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Debatidos.

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| Somir | | 53 comentários em Debatidos.

Ontem aconteceu o primeiro debate entre os candidatos à presidência do Brasil. Eu vi por dois motivos: primeiro para tentar saber em quem eu votaria no primeiro turno, segundo porque eu sei que ninguém mas viu e tudo o que vão ler sobre o assunto vem das matérias “chapa branca” de jornais e portais por aí. Um desfavor de análise: só aqui!

Evidente que quase tudo girou ao redor dos três primeiros colocados nas pesquisas. E com o debate de hoje, a bomba da última pesquisa do Ibope, colocando Marina MUITO em segundo lugar. Não é para me gabar (mentira, claro que é), mas… eu disse: passando o Aécio uma vez nas pesquisas ela ia embora em busca da Dilma. Os resultados influíram diretamente na postura de cada candidato. Aécio em estado de alerta total (se bem que pode ter sido outra coisa que o deixou ligado), Marina em sua inépcia contemplativa (em time que está ganhando…) e Dilma sentindo a água batendo na bunda (eu ESCUTEI os palavrões mentais dela).

Mas para falar só dos três e do discurso planejados por seus marqueteiros qualquer estagiário de jornalismo serve. E provavelmente melhor do que eu, muito mais dado a fanfarronices, digressões e parcialidade descarada. Vamos fazer algo inédito, vamos falar de todos os participantes do debate! E pela ordem inversa de preferência de votos dessa última pesquisa.

Levy Fidelix (PRTB – 28)

Mote: “Olá, eu sou Troy Mcclure e você deve se lembrar de mim…”

Confesso que não lembro de outras participações dele em debates. E olha que ele é candidato perpétuo feito o Eymael (que assim como vários dos outros nem deu as caras). Levy é mais do que o cara do aerotrem (seja lá o que for o aerotrem) e de um grande amor por trilhos, ele é um apresentador de programa policial claramente na profissão errada.

Parece um misto de Ratinho com Datena, inclusive com aquelas posições “tem que prender todo mundo!” tão populares entre os… populares. Embora meio perdido no começo, ligou o foda-se dali pra frente e foi geralmente divertido e troll nas suas participações com os candidatos com alguma chance. Ficou reduzido a dar umas cutucadas, mas não tem diferenças ideológicas suficientes dos “grandes” para colocar o dedo na ferida.

Eu já disse que ele adora trilhos?

Vote: Se você adora trilhos.
Não vote: Bom, você já vai fazer isso mesmo, não?

Eduardo Jorge (PV – 43)

Mote: “Esta eleição é estúpida mesmo…”

O candidato com menos jeitão de candidato. Até tentou manter um pouco de pose, mas foi começando a ficar cada vez mais de saco cheio daquela baboseira toda. Completamente consciente de que tem mais chances de ser eleito Miss Brasil, Eduardo Jorge estava lá só para marcar território para seu partido. Tem cara de médico (o que realmente é) ou de professor de sociologia, um daqueles que te diz “porra, bicho!” depois de ouvir que a ditadura tem que voltar.

Ele também é um dos dois candidatos mais “impopulares” na disputa. Deu no Aécio (mais sobre isso depois), na Dilma e principalmente na Marina. Parece ter uma linha de pensamento mais próxima da que temos por aqui, mas não se deu ao trabalho de explicar muito bem o que pretendia fazer se eleito. Compreensível, já que não vai ser eleito. Até por isso foi claramente o mais deslocado, perdendo a paciência.

Ponto alto quando desencanou de usar seu tempo para responder uma pergunta. Com certeza estava puto por terem usado a pergunta dele para falar da Dilma. “Quer falar dela? Não me coloca no meio.” Estava torcendo para ele mandar tudo à merda ao vivo, pena que não aconteceu. Terminou, contanto, falando de paz e amor. Bicho que é bicho…

Vote: Se quiser… nem ele liga (Podemos culpá-lo?).
Não vote: Porra, bicho!

Luciana Genro (PSOL – 50)

Mote: “Macôôônha”.

Ok, o mote é maldoso. Luciana foi a nossa infiltrada no debate. Mesmo com algumas diferenças ideológicas consideráveis… Pouco acionada, teve que fazer o máximo possível com seu tempo. Mirou principalmente na Marina, usando suas duas perguntas nela. Foi a que menos gaguejou e pareceu a mais macho de todo o grupo. Deu até um esfrega num jornalista da Band que enfiou opinião “Datenista” no meio da pergunta.

Com um sotaque sulista carregado (que foi aumentando de acordo com o andamento do debate – certeza que mandaram ela controlar), enfiou o dedo na ferida da religião de Marina, chamou o ensino do criacionismo de absurdo, defendeu o aborto e foi a única com bolas de dizer que prender mais preto e pobre (com essas palavras) não resolve porra nenhuma (sem essas palavras, mas a gente entende).

O discurso contra o capital é aquela mesma coisa cansada do PSOL, não tem muito como evitar. A parte que mais me divertiu foi a fala dela sobre drogas, com uns 10 “macôôônhas” falados em alto e bom tom em seu sotaque carregado. Mesmo que eu não pactue com a canonização da cannabis, é sempre divertido ouvir a palavra num debate presidencial. Meio que cagou o impacto da crítica ao criacionismo, mas com o pouco que teve, fez muito!

Vote: Se quiser desperdiçar o voto em alguém que falou umas verdades.
Não vote: Se você não cursa humanas em faculdade pública.

Everaldo Pereira (PSC – 20)

Mote: “Não sei o que faz um presidente, mas vote em mim que eu te conto.”

Sim, eu vou ter muito menos simpatia com o crente mais assumido de todos. Mas não estou só pegando no pé: o Pastor Everaldo foi o mais fraco de todos no debate e todos os outros perceberam. Era visivelmente o mais nervoso de todos, o que eu nem vou usar contra ele. Uma coisa é tapear crente num ambiente controlado, outra é tapear todo mundo com uma câmera ao vivo para o Brasil inteiro na cara.

O Pastor estava nervoso. Ok. Mas no máximo gaguejaria menos as mesmas coisas vez após vez caso não estivesse. Everaldo (como Luciana Genro o chamou, sem Pastor porque se disse contra misturar as duas coisas – bacana!) é claramente um candidato inventado pela equipe de publicidade do partido! Pastor Everaldo como candidato foi feito em laboratório, duvido que ele sequer entenda do que está falando. Digo isso porque ele é um candidato vindo diretamente do Tea Party americano.

Libertarianismo religioso radical. Pastor Everaldo está copiando Sarah Palin! O BM não vai ter o conhecimento necessário de política internacional para sacar isso, mas fico óbvio para quem já viu esse filme. Ele defende Estado minúsculo, privatizações a rodo e posições extremamente conservadoras sobre direitos humanos e igualdade; prometeu também corte de impostos. O pessoal do PSC achou que já estava na hora de tentar esse tipo de candidato no Brasil… quebraram a cara porque a Marina comeu todos seus votos. Mas tenham medo, tenham muito medo… abriu a porteira.

Vote: Se o seu pastor mandar.
Não vote: Se o seu pastor mandar votar em outro.

Aécio Neves (PSDB – 45)

Mote: “FUDEEEEU!”

O candidato mais ligado de todos. Nenhuma surpresa aqui. Aqui já entramos na faixa da embromação, nenhum dos três primeiros colocados se arriscou no debate. Mas fica registrada aqui como seja lá o que estimula Aécio, funciona: foi o que melhor falou, foi o mais atento e o que menos escorregou nas próprias palavras. Não falou nada que prestasse, mas isso já eram favas contadas.

Ele devia estar ensaiadíssimo, pronto para tirar sangue da Dilma e começar um processo de encostar nela nas pesquisas. Mas havia um avião no meio do Santos, no meio de Santos havia um avião. Ele estava pronto para ser a co-estrela do debate, mas Marina roubou muitos holofotes. Teve que seguir o plano original e adicionar umas pancadas na Marina. Diluiu sua força e provavelmente está sedimentando sua terceira posição se não focar.

E sabem o que mais deve ter doído? O único que realmente bateu nele foi o Eduardo Jorge. Dilma bateu boca com ele só na defensiva e Marina… bom, Marina não se sabe o que está dizendo. Ele se tornou muito mais irrelevante do que gostaria. Mas o caso do Eduardo Jorge é exemplar: O candidato com o foda-se ligado perguntou para Aécio o que ele achava do aborto. Aécio gastou 2 minutos da sua resposta de 2 minutos e meio enrolando sobre como conhecia bem o candidato do PV. De passagem, disse que não pretende mudar as leis e pareceu visivelmente aliviado por empurrar essa para longe. Aliás, ele também foi incrível para enrolar naquela entrevista no JN. “A arte de não responder”, por Aécio Neves.

Vote: Com raiva por ter que votar nele.
Não vote: Se estiver escolhendo um candidato que preste.

Marina Silva (PSB – 40)

Mote: “Eu digo palavras na esperança de formar uma frase”.

Eu juro que tentei entender o que ela falou. Sabe quando você começa a repetir uma palavra e de repente ela parece não fazer mais nenhum sentido? Essa é a sensação de escutar Marina Silva. Eu conheço as palavras que ela usa, até depreendo as que ela inventa, mas… não dá em nada quando a frase termina.

O plano de Marina é “fazer coisas positivas e evitar coisas negativas”. Todo mundo perguntou para ela sobre alguma medida concreta que ela realizaria caso eleita, ninguém ouviu uma resposta. Finalmente entendi porque ela é tão popular entre jovens mais estudados: esse é o público alvo que finge que entende qualquer merda com palavras mais rebuscadas por vergonha de admitir burrice. Mas esse rei está nu! Burro é quem elogia a roupa dele.

O palavreado e a postura “Lexotan na veia” enganam mesmo… parece alguém falando algo muito complexo e com segurança para tal, mas o Levy Fidelix sugeriu mais coisas para resolver os problemas do país. Eu tinha birra com ela por ser crente, mas isso acaba de ficar em segundo plano (e olha que pra isso CUSTA). Confesso pelo menos que foi engraçado ver os outros candidatos com cara de “hã?” depois das respostas dela.

Escondeu espertamente a crentice, mas deixou descoberta a inoperância de qualquer discurso menos genérico do que “vamos estudar e discutir”. E, porra… vai aprender a diferença entre PERDA e PERCA.

Vote: Se a anti-programática da inequalidade epitomiza as reticências.
Não vote: Se você achou a frase acima uma baboseira sem sentido.

Dilma Roussef (PT – 13)

Mote: “Está tudo bem, está tudo bem, e está tudo beeeem!”

Se Aécio usa a tática de distorcer para confundir, se Marina confunde só por ter a capacidade de emitir sons, Dilma joga todas suas fichas na troca de assunto. Principal vítima de Aécio, parecia estar num universo alternativo onde todas as perguntas foram “O que você e Lula fizeram no seu governo?”. Todas.

E podem apostar que ela respondeu todas. Desviou de assuntos complicados e ficou focadíssima no que sua equipe definiu. Dilma parecia nervosa, mas ela sempre parece nervosa. É como se todas suas frases fossem memorizadas e tivessem um certo delay para chegar à boca. Acho até que teria um pouco mais de simpatia por ela se a ouvisse falar de verdade ao menos UMA vez.

Bateram nela até com a história dos escravos cubanos, mas como sempre ela fingiu que fizeram outra pergunta. O Padilha fez a mesmíssima coisa no debate em São Paulo (que eu também vi). O PT está jogando de forma muito profissional desta vez, ignorando sem a menor culpa tudo o que lhes é perguntado.

Foi a que mais falou, como esperado. Mas como foi tudo dentro do script (idêntico ao programa eleitoral – que eu também estou acompanhando – sim, eu me odeio), nada de interessante para ressaltar. É mais PT por mais quatro anos. Não está prometendo nada e está 100% focada em dizer que o Brasil está maravilhoso. Ah sim, ela fez pose de segura e calma, mas estava com um olhar sanguinário para todo mundo que a provocava. Dilmão estava azeda e sorrindo forçada.

Bônus: os jornalistas da Band sentaram a pata nela sobre a tara por censura e as tendências bolivarianistas do PT. Não foi “justo”, mas quem está com a máquina do governo por trás pode apanhar mais.

Vote: Com MUITA raiva por ter que votar nela.
Não vote: Se estiver escolhendo um candidato que preste.

Devo ter esquecido algumas coisas, mas se você perdeu o debate (por vontade de perdê-lo), não foi muito mais do que isso. Se não sabia em quem votar, azar… Não deve ter ajudado.

Para dizer que eu fui tendencioso (sim, fui… se vira com a sua opinião, eu ralei para fazer a minha), para dizer que o mote do Aécio é o mote de todos nós, ou mesmo para dizer que sentiu falta dos comunistas hardcore (eu também): somir@desfavor.com


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