A farsa do Aquecimento Global
Não tem nada a ver com o aquecimento do planeta. Basta olhar os dados de termômetros no ar e na água ao redor do mundo para comprovar que os números estão maiores em média do que estavam desde que começamos a medir. Polêmica sobre isso é que nem polêmica sobre o formato do planeta, acha que a Terra é plana quem quer achar isso, não existem fatos para se discutir. A temperatura média subiu. Ponto. O que eu considero uma farsa é a nossa expectativa de controle sobre o processo.
Estamos numa pedra relativamente redonda de uns 40.000 quilômetros de circunferência, vivendo numa casquinha, porque quase toda a massa do planeta é material derretido mesmo. Por mais que você crie um fogaréu de assustar milhões de pessoas, no quadro geral do planeta, você adicionou uma quantidade ridiculamente pequena de calor no sistema.
Não é e nem nunca foi sobre essas nossas interações pontuais com o clima do planeta. A megaempresa mais poluente do mundo é um peido num ciclone. A Terra é grande e tem muita capacidade de absorver energia produzida por ação humana. A nossa biosfera, por mais minúscula que seja em massa comparada com a pedra quase toda derretida que é o planeta, consegue causar algumas mudanças consideráveis na sua “casquinha”, mesmo assim é um processo longo.
Longo numa escala que não cabe na mente humana. A gente entende mais ou menos o tempo suficiente para um bebê se tornar um adulto, provavelmente por utilidade evolutiva. Mais do que isso é abusar da nossa compreensão. Perceba que você até consegue se imaginar uns 15, 20 anos no futuro, mas muito mais do que isso é meio que pensar em outra pessoa, não? É relativamente simples deixar de comer uma comida gordurosa para se proteger de doenças nos próximos anos, mas pensar no bem-estar do seu eu daqui a 40, 50 anos? Você provavelmente vai comer o hambúrguer.
E eu acredito que isso tenha impacto na nossa relação com o clima e a biosfera em geral. Os problemas relacionados com as mudanças climáticas estão longe o suficiente para pegar “outras pessoas”. E o que acontece agora não dói do mesmo jeito como se fosse algo que fizemos ano passado. Foram “outras pessoas” que mexeram com a lógica climática. A gente acordou respirando fumaça e com medo de enchente por azar mesmo.
Sabemos instintivamente que o mundo é grande e que não é possível ter tanto impacto assim numa ação ou outra. E aqui, outra hipótese evolutiva: não faz sentido para o cérebro gastar energia pensando em o que muita gente está fazendo. A lógica é que a família, no máximo a tribo, consigam te impactar de uma forma clara de entender. Então, a energia do voraz cérebro humano vai para esse foco mais limitado.
Meu ponto, e eu sei que ele parece meio nebuloso ainda, é que faz sentido que sejamos ruins em lidar com mudanças globais. Primeiro que elas sempre exigem escalas de tempo maiores que nosso foco, segundo que elas sempre exigem escalas de agentes (coisas que mexem no clima como nós) tão grandes que não cabe na cabecinha de quem vive em função de um grupinho limitado de pessoas.
A farsa que eu quero mostrar aqui não é a que não estamos sofrendo com mudanças climáticas ou mesmo que não sejamos em parte responsáveis por elas, é a farsa de estamos sendo incompetentes de propósito no tema. E que a solução do problema começa por uma mudança de mentalidade sobre cuidados com a natureza.
Mesmo que magicamente consigamos fazer todo mundo – até mesmo quem teria que deixar de se importar com sua sobrevivência imediata – botar prioridade total na mudança climática… o que realmente seríamos capazes de fazer? Sinto dizer isso, mas boa parte da população mundial tem dificuldades até com o conceito de não resolver seus problemas com violência física. Quantos de nós teríamos capacidade técnica de reduzir o impacto humano no clima?
E pior ainda, quantos de nós seríamos capazes de esperar as várias décadas necessárias para começar a nos tornar mais inocentes sobre as mudanças climáticas? O timing é mortal aqui. Se começarmos a fazer tudo certo, ainda tem o tempo da natureza, que se fosse um ser consciente, pensaria em milênios o que pensaríamos em segundos. O que é nossa culpa está só começando a dar resultados práticos no mundo. Tem uma inércia aqui.
A natureza foi absorvendo nosso impacto no seu sistema colossal desde que começamos a fazer mais diferença no mundo que macacos aleatórios. E por dezenas de milhares de anos, mal parecia que fazíamos alguma diferença. Se sumíssemos hoje, ainda teríamos alguns milhares de anos (no mínimo) do sistema se adaptando lentamente.
Escuto tanta gente falando sobre equilíbrio com a natureza, mas isso me parece uma forma de negação do funcionamento da física, da química e da biologia. Salvo uma “morte fria” do universo daqui a incontáveis anos, não existe essa coisa de equilíbrio. O sistema continua se movimentando. Se a gente for fazer a análise mesmo sobre a temperatura média do planeta nos últimos milhões de anos, até que está friozinho agora.
Nos últimos milhares, por causa das Eras do Gelo, está levemente mais quente. O planeta tem vários ciclos e a vida foi se adaptando lentamente a cada um deles. Mas quando a gente fala de vida se adaptando, fala de um monte de extinções. Não é que o animal ou a planta lentamente aprende a lidar com o clima, a espécie acaba e outra mais adaptada toma o lugar.
A diferença do ser humano é que chegamos num ponto que podemos sair dessa lógica e teimar em continuar. Não acho que seja inteligente essa mentalidade de nos considerar parte do ambiente como qualquer outro ser vivo. Quebramos a corrente. Se for para “respeitar a natureza”, uma hora ou outra vamos morrer todos e dar espaço para outros seres mais adaptados ao clima do momento.
Não é sobre equilíbrio, é sobre o que vamos fazer para continuar vivos apesar da mensagem da Terra que nosso tempo está acabando. Não por aquele papo maconheiro de que o planeta está cansado de nós, o planeta é uma pedra 99% derretida. As condições mudam e as espécies vivas mudam. Tivemos alguns milhares de anos de clima favorável, se tivéssemos evitado a tecnologia talvez tivéssemos muitos mais, mas nunca sobre foi sobre manter o planeta viável para nós eternamente. Até porque em poucos milhões de anos é bem possível que mesmo uma Terra sem humanos ficasse inabitável para seres tão grandes como nós. O Sol só vai ficar mais brilhante até queimar tudo na superfície.
Não tem equilíbrio, tem só o tempinho que o mundo ficou bem favorável para a gente. E mesmo esse tempinho é coisa demais para nós. Não é natural entender nossos impactos no mundo em questão de várias décadas, muito difícil imaginar que vamos nos privar de muita coisa para baixar 1 ou 2 graus na temperatura média de nossos bisnetos, não?
Se eu tivesse controle sobre as ações da humanidade para combater o aquecimento global, a primeira coisa que faria seria tirar da cabeça das pessoas que vão mexer no planeta de forma razoável em qualquer escala de tempo compreensível. Não é nada na escala do universo o tempo entre a Revolução Industrial e hoje, mas para o ser humano dá quase no mesmo que tempo infinito.
Vamos ter que ficar bons em apagar fogo, mover cidades costeiras, produzir alimentos em terras menos férteis, proteger fontes de água… porque a merda está feita. Não acho que vamos viver no mundo do Mad Max, mas nossa tecnologia vai ter que ir nessa direção de um mundo que já está indo para uma nova fase. Muitos dos animais e plantas com os quais convivemos são resultado dessa era de conforto térmico do ser humano.
Se quisermos manter esses seres vivos, vai ter que ser bem artificial mesmo. O mundo não volta a como foi antes de começarmos a industrialização. E novamente: nem que não existíssemos o mundo seria imune às mudanças. A gente meteu o pé no acelerador sem a anuência dos outros seres vivos do planeta, mas não encostamos no volante. Todo equilíbrio é uma foto. A natureza continua acontecendo, continua mudando tudo.
Não estou dizendo que a solução é artificial para “lacrar contra os ativistas”, estou dizendo porque já deveria ser óbvio que a nossa realidade não é mais voltar para o natural. O natural já seguiu em frente, e vem um mundo muito mais quente por aí, gostemos ou não. Como pelo visto não gostamos, a solução é dobrar a natureza da melhor forma que pudermos.
Pode ser que o futuro da Terra seja com domos de ar-condicionado. Pode ser que a água seja purificada por nanorrobôs, pode ser que precisemos produzir nossa comida em cavernas climatizadas com luzes ultravioletas, pode ser um monte de ideias tecnológicas que parecem malucas agora; mas com certeza não vai ser a natureza puxando o freio-de-mão pela primeira vez em bilhões de anos. Quem não se adapta morre. Essa é a regra da vida.
O impacto que podemos ter conservando e reduzindo emissões é pequeno demais para o tamanho do que está chegando. Talvez se fôssemos uma espécie que pensa em milhares de anos fizesse algum sentido, mas mal passamos de uma geração nos nossos planos. Vai ter que ser na base da solução com aditivos artificiais embalados em plástico. Talvez não seja bonito, mas é o que tem para… amanhã.
Não gosto mais de chamar de aquecimento global, catástrofe ou outro termo feito para nos deixar culpados. Temos que salvar nossas peles num prazo que consigamos entender. Por mais que não seja o ideal, é o que me faz mais sentido. Aquecimento global é uma farsa se estivermos falando em recuperar o planeta ou “entrar em equilíbrio com a natureza”.
Vai ser na marra, vai ser feio, vai ser artificial pra diabo. Era para a gente morrer em alguns séculos ou milênios mesmo. Todo mundo que confiou na natureza antes de nós acabou virando fóssil…
Para dizer que não sabe de que lado estou, para dizer que só quer de volta o canudinho, ou mesmo para perguntar como eu ouso: comente.
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Etiquetas: aquecimento global, sociedade, tecnologia
Paula
Um outro lado do que você expôs no texto sobre tempo x contenção de danos: já se provou que mudanças menos drásticas do que virar uma ecochata vegana podem ter efeitos muito bons na qualidade de vida. Mudanças como cidades mais arborizadas podem ser a diferença entre um calor normal de 28°C e os 37°C das ondas de calor. Tratamento decente de esgoto pode ser a diferença entre precisar racionar água ou não.
Não faltam estudos e exemplos, nós podemos ser menos alarmistas e tomar pequenas medidas que sabemos que são eficazes. Não conheço quase ninguém disposto a parar de comer carne por razões ambientais, mas acho que ninguém (além das prefeituras) ia reclamar de ter mais árvores nas ruas e tratamento de esgoto.
Somir
Justo. Eu até acho que está na hora de parar de discutir aquecimento global por parecer que é uma escolha. Não chama de combate às mudanças climáticas, chama só de qualidade de vida e espalha pelos outros sistemas de poder público, com incentivos a ações que reduzam os danos e desconfortos do clima que JÁ mudou. Não precisa criar Ministério da Terra Redonda porque tem gente que acha que é plana.