe forma de sair em segurança, esse papo de “com todos os protocolos” já era capenga antes, agora com a Ômicron desmoronou de vez. PCR não te protege 100%, vacina não te protege 100%, nem máscara, meus amigos, protege 100%.
Um exemplo: Noruega, uma grande empresa decidiu manter sua festa de final de ano exigindo que todos os convidados comprovem duas doses de vacina e façam PCR. Todo mundo que entrou na festa tinha duas doses de vacina e um PCR realizado nas últimas 24h. Dos 120 convidados, 60 pegaram covid. Metade da festa. Mesmo com duas vacinas + PCR. Parem de achar que estão em segurança com vacina e PCR.
PCR não é garantia de nada, já vimos centenas de eventos escorados em PCR (inclusive um na Casa Branca) que terminaram com contágio massivo. Pode existir uma “janela” de dois dias na qual a pessoa está contaminada, mas não tem sintomas nem a carga viral suficiente para detectar isso em um PCR, então, um PCR negativo não garante nada. Redundante, porém necessário: UMA PESSOA COM PCR NEGATIVO PODE SIM TER COVID.
Vacinas também não são garantia contra contágio. As vacinas que temos foram desenhadas para que o vacinado não morra e não adoeça de forma grave, mas ele continua sendo portador do vírus e continua contaminando, geralmente de forma assintomática, sem nem perceber. Então, exigir comprovante de vacinação de forma alguma impede contágio.
Blinde-se contra falácias, argumentos truncados e frases feitas para te fazer sentir mal, coisas do tipo “não dá para viver com medo”. Medo é um sentimento interno, não é um ato que o caracteriza. Não queremos que ninguém sinta medo, você não vai ficar em casa por estar apavorado, você vai ficar por consciência do que é melhor para você e respeito à coletividade. Fique em casa por consciência.
Sendo bem sincera, acho que a maioria das pessoas sente falta é de sair como saía pré-2020, e isso não volta mais. Você vai ter que sair no calor, de máscara, ficar passando álcool nas mãos, metade das pessoas que você quer encontrar não vão querer sair, depois de sair qualquer garganta raspando vai te deixar com o cu na mão e metade das coisas que você quer fazer não podem ser feitas em segurança. Tem certeza de que quer sair nessas condições?
Não sair não é o fim do mundo, e se para você é, o erro está em você. Atrelar sua felicidade ou bem-estar a bundear na rua é motivo para terapia. Não é verdade o que se diz, que é preciso sair e que o índice de suicídios aumentou muito na pandemia. De fato, em alguns países até caiu. Sua felicidade não pode depender de eventos externos, sejam eles sair ou qualquer outro.
A pandemia é uma realidade e, apesar das vacinas, o vírus só está piorando, graças ao comportamento humano. Então, ter que ficar em casa pode acabar se tornando uma necessidade real a qualquer momento, se as vacinas pararem de funcionar. Por isso, recomendo que você comece a fazer a pazes com a possibilidade de ficar em casa. Você não pode mudar o mundo, mas pode mudar a forma como vê o mundo. Se você ficar marretando que ficar em casa é uma merda, é deprimente, é terrível, pode estar cavando sua cova para a depressão. Repensa isso aí, pois tem grandes chances de virem mais períodos de reclusão.
Se escolher olhar para perda, para o desgraçamento de ficar em casa e sofrer com isso, o próximo ano vai ser bastante duro para você. E talvez os seguintes também. Mas, se você parar de lutar contra a realidade e aceitar com serenidade o que vem, utilizando sua energia e seus pensamentos para encontrar novas formas de estar bem e ser feliz sem bundear na rua, pode se surpreender positivamente com a transformação que vai promover na sua vida, inclusive na vida pós-pandemia, quando quer que ela venha.
“O ser humano não foi feito para ficar preso”. E para ficar em um leito de UTI com respirador, o ser humano foi feito? E para matar um ente querido? E para circular doente no meio dos saudáveis? Não sei se você sabe, mas antigamente os doentes eram isolados ou até mortos quando circulavam perto dos saudáveis. Se vamos falar do “ser humano ser feito” para alguma coisa, o ser humano doente “foi feito” para ser abandonado pelo bando em nome de sua preservação. Tem certeza de quer ir por esse caminho?
E outra, se você acha que ficar na sua casa é “ficar preso”, tá na hora de você construir um lar melhor para você. Sua casa deveria ser seu porto-seguro, seu refúgio, um lugar de paz e segurança. Preso está o soldado que passa 3 dias em uma trincheira úmida sem comer e com risco iminente de morte. Preso está o criminoso em uma cela com mais 50 que o estupram dia e noite. Se sua casa se parece com isso, saia daí e construa uma casa melhor.
Se você pensar no que as gerações anteriores passaram, vai sentir até vergonha de tanto chororô por não sair de casa. Você tem comida, você tem água, você tem internet (caso contrário não estaria lendo isso). Vai tomar bem no cu de falar “o ser humano não foi feito para ficar preso”. Cria vergonha nessa cara. Felicidade é algo interno, você não precisa sair para bundear para ser feliz, e se acha que precisa, bem, está prestes a aprender uma valiosa lição, de um jeito ou de outro. Sugiro que aprenda pelo amor, e não pela dor.
Também não pense que tudo vai voltar ao normal e você vai ser o único deslocado e fora de contexto fazendo o “esforço” de ficar em casa em vez de sair para bundear. Não contem com um 2022 “normal”, a pandemia não acabou e tudo indica que o vírus vai “voltar” outras vezes, com novas mutações. Salvo algum milagre ou salto científico sem precedentes, 2022 ainda vai ser um ano de restrições para todo o mundo.
O que nos leva a outro ponto: em março de 2020 nós avisamos/sugerimos que vocês comecem a se preparar para uma nova realidade, criando formas de trabalhar de casa, de monetizar o que sabem fazer. Você teve dois anos. O que você fez? Espero que tenha feito algo, pois se acontecer de surgir uma variante com escape vacinal total, ela será muito contagiosa e você não vai poder colocar o pé para fora de casa sem correr um grande risco de vida.
“Mas Sally, a Ômicron não chegou aonde eu moro”. Não pense que por não ter chegado na sua cidade o vírus não vai chegar. A Ômicron chegou na Islândia, um lugar distante, isolado, de difícil acesso e com densidade populacional que faz o simples fato de morar lá praticar isolamento social. Chega. É muito contagiosa e o brasileiro não está fazendo sua parte, portanto, vai chegar. Lembra da Delta, que era absurdamente transmissível, que alarmou o mundo todo? Pois é, a Ômicron está crescendo 5x mais rápido do que a Delta cresceu – com a diferença que a imunidade natural que protegeu muita gente da Delta no Brasil não protege da Ômicron.
A Delta era 60% mais transmissível do que as anteriores. A Ômicron é 5x pior do que a pior variante que já tínhamos visto. Custa respeitar essa porra até a gente entender exatamente o que está acontecendo? E percebam que a todo momento eu uso o termo “bundear”. Sair para comprar comida, para ir à farmácia, para trabalhar, são coisas da vida. Mas sair para ir ao shopping, ao cinema, a jantarzinho, a barzinho… nada disso é indispensável.
Não acabou. Nós estamos há meses repetindo essa frase: NÃO ACABOU, mesmo quando parece que acabou. Mesmo quando estava uma calmaria duradoura e choviam comentários nos esculhambando cada vez que dizíamos que não acabou, “provando” que a pandemia tinha chegado ao fim. Não acabou e era previsível que não havia acabado. Se você achou que acabou, reflita e perceba que você é péssimo em entender cenários.
“Mas Sally, além das vacinas já tem vários remédios contra covid”. Não conte com isso. A maioria ainda é experimental e, mesmo quando não é, a maioria é para usar em internados (não vende na farmácia para você tomar em casa) e, se você chegou a ser internado, já tem muito estrago feito. Além disso, o preço desses remédios é quase que proibitivo, em alguns casos passa dos 30 mil reais e não é coberto nem pelo SUS nem por plano de saúde. Não conte com eles.
“Mas Sally, vai ter carnaval?”. Não deveria, mas no Brasil, tudo é possível. Minha sugestão é que você se programe para não ter carnaval, foda-se o mundo. Minha sugestão é que não se viaje, que não se pise em qualquer lugar com aglomeração, que não se saia sem máscara e que não se saia se não for estritamente necessário. Todo mundo sai? Que todo mundo arrisque sua vida e a das pessoas com as quais convive. Você é melhor do que isso.
A OMS já alertou que em países onde a maior parte da população não foi vacinada há chances reais de vir a pior onda de toda a pandemia e já está recomendando que esses países reforcem seu sistema de saúde para que não faltem leitos e insumos. O Brasil não é uma grande São Paulo com mais de 80% das pessoas vacinadas, há estados onde mais de 70% das pessoas não foram vacinadas. Pode acontecer um desastre por lá. Pode acontecer um desastre com as crianças que não foram vacinadas. No país onde eu estou, as crianças já foram vacinadas e já se fala em suspender as aulas.
“Mas Sally, e se eu fizer todas as restrições e não for nada, e se essa variante não for tão ruim assim?”. Aí você comemora. Todos comemoramos. Tomar muito cuidado e não ser necessário é algo reversível: no dia seguinte você passa a abolir os cuidados excessivos. Porém, não tomar cuidados quando isso é necessário pode ser irreversível. É realmente tão importante ir à festa, ir a shopping, ir a encontrinho, ir a jantarzinho?
Não esperem que 2022 seja “o ano da retomada”. Não esperem que 2022 seja o ano em que você vai viajar, vai sair normalmente, vai levar seus filhos para a escola com tranquilidade. Se você tem filhos não vacinados, nem na escola eu levaria. 2022 provavelmente vai ser com restrições, vai ser com o Atila Iamarino com cabelo grande e desgrenhado, vai ser de novos altos e baixos.
Tenham consciência de uma coisa: estamos entrando em uma nova fase da doença, com a versão mais transmissível do vírus que já vimos até hoje. Novas fases demandam adequação do comportamento. Quem não se adequar e agir como se ainda estivéssemos na fase antiga, de tranquilidade, pode sofrer consequências desagradáveis.
Sossegue o cu em casa, ao menos até entender exatamente com o que estamos lidando, o quanto vacinas protegem, o quanto a Ômicron pode te prejudicar. Em poucas semanas teremos respostas.
Para dizer que sente falta dos Vagalhões, para dizer que vai fingir que não tem perigo e sair ou ainda para dizer que é mais agradável acreditar que nós somos malucos/exagerados do que deixar de sair para bundear: sally@desfavor.com
Cara, eu trabalhei fazendo registro de óbito durante a pandemia.
Eu dava o cú com areia pra ficar em casa.
Não precisa dar o cu com areia, é possível trabalhar de casa sem chegar a esse grau de sacrifício.
Planejamento: pense em algo que você faça que possa monetizar e comece a tentar.
O que me complica é a ansiedade.
Tenho crises desde que perdi meu emprego, por mais que eu tente controlar. E quem tem ansiedade sabe o inferno que é, aquele nó na garganta, tontura, dor no estômago, desespero. Vivendo à base de tolrest e serviços de costureira, sei lá até quando.
Eu tenho certeza absoluta que existem, pelo menos, meia dúzia de coisas que você sabe fazer e que pode monetizar e ganhar bastante dinheiro. Converse com pessoas que sejam de sua confiança, uma hora você acaba conseguindo executar algo que te permita viver com conforto. Não tenha medo de tentar: tente até acertar.
Sobre a ansiedade, é realmente muito ruim, mas felizmente tem tratamento. Tem terapia, tem medicamentos, tem algumas atividades (como meditação) que podem melhorar a forma como você se sente.
Não quero dizer que seja fácil, e sim que o lado positivo é: você tem condições de melhorar tudo que te incomoda. Talvez não pareça assim para você agora, mas é uma bênção quando existem recursos para resolver os problemas. Alguns problemas nos mantém reféns e não existe solução, comemore que os seus podem ser resolvidos.
Gostemos ou não, a pandemia ainda está sim longe de acabar e só essa informação de que a nova variante Ômicron é cinco vezes mais contagiosa que a já apavorante “versão anterior” Delta já deveria bastar para qualquer pessoa de bom senso sossegar o facho e ficar em casa. Será mesmo possível que, nesses dois anos, ninguém aprendeu nada? A esta altura do campeonato, já deveria ser mais do que óbvio: se ninguém ficar bundeando por aí sem necessidade, o vírus também não vai circular tanto, deixando de contaminar tanta gente e também não vai mutar a ponto de escapar das vacinas. É mesmo assim tão difícil de entender?
Não, ninguém aprendeu nada. E ano que vem tem Carnaval, Copa do Mundo e Eleições
Infelizmente, é mesmo. E que merda, hein?