Skip to main content

Colunas

Arquivos

Roger Abdelmassih

Roger Abdelmassih

| Sally | | 106 comentários em Roger Abdelmassih

Novamente venho aqui lançar uma dúvida, esperando que vocês me ajudem a encontrar uma resposta que não tenho. Talvez já tenha perguntado isso antes, mas é um caso tão ilustrativo que vou trazer o assunto à discussão novamente: Roger Abdelmassih.

Para quem não sabe, Roger Abdelmassih foi um médico famoso (desde 2011 ele perdeu seu registro), especializado em reprodução humana. Atendia em seu consultório dezenas de famosas e foi um dos pioneiros na fertilização in vitro no Brasil. Famosos MESMO, desde a esposa do jogador de futebol mais famoso do mundo até a esposa de um ex-Presidente da República.

Há mais de dez anos ele vem sendo acusado de abusar sexualmente de suas vítimas enquanto elas estão sob efeito de sedativos, o que perante a lei brasileira configura estupro. Não que seja necessária uma lei para que possamos perceber o quão errado é, estou apenas organizando os fatos para quem não conhece a história ou a lei.

Mulheres começaram a denunciá-lo, mas ele tinha fama e prestígio, atendia globais, modelos e mulheres ricas, pairava sobre ele uma presunção de competência. Muitas que o denunciaram tiveram que engolir por mais de dez anos o desaforo de serem desacreditadas por tudo que o dinheiro e a fama podem comprar no Brasil.

Ele se defendia alegando estar sendo vítima de pacientes insatisfeitas, frustradas ou até mesmo de armação de “concorrentes”. Sua impunidade durou tempo suficiente para que hoje a imprensa estime que ele possa ter feito cerca de VINTE MIL vítimas. Mas se você pensa que a monstruosidade parou por aí, respira fundo que vem mais.

Não contente em estuprar pacientes sedadas, incapazes de se mover mas capazes de sentir o que estava acontecendo, Roger Abdelmassih também deixou um toque pessoal nas fertilizações que fez, e não foram poucas. Gradativamente as mães que o procuraram para fazer inseminação artificial estão descobrindo, décadas depois, que seus filhos não são de seus maridos. Muitas preferem nem saber, outras não falar, mas há um grupo que está denunciando abertamente. Uma grande incógnita tenebrosa paira na vida de quem já foi paciente dele.

Aparentemente ele inseminou suas pacientes, ao menos algumas delas, com o sêmen de outro homem que não o de seu marido. Talvez o dele. Pior do que descobrir que o filho não é seu, é descobrir que o filho é seu com o seu estuprador. Imagino quão terrível isso seja para as mães e os pais dessas crianças. Ou melhor, não imagino não, não dá nem para tentar me colocar no lugar dessas pessoas, só elas sabem o que estão passando.

Conheço uma mãe que foi mãe pelas mãos de Roger Abdelmassih e constatou através de um exame de DNA que não é filho do seu marido. Não é especulação, é uma realidade que muitas mulheres estão vivendo nesse exato momento. Também sei de casos onde o filho não é nem da mãe nem do pai que procuraram pelo médico-monstro.

Roger Abdelmassih foi julgado, condenado e sentenciado a 278 anos de prisão pelos estupros que conseguiram provar, tantos anos depois do crime ocorrido. Provados, foram “apenas” 52. Digo “apenas”, com muitas aspas, porque 52 é um numero baixo quando comparado a 20.000.

Pasmem, apesar da condenação, apesar de tudo, o Ministro GILMAR MENDES, do STF, lhe concedeu o direito de recorrer em liberdade. O Ministro GILMAR MENDES (porque essas pessoas tem que ser citadas, com nome e sobrenome) decidiu deixar em liberdade um psicopata rico. O que aconteceu? O óbvio, ele fugiu. E em algum lugar, pessoas dizem “Tá vendo? A lei brasileira é um porcaria”. Vai por mim, na maioria das vezes a culpa é de quem a aplica, melhor dizendo, de quem não a aplica ou a aplica errado.

O advogado que o defende é ninguém menos que o ex-Ministro da Justiça do Governo Lula, o Dr. Marcio Thomaz Bastos. Só para vocês saberem, Roger Abdelmassih foi preso, mais ainda é possível recorrer pedindo sua liberdade novamente. Não custa nada informar que Roger Abdelmassih foi preso três anos após sua fuga, vivendo uma vida de luxo no Paraguai.

Diante do breve resumo da história, muito mais açucarado do que a versão nua e crua que eu ouvi, pergunto a vocês: faz o que com um cara desses?

Lógico que o primeiro impulso de todos nós é querer matar uma pessoa assim. O grau de monstruosidade do que ele fez leva a presumir que seja uma pessoa irrecuperável. Em todo caso, independente do que eu acho, a própria ciência é unânime em dizer que psicopatia não tem tratamento. Só no seriado Dexter um psicopata ganha um coração no final.

Porém o que esquecemos na hora da raiva é que não estamos falando apenas deste caso concreto. Matar Roger Abdelmassih abre as portas para algo muito maior: o Estado poder matar abertamente quem não segue suas regras. Não tem como matar só ele e depois desfazer, voltar a ser um país sem pena de morte. Abre-se uma porta perigosa, onde hoje, amanhã ou depois, o acusado pode ser você, em um sistema injusto e desorganizado.

Prisão perpétua também não pode, porque a Constituição proíbe. Não que ele vá viver para cumprir mais de 30 anos de prisão, mas supondo que fosse o caso, supondo que um médico de 25 anos fosse flagrado fazendo coisas do tipo… Dói saber que a pessoa vai sair, dói saber que a pessoa vai sair com a ficha limpa, como réu primário, que se apagam do mundo jurídico todos esses crimes cometidos, que tem consequências eternas na vida das vítimas.

Ao mesmo tempo também causa revolta saber que pagamos, com nossos impostos, mais de mil reais por mês para bancar a cadeia desse sujeito. Na verdade, esse dinheiro não vai para o sistema penitenciário, que está falido e precário, vai para o bolso de quem o administra. Mas ainda assim, é tempo, espaço e dinheiro que o Estado gasta com esse monstro, enquanto não tem hospital para atender crianças que estão morrendo.

Não que Roger Abdelmassih não mereça morrer. Nós é que não merecemos ficar nas mãos de governos corruptos que agem sempre visando interesses escusos, tendo eles licença para matar.

Uma terceira opção seria internar Roger Abdelmassih em uma instituição similar a um manicômio judiciário, caso se comprovasse que ele é um doente mental. Não tenho conhecimento técnico para afirmar se ele tem uma doença mental, mas não faz diferença, porque no Brasil esses lugares praticamente não existem e liberam gente a rodo anualmente atestando que estão aptos a viver em sociedade de forma leviana, porque precisam liberar vagas.

Então, pena de morte, prisão (perpétua ou não) e internação em manicômio judiciário não me atendem. Não me venham com essas respostas, porque essas eu já tenho e não me servem. Podem criar um novo sistema do zero, inclusive um novo sistema prisional, mas sejam realistas, tem que ser algo que possa ser aplicado no Brasil. O que fazer hoje, no Brasil, com um sujeito desses?

Você pode estar se perguntando porque prisão não me serve. Bem, em um sistema como o brasileiro, onde se propõe a ressocialização do preso (e por isso são soltos em curtos períodos de tempo após a prisão, pois se presume que a cadeia os melhorou) não há espaço para as barbáries cometidas nas cadeias brasileiras. As pessoas saem piores do que entraram. O sistema penitenciário brasileiro faliu faz décadas e é urgente encontrar uma alternativa para ele. Prender é submeter criminoso a tortura e barbárie e logo depois soltá-lo cheio de rancor e traumas.

Pensei em vender todos seus bens e jogá-lo em uma ilha deserta, proibindo-o de sair e voltar ao Brasil, mas depois percebi que isso é mais recompensa que castigo. Também pensei em vender todos seus bens e dividir o valor entre suas vítimas ou até mesmo todas as suas pacientes. Mas isso não seria o bastante. É preciso tirar uma pessoa dessas do convívio social. Mas como, se o atual sistema hipócrita presume que a cadeia vai te aprimorar como ser humano e te solta pouco tempo depois de preso? E mesmo que não, até que ponto ficar pagando por um espírito sem luz desses é viável?

O problema é que quando a gente pensa no que fazer com ELE, com Roger Abdelmassih, pensamos tomados pela raiva e por uma série de outros sentimentos negativos mais do que justificáveis e esquecemos que na verdade estamos definindo que tipo de sociedade queremos ser. Você confia na Presidente da República e no Judiciário a ponto de dar a eles licença para matar? Eu não.

Não consigo pensar em mais nada, talvez por estar acompanhando de perto o estrago que esse monstro fez na vida de uma pessoa. Alguém consegue pensar em uma solução que não nos coloque em risco de vida e que ao mesmo tempo puna de forma eficiente esse monstro?

No atual Judiciário não há esperança, já o soltaram uma vez e não duvido nada que o soltem uma segunda, ainda que cobrando um pouco mais. Mas falar mal da lei é fácil, difícil é surgir com uma ideia inovadora melhor do que a lei que já existe. Se fosse fácil não estaria no Desfavor. Botem a cabeça para pensar e vamos tentar descobrir algo que possa ser feito DENTRO DA REALIDADE ATUAL DO BRASIL.

Vale tudo, é brainstorm. Qualquer sugestão é válida. Mas antes deixa eu passar para vocês algumas diretrizes mínimas sobre penas em ambientes civilizados e sua eficiência, aquelas informações que não estão nos livros, apenas na cabeça dos que estudaram muito.

Não precisam estar todos presentes, mas quanto mais requisitos presentes, mais eficiente é a medida.. Várias medidas podem ser adotadas em conjunto. Montem para mim uma solução dentro destes limites, uma solução que:

1) Configure uma medida que assuste quem está pensando em cometer esse tipo de atrocidade e desencoraje a pessoa a fazê-lo
2) Configure uma punição para o criminoso porém sem colocar sua integridade física, dignidade ou vida em risco, que eu não endosso uma barbárie pelo cometimento de outra
3) Configure uma medida que de alguma forma busque reparar os danos que ele causou e/ou prevenir que outras pessoas cometam esses mesmos danos
4) Configure uma medida que possa de alguma forma permitir que o criminoso melhore e seja reinserido de forma funcional na sociedade
5) Configure uma medida que não onere muito o Estado, porque vai desculpar, criança passando fome e morrendo por falta de hospital é sim prioridade

Eu não consigo pensar em nada além de “Tem que matar um filho da puta que faz uma coisa dessas”, mas eu não tenho o distanciamento necessário no momento. Sei que é errado (ainda que compreensível), por isso peço a ajuda de vocês. Não riam, grandes avanços na história se deram assim, com um grupo de pessoas reunidas fazendo um brainstorm, cogitando centenas de besteiras até chegarem a uma ideia-base boa que foi desenvolvida com a ajuda de todos. Pode ser que estejamos fazendo história aqui.

Desculpa, hoje não tem resposta para vocês no meu texto. Apenas pergunta: o que fazer com uma pessoa dessas?

Para falar em prisão perpétua, pena de morte ou outras medidas que eu mesma já disse que estão descartadas e não acrescentar nada, para dizer que eu ando exigindo muito dos seus neurônios ultimamente ou ainda para maldizer a hora que te tomaram Siago Tomir, o alívio cômico do blog: sally@desfavor.com

Comentários (106)

Deixe um comentário para @ Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.