Organização.

Este não é um texto com regrinhas estéticas, ensinando a arrumar a roupa por cor, fazer cronograma ou dando dicas para cuidar da casa. Este é um texto para te ensinar a não agredir seu corpo e sua mente. Desfavor Explica: Organização.

Viver em um ambiente organizado melhora muito a vida de qualquer pessoa – e é mais importante do que você imagina. Não é nossa intenção te convencer a ter uma casa organizada, apenas queremos te contar quais são os efeitos cientificamente comprovados da organização (ou da falta dela), para que você possa tomar uma decisão consciente do que vale mais à pena para você.

Antes de entrar no assunto, é preciso fazer uma ressalva para que estejamos todos na mesma página: organizar não é arrumar. Arrumação é que as coisas estejam dispostas de forma a não gerar bagunça, por exemplo, todos os seus pertences estão no armário. Organização vai muito além disso.

Organizar é estabelecer um lugar funcional, isto é, um lugar prático, útil e que atenda ao dono, para cada objeto que existe na sua casa. Então, organização é arrumação com critérios, com estratégia, com propósito. Como saber se você está organizando ou arrumando? Simples, pegue vários itens da sua casa e se pergunte: “qual é o lugar disso?”. Se há coisas sem um lugar certo, ou em lugares que não são práticos, não é organização.

Vamos descer um pouco para dar as mãos a quem tem resistência ao assunto e tentar uma vertente mais lúdica: pense nos objetos da sua casa como seus “empregados”. Um copo, por exemplo. Ele tem um trabalho, que é levar os líquidos até você. Ele trabalha durante o dia, depois ele volta para descansar na sua casinha, que é o armário onde ficam os copos. Todo objeto da sua casa tem que ter a sua casinha para voltar quando ele não estiver mais em uso, caso contrário, não há organização possível.

E não basta que ele tenha essa “casinha” para voltar. A “casinha” do objeto tem que ser útil, funcional, prática e adequada a ele. Objetos não podem ficar amontoados, apertados, apinhados. Da mesma forma, não adianta guardar algo que você usa várias vezes por dia em uma prateleira alta, a qual você não alcança, e precisa pegar uma escada para acessar.

Então, para organizar, você tem que mapear a demanda por cada objeto da sua casa e alocá-los nos locais mais adequados, de acordo com o uso que dá a eles, destinando um espaço adequado, sem aperto e amontoamento. Maravilha, estamos todos na mesma página agora. Vamos começar.

Organização é um problema cada vez maior, em todo o mundo. Seja pela dificuldade em organizar, seja pela incapacidade de organizar, seja pelos danos ocultos que a desorganização causa. E desorganização não é preguiça, burrice ou incompetência. Nós, seres humanos, temos mecanismos que estão tornando cada vez mais difícil ser organizado na sociedade moderna. A boa notícia é: nós vamos te contar quais são e o que você pode fazer para desarmá-los.

A primeira coisa que você deve saber é que nós somos geneticamente programados para coletar e guardar coisas. Isso vem lá dos nossos ancestrais das cavernas, em uma época sem supermercado, sem internet, com muitos perigos e escassez. Uma folha encontrada no chão poderia ser crucial para fazer uma fogueira mais tarde e não morrer de frio. O osso de uma ave que foi almoço poderia se tornar uma ferramenta crucial no dia seguinte. Então, isso está em todos nós.

Em alguns mais do que em outros. Quanto mais consciente você for, mais perceberá que não vive em um período de escassez, portanto esse impulso inicial não faz sentido. Porém, grupos mais vulneráveis (como idosos e crianças), tendem a serem mais influenciadas pelo “vou guardar pois um dia eu posso precisar”.

E aí entra o problema: na sociedade moderna temos cada vez mais grupos vulneráveis, por exemplo, muitas pessoas ansiosas, inseguras, com medo ou com uma série de questões emocionais que as tornam vulneráveis e, portanto, dominadas pelo impulso do “um dia eu posso precisar”. Então, antes de brigar com quem faz bagunça, procure entender as razões pela qual a pessoa sente essa vulnerabilidade. É um sintoma de algo interno, não uma sacanagem que a pessoa faz para te irritar.

Estudos realizados nos EUA mostraram que pelo menos 4 milhões de pessoas nunca jogaram um único pertence fora. O resultado? O tamanho médio de uma casa por lá aumentou em mais de 50% das últimas décadas. Mais coisas para guardar demandam casas maiores.

E, quando você não tem essa opção? E quando você vive no Brasil, em regiões onde as casas e apartamentos ficam cada vez menores? Aí, meus queridos, estamos em rota de colisão. Não adianta ficar repetindo (ou gritando) que “tem que arrumar” (na verdade, organizar). Se tem algo impedindo a pessoa de fazer, melhor analisar a fundo o problema, para saber como ajudar.

Há vários estudos recentes apontando que a bagunça doméstica é uma das principais fontes de estresse da atualidade – e, muitas vezes, sem sequer ser percebida, ela vai causando um dano silencioso. Importe-se você com bagunça ou não, valorize você organização ou não, cada vez que você olha para um ambiente bagunçado há um pico de um hormônio vinculado com estresse no seu organismo (papo técnico: cortisol). Repito: por mais que isso não te incomode e você ache que é indiferente, não é. É nocivo para seu organismo.

Novamente, é um mecanismo evolutivo: estar em lugares sujos, entulhados ou bagunçados era um perigo nos primórdios. Poderia gerar alguma doença, poderia gerar ferimentos, poderia ter um predador escondido no meio daquilo. Seu corpo é programado para se sentir mal quando está em ambientes entulhados, bagunçados e desorganizados, ainda você não perceba isso de imediato. Seu corpo é programado para sentir estresse em ambientes assim. E estresse é o pai da maior parte das doenças graves da atualidade.

Cada vez que você se depara com bagunça, seu corpo recebe uma descarga de cortisol. No exato momento você pode não perceber, mas, no longo prazo cortisol pode causar muitos problemas. Desde coisas mais brandas como obesidade, insônia e depressão, a coisas ainda piores, como infarto, câncer e AVC. Então, não é mimimi de perfeccionista, organização é uma questão de saúde, e é assim que deveria ser tratada, e não com toda a futilidade que a cerca.

Esse é o ponto de partida: na melhor das hipóteses, a desorganização joga veneno no seu corpo que, acumulado, pode causar sérios problemas. Mas existem ainda danos secundários que a desorganização provoca. Então, para quem não se importa com a saúde, saiba que ela mexe no seu bolso também.

É cientificamente comprovado que um ambiente desorganizado afeta diretamente o desempenho do seu cérebro. Excesso de estímulos provoca uma pane em uma região do cérebro (papo técnico: córtex visual) que acaba afetando a capacidade de foco, concentração e produtividade. Pessoas que trabalham em ambientes organizados tendem a ser mais produtivas, pelo simples estímulo visual de um ambiente clean. Pessoas que trabalham em ambientes abarrotados, cheios de estímulos e entulhados fatalmente renderão menos e terão que fazer mais esforço para trabalhar.

A desorganização também te faz perder tempo, em uma realidade onde tempo é um dos bens mais preciosos que temos. Tempo é o que define produtividade, é o que define o quanto nos sobra para ficar com a família ou fazer coisas que gostamos e, é claro, tempo é dinheiro. Por mais que toda pessoa desorganizada diga “eu me acho na minha bagunça”, existe um custo alto em não encontrar as coisas de forma rápida, fácil e eficiente – e esse custo é pago com tempo e com estresse/saúde.

Pois é, não é só o tempo que se perde. O processo de procurar é estressante para o organismo. Cada tentativa sem sucesso de encontrar algo aumenta os níveis de estresse, toma energia e gera uma série de efeitos colaterais que atrapalham sua vida e, no longo prazo, certamente vão te adoecer. Dou aqui o aviso que dou em muitos textos: não pensem que doenças da mente são brincadeira, são portas que, uma vez abertas, não se fecham nunca mais. Não queriam abrir essas portas.

“Tá, já entendi o problema, agora me dá a solução”. A solução é fácil de explicar e um pouco menos fácil de colocar em prática: lembra aquela premissa de que cada objeto tem que ter sua “casinha” para voltar? Pois é. Essa casinha tem que ser funcional, prática e não entulhada, isto é, as coisas devem estar bem dispostas, organizadas, em espaços adequados, sem acúmulos. O ambiente tem que esta visualmente clean, minimalista, sem excessos. Seja na sua mesa, seja no seu armário. A casa toda deve estar organizada.

E, para isso, na maioria das casas, é preciso reduzir a quantidade de coisas, caso contrário, não é possível organizá-las de forma funcional, prática e sem amontoado. A menos que você tenha uma casa gigante e pessoas que te ajudem a manter tudo em seus devidos lugares, a única forma de ter um ambiente organizado é se desfazendo de coisas. E aí temos um problemão. Quer dizer, tínhamos, pois agora que vamos compreendê-lo, teremos ferramentas para lidar melhor com ele.

Além daquele mecanismo de “um dia eu posso precisar”, outros mecanismos se somam a ele para dificultar ainda mais as coisas.

Exames de imagem mostram o que acontece com o cérebro de quem se sente vulnerável à escassez quando a pessoa descarta algum dos seus pertences: regiões cerebrais (papo técnico: o córtex anterior cingulado e a ínsula) responsáveis por uma intensa sensação de desconforto acendem feito luzes de Natal. Isso gera uma sensação de urgência muito forte, que inclusive é a mesma que faz viciados usarem drogas (mesmo querendo parar) ou fumantes acenderem mais um cigarro (mesmo querendo parar). Seu corpo grita para que você não faça isso, e sofre, e sente dor emocional.

Para complicar ainda mais, em algumas pessoas, uma região do cérebro que está ligada à noção de identidade pessoal (papo técnico: o córtex pré-frontal ventromedial – VMPC) é ativada quando ela tenta se desapegar de algo, o que indica que ela de alguma forma se sente conectada a essa coisa e sente como se estivesse jogando fora algo que representa a sua identidade. Por exemplo, apaixonados por livros podem saber que nunca lerão todos os livros que possuem entulhados na sua casa, mas gostam de tê-los.

Por fim, um último obstáculo: o apelo sensorial. Estudos indicam que ao tocar em algo nasce um apego pelo objeto, despertado justamente pelo toque. E o pior é que bastam 30 segundo de contato físico com o objeto para que se crie esse vínculo de apelo sensorial. É por isso que tantas lojas colocam produtos à mostra, para que você possa pegá-los, tocá-los. Depois de alguns segundos a pessoa pode começar a sentir como se fosse dela e pode ser doloroso voltar para casa sem o produto.

Então, não conseguir desapegar de coisas (mesmo coisas que não são usadas) é preguiça, não é incompetência, não é mimimi. É físico. Existe uma dificuldade física em desapegar das coisas e doá-las ou jogá-las fora. E quanto mais a pessoa é incentivada ou obrigada a se desfazer de algo por pressão ou à força, maior fica sua angústia e mais aumenta sua sensação de que fazer isso não está certo.

Entretanto, se a pessoa desiste de se desfazer e guarda de volta a coisa em questão, a sensação ruim imediatamente desaparece e vem uma sensação de paz, tranquilidade e de “estar fazendo a coisa certa” no lugar. Isso leva muita gente a crer que o certo é não jogar nada fora. Não é verdade. Nesse caso, seus instintos estão te traindo e você precisa aprender a contorná-los.

Obviamente, isso varia de intensidade de pessoa para pessoa. Dependendo das vivências, carências e psicológico ela consegue lidar com isso se desfazendo de tudo que precisa ou é rendida por completo e vira um acumulador que não joga fora nem caixa de pizza.

Mas, agora que você compreende os mecanismos envolvidos, você pode criar estratégias para adequar seus pertences ao tamanho da sua casa, de modo a que ela esteja organizada e você não fique nem improdutivo, nem infeliz, nem obeso, nem estressado, nem deprimido, nem doente.

O passo a passo para organizar a casa em tese é muito simples, o difícil é botar em prática. O primeiro passo é fazer uma limpa, deixando apenas as coisas que você realmente usa e que cabem sem que a casa fique entulhada (vendendo, doando ou jogando fora o resto). Não se arruma tralha, tralha se destralha. Primeiro você destralha, depois você começa a arrumar, combinado?

Uma vez destralhado, é só categorizar (criar categorias para cada grupo de coisas), estabelecer um lugar para cada categoria e, dentro desse lugar da categoria, estabelecer um lugar para cada coisa. Teste. Se não funcionar, rearrume, até encontrar as “casinhas” certas para seus objetos. Comprar organizadores pode ser muito útil.

Uma casa organizada é aquela onde você pergunta o dono onde está qualquer objeto e ele sabe dizer na hora, sem dúvidas, onde ele está. Desde um parafuso até seu diploma. O grande problema continua sendo o primeiro passo: o que descartar? E o medo de se arrepender e precisar? E o medo de sentir falta?

Para isso existe uma solução, sugerida em diversos desses estudos citados, que atenua todo esse mecanismo de se apegar às coisas e ter medo ou sentir incômodo em descartá-las.

O primeiro passo é separar todas as coisas que você não usa faz muito tempo, por exemplo, coisas que há seis meses não são utilizadas. Coloque-as em caixas ou em organizadores grandes, tampe e deixe fora do seu campo de visão. Só abra se você realmente precisar de algo que está ali, se não, deixe esquecido em algum canto da casa.

Seis meses depois, se você não precisou de nada do que estava ali, como está, descarte tudo. Sem revisar, sem olhar, sem pegar, sem dar oportunidade para sentir apego, medo ou qualquer outra armadilha. Convenhamos, se você não precisou da coisa no período de um ano, ela não é essencial.

“Mas Sally, e se eu precisar dela dois ou três anos depois?”. Por esse argumento, é possível nunca jogar nada fora, pois qualquer coisa pode acontecer e você pode precisar de qualquer coisa no futuro. Então, minha resposta é: se você precisar disso dois ou três anos depois, você compra outro, que sai mais barato do que descargas diárias de cortisol no sangue por mil dias seguidos. É preferível comprar uma coisa nova a adoecer, concorda?

Teste a caixa temporária, que é um meio termo entre se desfazer por completo e ter o objeto na sua posse. Ela vai facilitar o processo. Você vai se surpreender com a quantidade de coisas que julgava essenciais, mas que, na verdade, não usa e não precisa.

Uma vez feito esse primeiro “desapego”, fica fácil. Uma vez que as coisas que não são usadas vão embora e as coisas que ficaram estão categorizadas e ganharam suas “casinhas”, é só fazer a manutenção para que a casa não entulhe novamente. Isso se consegue com uma regrinha de ouro: quando comprar uma coisa nova, tem que jogar fora uma coisa velha da mesma categoria, para que a coisa nova ocupe a “casinha” que quem está saindo. “Mas Sally eu não consigo jogar nada fora”. Então não se permita comprar nada. Decide aí o que fala mais alto: o desejo de não jogar fora ou o desejo de ter uma coisa nova.

Meus queridos, é uma questão de saúde. Não é preciosismo, não é estética, não é exagero. É uma questão muito séria de saúde. Além de evitar uma série de doenças, você também vai produzir melhor, se sentir melhor e ter mais energia, criatividade e disposição. Pare de se sabotar, organize seu entorno. E aproveite para dar uma boa olhada para dentro, pois, geralmente, um entorno desorganizado é sinônimo de desorganização interna. Organize sua casa e também a sua vida, se não a bagunça vai voltar.

Para pedir um texto sobre organizar a vida (se quiserem posso dar sugestões), para desmerecer tudo que foi dito como se fosse uma opinião minha e não um dado científico ou ainda para dizer que prefere ferrar a sua mente e seu corpo, mas morrer abraçado com todos os seus pertences: sally@desfavor.com

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Comments (22)

  • Lembrei de uma historinha que li há muitos anos em um gibi do Pateta. O Mickey foi buscá-lo em casa para irem juntos ao cinema. Ao chegar, Mickey se espanta com a baderna do lugar e pergunta como o Pateta fazia para achar suas coisas e tem como resposta: “fico procurando até achar”. Mal os dois amigos saem e viram a esquina, uma dupla de ladrões escolhe a casa do Pateta como alvo. Um dos ladrões fica de vigia do lado de fora para o caso de alguém aparecer e o outro entra por uma janela buscando afanar qualquer coisa de valor que pudesse haver lá dentro. Só que o ladrão, depois de percorrer a casa inteira e ver tudo revirado em todos os cômodos, sai por onde entrou sem levar nada. O que ficou do lado de fora pergunta: “porque está de mãos vazias? E por que saiu tão rápido?” E o outro diz: “Chegamos tarde demais. Algum outro ladrão já deve ter vindo aqui antes da gente…”.

  • Triste quando os impactos da bagunça não se limitam à vida e espaço do bagunceiro, e o entulho afeta a vida dos terceiros, a milhares de quilômetros de distância. Precisava resolver algumas questões de trabalho contidas em um processo de falência e, quando fui interpelar o juiz que cuidava da causa para evitar qualquer chance de prescrição intercorrente, juro, parte dos autos estavam enfiados em um armário nos fundos da casa dele e outros documentos relacionados serviam de calço para o armário não cair.

    Outro caso foi pior. Sogro de uma amiga. Ao limparmos seu sobrado com a ajuda de caçambas e mais caçambas, descobrimos um saco com mais de 40 mil dólares, uns 100 mil reais e alguns euros. Deduzimos que esse dinheiro era de outras pessoas, fruto de um tanomoshi (um tipo de consórcio organizado entre amigos), pois havia uma planilha impressa datada de 20 anos atrás com que cada um contribuiu.

    Não conseguimos localizar boa parte das pessoas, pois muitas eram estrangeiros que trabalhavam com esse sogro numa multinacional (nem todos eram japoneses, e de alguns nem deu para saber o país de origem), outra parte morreu, e boa parte do dinheiro apodreceu. Nem para reparação serve.

      • Sem dúvida. E há casos e mais casos como esses que a Suellen relatou. Uma pessoa famosa de antigamente que passou por problemas semelhantes foi o Garrincha, ex-jogador do Botafogo e da Seleção nos anos 50 e 60. Na biografia “Estrela Solitária”, escrita pelo jornalista Ruy Castro, há descrições detalhadas de como era seu dia-a-dia e a forma como lidava com dinheiro. E essas descrições são de cair para trás. Para alguns de seus amigos, a inocência de Garrincha no assunto “parecia-lhes quase criminosa”. São histórias absurdas de dinheiro esquecido sob o colchão da cama da filha apodrecido por anos de xixi infantil, cédulas de moedas de diversos países – algumas até já fora de circulação – enfiadas em revistas ou caídas por trás do fogão, uma casa tão bagunçada e imunda em que foi possível que, antes de uma visita, Garricnha enchesse uma caixa de sapato com todas as baratas que matou. Uma das frases que resume essa situação é: “O maior jogador do mundo de 1962 vivia como se fosse o mais medíocre e obscuro reserva de um time miserável”.

  • Sobre essa relação entre bagunça e saúde mental, isso explica bem o fato de que minha mãe seja tão doente, tadinha… Ela literalmente não está nem aí pra nada, deixa a casa uma zona, virada de pernas para o ar, e só dá a desculpa de que não é “cheia de frescuras como você que é da capital”, e que é uma pessoa simples, desapegada, não liga pra essas coisas bla bla bla…

    Eu já cansei de falar pra ela que uma hora com essa bagunça toda e sujeira ainda vai pegar uma doença brava aí, uma super bactéria ou algo do tipo, mas não há minimamente como dialogar com ela, afinal, é “tudo frescura, eu sempre fiz tal coisa e nunca fiquei doente …” Já larguei de mão de tentar ajudar, viu?

    • A bagunça é um sintoma de que a mente dele não está bem (e já faz tempo, né?)
      É muito mais fácil para a pessoa acusar o outro de “frescura” do que admitir que tem um problema.
      Não é sobre simetria, arrumar por cor ou caprichos, é sobre ter um ambiente onde as coisas não estejam amontoadas e cada uma delas tenha um lugar para ser guardado.

  • Infelizmente, a ideia “minimalista” ainda é muito estigmatizada. “Isso é coisa de rico que pode comprar de novo, pobre não pode pensar assim”, “Ain mas eu cresci miserável, agora quero ostentar”.

    Quanto mais coisas você tem, mais energia gasta para manutenção delas (e eu pessoalmente não sou fã de multitasking, fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo. No final esse tipo de coisa costuma sair toda cagada).

    Ou, mais prático: menos coisas = menos baratas e outros convidados inconvenientes.

    • Concordo plenamente. Mesmo que sejam muitas coisas que a pessoa ame, o processo de escolher (o que vai usar, o que vai vestir, o que vai comer) é altamente demandante para o cérebro.

  • Dane-se a satisfação por ter muitos livros e poder eventualmente manuseá-los. O que importa é ser obcecado por “organização”.

  • Há algum tempo, eu vi um programa de TV sobre casos extremos de acumuladores compulsivos. Incapazes de desapegar, essas pessoas juntavam tanta tralha até chegarem ao ponto de sequer conseguirem andar dentro da própria casa. E já aconteceu de um desses acumuladores, que também era um recluso, ter morrido de velhice ou de doença dentro de sua residência e o corpo, já em decomposição, só ser descoberto dias depois, quando a polícia e uma equipe de um órgão de vigilância sanitária arrombaram a porta e removeram várias toneladas de cacarecos.

    • É doença, não é mania nem “coisa de velho”. É doença e precisa de tratamento médico. Só que as pessoas só percebem que é doença quando chega nesse ponto bizarro, do doente guardar lixo dentro de casa. Uma pena, pois quanto antes tratar, melhores são os resultados…

  • Nada mais irritante do que a gente precisar de um troço qualquer dentro de casa, não conseguir achar, sair pra comprar outro com urgência e, dias depois, finalmente encontrar por acaso o que se estava procurando e que já se tinha. E tem tanto parente meu que não joga nada fora “porque um dia pode precisar” e que vive me dizendo “eu me acho na minha bagunça”…

  • Até para guardar comida na geladeira a organização é importante. Se não houver alguma ordem, desperdiça-se alimentos, a cozinha acaba ficando empesteada com o cheiro de coisas podres, o próprio eletrodoméstico se estraga e perde-se – muito – dinheiro.

    • Sim. Organizar é um tempo a mais que se perde mas, no saldo final, é muito mais tempo que se poupa, além da saúde física e mental.

  • No texto a Sally fala de deixar a casa em ordem para não ter estresse desnecessário, mas algo tão importante quanto – e que ela pode até mencionar com mais propriedade do que eu em uma eventual “parte 2” no futuro – é organizar os nossos locais de trabalho. Em nome da produtividade e da eficiência, é vital ter esses espaços com os objetos/ferramentas que mais utilizamos dispostos de forma otimizada para evitar perdas de tempo com procuras que nos interrompam constantemente. E também é questão de bom senso ter esses mesmos objetos/ferramentas sempre bem cuidados e em boas condições de uso. Nunca me esqueci de duas situações que vivenciei quando era pequeno e que me mostraram como era importante ser organizado no trabalho.

    1- um mecânico a quem meu pai esporadicamente levava o carro para consertos tinha uma oficina que era uma zona! Tudo espalhado pelos cantos e uma mesa repleta de ferramentas diversas cheias de graxa junto com folhas de jornal destinadas a forrar o chão para fazer algo que agora não me recordo. O telefone (antigo, fixo, daqueles de disco) ficava nessa mesa “soterrado” nessa baderna. Mais de uma vez, acompanhando meu pai até essa oficina, vi o tal mecânico irritado, revirando tudo para achar o telefone, que não parava de tocar. Era gente ligando para saber porque o conserto estava demorando ou então querendo marcar horário para levar o carro.

    2- meu pai passou boa parte da vida como funcionário de uma multinacional alemã que fazia muita questão de criar um ambiente de trabalho que favorecesse a eficiência; com equipamentos ergonômicos, materiais ao alcance das mãos e sala climatizada. Entendendo como isso o fazia produzir mais e melhor, meu pai trouxe, na medida do possível, esse “esquema ISO 9001” para casa e ensinou a mim e ao meu irmão a cuidar direito de nossas coisas, incluindo, claro, o material escolar. Tudo para que, tanto na sala de aula quanto fazendo a lição de casa, nós já fôssemos nos acostumando com uma forma de realizar tarefas que nos pouparia muitos aborrecimentos no futuro.

    • Mas certamente organizar não apenas o local de trabalho, como também o cronograma de trabalho (o que fazer primeiro, prazos, etc.) é fundamental para ser um bom profissional e render o melhor da sua capacidade!

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