Outro lado – Parte 3

PARTE 2

Patrícia respira fundo. Do outro lado da porta, tem a certeza de que está sendo esperada por um grupo de soldados de elite. Anos de treino nas melhores academias das forças especiais ao redor do mundo a tornam letal com ou sem a arma semiautomática que tem em mãos, mas não o suficiente para enfrentar tantos adversários.

Sua única vantagem é uma imagem minúscula no relógio digital, retirado do corpo sem vida ao seu lado. A equipe enviada para capturá-la contava com sensores que os posicionavam em tempo real na planta do escritório da OPD-10. Excelente para se organizarem, mas um ponto fraco caso fosse roubado.

E era esse ponto fraco que Patrícia explorava. A primeira coisa que abandonara na rota de fuga foi o celular, que tinha certeza de que estava sendo monitorado. Depois de emboscar um dos soldados na sala de suprimentos no terceiro andar e o eliminar com um corte preciso na garganta, ela ativa o modo de recuperação de seu telefone através de um laptop reserva para que faça barulho do outro lado do prédio.

Percebendo a movimentação dos pontos de luz na tela, ela coloca o laptop numa mochila, passa pela porta, observa o corredor e segue para a escada de incêndio. Como esperado, na porta para o térreo um soldado mantém seu posto. Eram profissionais, sejam lá quem fossem. Ela olha novamente para o relógio, os pontos sumiram.

Eles tinham percebido o truque e escondido sua posição, mas isso criava uma oportunidade: quem quer que estivesse esperando na porta do primeiro andar também não saberia quem estava do outro lado. Patrícia prepara a arma, e acocorada atrás da porta de incêndio, percebe de que lado a sombra dos pés do guarda estava aparecendo. Ela se posiciona no outro e empurra lentamente a porta, o suficiente para o cano da arma passar. Antes que o homem conseguisse reagir, ela dá um tiro certeiro na parte de baixo da mandíbula. A bala ricocheteia no capacete de dentro para fora.

Agora ela tem poucos segundos antes de ser cercada. Num salto de fé, corre para o balcão dos seguranças. Os dois estão mortos. Parte de seu treinamento de fuga cotidiano, reconhece o local onde fica o botão que libera as portas frontais. Já pode ouvir os passos frenéticos na escada. Ela dispara para as portas, e antes de passar por elas ouve dois estampidos. Ar armas eram silenciadas. Por sorte, nenhum dos tiros a acerta.

Já na rua, ela presume que quem quer que estivesse atrás dela não queria chamar muita atenção. Então, ao invés de correr, ela esconde a arma dentro do casaco e anda normalmente para se misturar com a multidão de Tóquio. Sem celular, ela anda por alguns quarteirões se certificando que não foi seguida antes de pegar um táxi. O destino desse não importava, afinal, era apenas uma distração.

Da rua onde foi deixada, pega o metrô e vai até o local aonde realmente queria chegar: após uma curta caminhada na estação, ela toca o interfone de um prédio decrépito, escondido em uma das pequenas ruas de uma parte menos glamourosa da capital japonesa. Depois de quase um minuto, uma voz de quem acabara de acordar pergunta quem é, em japonês.

“Seu pior pesadelo.” – Patrícia diz, no primeiro sorriso do dia.

Um grunhido e um palavrão na língua natal se seguem. Depois de alguns segundos de hesitação, o zumbido da porta sendo destravada pode ser ouvido. Depois de subir quatro lances de escada, ela se depara com a porta entreaberta. Por hábito e por paranoia justificada, ela mantém a arma em punho e entra devagar, apontando para detrás da porta.

No meio da sala extremamente bagunçada, sentado no chão enquanto toma uma cerveja, Hiro a observa curioso.

“Eu fiz a minha parte.” – Hiro toma mais um gole logo depois.

“Fez. Mas a situação pede novas… partes.” – Patrícia continua vistoriando o pequeno apartamento.

“Eu não quero mais me meter com isso, eu não posso mais nem ir visitar meus pais. Tive que fazer um novo documento… quase não tive lucro.”

“E você queria visitar seus pais?” – Patrícia parece mais à vontade depois de perceber que estava sozinha com Hiro.

“Esse não é ponto. Trabalhar para você não dá dinheiro.” – Hiro começa a procurar por algo no meio da bagunça.

“Dessa vez eu não vou te oferecer dinheiro.” – Patrícia começa a olhar pela janela.

“Então pode ir embora porque eu quero dormir um pouco mais…”

“Enquanto você dormia, alguém entrou no meu escritório e matou praticamente todos do meu time. Não eram amadores, porque eu trabalho cercada de agentes treinados. E por pouco, muito pouco, eu não morri também.”

Hiro arregala os olhos, posição estática com a latinha de cerveja na boca.

“E se estão me procurando, eu aposto que é a Transverse. E se é a Transverse, adivinha quem vai estar na mira também?” – Patrícia diz com um semblante subitamente sério.

“Eu sabia que não deveria ter pegado esse trabalho.”

Hiro se levanta e corre até a mesa onde está seu computador.

Patrícia se aproxima.

“Ainda bem que você entendeu a gravidade.”

“Eu estou apagando todos os meus registros, vou para longe daqui, agora!”

“Mas antes, eu preciso que você entre nos sistemas da Transverse mais uma vez.” – Patrícia pega a mochila e tira o laptop.

“Aqui tem uma cópia do sistema da OPD, não acho que meu login ainda esteja ativo, tem alguém lá dentro trabalhando para a Transverse. Mas você consegue entrar, não? Eu sei que você colocou uma porta de entrada no nosso sistema.”

“Eu jamais faria isso…”

Patrícia puxa a arma e aponta para Hiro.

“Eu não tenho tempo para conversa. É questão de vida ou morte, minha e sua.”

Hiro hesita por alguns segundos, mas pega o notebook deixado sobre a mesa. Ele pega um pendrive de uma de suas gavetas e liga a máquina. Como dito por Patrícia, Hiro realmente tinha uma forma de entrar no sistema da OPD sem usar senha, desde que estivesse em uma máquina certificada.

“Você quer que eu mude seu status para morta em serviço, certo? Assim param de te procurar.”

“Não, Hiro, eu quero que você desclassifique minhas informações e mande um aviso de desaparecimento para toda a polícia.”

“Você está maluca? Como você vai sumir com todo mundo te procurando? Não vai nem poder entrar em um aeroporto.” – Hiro diz, espantado.

“Eu não quero sumir, eu quero ser vista. Se eu estiver certa, eu devo estar chegando em Shinjuku nos próximos minutos.” – Patrícia chacoalha a arma para acelerar Hiro.

Continua…

Para dizer que eu te peguei de surpresa de novo, para dizer que agora tem certeza que o final vai ser cagado, ou mesmo para dizer que assistiria a série: comente.

Se você encontrou algum erro na postagem, selecione o pedaço e digite Ctrl+Enter para nos avisar.

Etiquetas:

Comments (2)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: