Precisamos falar sobre ídolos.

O conceito mais difundido de idolatria é adorar a um deus ou uma pessoa, de forma irracional, onde se projeta neles todas as suas expectativas, fazendo dela o objeto da sua adoração e condicionando sua felicidade de alguma forma a ela. Mas, idolatria vai vem além. Podemos idolatrar basicamente qualquer coisa, e o que idolatramos diz muito sobre nós mesmos – e também sobre nossos pontos fracos, pois aquilo que você idolatra é o que mais pode te ferir.

É agradável pensar que quem idolatra são os outros, um grupo de pessoas intelectualmente prejudicadas que adoram um Deus ou um cantor a ponto de viver sua vida em função deles, tomar decisões pensando neles, projetar seu futuro sonhando com eles. Esta idolatria mais rasteira é vista como a única que existe, mas não é verdade. Você e eu idolatramos também e às vezes nem tomamos consciência disso, o que é péssimo, pois não nos permite trabalhar essa questão e desfazer a idolatria.

Para piorar, ainda existe um aval social para idolatrar certas coisas e pessoas, onde não há qualquer reprovação, muito pelo contrário, há aplausos e uma presunção de que você é uma boa pessoa. Um exemplo clássico (e perigoso) é a idolatria das mães pelos seus filhos, principalmente quando são pequenos. Dificilmente alguém vai ter coragem de te dizer (ou dizer para si mesmo) que isso não é bom, não é saudável, e é nocivo para todos os envolvidos.

Não estou dizendo que mães devem ignorar seus filhos, mas existe um mundo de distância entre ignorar e idolatrar. Convencionou-se que idolatrar pode ser sinônimo de amar (spoiler: não é, idolatria faz mal) e mães que idolatram seus filhos, cuja felicidade está atrelada à felicidade dos filhos, que vivem em função deles, que anulam sua vida por eles, que só se interessam por ele na vida, são consideradas boas mães e aplaudidas.

Não é bom para a mãe, não é bom para o filho, mas, como é cômodo e gera um ganho secundário enorme (a mãe não precisa se preocupar com mais nada: ter uma carreira, ser atraente, estar atualizada, etc) a sociedade abraça numa boa e aplaude. As pessoas se afastam? A vida fica empobrecida? Os casamentos desmoronam? A criança fica sufocada e com comportamentos que são um pedido de socorro? Sim, mas quem idolatra escolhe não olhar para isso. A pessoa que idolatra escolhe se ver como uma heroína que faz tudo pelo filho, isso só pode ser bom.

Idolatria também pode recair sobre abstrações: uma profissão, um cargo, um ofício ou uma função. Uma das coisas que mais me dá embrulho no estômago é quando conheço alguém (pessoa comum mesmo, não um encontro), pergunto quem é a pessoa e ela se define pela profissão: “Eu sou advogado”, “Eu sou engenheiro”, “Eu sou bombeiro”. Não, meu anjo, você é muito mais do que isso. Isso é um trabalho que você exerce, quiçá temporariamente, que nem de longe define o que você é. É uma pequena parte do que você é. E se não é uma pequena parte do que você é, você está com problemas.

Se a sua profissão define quem você é, hora de repensar sua vida, pois você é (ou tem potencial para ser) muito mais do que isso. Se a ideia de ser impedido de exercer sua profissão te desespera, hora de refletir se você não está idolatrando algo que não merece tanto prestígio e que é extremamente volátil: amanhã, por uma série de motivos, você pode não estar mais exercendo. Amanhã você pode estar incapacitado para fazer isso ou o que você faz pode nem existir, pode ter sido substituído por um robô ou por uma técnica ou por uma empresa que faça totalmente diferente (e melhor) do que você.

Quando se está na idolatria, se presume que aquilo que é idolatrado é eterno, imutável, onipresente. Spoiler: não é. Se agarrar com unhas e dentes e passar uma vida cultuando algo que pode ruir (spoiler: tudo externo a você pode) é pedir para sofrer, mais cedo ou mais tarde. Não afronte a impermanência desta forma, uma hora ela chega e chacoalha a sua vida. Tem que ser mesmo muito idiota de fazer um contrato de se apegar e dedicar tanto assim a algo que pode ruir, quem faria uma imbecilidade dessas? Nós, seres humanos.

E em alguns casos é notório que aquilo vai ruir, e mesmo assim, muita gente direciona sua idolatria para aquilo. Um exemplo clássico: idolatria pela juventude, pelo corpo, pela beleza. Alguém aqui acha que não vai envelhecer? (spoiler: vai)

No entanto, vemos muita gente brigando desesperadamente contra o tempo, fazendo inúmeros procedimentos estéticos, gastando rios de dinheiro, passando por pós-operatórios dolorosos e até tentando levar uma vida ou rotina de adolescente para tentar retardar algo que inevitavelmente vai alcançá-los. Percebem que é um jogo onde a gente já entra perdedor? O ser humano e essa mania idiota de resistir ao que é.

E, não se enganem, o objetivo deste texto não é criticar “os outros”. Todos nós temos idolatria apontada para algo em nossas vidas. Os outros que se fodam, se querem levar uma vida merda com inúmeras frustrações à espera, problema deles. O objetivo deste texto é induzir uma reflexão de onde está a idolatria na SUA vida e tentar desfazê-la. Hora de entender que idolatria nunca é algo bom, por mais que a sociedade avalize. Queira distância do que uma sociedade doente aplaude.

E desfazer idolatria não é algo fácil. São décadas de uma forma de funcionar, são caminhos neurais mais do que viciados para ir sempre para aquele ponto. Na maior parte das vezes o que se consegue é tirar a idolatria de um ponto e colocá-la em outro. Não adianta nada, é trocar seis por meia dúzia. Por mais que um ponto seja mais aceitável que o outro (ex: tirar idolatria da bebida ou da pornografia e colocá-la em um Deus), o erro primordial persiste e ele vai te gerar muito mal estar a longo prazo.

Para entender e se livrar de vez da idolatria, é preciso mergulhar profundo em si mesmo e compreender de onde ela vem, a que propósito ela te serve, quais são os ganhos secundários que ela proporciona. Você mergulha muito no trabalho por solidão ou inaptidão social? Você adora um Deus pois ele te impede de fazer coisas ruins que você faria se não fossem proibidas por ele? Você casou por medo da solidão?

Não importa o motivo, se há idolatria, cedo ou tarde vai ruir e gerar muita infelicidade, pois ali a pessoa depositou suas mais altas esperanças de felicidade. Fazer este depósito em uma mentira (ídolos não existem, pessoas ou coisas capazes de garantir sua felicidade não existem) é a receita para infelicidade e frustração, é como assistir a um acidente de carro em câmera lenta, todo mundo percebe a desgraça que vai acontecer, menos quem está ao volante.

Sim, você pode gostar do seu trabalho, do seu casamento, dos seus filhos ou do que mais você quiser. O que não pode é colocar neles ou em qualquer coisa a razão da sua felicidade, a motivação da sua vida, seu propósito. Não coloque nada externo como a razão da sua felicidade, pois qualquer coisa externa é mutável, é finita, é perecível. Se ela acabar, você vai ficar na merda.

Idolatria é uma forma muito infantilizada de preencher um vazio interior, uma carência, um medo. E não funciona, muito pelo contrário, por mais que dê um alívio temporário, quando a queda vem, ela é maior. Pessoas são despedidas, filhos saem de casa, casamentos terminam. Não aposte todas as suas fichas em algo externo, aposte-as em você mesmo e na sua evolução pessoal.

Mas aí surge um impasse: quem precisa de ídolos, no geral, tem autoestima baixa e fatalmente vai pensar que apostar em si mesmo é a maior furada. E essa é uma questão fundamental a ser trabalhada: enquanto você não reconstruir sua autoestima, vai pular de um ídolo para o outro, seja ele uma cantora pop, um esporte, o sonho de ser famoso, um cachorro, um casamento, uma promoção, um carro ou qualquer outra coisa externa a você.

A idolatria revela de forma nua e crua o buraco que a pessoa tem e não consegue preencher. E o mais cruel é: a pessoa acha que o preencheu com seu ídolo, mas, como tudo que é externo em algum momento ele se desfaz, deixará a pessoa com a sensação de que o mundo é um lugar horrível e que esse buraco, essa dor, essa falta que ela sente não podem ser preenchidos com nada, afinal nem com _____________ (preencha com o ídolo escolhido) ela conseguiu se sentir plena.

Aí vem a depressão, a angústia, a síndrome do pânico, o desânimo, a descrença, o alcoolismo, o vício em drogas, o vício em pornografia, o hábito de dirigir em altíssima velocidade ou colocar a visa em risco de outras forma e tantos outros sintomas. A pessoa foi ensinada toda a vida que se ela perseguisse certos ídolos encontraria a felicidade (família, filhos, dinheiro, sucesso, etc). A pessoa rala feito uma filha da puta e dedica toda sua vida a chegar lá, para colher rua recompensa e, quando chega… fail. Ela não está feliz.

Isso quer dizer que a felicidade não existe? Não senhores. Ela existe sim, eu posso assegurar. Isso quer dizer que nós, seres humanos, perdemos muito tempo procurando a felicidade nos lugares errados. E não é culpa nossa, isso nos é incutido (ainda que na melhor das intenções) por família, amigos, colegas e por toda a sociedade. Todo mundo tem ídolos, então, deve ser esse o caminho, certo? Errado. Todo mundo está infeliz, mas convencionou-se não falar sobre isso, apenas postar fotinhos mentirosas no Instagram.

Então, antes de mais nada, é preciso um processo de desconstrução de tudo que você achava que era verdade. Buscar a felicidade fora de você pode ser o mais pedido no mundo, mas é um beco sem saída. Se você acha que vai ser feliz quando casar, quando tiver um namorado, quando comprar um apartamento, quando tiver filhos, quando for rico, quando comprar um carro, quando for promovido, quando for magro, quando acontecer qualquer coisa externa a você, Tia Sally está te poupando de uma longa jornada inútil e te avisando: não vai. Não é esse o caminho.

Foda acreditar, né? É uma maluca que você nem conhece a cara dizendo algo que toda a sociedade contraria. Tá tudo bem, mesmo que você opte por não acreditar em mim (idolatria é de fato algo muito difícil de soltar), ainda assim, este texto terá cumprido sua finalidade.

Quando, muito mais para frente, você alcançar o que quer que seja e, ainda assim, não se sentir feliz, você vai lembrar de mim e de fragmentos deste texto. E, quando isso acontecer, você saberá que não é a felicidade que não existe, foi apenas você que procurou no lugar errado. Isso faz toda a diferença, afinal, quem é que quer viver em um mundo onde a felicidade não é possível, não é alcançável, não existe? Triste demais. É isso que faz com que as pessoas caiam e fiquem na tarja preta até o fim de suas vidas.

Porém, se você lembrar de mim e lembrar que eu estou te assegurando que a felicidade existe, só que por outro caminho, você não vai cair com a cara na lama e ficar ali, sem esperanças. Obviamente, é um baque perceber que passou boa parte da sua vida perseguindo algo que não estava lá, mas também é um sopro de esperança saber que a felicidade existe sim e que tem uma maluca de um blog aleatório segurando uma plaquinha que aponta para a direção certa.

Para aqueles a quem eu puder poupar uma vida de buscas vãs e decepções, melhor ainda. Não entrem em um beco sem saída. Qualquer ídolo é incapaz de levá-los à felicidade, no máximo, vai gerar uma euforia temporária. Felicidade é algo duradouro, estável, permanente. Algo que talvez a maior parte das pessoas nunca tenha sequer experimentado, por isso confunde com euforia. Talvez euforia seja o único sentimento gratificante que conhecem.

Todos nós temos ídolos a descontruir. Todos nós colocamos idolatria em algo, eu inclusive. É um processo essa desconstrução, por isso, sugiro que pratiquem o desapego e comecem o quanto antes, para não perder mais tempo da sua vida. Não, você não vai “perder” nada abrindo mão de ídolos, essa euforia não é saudável, deixá-la ir é um ganho. Não, não vai ficar um buraco onde estava o ídolo, pois você não vai mais precisar dessa muleta.

Ídolos são muletas, são um hábito ruim que a sociedade nos ensina, que enraízam na gente ainda crianças. Por isso demora para que consigamos nos desvencilhar deles e pode ser um pouco doloroso. Mas, acreditem, quanto antes se faz, menos tempo se perde e menos doloroso é. Como está, na base da idolatria, da euforia, de colocar como pilar coisas que acabam ruindo, é visível que não dá certo. Olhem à sua volta, como está a sociedade, e me digam se é saudável.

Repito: todos nós temos ídolos, mesmo o mais ateu dos seres humanos. Alguns os mantém em lugares óbvios, como um amigo imaginário para o qual rezam todos os dias e fazem pedidos ou como uma pessoa famosa na qual projetam tudo que queriam ser a não são. Outros escondem os ídolos em lugares menos evidentes: comida, aparência física, poder, escapismo, bens materiais, status e tantas outras furadas.

E todos nós, cedo ou tarde, vamos ter que aprender a desconstruí-los e viver uma vida sem eles. Quanto antes, melhor, menos tempo você perde em um caminho que não leva a lugar nenhum. Guarde este texto, um dia ele pode ser útil para que, quando seu ídolo ruir, você lembre que há outro caminho e que sim, a felicidade está lá esperando por você.

Para ficar com raiva e defender ainda mais seu ídolo (normal), para ficar com raiva e dizer que eu só penso assim pois não tenho um ____ (complete com seu ídolo) ou ainda para voltar em alguns anos e dizer que eu tinha razão: sally@desfavor.com

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Comments (22)

  • Gente, indico o livro “A morte é um dia que vale a pena ser vivido”. Nele, a autora conta a história de pacientes terminais e seus arrependimentos. É bem interessante, porque fala justamente sobre dar importância demasiada a coisas que não são tão importantes assim, como viver em função do trabalho, não passar tanto tempo com os filhos, etc. Idolatria de pais para com os filhos é muito ruim mesmo, sobretudo, quando esses filhos chegam na idade de se relacionarem intimamente com outras pessoas. Talvez, meus pais tangenciem um pouco a linha da idolatria, por serem hiper protetores. Isso dificultou que eu ganhasse asas para voar, mas não me impediu… Do outro lado, é notório quando o cara tem uma mãe idólatra e quando não tem. Homens com mães idólatras são chatos, mimados e buscam o aval da mãe sempre (essas mães têm casamentos conturbados na maioria das vezes); já os homens sem esse tipo de mãe são mais independentes, e não buscam o aval materno o tempo todo, apesar de ainda buscarem alguma referência (mais para dizer que estão vivos e manter contato).

    • Eu indico qualquer coisa da Ana Claudia Quintana Arantes, ela é sensacional!
      É uma médica que revolucionou os cuidados com pacientes terminais no Brasil e tudo que ela fala sobre vida e morte acrescenta demais. Recomendo muito, principalmente para quem está passando por uma doença grave ou tem alguém próximo passando por uma doença grave.

  • Gostei, e o principio do desapego no Budismo….mas apesar de nao ser mais adolescente, ando muito viciada nos videos do BTS, rio muito quando eles brincam e falam em Coreano apesar de nao entender bulhufas!!!! Shame on Me!!! Hahaha

  • Texto muito bacana, Sally. Realmente, idolatria não faz bem a ninguém. Uma coisa que você não mencionou é: e quando nós somos o ALVO da idolatria alheia? Como lidar? Confesso que eu não saberia como me desvencilhar de algo assim…

    Outra coisa: e quando uma pessoa idolatra o próprio fato de ser idolatrada? Um exemplo clássico: o que não falta é jogador de futebol que adora a fama, a bajulação, o dinheiro, as aparições na mídia, a torcida gritando seu nome nas arquibancadas, as marias-chuteiras dando em cima… E, depois, quando a carreira termina, o sujeito se deprime e passa o resto de seus dias se sentindo um morto-vivo, cuja vida não tem mais sentido…

    Ainda sobre idolatria, decepções e aprender sobre o que realmente importa, deixo aqui três vídeos. Dois são episódios de seriados sobre adolescência, que assisti durante a minha própria e que ensinam lições de vida. O outro, do qual quero destacar dois trechos, é do filme “Boleiros”. As partes a que me refiro vão de 0:11:57 a 0:23:40 e de 1:15:22 a 1:19:54. Ambas mostram justamente ex-jogadores que foram ídolos e que não sabem como lidar com o fim da fama. Não achei esses segmentos separados no YouTube. Eis os links:

    Anos Incriveis – Episódio 86 – Herói:
    https://www.youtube.com/watch?v=Ml_mw0eITHA

    Confissões de Adolescente – Episódio 02 – O Maior:
    https://www.youtube.com/watch?v=nGe8tAHkikk

    Boleirros – Era Uma Vez O Futebol:
    https://www.youtube.com/watch?v=xePtQ059mXA

    • Não sei se tem resposta correta para sua pergunta, acho que o melhor é não dar bola, não dar importância, não contribuir em nada com a idolatria.

      • Acho que tem mais um detalhe que vale a pena lembrar, ser alvo de idolatria alheia pode ser perigoso. Pode chegar a níveis extremos, ou virar outra coisa. Se tiver indícios de que tem alguém te idolatrando, se proteja! Olha o caso do John Lennon e o da Ana Hickmann.

        • Teve o caso da cantora Selena também. Assassinada aos 23 anos e no auge da carreira pela presidente do próprio fã-clube.

          • Houve também o caso daquele cara nos EUA que era tão louco pela atriz Jodie Foster que tentou matar o ex-presidente americano Ronald Reagan só para chamar a atenção dela e o do maluco que se infiltrou na torcida durante um jogo para enfiar uma faca nas costas da tenista servo-americana Monica Seles, rival da alemã Steffi Graf, de quem era fã.

  • Esse texto é necessário! Estava me auto avaliando e ando presa a umas coisinhas tão minúsculas, uma vaidade excessiva. É bom ouvir alguém de fora para que a gente enxergue o que está dentro. S2

  • Esse texto não poderia ter vindo em melhor hora. Estou me sentindo pra baixo já tem um tempo, fui olhar pra dentro e descobri o motivo. Estava há um bom tempo trabalhando em um projeto super importante e agora que concluí percebi que liguei minha felicidade a esse projeto, a rotina que ele me trazia, as pessoas com as quais trabalhei. Agora que tudo acabou senti esse vazio… tá na hora de fazer sumir esse vazio haha

  • Mais um daqueles textos nível “tapinha na cara” que o desfavor dá. Realmente pra refletir!

    Tinha uma fase que eu delegava tudo nas mãos de um relacionamento, como se viver pra ele fosse o objetivo último da vida. Não pode, tá errado. Aprendi a duras penas que preciso ser feliz por mim mesmo.

    Daí agora tô nessa fase de desconstruir a idolatria de felicidade pra cima de um bom emprego e sucesso profissional. A ideia era aquela, seguir carreira acadêmica e quem sabe ganhando 10k sendo prof numa federal, tendo carro e apartamento, eu não fosse mais feliz. Ledo engano! Agora tô aqui enfrentando essa crise (que eu chamo dos 30 hehe) sobre o que fazer da vida profissionalmente e o que realmente me faz feliz sem parecer um robozinho sem graça, sem paixão pelo que faz, e sem ter que dar resposta ao outro pelas minhas conquistas, como se fosse só algo pra aparecer. Complexo!

    E Sally, realmente, quem precisa de ídolos é quem tem uma auto estima baixa. Outro dia inclusive estava vendo um comentário no Twt dizendo exatamente o contrário: o sujeito acha no mínimo estranho não ter ninguém pra idolatrar, pra ter como referência de divã pop ou artista que se destaca, enfim…

    P. S: vcs não tem culhões pra falar de idolatria, porque idolatram o Pilha! Hahaha

  • Então uma mãe superprotetora é idólatra?
    Sou filha única, e não bastasse ainda tenho enxaqueca desde criança (dor de cabeça forte e vômito, sempre tinha que ser levada ao hospital tomar soro porque comprimido nunca adiantou), problemas de socialização e uns tempos atrás fui diagnosticada com Asperger. Passei quase toda minha vida sem estímulo pra agir com independência e só estou aprendendo a fazer as coisas agora, com 22 anos. Nem um ônibus eu sabia pegar sozinha.

    Meu pai é tranquilo, mas sempre ouvi minha mãe falando que se eu morresse antes dela ela morreria junto, que vai comigo aonde eu for, que não quer que eu abandone eles (essa parte meu pai também já falou uma vez mas ele não é exagerado). Esses dias eu simplesmente comentei que queria trabalhar, morar sozinha e talvez me mudar pra uma cidade X que tenho interesse, minha mãe só faltou explodir. Falou que eu não tenho condições, que é longe, que eu vou passar mal sozinha sem ninguém pra ajudar, que o Asperger vai me atrapalhar e eu vou me isolar e me suicidar (não é raridade entre Aspergers), que eu vou abandonar ela e meu pai num asilo. Nem adiantou eu falar que pretendo visitar eles e eu não iria abandonar ninguém, e que eu iria me esforçar pra socializar com as pessoas e aprender as coisas na cidade nova.

    E o pior de tudo é que no fundo eu tenho essa necessidade de aprovação deles, talvez por ser a única filha, talvez por causa da idolatria descrita no texto, talvez porque eles são bons pais comparando com a média, nunca me faltou nada e nunca fui rebelde (até porque eu mal tive amigos), tento entender o lado deles. Mas tudo isso me deixa mal, estou quase começando a achar que eu realmente vou me dar mal indo viver sozinha e minha mãe vai esfregar na minha cara, igual ela quase sempre faz quando eu erro alguma coisa. E pior que às vezes realmente já tive uns pensamentos suicidas, porque acho que minha vida não faz o menor sentido. Pra que eu vou continuar estudando, me aprimorando, me esforçando, se eu vou passar o resto da vida na casa dos meus pais? O que vai ser de mim?

    Desculpa escrever tanto e tão enrolado, mas é que eu não tenho outro lugar.

    • Antes de mais nada, tenha em mente o seguinte: dentro das capacidades deles, seus pais fizeram o melhor que podiam.

      Pode ser um caso de idolatria sim, talvez sua mãe não se porte de uma forma saudável, mesmo com a melhor das intenções. Mas você não precisa participar desse esquema. Você pode ser apenas uma observadora disso, sem ser parte do problema. Você tem o poder de decidir como e quanto isso vai te afetar e como lidar.

      • Agradeço o conselho. Acho que vou acabar indo embora mesmo, só preciso juntar um pouco mais de dinheiro. Não suporto mais esta casa, um vai acabar matando o outro de tanta briga, tanta discórdia, às vezes até desejo que meus pais morram pra eu não ter mais nada me segurando e me dando estresse, culpa, desespero. Acho que o que está piorando meus sintomas do Asperger é justamente todo esse estresse.

        • Hoje minha mãe disse em como eu não teria bom proveito de morar sozinho, ela me vigia demais e minha irmã me interfere com o estilo de vida dela “com mais entendimento”…

          Deveria ter me mudado, mas me falta tempo e (talvez) mais dinheiro que a simplória reserva…

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