História Humana.

Sejam bem-vindos ao último episódio de Guerra e Paz, o programa que conta a história de um dos povos menos conhecidos da galáxia: os humanos. Eu sou Gal-Re-Tsse e hoje temos um convidado muito especial, o professor Dzaleh Utumunu, maior autoridade viva sobre essa espécie tão misteriosa.

Quero começar agradecendo a audiência e o suporte que tantos de vocês deram para o nosso programa desde seu começo há doze UTGs. Conhecemos muitas histórias novas, algumas até de quem conviveu com humanos reais! Infelizmente não conseguimos apoio para transmissão intergaláctica por mais uma temporada, mas saímos daqui com orgulho de um trabalho bem-feito e muito aprendizado.

Como sempre, a transmissão está disponível na Língua Padrão, Zelerizi, Moaravis-Moderno e mais doze línguas humanas originais. Exclusividade nossa. A inteligência tradutora para línguas humanas pode ser adquirida no Mercado Info Primário com 50% de desconto com o código GUERRAPAZ50. Confirme as condições da promoção no seu setor, os preços podem variar.

Hoje terminamos a série sobre a história humana com um capítulo especial sobre a Dupla Extinção de e11ec962UTG. No último episódio, vimos como a espécie sintética H2 lutou uma longa batalha para conseguir sua independência dos humanos e ocupar o setor 798J, conhecido por Origem tanto por humanos quanto pelos H2. Neste capítulo, vamos ver os desdobramentos dessa guerra e a invasão dos Moaravis que terminou com todas as linhagens biológicas e sintéticas da espécie.

Professor Utumunu, seja bem-vindo! É um prazer ter você aqui conosco, é um sonho antigo do Guerra e Paz ter a sua participação. Você pode nos dizer um pouco mais sobre o seu campo de estudos?

“Tsee e todos os ouvintes, o prazer é todo meu. Quando fiquei sabendo que tínhamos um programa intergaláctico sobre os humanos, me empolguei na hora. O interesse na história dessa espécie fascinante diminuiu muito nos últimos ciclos, e é muito bom saber que novas gerações começam a prestar atenção numa civilização que impactou muito mais a galáxia do que se aprende nas aulas de história.

Bom, eu sigo a história dos humanos e dos H2 desde o começo da minha carreira acadêmica, fiz minhas pesquisas para entrar no Conselho Científico sobre o impacto da cultura humana no Governo Saii’ch, escrevi dois livros sobre o primeiro contato e contexto histórico da Guerra de Assimilação, e hoje sou chefe do Departamento de Civilizações Antigas do Repositório Seccional 86.”

Com certeza um currículo perfeito para o nosso programa! Professor, muitos de nós aprendemos em aulas de história antiga que os humanos pereceram por enfrentarem uma invasão dos Moaravis logo após uma guerra civil interna com sua espécie sintética, os H2. Mas temos novas informações sobre isso, não?

“Com certeza. Arqueólogos encontraram registros não só de assentamentos humanos biológicos muito depois da data declarada de extinção, como também de convivência com elementos da H2 por muito tempo após a guerra interna. Os registros dos Moaravis contabilizavam apenas agrupamentos de um certo tamanho, calculado de acordo com a capacidade militar disponível. Ou seja, o que ficou registrado foi o ponto onde as civilizações humanas, incluindo a H2, deixaram de ser uma ameaça ao Terceiro Império Moaravi, não quando deixaram de existir.

Temos vários relatos que corroboram essa hipótese de existência continuada, inclusive a mais incisiva, que é a redescoberta de uma civilização eidia-primal ainda viva num estágio pré-industrial que segundo os registros Moaravis, estava extinta há 398 ciclos! O Terceiro Império alcançou doze mil anos-luz de extensão, eles não tinham capacidade de processamento para manter registros sobre todas as formas de vida no seu território, por isso os dados das sondas só era armazenado caso fossem encontrados sinais de alto desenvolvimento tecnológico.”

E por quanto tempo os humanos e os H2 viveram além do que ficou registrado?

“Artefatos encontrados no planeta origem, Terra, contabilizaram pelo menos 32 mil anos estelares, o que traduzido para ciclos dá quase 98. Ou seja, eles viveram por lá por pelo menos 16 ciclos a mais do que o registro de extinção Moaravi. Não é uma informação confirmada, ainda estamos esperando uma análise de integridade de dados, mas detectamos sinais dos H2 numa estrela próxima ao Sol de não mais que 200 ciclos atrás.”

Essa informação já foi publicada?

“Não, é em primeira mão para o Guerra e Paz.”

O episódio final ficou muito mais especial! Obrigado pelo prestígio, professor.

“Como eu disse antes, fiquei fã do programa! O mais interessante é que quando cruzamos os dados, percebemos que os H2 eram mencionados como aliados durante a guerra contra o Terceiro Império, mas que logo depois do ataque ao planeta origem, os registros sobre a forma de vida sintética desaparecem e só podem ser encontrados em algumas estrelas próximas. Os humanos biológicos tiveram perdas muito maiores, especialmente por causa da natureza do ataque Moaravi com armas especialmente criadas para destruir formas de vida orgânicas.”

Deixa eu ver se entendi, os H2 se separaram dos humanos depois do ataque à Terra?

“Parece ser mais complicado do que isso. Os sinais dos H2 que encontramos recentemente sugerem que eles conseguiram fugir e se esconder por não terem sinais biológicos que os fizessem detectáveis. Os Moaravi mantiveram, segundo os dados deles, presença na área por pelo menos 6 ciclos após o suposto extermínio da população da Terra, como era de praxe. Nós acreditamos que os H2 tentaram repovoar o planeta origem com seres humanos biológicos depois que a atenção do Império saiu da região.”

Amor e ódio, guerra e paz.

“Sim, essa é a parte que mais me fascina nessa espécie. Até suas criações sintéticas tinham uma passionalidade muito especial. Depois de uma guerra que quase aniquilou vida orgânica e sintética, os orgânicos defenderam os sintéticos dos primeiros ataques Moaravi, e depois do fim da vida orgânica no planeta originário, os sintéticos tentaram trazer a espécie orgânica de volta.”

E por que não deu certo? O Terceiro Império não durou tanto tempo assim para voltar a atacar os humanos biológicos.

“Não. Mas os humanos biológicos dessa nova tentativa pareciam um pouco diferentes da versão anterior. Isso é completamente especulativo, ok? É uma análise baseada nos artefatos e registros ainda não comprovados encontrados na Terra. Mas a cultura humana anterior ao ataque Moaravi e a que se estabeleceu no planeta com a ajuda dos H2 parecia muito mais emocional e dada a pensamento supersticioso. As ideias que esses novos humanos tinham sobre o universo e seu funcionamento beiravam à insanidade.”

Foi algum erro dos H2 que causou esse problema?

“Não temos nenhum para perguntar, mas os dados encontrados da segunda vida da espécie humana biológica sugerem que a convivência com os H2 nos primeiros ciclos criou a ideia neles de seres mágicos que resolveriam todos seus problemas com um estalar de dedos. Essa ideia nunca se dissipou. Dado o tempo que eles tiveram entre esse suposto renascimento e o fim de qualquer sinal de vida há 329 ciclos atrás, a sua tecnologia estava imensamente atrasada em relação ao esperado de uma espécie com a capacidade cerebral disponível.”

Então os humanos desapareceram sem influências externas da segunda vez?

“Existem várias hipóteses, os dados da superfície da Terra sugerem que um evento de raios-gama atingiu o planeta antes de terem qualquer ferramenta para desviar ou anular a energia. Também não tinham nenhuma presença fora do planeta origem.”

E os H2? Não poderiam ter ajudado com isso?

“A transmissão deles que eu mencionei agora de pouco dizia para não tentar salvar o planeta, e que era uma medida humanitária. Depois disso, nunca mais tivemos nenhum sinal dos H2 na galáxia. Estima-se que estejam extintos também, por razões ainda não compreendidas.”

Transmissão interrompida por interferência de evento SN-4. Favor aguardar o retorno entre 1 e 3 ciclos. Seus créditos serão reembolsados automaticamente.

Para dizer que adora ficção científica paradona, para dizer que odeia ficção científica paradona, ou mesmo para dizer que pelo menos seus créditos foram reembolsados: somir@desfavor.com

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