Somir Surtado: Supervalorização orgânica.
| Somir | Somir Surtado | 47 comentários em Somir Surtado: Supervalorização orgânica.

Orgânico é uma das palavras da moda. Podemos encontrá-la nas embalagens de diversos produtos elitizados, como um selo de garantia de que o quer que seja, é mais natural e saudável do que as outras opções industrializadas. Posso até conceder o ponto de que se livrar de agrotóxicos e substâncias químicas impronunciáveis em geral até parece uma aposta mais saudável… Mas, mais natural?
Sim, este é um texto espanta brasileiro médio, mas por que não aproveitar o momento para discutir uma distorção de valores que começa cada vez mais a interferir no rumo natural das coisas?
A mãe natureza tem seus méritos na produção de um intrincado ecossistema sustentando incontáveis espécies de seres vivos. Ainda mais numa bolha de prosperidade orgânica no meio de um universo onde basicamente tudo nos mata em questão de segundos. Seria nota 10 pelo resultado, mas vamos ter que descontar um pouco pelo método.
A metáfora dos macacos infinitos digitando aleatoriamente em infinitas máquinas de escrever é perfeita para descrever a forma como a natureza se organiza. Ela tenta basicamente TUDO e o que acertar, acertou. As centenas de bilhões de espécies extintas que nos precedem não me deixam mentir. Aprecio demais o que o processo orgânico conquistou até aqui, mas não sejamos inocentes: Somos todos resultados da primeira coisa que funcionou, seguidas e seguidas vezes.
A vida é um balde de tinta jogado contra uma tela que algum ricaço comprou por achar uma obra de arte. Já cansaram das analogias bestas? Eu não: O processo orgânico que nos permitiu a existência consciente é um apostador com muito mais sorte do que juízo. Ele precisou ganhar uma quase que improvável sequência de apostas para conseguir chegar onde está. E sabe-se lá se vai continuar com tanta sorte…
Pois bem: Orgânico é sorte, industrializado é juízo. Quanto mais essa supervalorização de tudo o que é “vindo da terra” se consolidar, mais colocamos nossa existência nas mãos do aleatório. Agricultura, pecuária, indústrias e laboratórios mexendo em basicamente tudo o que se criou pelo processo orgânico que é o natural. É o nosso natural. É o natural do universo, oras.
Essa sequência de eventos que possibilitou a vida é fruto de uma necessidade da natureza. O orgânico é o resultado de um arquiteto inconsciente, que apenas reage e segue o fluxo do tempo. Quando os humanos entram nessa jogada, coisas que jamais aconteceriam sem a nossa intervenção viram lugar comum. Aviões, arranha-céus, celulares… todos novos rearranjos da matéria que só são possíveis através de um processo evolutivo com – finalmente – alguém no volante.
Temos que ser mais inteligentes do que enfiar uma grossa camada de veneno por sobre nossos alimentos, e isso não é sinônimo de simplesmente parar de fazer isso. O que, por sinal, é muito próximo da minha opinião sobre testes em animais. É saudável almejar tecnologias mais eficientes e éticas, mas não é natural dar passos para trás nesse processo evolutivo “à parte” do que fazemos parte. Natural é seguir em frente. Natural é modificar geneticamente alimentos para que eles sejam mais benéficos e abundantes.
É isso que a natureza nos ensina: A nunca dar passos para trás. Se quer continuar vivo, o esquema é “vai ou racha” PARA SEMPRE. Não tenho mais saco para aguentar ecochato pagando de sábio quando não passam de becos-sem-saída evolutivos. Das duas uma: Ou essa gente chata vai sumir lentamente por falta de função ou essa gente chata vai conseguir seu objetivo final de extinguir a espécie toda por inércia contemplativa.
A natureza trabalhou duro, mas… puta que pariu… faltou uma supervisão no processo. É muita coisa pendurada junta num equilíbrio pra lá de tênue. Ficam falando que precisamos nos controlar para não interferir demais na natureza, mas pouca gente tem coragem de falar que temos o dever de corrigir muitas das besteiras orgânicas que só estão em vigor porque não tinha ninguém cuidando disso.
O corpo humano é uma máquina fascinante, mas não está tão otimizado assim. A estrutura quebra fácil demais, fibra de carbono funcionaria bem melhor que ossos. Uma pele mais elástica, resistente e resistente ao Sol faria bem. Grafeno no lugar de nervos também resolveria um monte de problemas. O que dizer dos rins? Filtro que não pode ser trocado não soa como uma grande ideia, não? A visão até que é boa (tirando a parte de enxergar no escuro), mas a audição e o olfato não são grande coisa. E o HD, processador e RAM? Logo logo ficam obsoletos e não vai dar para trocar. Estamos presos num Mac prestes a sair de linha, basicamente. Tem muito o que podemos fazer conosco, mas meu argumento não fica só aqui…
Pra que serve uma porra de um urso panda? Pra comer folha de bambu? Na natureza os pandas vivem uma MERDA de uma vida subnutrida. Se tivesse meio predador por perto, eles já estavam extintos há milênios! Mas, sejamos honestos, é um bicho estético. Muitos humanos ficam felizes só por ver o desenho de um deles. A natureza não estava lá muito sóbria quando fez esses bichos, mas acabou tendo uma utilidade para nós. Pegar esse bicho, engordá-lo com alimentos realmente nutritivos e tratá-los como bibelôs é a correção de uma distração orgânica. Nós demos significado para essa evolução aleatória.
O bicho não serviria para mais nada no universo não fôssemos nós. E nem me venham com essa de que nós também não. Conhece alguma outra espécie neste planeta capaz de terraformar Marte e enchê-lo de vida nos próximos milênios além dos humanos? Não? Nem eu. Se o objetivo principal da vida é se multiplicar para garantir sua manutenção, posso afirmar sem medo que nós somos a melhor aposta dela em anos e anos-luz ao nosso redor. E não vai ser uma desistência dos processos artificiais que vai nos fazer chegar lá.
Pense que a evolução é como um pai (bêbado a maior parte do tempo) que criou seus filhos para continuar sua linhagem. Pense agora esse filhos foram criados numa casa constantemente ameaçada por intempéries naturais capazes de matar todos eles em questão de horas. Não seria do interesse dele que os filhos fossem capazes de se mudar para vizinhanças mais seguras no caso das paredes começarem a cair? Nossa engenhosidade, nossa tecnologia e nossa ganância desmedida por exploração e satisfação são mecanismos NATURAIS de sustentação da vida a longo prazo.
Estou quase entrando no terreno do determinismo aqui, mas o artificial é a sequência óbvia do orgânico. É a solução do arquiteto inconsciente para seu problema de depender demais da sorte. Acho bisonho esse movimento de rejeição da evolução da vida com essa histeria sobre industrialização e destruição da natureza. Não estamos destruindo a natureza, estamos dando um jeito nela. Claro que não sem percalços e não sem flertar com desastres, mas não é esse o caminho da evolução? Pelo menos conosco há um método com objetivos a curto, médio e longo prazo.
Quando mais avançada uma forma de vida, menos orgânica ela se torna. Uma bactéria é uma solução bem mais simples e resistente no quadro geral do que um conjunto habitacional delas (o que, sinto te informar, somos nós, essa é meio que nossa função orgânica no mundo). Precisava fazer esse projeto todo só para continuar a vida? É o que eu tinha escrito naquela analogia do apostador: A natureza faz apostas cada vez mais altas e simplesmente torce para dar certo.
Se o orgânico não EVOLUIR para o artificial, um dia a banca ganha. Já é muita sorte ter chegado até uma forma de vida consciente e racional como o ser humano, está na hora de sair enquanto estamos vencendo. Nós dependemos disso. Viva as indústrias, viva os produtos químicos, viva os alimentos modificados geneticamente! E pau no cu dos micos-leões. Foi mal, mas já era um conceito cagado antes mesmo de chegarmos nesse planeta. O ideal é conseguir um meio termo e ir corrigindo esses problemas orgânicos enquanto estamos por aqui, mas se precisar escolher, é o artificial que vai garantir a VIDA nesse universo. Juízo, não sorte.
Novamente, entendo que menos agrotóxicos na dieta é uma coisa positiva, mas se a alternativa for envenenar nosso processo evolutivo, eu prefiro lavar um tomate dez vezes… O preço que vale a pena pagar não é o que inflaciona os preços dos produtos orgânicos.
E se não gostou do texto, sinta-se à vontade para ir abraçar uma árvore. Aquele abraço!
O texto é bom, mas beira o extremismo. Um dos maiores problemas da humanidade é o reducionismo…me dá alergia mental entrar nesse tipo de discussão.
O desafio é conciliar conhecimento técnico avançado com bem estar e equilíbrio social e ecológico. Vai demorar para chegarmos a Marte. O grande problema é que as massas não entendem que não é possível sustentar 7 bilhões de seres humanos a médio prazo sem tecnologia de ponta. E não se percebe que muito dos problemas da sociedade não são meramente científicos, são econômicos, sociológicos, políticos, filosóficos, psicológicos…e muitas vezes ciência paga a conta de tudo isso.
Sinto muito Somir, para tirar os agrotóxicos do tomate (nos níveis usados no Brasil) você teria que dissolver ele em solvente orgânico. Não sei se fica bom, mas creio que não. Enfim, um agumento-exemplo a favor de alimentos orgânicos, bem aqui ao lado (tem muitos estudos desse tipo no Brasil):
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/892662-estudo-aponta-agrotoxico-em-leite-materno-em-mt.shtml
Mas a questão dos orgânicos é interessante só por que precisamos de mais consciência e controle sobre como e para que produzimos nossos alimentos, só isso. Na verdade precisamos de mais consciência sobre como produzimos e consumimos tudo. E é óbvio que não vai dar pra produzir arroz, feijão, soja, cana de açúcar, laranja e café orgânicos para todos. A massa vai continuar consumindo high tech food, por que é mais barato.
A grande questão é que o mundo ocidental moderno ainda não conseguiu uma definição individual de felicidade diferente de pança cheia, orgasmo ou poder.
Só que tem o problema do “efeito halo” ai também.
De forma geral concordo com você. Só acho que tem dois assuntos misturados no texto original: orgânicos e transgênicos.
Gosto mais de orgânicos do que dos “normais” por questão de gosto mesmo. Perto de casa tem uma feira, tudo ótimo e com preço excelente. Os restaurantes da região tb são abastecidos por esses produtores. Já é relativamente fácil produzir orgânicos em larga escala e cada vez mais temos alternativas biológicas ou químicas mesmo para os agrotóxicos tradicionais, que além de causarem problemas de saúde, são de difícil manuseio e descarte.
Agora… transgênicos dão muito pano pra manga. As pessoas tem medo do que não entendem… E esse sim, no meu ponto de vista, pode mudar o patamar de produção do país. Criar tomates naturalmente resistentes a pragas ou macieiras que produzem duas vezes mais maçãs que as “naturais”. Isso é evolução das boas! Evolução genética é futuro.
Sugiro um assunto pouco conhecido na Brasil, mas que está chegando de fininho por aqui: fratura hidráulica.
Ah, estou sabendo, Michelle… Seria o caso de tentar fazer extração de petróleo dentro da área do Aquífero Guarani, isso? (A falta d’água agora aqui em Ribeirão Preto manda lembranças.)
Exatamente. Tinha visto um documentário na HBO e fiquei perplexa com os impactos na água e terremotos em lugares onde nunca aconteceram. Em determinado momento mostraram um mapa que aponta os lugares passíveis de serem explorados, um deles exatamente sobre o aquífero Guarani. Já estão estudando para começar a exploração no Brasil, e o assustador é que ninguém sabe disso, e não me admira que logo apareça num globo repórter da vida, uma reportagem sobre esse “maravilhoso” método de exploração de gás.
Já vi reportagens por aí ressaltando a importância dessa ‘maravilhosa’ técnica e BM fazendo manifestação para a Petrobrás começar logo a bagaça….
Mas pausa para um aplauso para o Cidades e Soluções por essa abordagem do tema: http://g1.globo.com/globo-news/cidades-e-solucoes/platb/2013/05/02/inedito-gas-de-xisto-problema-ou-solucao/
Tema para ser aprofundado… é alarmante.
O documentário da HBO se chama GASLAND.
Não é só por ser mais saudável, mas é muuuito mais gostoso! Uma vez vi no supermercado um café solúvel orgânico que foi a coisa mais gostosa que já experimentei na vida. Parece que o sabor fica puro, não sei explicar mas só não compro tudo orgânico porque é mais caro. Até essa marca de café sumiu da prateleira, não deve ter tido muita venda por causa do preço.
Todos os legumes, hortalicas, frutas, tem sabor, cor, e a gente sente muita diferenca para melhor.
Concordo. Pra mim, os exemplos mais gritantes são os ovos e os tomates. Cresci comendo ovo caipira e tomate plantado no fundo do quintal. A gema do ovo caipira é mais amarelinha e muito mais gostosa, a do ovo de granja é horrível, esbranquiçada e sem gosto. O tomate convencional tem gosto de remédio, o orgânico é um delícia.
Por enquanto, eu moro em cidade do interior e consigo comprar 80% de orgânicos. Às vezes, sai até mais barato do que o convencional. Ou de graça. Se um dia isso não for mais possível, não vou abrir mão do tomate, dos ovos, peixes, pimentão e milho orgânicos (caipira, no caso dos ovos). Prefiro ficar sem!
Eu espero (ansiosamente) o dia em que todas as comidas vierem em cápsulas,drageas, só pingar uma gota de água e está pronto.
Soylent => http://www.youtube.com/watch?v=t8NCigh54jg
Sally e Somir
Já viram o e-mail que mandei pra vocês? O assunto é de cair o cu da bunda e pode render post aqui.
Ainda nai vi…
Assino embaixo deste texto. Um dos melhores já lidos aqui. Mas tenho que dizer que apoio algumas “saídas” orgânicas.
Por mais que pareça que estamos voltando à estaca 0, podemos estar em um tipico caso de “dar um passo para trás para dar dois à frente”. Um grande exemplo disso é de como cada vez mais a medicina evolui e mais doentes ficamos. (?)
Talvez se dessemos uma chance para tratamentos “naturebas” as coisas se clareassem mais. Já ouvi falar de remissões de câncer após a pessoa ingerir grandes quantidades de Vitamina C e zero quimioterapia. Alguns nutrientes inibem apenas as células cancerosas, já a quimioterapia agride todas, saudáveis, fodidas, mais ou menos fodidas…
O orgânico neste caso pode ser uma aposta a uma nova vida saudável e mais prolongada, ou não. Mas tudo tem limite e levar isso como um tipo de religião só nos levarão ao desastre (Laboratório Royal Feelings)
Oq fez e está fazendo o homem viver mais afinal? Pq pioramos nossa alimentação e ficamos mais doentes.
Ao passo que preocupamos mais com a saúde no quesito da exercitação e do emocional também, que seguramente interfere na longevidade.
Nossos antepassados mais próximos claramente tiveram uma saúde melhor que a nossa. Aonde isso vai dar?
Procure por Ray Kurzweil, futurista do Google. Eles estão criando uma empresa para isso, a Calico. Perceba a quantidade de suplemento que o cara toma para sobreviver aos proximos 40 anos, quando a singularidade sera atingida e iremos transferir nossa consciência para maquinas, segundo ele.
O que me leva a crer que pode acontecer, pq o cara vem acertando 99% do que previu desde 1990.
Outro assunto correlato: não tem muito a ver com o tema do post, mas também não é 100% discrepante. Acho que já mostrei este link antes, mas vale rever o que o George Carlin fala sobre essa história de “Salvar o Planeta”. Gosto muito deste vídeo e já mostrei pra alguns ecochatos que vieram me pentelhar… Eis o link:
http://www.youtube.com/watch?v=X_Di4Hh7rK0
Nossa…que novidade isso.
Isso é coisa de gente nova no blog, e vc não é novo por aqui. Pega leve.
OK, Jamorreuenemsabe… Entendi. Mas eu disse Acho que já mostrei este link antes, mas vale rever no meu comentário…
Sally estava eu vendo notícias quando me deparo com essa notícia. http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2013/11/noticias/cidades/1467555-incrivel-dois-anos-depois-lanche-do-mcdonald-s-continua-do-mesmo-jeito.html
Curioso por não comer no cancerdonald a muito tempo, fui olhar, e me deparo com o site da pessoa que tirou as fotos.
http://www.sallydaviesphoto.com/index.html
Pronto, descobri onde Sally se esconde.
Voce descobriu minha verdadeira identidade!
Esse projeto é meio besta, busca de publicidade pura. Tá na cara que o negócio ressecou. Sem água não há vida. Antigamente (quando não havia geladeira) as pessoas deixavam a carne mergulhada na banha, para não estragar. E que comida é essa que nem os microorganismos degradam? O mesmo vale para o azeite. Se você deixar um pão seco fora da geladeira ele não estraga nem a pau. Mas se você guardar no saquinho, mantendo a umidade, ele mofa rapidinho. O projeto mostra que os conservantes seguram a barra até o negócio secar, tipo uns dois dias, só isso. (Tecnicamente falando, as enzimas digestivas que os organismos usam para degradar a alimento são hidrolases, ou seja, usam ÁGUA para destruir o alimento quimicamente, assim ele pode ser absorvido. Sem água, nada feito.)
Ah! Olha aí a reprodução do texto do Estadão:
” Ecochatos, não. A onda agora são os Scuppies, os novos “verdes”
Esqueça a figura do bicho-grilo em roupas puídas e com aversão ao banho. Também enterre o conceito do ‘ecochato’ panfletário. Os novos ‘verdes’ são jovens profissionais bem-sucedidos e antenados nas últimas novidades do consumo – socialmente responsável, é claro.
Eles são os scuppies, a última palavra em comportamento de consumo e mais nova tribo que começa a ganhar espaço nas grandes cidades. Scuppie é a sigla para Socially Conscious Upwardly-mobile Person”, algo como “pessoa socialmente consciente e em ascensão social” – (a tradução aqui pode variar, e agradeço aos leitores pelas colaborações!).
Quem inventou a expressão foi o americano Chuck Failla, um executivo do mercado financeiro que já está capitalizando em cima da nova “filosofia” – além de um site onde conta tudo sobre a tendência, Failla está prestes a lançar um “Manual do Scuppie”, que ao que parece, tem tudo para virar best-seller.
O scuppie é o cara que não abre mão do conforto e das facilidades tecnológicas, desde que o rótulo ‘ecofriendly’ esteja embutido em suas compras. Dirigem carros híbridos, fazem compras na Whole Foods (rede de varejo especializada em orgânicos e produtos naturais em geral), só vestem roupas de fibras naturais – cânhamo vale – e trocam as fraldas descartáveis dos filhos pelas de pano (humm, será?). A mesa do escritório é de mogno certificado e o café – da Starbucks – é de programas de comércio justo. São consumistas sim, mas é tudo – ou quase tudo – “pelo bem do planeta”…
Business as usual
Essas tipificações auxiliam um bocado o trabalho dos publicitários, e não poderiam ter nascido em outra pátria senão os EUA – quem não se lembra dos hippies e yuppies? Mas estereótipos à parte, o chamando consumo verde (green consumerism)ganha espaço e críticas na mesma proporção mundo afora. “O consumo verde é uma contradição”, diz Paul Hawken, um dos mais renomados pensadores da sustentabilidade, autor dos livros “Capitalismo Natural” e “A Ecologia do Comércio”. Apesar das vantagens das lâmpadas fluorescentes e da comida orgânica, o que se vê é o mesmo estímulo ao consumo ‘business as usual’, mas com aquela maquiagem ecologicamente correta.
Ao mesmo tempo, já começam a ganhar espaço grupos que estão se engajando em movimentos anti-consumo.”
Concordo com boa parte do que o Somir disse. Por ter entendido errado – e peço desculpas antecipadamente se realmente estiver falando besteira – , mas com estes trechos em especial:
“Temos que ser mais inteligentes do que enfiar uma grossa camada de veneno por sobre nossos alimentos, e isso não é sinônimo de simplesmente parar de fazer isso. (…) É saudável almejar tecnologias mais eficientes e éticas, mas não é natural dar passos para trás nesse processo evolutivo “à parte” do que fazemos parte. Natural é seguir em frente. Natural é modificar geneticamente alimentos para que eles sejam mais benéficos e abundantes.”
“(…) Acho bisonho esse movimento de rejeição da evolução da vida com essa histeria sobre industrialização e destruição da natureza. Não estamos destruindo a natureza, estamos dando um jeito nela. Claro que não sem percalços e não sem flertar com desastres, mas não é esse o caminho da evolução? Pelo menos conosco há um método com objetivos a curto, médio e longo prazo.”
“(…) entendo que menos agrotóxicos na dieta é uma coisa positiva, mas se a alternativa for envenenar nosso processo evolutivo, eu prefiro lavar um tomate dez vezes… O preço que vale a pena pagar não é o que inflaciona os preços dos produtos orgânicos.”
Ele me parece ter exposto bem seu ponto de vista e mostrado o cerne da questão.
Ah! E este não tem exatamente a ver com o tema do post, mas também não deixa de ser um assunto correlato: já ouviram falar de “Scuppies”? Eu nunca, até hoje. Motivado pelo post de hoje, fui dar uma lida em outros sites sobre temas relacionados e achei um textinho antigo – de 2008 – no Estadão que explica o que é isso. O nome vem da sigla em inglês para “Socially Conscious Upwardly-mobile Person”, algo como “pessoa socialmente consciente e em ascensão social” . Basicamente, no entanto, “Scuppies” são pessoas que fazem questão de só comprar produtos “ecofriendly” sem deixar de ser consumistas. Às vezes, acho que o próprio conceito de “ecofriendly” – ser ou comprar produtos assim – é apenas mais um modismo ou uma tentativa boba de se sentir superior e/ou conseguir algum status. O texto do Estadão é de 2008, mas a onda dos “Scuppies” ainda está por aí. Tem até um “site oficial do movimento” neste link:
http://www.scuppie.com/home.html
E pra entenderem melhor o conceito de Scuppie, eis aí uma imagem que vale com um VISUAL GUIDE da coisa (em inglês):
http://www.scuppie.com/images/555_Handbook_cover_5.JPG
W.O.J., os Scuppies entram bem naquele contexto de “mercado de nicho” que citei aqui. Sabendo lidar com as peculiaridades desse grupo em específico (que bem ou mal tem o seu poder de influenciar decisões de “consumo”) dá para tirar bem em termos de valor agregado em cima de tal mercado.
Alguns tendem a se manter. Outros, com o peso do ônus de manter o custo de vida dentro da linha pré-estabelecida, tendem a flertar com a onda apenas temporariamente. Num ambiente de base competitiva como o nosso, saber direcionar para esse público pode fazer a diferença entre a vida e a morte de um negócio.
Obrigado por esse texto, Somir. Você conseguiu colocar em palavras algumas coisas que giravam pela minha cabeça há algum tempo.
Aqui no Desfavor se fala muito de grupos de intocáveis como os deficientes físicos, negros ou mães de crianças com síndrome de down, mas a natureza é a maior intocável de todas. É incrível como alguns amigos que tenho conseguem concordar comigo em tudo, exceto quando o assunto é a “natureza”.
As pessoas ainda acham que a natureza é algum tipo de deus indígena que sabe tudo e tudo sabe, que toda a arquitetura orgânica que nos cerca foi algo minimamente pensado nos primórdios dos tempos e que nosso trabalho aqui é preservar tudo isso pra quando o Big Freeze chegar.
É claro que é péssimo que cachorrinhos sejam usados em pesquisas e nossas investidas em alguns lugares prejudicam alguns ecossistemas, mas hey: hoje a gente vive 3x mais que os bisavós dos seus bisavós e, com um pouco de sorte, seus netos vão poder usar nanotecnologia para reparar qualquer problema genético e viver uns 150 anos (e aí vai nascer outro problema, mas é pica pros outros resolverem).
Até concordaria se o pensamento da humanidade fosse a evolução, mas não é, então corre o risco de não conseguirmos sair daqui a tempo.
Somir, achei interessante a sua apologia do contraponto, mas fiquei surpreso de você não notar a trollagem por trás dessa parada de orgânicos (ainda mais considerando que você é publicitário).
Em cima do produto dito orgânico, o trabalho feito é um marketing de “AGREGAÇÃO DE VALOR”, com o objetivo de tirar vantagem financeira em um mercado de nicho que se dispõe a pagar mais para “se ver livre” seja dos “transgênicos”, seja dos “agrotóxicos”.
Mas esse pessoal no geral não tem know-how suficiente para saber se um produto realmente é “orgânico”, confiando ai na palavra do fornecedor, que pode muito bem se utilizar de meios fraudulentos para assegurar a certificação de seus produtos e ter maiores resultados nisso de forma ilicita.
É verdade meios de se detectar se sobre o produto teve o uso de agrotóxicos (o que desconfiguraria o suposto cultivo “orgânico”) ou mesmo se a planta é de uma cepa geneticamente modificada (o conhecido “transgênico”), mas isso é um recurso acessível apenas a aqueles que tem o devido conhecimento específico na área, sendo que boa parte dos pretensos defensores da natureza que se fiam nos “orgânicos” estão longe de se preocupar com tal questão (a não ser quando provocados, mas isso é algo para ser testado mais adiante… HAHAHA!).
Em suma, é o velho princípio de DIFERENCIAR MELHOR PARA EXPLORAR MELHOR. “Orgânico” é uma grife “positiva” (no sentido de agregação de valor), enquanto que “transgênico” é uma marca “negativa”.
Muito do marketing em torno dos “orgânicos” ganhou impulso justamente em cima da preocupação (no geral, mais emocional do que racional) com a questão dos transgênicos, o que no fundo é a velha “guerrinha” de “bem contra o mal” que já é clichê na nossa história.
Deveria ter colocado no lugar do Mas esse pessoal no geral o termo Mas o público médio em geral.
Concordo com a análise do Mark! A manipulação discursiva que há pra cima das pessoas em relação à essa ideia de transgênico como algo negativo e orgânico como algo bom, é uma coisa que deve ser analisada. Por um lado, penso que é realmente necessária tal manipulação discursiva para o empreendimento do marketing funcionar; mas por outro, as pessoas também não tem capacidade cognitiva pra certas interpretações e acabam virando “eco chatos”.
Falhei na hora de passar as ideias aqui pro computador, sendo que agora vejo que faltou ligações para dar coerência ao texto, mas foi uma anotação que registrei como comentário. Que bom que você bem ou mal entendeu a síntese do que quis colocar, no sentido de que esse seria um ótimo assunto para a coluna Publiciotários.
Mark, por favor, dá uma olhada na reprodução do texto do Estadão sobre os tais “Scuppies” que pus lá em cima e me diz o que você acha…
Achei um ponto de vista interessante, que complementa bem o que eu falei aqui. ;)
Sou fã de produtos orgânicos, mais propriamente da agricultura natural, estudei o tema para eventualmente entrar no ramo mas, realmente, se todos comessem alimentos de produções alternativas, grande parte da humanidade morreria de fome até chegarmos a uma população compatível com essa produção bem menor. Mesmo porque, para uma propriedade convencional se tornar apta a métodos de cultivos desprovidos de fertilizantes e adubos orgânicos ( = merda), pode-se levar cinco anos para a obtenção de resultados satisfatórios.
Quanto ao tema dos alimentos, eu vejo tudo isso como uma questão de mercado: as pessoas tem o direito de adquirir produtos sem agrotóxicos, sem modificações genéticas programadas etc. Se o querem, e pagam por isso, não vejo maior conflito. As opções humanas são variáveis e o sistema de mercado é o que, dentre os inventados, permite melhor o equilíbrio de oferta e demanda entre todas. Quando não existe a questão de mercada envolvida, determinada pela vontade do consumidor em sortir-se de tais ou quais alimentos produzidos conforme tais ou quais processos, o uso de tecnologia já é largamente predominante, como no desenvolvimento de novas variedades de cana para a produção de etanol, ou de novas variedades de eucalipto, para a celulose.
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Quanto ao argumento geral do texto, a questão maior me parece ser o limite ético da intervenção humana na natureza. A histeria orgânica que atravanca a compreensão pública da tendência de evolução do natural para o artificial, e até mesmo de sua necessidade, é a forma desta substância que, em minha opinião, perfaz o verdadeiro problema. Se existisse um acordo político e social a respeito do tema, não haveria problemas, a menos que se entendesse que não poderia haver limite nenhum, obviamente.
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Eu não tenho opinião sobre isso, já que não tenho uma “lógica” na minha cabeça que oriente minhas respostas sobre a matéria. Vou ser mais específico: estou vibrante com o projeto de seres humanos irem para Marte numa viagem sem volta, mesmo sabendo que o risco de fracasso na empreitada é altíssimo, e que isso implica prejuízo de vidas humanas. Por outro lado, a idéia de clonagem humana, por exemplo, me incomoda profundamente; penso em um ser humano clonado repleto de defeitos, uma espécie de Joseph merrick da modernidade.
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Isto é lógico? Acho que não. Neste debate, minha posição é a de um clássico BM.
Na verdade eu concordo com o que o Eckhart trás. Fiquei matutando sobre o lance dos cachorros resgatados da Roval, e me veio na cabeça: pra que tanto “furdunço” justo agora? SEMPRE fizeram isso com animais! SEMPRE! E somente agora decidiram “se revoltar”. Acho isso mais uma tentativa de marketing pessoal de um grupo de pessoas, do que propriamente uma filosofia de vida.
Conheço pessoas que se alimentam realmente de forma natural, no sentido puro e estrito da palavra, e por conta disso, precisam complementar a alimentação com – PASMEM – complementos vitamínicos. Mas uai, os complementos vitamínicos tem que ser testados antes de irem para as prateleiras das farmácias, não? Sei lá, é uma lógica que não cabe na minha cabeça.
Teve uma época que eu até tentei cortar a carne vermelha, por opção mesmo, fiquei no máximo 6 meses sem comer, substituindo por soja. Passei uma semana comendo soja, o restante do tempo comi frango…hahaha. Não tem jeito. Por mais que tentem argumentar comigo que o ser humano não foi feito para comer carne, que não foi feito para comer à noite, etc, isso foi no início de sua evolução. E para isso, até posso indicar “A Evolução das Espécies” de Darwin. Que aliás, compactua com tudo que o Somir falou no texto… O forte vence o mais fraco, e o mais fraco, para sobreviver, se fortifica, se modifica, etc…
Quando eu comento que o mundo tá ficando muito estranho pra mim, é por causa de coisas como essa. Agora, da mesma forma que, por um lado a evolução exige essas modificações, por outro, eu acredito ser necessário um pouco de consciência coletiva para a preservação mínima da natureza… Digo isso referente à Floresta Amazônica. Não apenas pela sua importância ambiental, mas pela diversidade de fauna e flora. Plantas, raízes e animais que podem nos mostrar caminhos para nossa própria evolução estão contidas nessa floresta, que se pararmos para pensar, não tem evolução no mundo que valha o sacrifício e o extermínio generalizado que lá ocorre.
Posso até estar falando besteira, sei lá… mas se por um lado a evolução pede, por outro a sobrevivência também… ser comedido e equilibrado nunca fez mal a ninguém..:)
O atentado aos Beagles foi pago. É óbvio demais, questão de tempo até vir a tona.
Gostei.
Se for parar pra pensar sobre a alimentação agora, não dá pra deixar de falar da seleção que a humanidade fez entre as variedades de alimentos e as formas deles.
é só pensar nas maças, nas castanhas e na infinidade de alimentos que foram “refinados” pela natureza e pela seleção dos exemplares mais agradáveis.
A humanidade refina seus alimentos desde sempre, com as armas que tem.
Não existe motivo para evitar melhoramento genético em alimentos (desde que não façam a vaca agradecer por ser comida), a diferença é que antes o humaninho escolhia as sementes das maças mais doces e levava pra sua casa, depois começou a escolher as castanhas mais saborosas, e agora já pode criar pseudofrutas resistentes a congelamento,
é o fluxo natural das coisas seguir evoluindo,
Se bem que o importante mesmo não é correr, o importante é sair do lugar
p.s. Feliz aniversário Rorscharch
O cu do Somir é orgânico?
Não sei, me diz você, porque eu não cheguei nem perto…
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK Tem que zoar mesmo esses loucos de pedra.
Somente no Desfavor eu encontro um texto que finalmente revela a inutilidade do panda.
Amo vocês.
Mas infelizmente, acho que nessa briga, os ecochatos ganham cada dia mais espaço. E a racionalidade comprovada e útil, perde cada vez mais seu valor…
Ainda estou aguardando o resgate do FOKS TERRIÊ