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Somir Surtado: Relevante.

| Somir | | 81 comentários em Somir Surtado: Relevante.

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Notícia recente: O Youtube pretende reorganizar o seu sistema de comentários para evitar que continue… bom, que continue a merda terrível que ele sempre foi. FONTE. Sempre positivo quando tentam eliminar ruído excessivo da comunicação, principalmente na internet. Mas tem algo aí preocupante: o Google promete colocar os comentários mais relevantes em primeiro lugar. Como definir “relevante”?

Sempre acabo voltando para esse assunto: a internet já é o maior meio de comunicação do mundo. E já está suficientemente comercializada. A tendência é que o internauta ganhe cada vez mais a pecha de consumidor, e não de comunicador. Isso faz muita diferença… Consumidor a gente trata como alguém que tem algo que queremos, comunicador nem sempre.

Medidas como as que o Youtube soam como um mimo para seus usuários mais ativos, mas não deixam de ser mais uma estratégia comercial alinhada com o jeito Google de tratar propaganda. No que depender deles, você sempre vai ver informações e serviços que te interessam, sempre acompanhados de anúncios selecionados a dedo (digital) para maximizar seu potencial de consumo.

Uma das coisas mais chatas de propaganda é que você não tem quase nenhuma liberdade de provocar o potencial consumidor, a não ser, é claro, que essa provocação tenha a ver com fazê-lo sentir-se deslocado por não consumir o que você vende. Você está tentando vender, então tem que de uma certa forma concordar com tudo o que o potencial cliente pensar. Ele tem que se sentir seguro e disposto a abrir sua carteira.

E é esse “papo de vendedor” que cada vez mais contamina a grande rede de computadores. Pessoas cada vez mais seguras em seus feudos sociais, vendo apenas o que querem e conversando apenas com quem lhes é agradável. Ficar reforçando as ideias de uma pessoa num círculo vicioso de conteúdos e opiniões com certeza vende mais… Mas a que custo?

A internet ficou menor, por incrível que pareça. Temos milhões (bilhões?) isolados em suas zonas de conforto, num lance meio Idiocracy (lembram da cena da TV?), aterrados em satisfação barata e anúncios. Hoje em dia ganha fama em redes sociais quem é capaz de se aventurar fora desse domo e trazer conteúdo novo de volta. Só que infelizmente cada vez menos gente produz essa conteúdo por fora das redes sociais.

Há alguns anos atrás, todo mundo com uma conexão de internet tinha um blog. Eram merdas de blogs em sua bestificante maioria, mas estavam bem menos conectados entre si. Atualmente toda essa torrente de informação semi-inútil foi absorvida pelas redes sociais, com um porém: Agora tudo muito próximo, linkado com seu perfil real e ao alcance de familiares, amigos, companheiros e empregadores. O que não falta nesse mundo é gente sem noção, mas a maioria acaba se preocupando com o que comunica.

O truque foi oferecer a essas pessoas um tratamento de consumidor em troca da liberdade de expressão. O consumidor é especial, o consumidor sempre tem razão, o consumidor só faz o que quer! Desde, é claro… que consuma. Como é fácil ser relevante hoje em dia, não? Ter para ser.

Torço para que os comentários horríveis médios do Youtube melhorem consideravelmente depois que pessoas mais interessadas em seu conteúdo tomem a dianteira das piadinhas ruins, dos spams e das discussões babuínas sobre temas polêmicos. Para quem já tem opiniões mais bem formadas, mais “conteúdo” por assim dizer, é ótimo se livrar do excesso. Mas como podemos ver claramente pelos comentários atuais, essas pessoas são a minoria.

A maioria vai ver seu estrelato imbecilizante ruindo em mais uma das grandes redes sociais do mundo. E aí começa uma nova corrida por atenção. Não basta mais concatenar uma besteira de meia dúzia de caracteres e viver seus quinze segundos de fama, vai precisar se tornar “relevante” para os criadores de conteúdo. Se pensamento crítico é algo que faz parte de você, existem várias formas de conseguir isso. Se não, é melhor você concordar e puxar saco.

Afinal, é esse tipo de mentalidade que cada vez mais rege a internet: Os consumidores querem aprovação, os consumidores acreditam piamente que merecem essa aprovação, mesmo que tudo o que façam seja gastar dinheiro, seguir modas e confirmar expectativas de pesquisas de mercado.

Posso estar sendo comunista demais nessa crítica ao modelo de negócios vigente na internet, mas não é mera crítica ao consumo: é o esvaziamento da relevância do maior meio de comunicação de duas-vias que jamais se viu em nossa história. Assim que a internet virar algo análogo à TV, para onde vamos correr?

Quando relevância finalmente se tornar concordância, quando a privacidade for um “crime”, quando informação deixar de ser livre… Vai restar o quê? Um gigantesco shopping center? Eu concordo que é um saco ter que ficar escutando o ruído de adolescentes e imbecis (dá no mesmo) na minha internet, mas essa higienização pode deixar a rede ainda mais estéril.

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra… Aleatoriedade e estupidez anônima ainda funciona como uma ferramenta de catarse do espírito (de porco) humano. Uma lembrança constante de como o que a publicidade faz é te isolar da realidade, de como opiniões variam e de como pode haver mérito até mesmo na maior das bobagens.

Talvez o único alento seja a natureza humana. Jovens costumam rejeitar o modo de vida de seus pais e avôs. Já temos um movimento de adolescentes fugindo das redes sociais mais tradicionais, o Facebook já é “aquela coisa que até minha vó tem”. Contamos com vocês, aborrescentes. Quer dizer, assim que mandar fotos e vídeos de suas genitálias para completos estranhos perder um pouco da graça. Um pouco de estupidez talvez não faça tão mal assim…

Para pedir uma curtida no seu comentário, para dizer que está lançando um canal de vídeos, ou mesmo para dizer que gezuiz voutará: somir@desfavor.com

Comentários (81)

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